Pontes entre Abismos

Data 17/07/2006 21:30:00 | Tópico: Poemas -> Reflexão

A vida vem de longe
E é interminável a noite.
Com este pensamento esvaindo-se,
Segura e resoluta, sento-me diante de um espelho.
Não. Não me sento diante de um espelho.
No entanto, diante de mim
trago agarradas às mãos
algumas folhas de papel surradas,
uma caneta quase sem tinta e uma consciência pesada...

Minha alma vive construindo pontes entre abismos
Buscando sempre e sempre e tanto
O outro porto. Pés no chão. Pena em punho.

Tenta convencer-se (em vão?)
De que sentar-nos à beira das horas, vendo passar
As carruagens temerárias
(que nos surpreendem, tanta vez, quando notamos que somos
com elas, de carona.)
Não passa de brincadeira de criança.

Que a vida é fardo tênue demais
Para quem traz os pés e as mãos e o corpo
Deitados por sobre nuvens do sem-tempo.
Para quem cem anos não são mais que cem dias
Para aqueles que trazem como parte de sua bagagem extensa e imponderável e breve,
Exércitos invisíveis mas tão profundamente reais
Que reagem ao menor sinal,
Ao mais insignificante chamamento.
E creio que possuem cheiro de sol nascendo...

Da solidão.
Há de restar-me um dia apenas
Sua glória
Seu espinheiro
Minhas feridas
E estas lágrimas que sobre o papel desfalecem...



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