DEUS BRASILEIRO (republicação)

Data 05/09/2009 12:51:00 | Tópico: Poemas

Três epígrafes:

"Dê-me um cigarro/Diz a gramática/Do professor e do aluno/E do mulato sabido/Mas o bom negro e o bom branco/Da Nação Brasileira/Dizem todos os dias/Deixa disso camarada/Me dá um cigarro" - Oswald de Andrade, Poesias Escolhidas

"Pronomes? Escrevo brasileiro. Si uso ortografia portuguesa é porque não alterando o resultado, dá-me uma ortografia. (...) O passado é lição para se meditar, não para reproduzir." (Mário de Andrade, Prefácio Interessantíssimo, Paulicéia Desvairada)

"Chega de morrer na escravidão/Zumbi gritou/Liberdade, meu irmão!" (Vinícius de Moraes,com melodia de Edu Lobo, Zambi)


o meu deus é brasileiro
não chegou em caravela
veio num navio negreiro
de luanda de benguela

o meu deus é brasileiro
fala nagô fala tupi
pois que tupã mais olorum
por bem uniram-se num só
contra o mal do cativeiro
a mesma dor nenhuma dó

o meu deus é capoeira
e de arco e flecha também é
não é deus de brincadeira
o que alimenta a minha fé
este meu deus não é de amém
este meu deus é deus de axé

me deu sangue de floresta
e uma alma boa de tambor
fez do sofrimento festa
sem esquecer nunca do horror
do tronco do pelourinho
e do safado do feitor

o meu deus vem do quilombo
tá no chão não nos altares
não se entrega a qualquer tombo
manda tudo pelos ares
nesta terra de palmeiras
fez a história de palmares

o meu deus é deus de ginga
o meu deus é deus de jongo
foge pra lá diogo cão
mais respeito ao rei do congo

o meu deus é brasileiro
e vai do oiapoque ao chuí
é o deus de macunaíma
deus de ceci deus de peri
o meu deus é o de dandara
o meu deus é o de zumbi

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