Ainda que ainda

Data 06/09/2009 12:03:29 | Tópico: Poemas

Ainda que não aguentes a solidão que gritas
nem suportes o vazio das tuas horas roucas.
Ainda que te falte um olho
ou uma mão
e não saibas com que perna caminhas.

Ainda que sem esperanças
sem forças, encontres o desespero
e vejas que a luz perdeu a cor.

Ainda que já não te importe o tacto das flores,
nem os cheiros da terra molhada,
nem o riso da água,
nem o deslumbrante voo dos pássaros.

Ainda que as crianças sejam para ti,
clavas de sombras
um obscuro marulhar
de toda a descrença da humanidade.

Ainda que a História se repita
crepite e desfaça o teu coração
com chicotadas de imundície e sangue.

Ainda tens o outro olho ou a outra mão
ou o que resta das tuas vísceras.
Ainda lutarás com todas as forças que te restam
Ainda que nada mais seja para sobreviver,
e fazer desta arena um lugar habitável.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=97882