DESENCONTRO

Data 09/09/2009 14:05:26 | Tópico: Poemas


Eu morrendo nesta cama
E o mundo ganhando novas cores.

Aparelhos de som reproduzem,
Ampliam, fantasiam
Uma coisa tão simples...

Carros nascem em novo colorido,
Irrequietos motores,
Novos designes,
Criativos, etéreos...
Belos como uma estrela cadente
Ou incauto satélite
De fúlgida beleza.

Até as flores ganham odores irreais,
Novos processos de conceber
Frutos mais doces,
Novas artimanhas
Para atrair insetos,
Carreadores inocentes,
Do seu encanto multiplicador.

A televisão ganhou cores,
Canais mil,
Sem maiores delongas,
Deitou-se à cama de um camponês analfabeto,
Enfeitou a palafita do humilde operário.
Fala inclusive,
Em história,
De suas cores pardas,
De decadentes inventores.

Animais multiplicam seus tipos,
Seus chifres,
Em mil raças estéreis,
Úteis,
Muitas vezes dóceis fábricas de nata
Que se nutrem no ventre de algum
Monstro de lata.

Nos laboratórios os homens
Mexem até na substância que fez o homem,
E fazem, também!
No até agora privilégio carnal.

O silencioso mendigo,
Decadente,
Impotente,
Encanta-se no progresso
De nossas máquinas sexuadas,
Que aumentam ao infinito
Sua ultrapassada pobreza!

A cidade ontem cinzenta
Ganha paredes alegres,
Que já nascem pichadas;
Asfalto colorido,
Governante democrata,
Um rio de peixes ressuscitados
Num ultimato a que se viva,
Outdoors criativos,
Não anunciam nada que se venda
A não ser eles próprios.











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