8 segundos

Data 10/09/2009 22:12:28 | Tópico: Poemas


Sabes, aquele preciso instante, o oitavo segundo a partir do crepúsculo,
a hora inaudível dos mortos,
em que as cores: azul, púrpura e o negro se fundem?
Não no segundo nem no quarto, é no oitavo e que durante a noite inteira se eterniza
para inundar os céus com as cores do impossível?
Circula pelo sangue com rumores carmins
Pressentindo, o esboço da corrente convulsa,
a crepitar na fogueira nocturna do enxofre?


Não acreditas?
O melhor é acostar-te no parapeito do meu peito e respirares devagarinho
Fechares as pálpebras e correres as cortinas.

Quase sempre, ao oitavo segundo, as magnólias estremecem.
Há uma espécie de carpido, não de melancolia, mas de euforia
E, os seres que durante o dia parecem acordados
despertam antes de adormecerem.

Ainda não acreditas?
É quase agora, vai acontecer! Não está aqui ninguém comigo para o testemunhar
Mas não há como negar a evidência.
lamento não existirem magnólias onde eu estou
Pois metia uma com cuidado num vaso e lava-o à tua varanda sem entornar as suas cores.

Sabes? É bom viver na fusão das cores do impossível,
em que as substâncias se diluem num fio de luz e sentimo-nos a flutuar pró eterno.

Há-de haver um instante, no oitavo segundo a partir do crepúsculo
Não no primeiro, não no segundo nem no quarto, mas no oitavo
em que tu vais inventar as tuas cores do impossível.

E, se não te importas, nesse instante pinta-me uma aguarela.

(inspirado em “ eighteen seconds before sunrise”- Sigúr-rós)



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