QUANDO O TEMPO PAROU

Data 12/09/2009 23:02:16 | Tópico: Crónicas

QUANDO O TEMPO PAROU



Hoje as circunstâncias levaram-me à velha casa onde nasci, há muito desabitada e com fortes marcas de degradação. Apesar de acompanhado, senti nela o peso do silêncio, um silêncio quase mortal a falar-me do tempo, esse incontornável medidor das horas que passam. A falar-me de instantes, incontáveis, vivências, alegrias e lágrimas, mas sobretudo das pessoas que ali sempre encontrava e me desfaziam em gestos de carinho.
Quando recomposto deste patético confronto com a realidade crua, sinto a ausência do inconfundível bater das horas no relógio da sala. Abeiro-me dele quase numa atitude autoritária, de exigência. Mas o relógio está parado, parado há muito, no dia e hora que os ponteiros anunciam. Na parte inferior do mostrador leio com surpresa estes dizeres: neste dia e hora o tempo parou. Eu sou o relógio que comanda o mundo. Anónimo, modesto na aparência, é a mim que está incumbida a missão de limitar o tempo. Tudo que possa acontecer a partir de hoje, por real que pareça, não passa de mera fantasia. O tempo parou de facto naquele dia e hora. É bom que esta mensagem seja levada aos quatro ventos, para que o homem não transgrida, suspenda todos os seus actos e tome consciência de que o tempo deixou de ser tempo a partir daquele dia e hora -.

Antonius



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