Eu vou escrever qualquer coisa, Olho o espaço em branco, Vazio de mim, Da minha verve que não escorre. Tinjo-lhe a alva expressão Maculando-o de um sangue exaurido De tanto correr em veias secas De sentimentos amarfanhados Que caem inertes no lixo. Numa sanha destruidora Puxo de outra folha Numa raiva que só o branco Sem mácula me sugere, As minhas falanges crispadas Seguram o gume da minha pena Numa fúria assassina Que quase rompe a folha Vertendo-lhe a sanha De um sentimento sem nome, O ódio de um amor desconhecido, Um rasgo de pungência em vómito excretor, Na alucinação perfeita entre o irreal e a utopia. Utópica a pena que me corre Na perseguição do irreal verbo, Cujo sentido desconheço, Debruçado na varanda da minha loucura Em abismos cujo fim não lhes vejo.
Como seria bom atingir o fim, Desabar em pino vertical E mergulhar no branco alvo Cuja limpidez o meu ego escurece Para lá do que consigo vislumbrar Num negro perfeito de branco sem igual, Rodeado do mais puro som de um silêncio impar.
|