#28

Data 16/09/2009 08:06:52 | Tópico: Textos


falava-me da transitoriedade dos afectos enquanto arrastava os pés de um lado para o outro, à procura de um chão talvez. às vezes gritava-me o seu nome mas os gritos das gaivotas não mo deixavam ouvir, ou então era ela que não sabia pronunciar o seu nome. estou aqui já há algum tempo e, com o vagar monocórdico de quem dança uma valsa, ela continua, de um lado para o outro, arrastando os lugares consigo. à tona do peito assiste-se à erupção vulcânica dos sentimentos, uma lava de gestos arremessados por tentáculos esguios, gostava de a abraçar agora. ergue a cabeça, o pescoço chia, está fraca, a cabeça cai-lhe junto ao peito, onde agora lhe namoram breves memórias. apetecia-me gritar com as gaivotas, enviar o meu corpo de encontro a todas estas esquinas, desnudá-la de uma vez, cravar-lhe nas coxas o meu sepulcro e morrer feliz, mas ela não pára, nem com ela nem com a vida.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=99222