Na bruma da memória acicatada

Data 20/06/2007 11:32:54 | Tópico: Poemas

Na bruma da memória acicatada
vejo-te naufrago mesmo que navegues
sôfrego a agitação das vagas
em bateis de noite permanentemente inflamadas.
Vejo-te diáfano em zimbórios iluminados
aos olhos dos ganchos de guindastes aporticados
a percorrerem de lés a lés o teu porto.

Então, revivo a aurora menina do teu corpo
na pele epidémica da mais insana loucura
onde marionetas de lua e lama
se arvoram num plano líquido de espuma.

Embarcadiço em mim e no meu corpo ancorado,
navegas cego a curva ofuscada dos afectos,
num mar alterado, anelado de serenidades,
em que, ao compasso frio de rajadas,
de ventos ciclónicos e permanentes nortadas,
ensopas em lágrimas de sangue e sal o porão
em que me escondes, em vicissitudes
de inconstante contradição e acordas hirto
e frio em recidivas em que as nossas bocas
ávidas se tocam buscando o plantio das salivas.

E contudo, na mais ousada ousadia
busco o teu colo, busco-te a alma,
que é em mim desígnio, fascinação,
domínio, karma,
que é em mim o ninho e o poisio,
onde me retenho e me refundo
e me confundo em apneia orgânica,
no propósito da viagem,
onde engulo a respiração
e mergulho no agitado de um mundo
ébrio de amor e de paixão.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=9930