Diálogo de pedra em noite sussurrada

Data 20/06/2007 11:54:14 | Tópico: Prosas Poéticas

Minha manhã pautada em desalinho.

- Sussurro pelo teu corpo, na efémera letargia das primeiras horas. Quero musicar-me de ti.

Em pálpebra desarranjada, vejo-te serena a caminhar no meu cheiro, pelo meu sono que desmanchas sem palavras.

- Entro na tua paixão, tal mar de púrpura assoalhado em veludo.

Mar que criámos nas horas em que nos vemos nascer.

- Nos minutos recortados de um sabor leve que nos acompanha.

És o meu rio de poeta nascido.
És esse sabor que me prende a anca ao dobrar-me na memória.
És tumultuoso estar nesta pedra em que te gravo.

- Recolhe as pedras do chão. Sou serigrafia em ti, impressão do teu desejar. Não me quero linear no pensamento que ao teu se cola, se esbate e se complementa.

Não. Somos o rio de poeta nascido. Corremos, lado a lado, pelas margens que desigualamos na nossa constância. De mãos dadas, esses limites que traçamos ao caminhar são também a nossa água.



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