#29
Data 17/09/2009 23:20:18 | Tópico: Textos
| então dizia-me: chega-te aqui, abraça-me. eu erguia o corpo até ao limiar do seu queixo e, com as mãos dadas ao seu pescoço, beijava-lhe o ombro e adormecia-lhe a ânsia. várias noites a ouvi falar de silêncio, os dentes a morder o lábio inferior, a pele gelada, às vezes voltava-se e ficava a olhar-me como se fosse feito de mar, às vezes fingia que dormia ou voava, sempre quieta, como se a cama estivesse já tão acostumada àquela posição do corpo que alterá-la lhe causasse dor. tudo nela me inquietava, desde o semblante de pássaro sem bico, ao corpo de pássaro sem asas, tudo naquele pássaro era imperfeito e belo.
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