Fábula dos Náufragos

Data 19/09/2009 13:59:22 | Tópico: Poemas

assombro-te navegante como uma acha
dos meus lugares distantes.
tão firme como o quartzo halo da lua
altivo, inquebrável.
invento-te na noite descoberta
dos meus lugares à deriva.
tão presente substância inquieta
que não sei quanto tempo tive para a navegar,
no estranho ritual de um luar potente
que ainda vejo entrar por aquela janela aberta,
sobre nosso magma mar.
traz-me tão de repente, entre os imaculados lençóis,
ou distendidos entre as albas ondas que agora me deito
Vivas, desabitadas, Solitárias,
a saudade como um pirata dos tempos.

És !

Faz-me ouvir o marulhar ferindo meu mar
soando pelas veias até o quase estalar dos ossos
desliza nos meus lábios a tua presença ausente feito leme.


porém não posso navegar, emergir
não vás tu cair exausto, vencido junto do teu corpo acabado de chegar,
entre um torpor de águas estagnadas .



(Não quero ouvir…)
o troar de cascos na fria planície da cama
do astrolábio, da rosa-dos-ventos
que me desnorteiam.

(Não quero saber…)
dos mares coralinos que navegas
dos perfumados corpos que naufragas
nem tão pouco dos cansaços que te veste.

quero-te apenas deitado ao meu lado,
abrir o meu sangue ao teu vampirismo
ser teu cálice
teu lugar a salvo,
O teu salvo-conduto
que não há-de haver pulsar da chaga,
em tão apertada cópula...
...e descansa!






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