À espera

Data 20/09/2009 16:18:49 | Tópico: Poemas


Alguém te espera num cais de chegada,
enquanto se perde as marés afugentadas pelos açoites das vagas.
Alguém te espera na proa de um navio fantasma,
enquanto se ouve uma música de uma pequena orquestra desafinada,
vendo o amanhecer sobre o minar das esperas.
Alguém te espera, com um copo vazio na mão junto a um corpo adormecido num quarto Art Nouveau, enquanto uma luz esborratada trespassa a janela fitando o poente sobre as águas do Sena.
Alguém, numa esquina dobrada pelo tempo,
algures no alento humano das esperas, alguém te espera,
na noite invicta junto a uma lareira acesa numa varanda por cima dos telhados de zinco quente,
palmilhando o Porto desde o alto dos Clérigos ate à madrugada da Ribeira.
Alguém pelo tempo ao tempo que te espera com impaciência esgotada notícias tuas.
E tu devias avisá-lo, dizer-lhe por uma só vez a verdade
que não poderás voltar, que já não tens tempo
que é melhor cancelar o encontro para sempre.

Mas não o farás e ele continuará à espera,
Sonhando cada sítio como se tu estivesses para chegar,
Até que um dia se canse e se capacite de que não voltarás,
Talvez estejas morta e esqueceste de o avisar.

E, nesse dia, antes de te esperar,
quando amaldiçoar todo o tempo de espera de paciência esgotada
Soprará as velas, fechará a porta e poderá ler escrita nas paredes, a letras garrafais,
a esperada notícia da tua morte.

Inspirado “ à espera de godot” –samuel beckett



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