A dança das horas |
em 01/01/1970 16:20:00 (3037 leituras) |
Frêmito de asas, vibração ligeira de pés alvos e nus, que dançam, tontos, como dança a poeira numa réstia de luz...
São as horas, que descem por um fio de cabelo do sol, e vivem num contínuo corrupio, mais obedientes do que o girassol.
Dançando, as doze bailarinas tecem a vida; e, embora irmãs, não se vêm, não se dão, não se parecem as doze tecelãs!
E, de mãos dadas, confundidas quase, no invisível sabá, elas são silenciosas como a gaze, ou farfalhante como o tafetá.
Frágeis: têm a estrutura inconsistente de teia imaterial, que uma aranha teceu pacientemente nos teares de um rosal.
E, entre tules volantes, noite e dia, o alado torvelim vertiginosamente rodopia, numa elasticidade de Arlequim!
Vêm coroadas de rosas, num remoinho cambiante de ouro em pó: cada rosa, que esconde o seu espinho, dura um minuto só.
Sessenta rosas, vivas como brasas, traz cada uma; e, ao bater da talagarça diáfana das asas, põem-se as coroas a resplandecer...
À proporção que gira à minha frente o bailado fugaz, cada grinalda, vagarosamente, aos poucos, se desfaz.
E quando as doze dançarinas, feitas de plumas, vão recuar, levam as frontes, claras e perfeitas, circundadas de espinhos, a sangrar...
Assim, depois que a estranha sarabanda na sombra se dilui, penso, vendo o outro bando que ciranda em torno do que fui,
que há uma alma em cada gesto e em cada passo das horas que se vão: pois fica a sombra de seu véu no espaço, fica o silêncio de seus pés no chão!...
© Guilherme de Almeida In A dança das horas, 1919
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Cena do ódio |
em 01/01/1970 15:00:00 (20561 leituras) |
A Álvaro de Campos a dedicação intensa de todos os meus avatares. Foi escrito durante os três dias e as três noites que durou a revolução de 14 de Maio de 1915 Ergo-Me Pederasta apupado d'imbecis, Divinizo-Me Meretriz, ex-líbris do Pecado, e odeio tudo o que não Me é por Me rirem o Eu! Satanizo-Me Tara na Vara de Moisés! O castigo das serpentes é-Me riso nos dentes, Inferno a arder o Meu Cantar! Sou Vermêlho-Niagara dos sexos escancarados nos chicotes dos cossácos! Sou Pan-Demónio-Trifauce enfermiço de Gula! Sou Génio de Zaratrusta em Taças de Maré-Alta! Sou Raiva de Medusa e Danação do Sol! Ladram-Me a Vida por vivê-La e só Me deram Uma! Hão-de lati-La por sina! Agora quero vivê-La! Hei-de Poeta cantá-La em Gala sonora e dina Hei-de Glória desanuviá-La! Hei-de Guindaste içá-La Esfinge da Vala pedestre onde Me querem rir! Hei-de trovão-clarim levá-La Luz às Almas-Noites do Jardim das Lágrimas! Hei-de bombo rufá-La pompa de Pompeia nos Funerais de Mim! Hei-de Alfange-Mahoma cantar Sodoma na Voz de Nero! Hei-de ser Fuas sem Virgem do Milagre, hei-de ser galope opiado e doido, opiado e doido... Hei-d' Átila, hei-de Nero, hei-de Eu, cantar Atila, cantar Nero, cantar Eu! Sou Narciso do Meu Ódio! - O Meu ódio é Lanterna de Diógenes, é cegueira de Diógenes, é cegueira da Lanterna! (O Meu Ódio tem tronos d' Herodes, histerismos de Cleópatra, perversões de Catarina!) O Meu ódio é Dilúvio Universal sem Arcas de Noé, só Dilúvio Universal! e mais Universal ainda: Sempre a crescer, sempre a subir... até apagar o Sol! Sou trono de Abandono, mal-fadado, nas iras dos Bárbaros meus Avós. Oiço ainda da Berlinda d'Eu ser sina gemidos vencidos de fracos, ruídos famintos de saque, ais distantes de Maldição eterna em Voz antiga! Sou ruínas rasas, inocentes como as asas de rapinas afogadas. Sou relíquias de mártires impotentes sequestradas em antros do Vício. Sou clausura de Santa professa, Mãe exilada do Mal, Hóstia d'Angústia no Claustro, freira demente e donzela, virtude sozinha da cela em penitência do sexo! Sou rasto espezinhado d'Invasores que cruzaram o meu sangue, desvirgando-o. Sou a Raiva atávica dos Távoras, o sangue bastardo de Nero, o ódio do último instante do Condenado inocente! A podenga do Limbo mordeu raivosa as pernas nuas da minh'Alma sem baptismo... Ah! que eu sinto, claramente, que nasci de uma praga de ciúmes! Eu sou as sete pragas sobre o Nilo e a Alma dos Bórgias a penar! Tu, que te dizes Homem! Tu, que te alfaiatas em modas e fazes cartazes dos fatos que vestes
p'ra que se não vejam as nódoas de baixo! Tu, qu'inventaste as Ciências e as Filosofias, as Políticas, as Artes e as Leis, e outros quebra-cabeças de sala e outros dramas de grande espectáculo Tu, que aperfeiçoas sabiamente a arte de matar. Tu, que descobriste o cabo da Boa-Esperança e o Caminho Marítimo da índia e as duas Grandes Américas, e que levaste a chatice a estas Terras e que trouxeste de lá mais gente p'raqui e qu'inda por cima cantaste estes Feitos... Tu, qu'inventaste a chatice e o balão, e que farto de te chateares no chão te foste chatear no ar, e qu'inda foste inventar submarinos p'ra te chateares também por debaixo d'água, Tu, que tens a mania das Invenções e das Descobertas e que nunca descobriste que eras bruto, e que nunca inventaste a maneira de o não seres Tu consegues ser cada vez mais besta e a este progresso chamas Civilização! Vai vivendo a bestialidade na Noite dos meus olhos, vai inchando a tua ambição-toiro 'té que a barriga te rebente rã. Serei Vitória um dia -Hegemonia de Mim! e tu nem derrota, nem morto, nem nada. O Século-dos-Séculos virá um dia e a burguesia será escravatura se for capaz de sair de Cavalgadura! Hei-de, entretanto, gastar a garganta a insultar-te, ó besta! Hei-de morder-te a ponta do rabo e por-te as mãos no chão, no seu lugar! Ahi! Saltimbanco-bando de bandoleiros nefastos! Quadrilheiros contrabandistas da Imbecilidade! Ahi! Espelho-aleijão do Sentimento, macaco-intruja do Alma-realejo! Ahi! macrelle da Ignorância! Silenceur do Génio-Tempestade! Spleen da Indigestão! Ahi! meia-tigela, travão das Ascensões! Ahi! povo judeu dos Cristos mais que Cristo! Ó burguesia! Ó ideal com i pequeno Ó ideal ricócó dos Mendes e Possidonios Ó cofre d'indigentes Cuja personalidade é a moral de todos! Ó geral da mediocridade! Ó claque ignóbil do Vulgar, protagonista do normal! Ó Catitismo das lindezas d'estalo! Ahi! lucro do fácil, cartilha-cabotina dos limitados, dos restringidos! Ai! dique-impecilho do Canal da Luz! Ó coito d'impotentes a corar ao sol no riacho da Estupidez! Ahi! Zero-barómetro da Convicção! bitola dos chega, dos basta, dos não quero mais! Ahi! Plebeísmo Aristocratizado no preço do panamá! erudição de calça de xadrez! competência de relógio d'oiro e correntes com suores do Brasil, e berloques de cornos de búfalo! E eu vivo aqui desterrado e Job da Vida-gémea d'Eu ser feliz! E eu vivo aqui sepultado vivo na Verdade de nunca ser Eu! Sou apenas o Mendigo de Mim-Próprio, órfão da Virgem do meu sentir. E como queres que eu faça fortuna se Deus, por escárnio, me deu Inteligência, e não tenho sequer, irmãs bonitas nem uma mãe que se venda para mim? (Pesam quilos no Meu querer as salas de espera de Mim.
Tu chegas sempre primeiro... Eu volto sempre amanhã... Agora vou esperar que morras. Mas tu és tantos que não morres... Vou deixar d'esp'rar que morras - Vou deixar d'esp'rar por mim!) Ah! que eu sinto, claramente, que nasci de uma praga de ciúmes! Eu sou as sete pragas sobre o Nilo e a alma dos Bórgias a penar! E tu, também, vieille-roche, castelo medieval fechado por dentro das tuas ruínas! Fiel epitáfio das crónicas aduladoras! E tu também ó sangue azul antigo que já nasceste co'a biografia feita! Ó pajem loiro das cortesias-avozinhas! Ó pergaminho amarelo-múmia das grandes galas brancas das paradas e das Vitórias dos torneios-lotarias com donzelas-glórias! Ó resto de cetros, fumo de cinzas! Ó lavas frias do Vulcão pirotécnico com chuvas d'oiros e cabeleiras prateadas! Ó estilhacos heráldicos de Vitrais despegados lentamente sobre o tanque do silêncio! Ó Cedro secular debruçado no muro da Quinta sobre a estrada a estorvar o caminho da Mala-posta! E vós também, ó Gentes de Pensamento, ó Personalidades, ó Homens! Artistas de todas as partes, cristãos sem pátria, Cristos vencidos por serem só Um! E vós, ó Génios da Expressão, e vós também, ó Génios sem Voz! ó além-infinito sem regressos, sem nostalgias, Espectadores gratuitos do Drama-Imenso de Vós-Mesmos! Profetas clandestinos do Naufrágio de Vossos Destinos! E vós também, teóricos-irmãos-gémeos do meu sentir internacional! Ó escravos da Independência! Vós que não tendes prémios por se ter passado a vez de os ganhardes, e famintos e covardes entreteis a fome em revoltas do Mau-Génio no boémia da bomba e da pólvora! E tu também, ó Beleza Canalha Co'a sensibilidade manchada de vinho! Ó lírio bravo da Floresta-Ardida à meia-porta da tua Miséria! Ó Fado da Má-Sina com ilustrações a giz e letra da Maldição! Ó fera vadia das vielas açaimada na Lei! Ó xale e lenço a resguardar a tísica! Ó franzinas do fanico co'a sífilis ao colo por essas esquinas! Ó nu d'aluguer na meia-luz dos cortinados corridos! Ó oratório da meretriz a mendigar gorjetas p'rá sua Senhora da Boa-Sorte! Ó gentes tatuadas do calão! carro vendado da Penitenciária! E tu também, ó Humilde, ó Simples! enjaulados na vossa ignorância! Ó pé descalço a calejar o cérebro! Ó músculos da saúde de ter fechada a casa de pensar! Ó alguidar de açorda fria na ceia-fadiga da dor-candeia! Ó esteiras duras pra dormir e fazer filhos! Ó carretas da Voz do Operário com gente de preto a pé e filarmónica atrás! Ó campas rasas, engrinaldadas, com chapões de ferro e balões de vidro!
Ó bota rota de mendigo abandonada no pó do caminho! Ó metamorfose-selvagem das feras da cidade! Ó geração de bons ladrões crucificados na Estupidez! Ó sanfona-saloia do fandango dos campinos! Ó pampilho das Lezírias inundadas de Cidade! ó trouxa d'aba larga da minha lavadeira, Ó rodopio azul da saia azul de Loures! E vós varinas que sabeis a sal as Naus da Fenícia ainda não voltaram?! E vós também, ó moças da Província que trazeis o verde dos campos no vermelho das faces pintadas! E tu também, ó mau gosto co'a saia de baixo a ver-se e a falta d'educação! Ó oiro de pechisbeque (esperteza dos ciganos) a luzir no vermelho verdadeiro da blusa de chita! Ó tédio do domingo com botas novas e música n'Avenida! Ó santa Virgindade a garantir a falta de lindeza! Ó bilhete postal ilustrado com aparições de beijos ao lado! E vós ó gentes que tendes patrões, autómatos do dono a funcionar barato! Ó criadas novas chegadas de fora p'ra todo o serviço! Ó costureiras mirradas, emaranhadas na vossa dor! Ó reles caixeiros, pederastas do balcão, a quem o patrão exige modos lisonjeiros e maneiras agradáveis pròs fregueses! Ó Arsenal fadista de ganga azul e coco socialista! Ó saídas pôr-do-sol das Fábricas d'Agonia! E vós também, ó toda a gente, que todos tendes patrões! E vós também, nojentos da Política que explorais eleitos o Patriotismo! Macrots da Pátria que vos pariu ingénuos e vos amortalha infames! E vós também, pindéricos jornalistas que fazeis cócegas e outras coisas à opinião pública! E tu também roberto fardado: Futrica-te espantalho engalonado, apoia-te das patas de barro, Larga a espada de matar e põe o penacho no rabo! Ralha-te mercenário, asceta da Crueldade! Espuma-te no chumbo da tua Valentia! Agoniza-te Rilhafoles armado! Desuniversidadiza-te da doutorança da chacina, da ciencia da matança! Groom fardado da Negra, pária da Velha! Encaveira-te nas esporas luzidias de seres fera! Despe-te da farda, desenfia-te da Impostura, e põe-te nu, ao léu que ficas desempregado! Acouraça-te de senso, vomita de vez o morticínio, enche o pote de raciocínio, aprende a ler corações, que há muito mais que fazer do que fazer revoluções! Ruína com tuas próprias peças-colossos as tuas próprias peças colossais, que de 42 a 1 é meio-caminho andado! Rebusca no seres selvagem no teu cofre do extermínio o teu calibre máximo! Põe de parte a guilhotina, dá férias ao garrote! Não dês língua aos teus canhões, nem ecos às pistolas, nem vozes às espingardas!
– São coisas fora de moda! Põe-te a fazer uma bomba que seja uma bomba tamanha que tenha dez raios da Terra. Põe-lhe dentro a Europa inteira, os dois pólos e as Américas, a Palestina, a Grécia, o mapa e, por favor, Portugal! Acaba de vez com este planeta, faze-te Deus do Mundo em dar-lhe fim! (Há tanta coisa que fazer, Meu Deus! e esta gente distraída em guerras!) Eu creio na transmigração das almas por isto de Eu viver aqui em Portugal. Mas eu não me lembro o mal que fiz durante o Meu avatar de burguês. Oh! Se eu soubesse que o Inferno não era como os padres mo diziam: uma fornalha de nunca se morrer... mas sim um Jardim da Europa à beira-mar plantado... Eu teria tido certamente mais juízo, teria sido até o mártir São Sebastião! E inda há quem faça propaganda disto: a pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões! Se ao menos isto tudo se passasse numa Terra de mulheres bonitas! Mas as mulheres portuguesas são a minha impotência! E tu, meu rotundo e pançudo-sanguessugo, meu desacreditado burguês apinocado da rua dos bacalhoeiros do meu ódio co'a Felicidade em casa a servir aos dias! Tu tens em teu favor a glória fácil igual à de outros tantos teus pedaços que andam desajuntados neste Mundo, desde a invenção do mau cheiro, a estorvar o asseio geral. Quanto mais penso em ti, mais tenho Fé e creio que Deus perdeu de vista o Adão de barro e com pena fez outro de bosta de boi por lhe faltar o barro e a inspiração! E enquanto este Adão dormia os ratos roeram-lhe os miolos, e das caganitas nasceu a Eva burguesa! Tu arreganhas os dentes quando te falam d'Orpheu e pões-te a rir, como os pretos, sem saber porquê. E chamas-me doido a Mim que sei e sinto o que Eu escrevi! Tu que dizes que não percebes; rir-te-has de não perceberes? Olha Hugo! Olha Zola, Cervantes e Camões, e outros que não são nada por te cantarem a ti! Olha Nietzche! Wilde! Olha Rimbaub e Dowson! Cesário, Antero e outros tantos mundos! Beethoven, Wagner e outros tantos génios que não fizeram nada, que deixaram este mundo tal qual! Olha os grandes o que são estragados por ti! O teu máximo é ser besta e ter bigodes. A questão é estar instalado. Se te livras de burguês e sobes a talento, a génio, a seres alguém, o Bem que tu fizeres é um décimo de seres fera! E de que serve o livro e a ciência se a experiência da vida é que faz compreender a ciência e o livro? Antes não ter ciências! Antes não ter livros! Antes não ter Vida! Eu queria cuspir-te a cara e os bigodes, quando te vejo apalermado p'las esquinas a dizeres piadas às meninas,
e a gostares das mulheres que não prestam e a fazer-lhes a corte e a apalpar-lhes o rabo, esse tão cantado belo cu que creio ser melhor o teu ideal que a própria mulher do cu grande! E casaste-te com Ela, porque o teu ideal veio pegado a Ela, e agora à brocha limpas a calva em pinga à coca de cunhas p'ró Cunha examinador do teu décimo nono filho dezanove vezes parvo! (É o caso mais exemplar de Constância e fidelidade a tua história sexual co'a Felisberta, desde o teu primogénito tanso 'té ao décimo nono idiota.) 'Té no matrimónio te maldigo, infame cobridor! Espécie de verme das lamas dos pântanos que de tanto se encharcar em gozos o seu corpo se atrofiou e o sexo elefantizado foi todo o seu corpo! Em toda a parte tu és o admirador e em toda a parte a tua ignorância tem a cumplicidade da incompetência dos que te falam 'té dos lugares sagrados. Sim! Eu sei que tu és juiz e qu'inda ontem prometeste a tua amante, despedindo-a num beijo de impotente, a condenação dos réus que tivesses se Ela faltasse à matinée da Boa-Hora! Pulha! E és tu que do púlpito d'essa barriga d'Água da Curia dás a ensinança de trote aos teus dezanove filhos?! Cocheiros, contai: dezanove!!! Zute! bruto-parvo-nada que Me roubaste tudo: 'té Me roubaste a Vida e não Me deixaste nada! nem Me deixaste a Morte! Zute! poeira-pingo-micróbio que gemes pequeníssimos gemidos gigantes grávido de uma dor profeta colossal. Zute! elefante-berloque parasita do não presta! Zute! bugiganga-celulóide-bagatela! Zute, besta! Zute, bácoro!! Zute, merda!!! Em toda a parte o teu papel é admirar, mas (caso inf'liz) nunca acertas numa admiração feliz. Lês os jornais e admiras tudo do princípio ao fim e se por desgraça vem um dia sem jornais, tens de ficar em casa nos chinelos porque nesse dia, felizmente, não tens opinião pra levares à rua. Mas nos outros dias lá estás a discutir. É que a Natureza é compensadora: quem não tem dinheiro p'ra ir ao Coliseu deve ter cá fora razões p'ra se rir. Só te oiço dizer dos outros a inveja de seres como eles. Nem ao menos, pobre fadista, a veleidade de seres mais bruto? Até os teus desejos são avaros como as tuas unhas sujas e ratadas. Ó meu gordo pelintrão, água-morna suja, broa do outro v'rao! Os homens são na proporção dos seus desejos e é por isso que eu tenho a Concepção do Infinito... Não te cora ser grande o teu avô e tu apenas o seu neto, e tu apenas o seu esperma? Não te dói Adão mais que tu? Não te envergonha o teres antes de ti
outros muito maiores que tu? Jamais eu quereria vir a ser um dia o que o maior de todos já o tivesse sido eu quero sempre muito mais e mais ainda muito pr'além-demais-Infinito... Tu não sabes, meu bruto, que nós vivemos tão pouco que ficamos sempre a meio-caminho do Desejo? Em toda a parte o bicho se propaga, em toda a parte o nada tem estalagem. O meu suplício não é somente de seres meu patrício ou o de ver-te meu semelhante, tu, mesmo estrangeiro, és besta bastante. Foi assim que te encontrei na Rússia como vegetas aqui e por toda a parte, e em todos os ofícios e em todas as idades. Lá suportei-te muito! Lá falavas russo e eu só sabia o francês. Mas na França, em Paris - a grande capital, apesar de fortificada, foi assolada por esta espécie animal. E andam p'los cafés como as pessoas e vestem-se na moda como elas, e de tal maneira domésticos que até vão às mulheres e até vão aos domésticos. Felizmente que na minha pátria, a minha verdadeira mãe, a minha santa Irlanda, apenas vivi uns anos d'Infância, apenas me acodem longinquamente as festas ensuoradas do priest da minha aldeia, apenas ressuscitam sumidamente as asfixias da tísica-mater, apenas soam como revoltas as pistolas do suicídio de meu pai, apenas sinto infantilmente no leito de uma morta o gelo de umas unhas verdes, um frio que não é do Norte, um beijo grande como a vida de um tísico a morrer. Ó Deus! Tu que m'os levaste é que sabias o ódio que eu lhes teria se não tivessem ficado por ali! Mas antes, mil vezes antes, aturar os burgueses da My Ireland que estes desta Terra que parece a pátria deles! Ó Horror! Os burgueses de Portugal têm de pior que os outros o serem portugueses! A Terra vive desde que um dia deixou de ser bola do ar p'ra ser solar de burgueses. Houve homens de talento, génios e imperadores. Precisaram-se de ditadores, que foram sempre os maiores. Cansou-se o mundo a estudar e os sábios morreram velhos fartos de procurar remédios, e nunca acharam o remédio de parar. E inda eu hoje vivo no século XX a ver desfilar burgueses trezentas e sessenta e cinco vezes ao ano, e a saber que um dia são vinte e quatro horas de chatice e cada hora sessenta minutos de tédio e cada minuto sessenta segundos de spleen! Ora bolas para os sábios e pensadores! Ora bolas para todas as épocas e todas as idades! Bolas pròs homens de todos os tempos, e prà intrujice da Civilização e da Cultura! Eu invejo-te a ti, ó coisa que não tens olhos de ver! Eu queria como tu sentir a beleza de um almoço pontual e a f'licidade de um jantar cedinho co'as bestas da família.
Eu queria gostar das revistas e das coisas que não prestam porque são muitas mais que as boas e enche-se o tempo mais! Eu queria, como tu, sentir o bem-estar que te dá a bestialidade! Eu queria, como tu, viver enganado da vida e da mulher, e sem o prazer de seres inteligente pessoalmente! Eu queria, como tu, não saber que os outros não valem nada p'ra os poder admirar como tu! Eu queria que a vida fosse tão divinal como tu a supões, como tu a vives! Eu invejo-te, ó pedaço de cortiça a boiar à tona d'água, à mercê dos ventos, sem nunca saber que fundo que é o Mar! Olha para ti! Se te não vês, concentra-te, procura-te! Encontrarás primeiro o alfinete que espetaste na dobra do casaco, e depois não percas o sítio, porque estás decerto ao pé do alfinete. Espeta-te nele para não te perderes de novo, e agora observa-te! Não te escarneças! Acomoda-te em sentido! Não te odeies ainda qu'inda agora começaste! Enioa-te no teu nojo, mastodonte! Indigesta-te na palha dessa tua civilização! Desbesunta te dessa vermência! Destapa a tua decência, o teu imoral pudor! Albarda te em senso! Estriba-te em Ser! Limpa-te do cancro amarelo e podre! Do lazareto de seres burro! Desatrela-te do cérebro-carroça! Desata o nó-cego da vista! Desilustra-te, descultiva-te, despole-te, que mais vale ser animal que besta! Deixa antes crescer os cornos que outros adornos da Civilização! Queria-te antes antropófago porque comias os teus – talvez o mundo fosse Mundo e não a retrete que é! Ahi! excremento do Mal, avergonha-te no infinitamente pequeno de ti com o teu papagaio: Ele fala como tu e diz coisas que tu dizes e se não sabe mais é por tua culpa, meu mandrião! E tu, se não fossem os teus pais, davas guinchos, meu saguim! - Tu és o papagaio de teus pais! Mas há mais, muito mais que a tua ignorância-miopia te cega. Empresto-te a minha Inteligência. Vê agora e não desmaies ainda! Então eu não tinha razão? P'ra que me chamavas doido quando eu m'enjoava de ti? Ah! Já tens medo?! Porque te rias da vida e ias ensuorar as vrilhas nos fauteuils das revistas co'as pernas fogo de vistas das coristas de petróleo? Porque davas palmas aos compéres e actorecos pelintras e fantoches antes do palco, no palco e depois do palco? Ora dize-Me com franqueza: Era por eles terem piada? Então era por a não terem Ah! Era p'ra tu teres piada, meu bruto?! Porque mandaste de castigo os teus filhos p'r'ás Belas-Artes quando ficaram mal na instrução primária? Porque é que dizes a toda a gente que o teu filho idiota estuda p'ra poeta? Porque te casaste com a tua mulher se dormes mais vezes co'a tua criada? Porque bateste no teu filho quando a mestra te contou as indecências na aula?
Não te lembras das que tu fizeste com a própria mestra de moral? Ou queres tu ser decente, tu, que tens dezanove filhos?! Porque choraste tanto quando te desonraram a filha? Porque lhe quiseste matar o amante? Não achas isto natural? Não achas isto interessante? Porque não choraste também pelo amante?... Deixa! Deixa! Eu não te quero morto com medo de ti-próprio! Eu quero-te vivo, muito vivo, a sofrer! Não te despetes do alfinete! Eu abro a janela pra não cheirar mal! Galopa a tua bestialidade na memória que eu faço dos teus coices, cavalga o teu insecticismo na tua sela de D. Duarte! Arreia-te de Bom-Senso um segundo! peço-te de joelhos. Encabresta-te de Humanidade e eu passo-te uma zoologia para as mãos p'ra te inscreveres na divisão dos Mamíferos. Mas anda primeiro ao Jardim Zoológico! Vem ver os chimpanzés! Acorpanzila-te neles se te ousas! Sagra-te de cu-azul a ver se eles te querem! Lá porque aprendeste a andar de mãos no ar não quer dizer que sejas mais chimpanzé que eles! Larga a cidade masturbadora, febril, rabo decepado de lagartixa, labirinto cego de toupeiras, raça de ignóbeis míopes, tísicos, tarados, anémicos, cancerosos e arseniados! Larga a cidade! Larga a infâmia das ruas e dos boulevards esse vaivém cínico de bandidos mudos esse mexer esponjoso de carne viva Esse ser-lesma nojento e macabro Esse S ziguezague de chicote auto-fustigante Esse ar expirado e espiritista... Esse Inferno de Dante por cantar Esse ruído de sol prostituído, impotente e velho Esse silêncio pneumónico de lua enxovalhada sem vir a lavadeira! Larga a cidade e foge! Larga a cidade! Vence as lutas da família na vitória de a deixar. Larga a casa, foge dela, larga tudo! Nem te prendas com lágrimas, que lágrimas são cadeias! Larga a casa e verás - vai-se-te o Pesadelo! A família é lastro, deita-a fora e vais ao céu! Mas larga tudo primeiro, ouviste? Larga tudo! – Os outros, os sentimentos, os instintos, e larga-te a ti também, a ti principalmente! Larga tudo e vai para o campo e larga o campo também, larga tudo! – Põe-te a nascer outra vez! Não queiras ter pai nem mãe, não queiras ter outros nem Inteligência! A Inteligência é o meu cancro eu sinto-A na cabeça com falta de ar! A Inteligência é a febre da Humanidade e ninguém a sabe regular! E já há Inteligência a mais pode parar por aqui! Depois põe-te a viver sem cabeça, vê só o que os olhos virem, cheira os cheiros da Terra come o que a Terra der, bebe dos rios e dos mares, - põe-te na Natureza! Ouve a Terra, escuta-A. A Natureza à vontade só sabe rir e cantar! Depois, põe-te a coca dos que nascem e não os deixes nascer. Vai depois pla noite nas sombras e rouba a toda a gente a Inteligência e raspa-lhos a cabeça por dentro
co'as tuas unhas e cacos de garrafa, bem raspado, sem deixar nada, e vai depois depressa muito depressa sem que o sol te veja deitar tudo no mar onde haja tubarões! Larga tudo e a ti também! Mas tu nem vives nem deixas viver os mais, Crápula do Egoísmo, cartola d'espanta-pardais! Mas hás-de pagar-Me a febre-rodopio novelo emaranhado da minha dor! Mas hás-de pagar-Me a febre-calafrio abismo-descida de Eu não querer descer! Hás-de pagar-Me o Absinto e a Morfina Hei-de ser cigana da tua sina Hei-de ser a bruxa do teu remorso Hei-de desforra-dor cantar-te a buena-dicha em águas fortes de Goya e no cavalo de Tróia e nos poemas de Poe! Hei-de feiticeira a galope na vassoura largar-te os meus lagartos e a Peçonha! Hei-de Vara Magica encantar-te Arte de Ganir Hei-de reconstruir em ti a escravatura negra! Hei-de despir-te a pele a pouco e pouco e depois na carne-viva deitar fel, e depois na carne-viva semear vidros, semear gumes, lumes, e tiros. Hei-de gozar em ti as poses diabólicas dos teatrais venenos trágicos do persa Zoroastro! Hei-de rasgar-te as virilhas com forquilhas e croques, e desfraldar-te nas canelas mirradas o negro pendão dos piratas! Hei-de corvo marinho beber-te os olhos vesgos! Hei-de bóia do Destino ser em brasa e tua náufrago das galés sem horizontes verdes! E mais do que isto ainda, muito mais: Hei-de ser a mulher que tu gostes, hei-de ser Ela sem te dar atenção! Ah! que eu sinto claramente que nasci de uma praga de ciúmes. Eu sou as sete pragas sobre o Nilo e a Alma dos Bórgias a penar!... de José Almada Negreiros poeta sensacionista e Narciso do Egipto |
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...e vesti-me de ti |
em 01/01/1970 12:30:00 (1878 leituras) |
... e vesti-me de ti pintei-me todo com as cores claras da tua face mas como pintar só não me bastasse deixei-me trair pelo teu engodo
por querer o céu fui parar no lodo contando os dias do meu desenlace mantive a calma e sem qualquer impasse sequer esbocei gesto de denodo
cabeça baixa como vai o touro fui seguindo só rumo ao matadouro porque sabias que nunca fui forte
me cobraste a carne e também o couro pois não precisavas nenhum tesouro tendo nas mãos enfim a minha morte
este poema está publicado em: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=126121 |
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Noturno |
em 01/01/1970 06:40:00 (4319 leituras) |
Suspiro do vento, lágrima do mar, este tormento ainda pode acabar?
De dia e de noite, meu sonho combate: vem sombras, vão sombras, não há quem o mate!
Suspiro do vento, lágrima do mar, as armas que invento são aromas no ar!
Mandai-me soldados de estirpe mais forte, com todas as armas que levam à morte!
Suspiro do vento, lágrima do mar, meu pensamento não sabe matar!
Mandai-me esse arcanjo de verde cavalo, que desça a este campo a desbaratá-lo!
Suspiro do vento, lágrima do mar, que leve esse arcanjo meu longo tormento, e também a mim, para o acompanhar! |
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Já Bocage |
em 01/01/1970 01:40:00 (1787 leituras) |
Já Bocage não sou!... À cova escura Meu estro vai parar desfeito em vento... Eu aos céus ultrajei! O meu tormento Leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura Em prosa e verso fez meu louco intento. Musa!... Tivera algum merecimento, Se um raio da razão seguisse, pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria Brade em alto pregão à mocidade, Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... A santidade Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia, Rasga meus versos, crê na eternidade!
Bocage
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Vida e Obra |
em 01/01/1970 15:40:00 (2171 leituras) |
António Fernandes Aleixo OM (Vila Real de Santo António, 18 de Fevereiro de 1899 — Loulé, 16 de Novembro de 1949) foi um poeta popular português.
Considerado um dos poetas populares algarvios de maior relevo, famoso pela sua ironia e pela crítica social sempre presente nos seus versos, António Aleixo também é recordado por ter sido simples, humilde e semi-analfabeto, e ainda assim ter deixado como legado uma obra poética singular no panorama literário português da primeira metade do século XX.
No emaranhado de uma vida cheia de pobreza, mudanças de emprego, emigração, tragédias familiares e doenças na sua figura de homem humilde e simples, havia o perfil de uma personalidade rica, vincada e conhecedora das diversas realidades da cultura e sociedade do seu tempo. Do seu percurso de vida fazem parte profissões como tecelão, guarda de polícia e servente de pedreiro, trabalho este que, como emigrante foi exercido em França.
De regresso ao seu país natal, estabeleceu-se novamente em Loulé, onde passou a vender cautelas e a cantar as suas produções pelas feiras portuguesas, atividades que se juntaram às suas muitas profissões e que lhe renderia a alcunha de "poeta-cauteleiro".
Faleceu por conta de uma tuberculose, em 16 de Novembro de 1949, doença que tempos antes havia também vitimado uma de suas filhas.
Poeta possuidor de uma rara espontaneidade, de um apurado sentido filosófico e notável pela «capacidade de expressão sintética de conceitos com conteúdo de pensamento moral», António Aleixo tinha por motivos de inspiração desde as brincadeiras dirigidas aos amigos até à crítica sofrida das injustiças da vida. É notável em sua poesia a expressão concisa e original de uma "amarga filosofia, aprendida na escola impiedosa da vida".
A sua conhecida obra poética é uma parte mínima de um vasto repertório literário. O poeta, que escrevia sempre usando a métrica mais comum na língua portuguesa (heptassílabos, em pequenas composições de quatro versos, conhecidas como "quadras" ou "trovas"), nunca teve a preocupação de registar suas composições. Foi o trabalho de Joaquim de Magalhães, que se dedicou a compilar os versos que eram ditados pelo poeta no intuito de compor o primeiro volume de suas poesias (Quando Começo a Cantar), com o posterior registo do próprio poeta tendo o incentivo daquele mesmo professor, a obra de António Aleixo adquiriu algum trabalho documentado. Antes de Magalhães, contudo, alguns amigos do poeta lançaram folhetos avulsos com quadras por ele compostas, mais no intuito, à época, de angariar algum dinheiro que ajudasse o poeta na sua situação de miséria que com a intenção maior de permanência da obra na forma escrita.
Estudiosos de António Aleixo ainda conjugam esforços no sentido de reunir o seu espólio, que ainda se encontra fragmentado por vários pontos do Algarve, algum dele já localizado. Sabe-se também que vários cadernos seus de poesia, foram cremados como meio de defesa contra o vírus infeccioso da doença que o vitimou, sem dúvida, um «sacrifício» impensado, levado a cabo pelo desconhecimento de seus vizinhos. Foi esta uma perda irreparável de um património insubstituível no vasto mundo da literatura portuguesa.
A partir da descoberta de Joaquim de Magalhães, o grande responsável por "passar a limpo" e registar a obra do poeta, António Aleixo passou a ser apreciado por inúmeras figuras da sociedade e do meio cultural algarvio. Também é digno de registo José Rosa Madeira, que o protegeu, divulgou e colecionou os seus escritos, contribuindo no lançamento do primeiro livro, "Quando Começo a Cantar" (1943), editado pelo Círculo Cultural do Algarve.
A opinião pública aceitou a primeira obra de António Aleixo com bom agrado, sendo bem acolhida pela crítica. Com uma tiragem de cerca de 1.100 exemplares, o livro esgotou-se em poucos dias, o que proporcionou ao Poeta Aleixo uma pequena melhoria de vida, contudo ensombrada pela morte de uma filha sua, doente com tuberculose. Desta mesma doença viria o poeta a sofrer pelos tratamentos que vida lhe foi impondo, tendo que ser internado no Hospital – Sanatório dos Covões, em Coimbra, a 28 de Junho de 1943.
Em Coimbra começa uma nova era para o poeta que descobre novas amizades e deleita-se com novos admiradores, que reconhecem o seu talento, de destacar o Dr. Armando Gonçalves, o escritor Miguel Torga e António Santos (Tóssan), o artista plástico e autor da mais conhecida imagem do poeta algarvio, amigo do poeta que nunca o desamparou nas horas difíceis. Os seus últimos anos de vida foram passados, ora no sanatório em Coimbra, ora no Algarve, em Loulé.
A 27 de Maio de 1944 recebeu o grau de Oficial da Ordem do Mérito.
Em homenagem ao poeta popular e à sua obra, muitos distritos portugueses atribuíram o seu nome a ruas e avenidas e até a diversas escolas, como:
O Liceu de Portimão passou a chamar-se Escola Secundária Poeta António Aleixo.
Em Paço de Arcos junto da Escola Náutica também existe uma rua com o nome de António Aleixo.
Em Setúbal, o nome do poeta foi também atribuído a uma rua de um bairro da cidade, situado na zona do Centro Hospitalar.
Em Camarate no Bairro São José
Em Albufeira, junto às praias no Algarve, e em muitas ruas espalhadas por esse Portugal fora e não só, pode-se ver e ouvir o nome do Poeta do Povo imortalizado em alguma placa.
Há alguns anos também passou a existir a «Fundação António Aleixo» com sede em Loulé e que já usufrui do Estatuto de Utilidade Pública, o que lhe permite atribuir bolsas de estudo aos mais carenciados, facto que deve ser encarado como bastante positivo.
O reconhecimento a este poeta tem-se repercutido noutros países de língua portuguesa, nos quais o nome de Aleixo foi imortalizado em instituições como, por exemplo, a Escola Poeta António Aleixo no Liceu Católico de São Paulo no Brasil.
António Fernandes Aleixo está hoje, bem enraizado e presente. As suas obras foram apresentadas na televisão, rádio e demais sistemas de informação, os seus versos incluídos em diversas antologias, o seu nome figura na história da literatura de língua portuguesa, é patrono de instituições e grupos político-culturais, existem medalhas cunhadas e monumentos erigidos em sua honra. Da sua autoria estão publicadas as seguintes obras:
Quando começou a cantar – (1943); Intencionais – (1945); Auto da vida e da morte – (1948); Auto do curandeiro – (1949); Auto do Ti Jaquim - incompleto (1969); Este livro que vos deixo – (1969) - reunião de toda a obra do poeta; Inéditos – (1979); tendo sido, estes quatro últimos, publicados postumamente.
*fonte: wikipédia. |
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Três Poemas sobre o mesmo Tema |
em 01/01/1970 12:30:00 (1617 leituras) |
1.
eu fabricava sonhos desde pequeno eu fabricava sonhos cresci e continuei a fabricar sonhos um dia - por não saber nadar - morri afogado nos meus sonhos desde então nunca fabriquei sonhos tornei-me um pesadelo à deriva
2.
a noiva que habitava os meus sonhos hoje é uma sombra condenada a mofar na solidão de um porto estrangeiro
3.
teu beijo de areia ficou arquivado na memória do porto
estes poemas estão publicados em: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=205814 |
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A palmeira estremece |
em 01/01/1970 10:00:00 (8758 leituras) |
a palmeira estremece palmas pra ela que ela merece |
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Os vazios da pedra |
em 01/01/1970 01:40:00 (2064 leituras) |
Os vazios do homem não sentem nada do vazio qualquer: do do casaco vazio, do da saca vazia (que não ficam de pé quando vazios, ou o homem com vazios); os vazios do homem sentem a um cheiro de uma coisa que inchasse j´inchada;; ou ao que deve sentir, quando cheia, uma saca: todavia, não qualquer saca. Os vazios do homem, esse vazio cheio, não sentem ao que uma saca de tijolos, uma saca de rebites; nem têm o pulso que bate numa de sementes, de ovos. . Os vazios do homem, ainda que sintam a uma plenitude (gora mas presença), contêm nadas, contêm apenas vazios: o que a esponja, vazia quando plena; incham do que a esponja, de ar vazio, e dela copiam certamente a estrutura: toda em grutas ou em gotas de vazio, postas em cachos de bolhas, de não-uva. Esse cheio vazio sente ao que uma saca mas cheia de esponjas cheias de vazios; os vazios do homem ou o vazio inchado: ou o vazio que inchou por estar vazio.
em: 'A Educação pela pedra", ALFAGUARA, Ed.Objetiva, 2008 |
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Traduzir-se |
em 01/01/1970 01:20:00 (205 leituras) |
Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte - será arte?
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