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Vida e Obra
em 25/09/2008 14:40:00 (17913 leituras)
Jorge de Lima

Apresentando:

Jorge Mateus de Lima, nasceu em União dos Palmares, 23 de abril de 1893 e faleceu no Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1953. Foi político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor brasileiro.

Era filho de um comerciante rico e mudou-se para Maceió em 1902, com a mãe e os irmãos. Em 1909 foi morar em Salvador onde iniciou os estudos de medicina. Concluiu o curso no Rio de Janeiro em 1914, mas foi como poeta que projetou seu nome. Neste mesmo ano publicou o primeiro livro, XIV Alexandrinos.

Voltou para Maceió em 1915 onde se dedicou à medicina, além da literatura e da política. Quando se mudou de Alagoas para o Rio, em 1930, montou um consultório na Cinelândia, transformado também em ateliê de pintura e ponto de encontro de intelectuais. Reunia-se lá gente como Murilo Mendes, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Nesse período publicou aproximadamente dez livros, sendo cinco de poesia. Também exerceu o cargo de deputado estadual, de 1918 a 1922. Com a Revolução de 1930 foi levado a radicar-se definitivamente no Rio de Janeiro.

Em 1939 passou a dedicar-se também às artes plásticas, participando de algumas exposições. Em 1952, publicou seu livro mais importante, o épico Invenção de Orfeu. Em 1953, meses antes de morrer, gravou poemas para o Arquivo da Palavra Falada da Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos da América.

Entre 1937 e 1945 teve sua candidatura à Academia Brasileira de Letras recusada por seis vezes. Para Ivan Junqueira, a Academia cometeu uma imperdoável injustiça com o autor, cujo trabalho literário foi excepcionalmente bem recebido pela crítica e pelo público. O acadêmico não acredita que o poeta tenha transitado à margem da literatura de seu tempo e, afirma, quando se refere ao maior poema do autor - Invenção de Orfeu, "...até hoje, transcorridos mais de 50 anos de sua publicação, não há poeta brasileiro que dele não se lembre."

Os textos de Jorge de Lima abrigam uma colossal possibilidade de leituras (a convivência entre a tradição e o novo, o vulgar e o sublime, o regional e o universal) refletem um artista em constante mutação, que experimentou estilos diversos como o parnasiano, o o regional o barroco, o religioso. Na sua multiplicidade, Jorge de Lima pertence a todas as épocas, mesmo se reportando a um tema ou uma situação específica, ao tocar em injustiças sociais que mudaram pouco desde o início da civilização e quando escreve sobre as grandes dúvidas de todos nós, "...da miséria humana, da tentativa de superação de nossas amarras e de nossas limitações.", explica o poeta e jornalista Claufe Rodrigues, leitor voraz de Jorge de Lima.

Ítalo Moriconi, poeta e professor de literatura brasileira na Uerj, autor, entre outros, de Como e por que ler a poesia brasileira do século XX, ao analisar a obra de Jorge de Lima (contrariamente à Ivan Junqueira quanto a questão de o poeta não ter alcançado fama por conta de sua obra ser, em parte, muitas vezes hermética e comprometida com o catolicismo), não acredita na hipótese de que a questão religiosa tenha atrapalhado a carreira do poeta: "Como poeta religioso Jorge de Lima nunca produziu nada com a qualidade de um Murilo Mendes em "Poesia liberdade". O lugar canônico de Lima vem dos sonetos, da sua primeira poesia modernista e, sobretudo de Invenção de Orfeu.".

Moriconi afirma que a maioria dos professores de letras não conhece bem nem Murilo Mendes nem Jorge de Lima e toca num ponto fundamental para a pouca visibilidade do poeta: "...como levar um poeta tão complexo a um currículo básico de graduação? "(...)Quem os conhece, mesmo quando os amam, como é o meu caso, hesitam em substituir um daqueles quatro por esses dois.", referindo-se aos poetas Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana e João Cabral de Melo Neto.

Poesias:

XIV Alexandrinos (1914);
O Mundo do Menino Impossível (1925);
Poemas (1927);
Novos Poemas (1929);
Poemas Escolhidos (1932);
Tempo e Eternidade (1935) - em colaboração com Murilo Mendes;
A Túnica Inconsútil (1938);
Poemas Negros (1947);
Livro de Sonetos (1949);
Obra Poética (1950) - inclui produção anterior, juntamente com Anunciação e Encontro de Mira-Celi;
Invenção de Orfeu (1952);
Castro Alves - Vidinha (1952).

Romances

Salomão e as Mulheres (1927);
O Anjo (1934);
Calunga (1935);
A Mulher Obscura (1939);
Guerra dentro do Beco (1950).

Ensaios, história, biografias

A Comédia dos Erros (1923);
Dois Ensaios (1929) [Proust e Todos Cantam sua Terra];
Anchieta (1934);
Rassenbildung und Rassenpolitik in Brasilien (1934);
História da Terra e da Humanidade (1944);
Vida de São Francisco de Assis (1944);
D. Vital (1945);
Vida de Santo Antonio (1947).



*Pequisa realizada em sites da internet
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Os dois horizontes
em 25/09/2008 09:20:00 (6486 leituras)
Machado de Assis

Os dois horizontes


A M. Ferreira Guimarães
(1863)



Dous horizonte fecham nossa vida:


Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro, —
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.


Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.


Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.


No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.


Que cismas, homem? — Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? — Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.


Dous horizontes fecham nossa vida.


*Jornal de Poesia
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Elogio do revolucionário
em 25/09/2008 09:00:00 (8793 leituras)
Bertold Brecht

Quando aumenta a repressão, muitos desanimam.
Mas a coragem dele aumenta.
Organiza sua luta pelo salário, pelo pão
e pela conquista do poder.
Interroga a propriedade:
De onde vens?
Pergunta a cada idéia:
Serves a quem?
Ali onde todos calam, ele fala
E onde reina a opressão e se acusa o destino,
ele cita os nomes.
À mesa onde ele se senta
se senta a insatisfação.
À comida sabe mal e a sala se torna estreita.
Aonde o vai a revolta
e de onde o expulsam
persiste a agitação.




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Na ilha por vezes habitada
em 24/09/2008 19:20:00 (8413 leituras)
José Saramago

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.




(in PROVAVELMENTE ALEGRIA, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1985, 3ª Edição)
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Nada é impossível de mudar
em 24/09/2008 18:00:00 (21979 leituras)
Bertold Brecht

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de
hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.





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Vida e Obra
em 24/09/2008 13:40:00 (15685 leituras)
Eugénio de Andrade

Eugénio de Andrade foi o pseudónimo de José Fontinhas Rato poeta português do séc. XX, nascido na freguesia de Póvoa de Atalaia (Fundão) em 19 de Janeiro de 1923, fixando-se em Lisboa em 1932 com a mãe, que entretanto se separara do pai.

Estudou no Liceu Passos Manuel e na Escola Técnica Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936, o primeiro dos quais, intitulado "Narciso", publicou três anos mais tarde.

Em 1943 mudou-se para Coimbra, onde regressa depois de cumprido o serviço militar convivendo com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Tornou-se funcionário público em 1947, exercendo durante 35 anos as funções de inspector administrativo do Ministério da Saúde. Uma transferência de serviço levá-lo-ia a instalar-se no Porto em 1950, numa casa que só deixou mais de quatro décadas depois, quando se mudou para o edifício da Fundação Eugénio de Andrade, na Foz do Douro.

A sua consagração já acontecera dois anos antes, em 1948, com a publicação de "As mãos e os frutos", que mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio. Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, "Os amantes sem dinheiro" (1950), "As palavras interditas" (1951), "Escrita da Terra" (1974), "Matéria Solar" (1980), "Rente ao dizer" (1992), "Ofício da paciência" (1994), "O sal da língua" (1995) e "Os lugares do lume" (1998).

Em prosa, publicou "Os afluentes do silêncio" (1968), "Rosto precário" (1979) e "À sombra da memória" (1993), além das histórias infantis "História da égua branca" (1977) e "Aquela nuvem e as outras" (1986).

Durante os anos que se seguem até hoje, o poeta fez diversas viagens, foi convidado para participar em vários eventos e travou amizades com muitas personalidades da cultura portuguesa e estrangeira, como Joel Serrão, Miguel Torga, Afonso Duarte, Carlos Oliveira, Eduardo Lourenço, Joaquim Namorado, Sophia de Mello Breyner Andresen, Teixeira de Pascoaes, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Mário Cesariny de Vasconcelos, José Luís Cano, Ángel Crespo, Luís Cernuda, Marguerite Yourcenar, Herberto Helder, Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, Óscar Lopes, e muitos outros...

Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com "essa debilidade do coração que é a amizade".

Recebeu inúmeras distinções, entre as quais o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), Prémio D. Dinis (1988), Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989) e Prémio Camões (2001). Em Setembro de 2003 a sua obra "Os sulcos da sede" foi distinguida com o prémio de poesia do Pen Clube. Viveu em Lisboa de 1932 a 1943. Fixou-se no Porto, a partir de 1950, como funcionário dos Serviços Médico-Sociais. Faleceu a 13 de Junho de 2005, no Porto, após uma doença neurológica prolongada.

Estreou-se em 1940 com a obra Narciso, torna-se mais conhecido em 1942 com o livro de versos Adolescente, e afirma-se como poeta na cole(c)tânea As mãos e os frutos. A obra poética de Eugénio de Andrade é essencialmente lírica, considerada por José Saramago como uma poesia do corpo a que se chega mediante uma depuração contínua.

Livros de Poesia

Pureza (1945)
As Mãos e os Frutos (1948)
Os amantes sem dinheiro (1950)
As palavras interditas (1951)
Até amanhã (1956)
Coração do dia (1958)
Mar de Setembro (1961)
Ostinato rigore (1964)
Obscuro domínio (1971)
Véspera de água (1973)
Escrita da Terra (1974)
Limiar dos pássaros (1976)
Matéria solar (1980)
Vertentes do olhar (1987)
O outro nome da Terra (1988)
Rente ao dizer (1992)
Ser dá trabalho (1993)
Ofício de Paciência
Antologia Breve
O Sal da Língua (1995)

Antologias

Daqui houve nome Portugal (1968)
Variações sobre um corpo (1972)
Versos e alguma prosa de Luís de Camões (1972)
Foi também tradutor de alguma obras, como dos espanhóis Federico García Lorca e Antonio Buero Vallejo, da poetisa grega clássica Safo (Poemas e fragmentos, em 1974), do grego moderno Yannis Ritsos, do francês René Char e do argentino Jorge Luís Borges.


Literatura Infantil

História da Égua Branca (1977)
Aquela Nuvem e Outras (1986)

Prosa

"Os Afluentes do Silêncio". Porto, Editorial Inova, 1968.
"História da Égua Branca". Porto, Edições Asa, 1976.
"Rosto Precário". Porto, Limiar, 1979.
"À Sombra da Memória".


Obras Traduzidas

Alemanha
"Die weiße Stute", in "Dichter Europas erzählen Kindern". Trad. de Helmut Frielinghaus, Colónia, Midlhauve, 1972.

Ex-Checoslováquia
"Portugalski Kvartet" (Jorge de Sena, Mário Cesariny de Vasconcelos, Eugénio de Andrade, Herberto Hélder). Trad. de Mirko Tomasovic, Zagreb, Znanje Zagreb, 1984.

Espanha
"Antología Poética 1940-1980". Versão de Ángel Crespo, Barcelona, Plaza & Janes, 1981.

"Escritura de la Tierra", III. Trad. de José Luís García Martín, in "Fin de Siglo", nº8, Jerez de la Frontera, 1984.
"Memoria d'Outru Riu". Trad. (em bable) de António García, Oviedo, Libros de Frou, 1985.

"Blanco en lo Blanco". Trad. de Fidel Villar Ribot, Granada, Editorial D.Quijote, 1985.

"Vertientes de la Mirada y Otros Poemas en Prosa". Trad. de Ángel Crespo, Madrid, Ediciones Júcar, 1987.

"Ostinato Rigore". Trad. de Manuel Guerrero, pref. de Eduardo Lourenço, Barcelona, Ediciones de Mall, 1987.

"Matéria Solar". Trad. (em catalão) de Vicente Berenguer, Valência, Gregal Llibres, 1987.

"Contra la Escuridade". Trad. (em bable) de Antonio García, Oviedo, Academia de Língua Asturiana, 1987.

Estados Unidos
"Inhabited Heart: The Select Poems of Eugénio de Andrade". Trad. de Alexis Levitin, Van Nuys, Califórnia, Perivale Press, 1985.

"White on White". Trad. de Alexis Levitin, in "Quaterly Review of Literature", Princeton, New Jersey.

"Memory of Another River". Trad. de Alexis Levitin, St. Paul, Minnesota, New Rivers Press, 1988.

"The Slopes of a Gaze". Trad. de Alexis Levitin, Plattsburgh, New York, Apalachee Press, 1992. (Edição bilingue: português e inglês)

França
"Vingt-sept Poèmes d'Eugénio de Andrade". Trad. e impressão de Michel Chandeigne, Paris, 1983.

"Une Grande, Une Immense Fidélité". Trad. de Christian Auscher, Paris, Chandeigne, 1983.

"Matière Solaire". Trad. de Mª Antónia Câmara Manuel, Michel Chandeigne e Patrick Quiller, Paris, La Différence, 1987.

"Les Poids de l'Ombre". Trad. de Mª Antónia Câmara Manuel, Michel Chandeigne e Patrick Quiller, Paris, La Différence,1987.

"Écrits de la Terre" : poèmes traduits du portugais par Michel Chandeigne. Bilingue, Éditions de la différence, Paris,1988.

"Le Sel de la langue": poèmes, traduction Michel Chandeigne, La Différence, Paris, 1999.

"L’autre nom de la terre" : recueil de poèmes (bilingue), traduction Michel Chandeigne et Nicole Siganos, La Différence, Paris,1990.

"Les Lieux du feu" : recueil de poèmes (bilingue), traduction Michel Chandeigne, L’Escampette, 2001.

"Office de la patience" (Ofício da paciência) : recueil de poèmes (bilingue), traduction Michel Chandeigne, Bruxelles,1995.

"Versants du regard et autres poèmes en prose" : recueil de poème (bilingue), traduction Patrick Quillier, La Différence, Paris, 1990.

"Femmes en noir" : traduction Christian Auscher, postface de João Fatela. Photographies de Claude Sibertin-Blanc, La Différence, Paris,1988

"À l’approche des eaux" : traduction Michel Chandeigne, Phébus, 1991 et La Différence, Paris, 2000

Itália
"Ostinato Rigore, Antologia Poetica". Trad. de Carlo Vittorio Cattaneo, Roma, Edizioni Abete, 1975.

"Memoria d'un Altro Fiume". Trad. de Carlo Vittorio Cattaneo, Luxemburgo, Éditions Internationales Euroeditor, 1984.

México
"Brevisima Antología". Trad. de A. Ruy Sánchez, México, Universidad Nacional Autónoma, 1981.

Ex-URSS
"Poesia Portuguesa Contemporânea": José Gomes Ferreira, Jorge de Sena, Carlos Oliveira e Eugénio de Andrade. Trad. de Elena Riáuzova, Moscovo, Editorial Progress, 1980.

Venezuela
"Blanco no Blanco". Trad. de Francisco Rivera, Caracas, Fundarte, 1987.

Portugal
"Ostinato Rigore", edição bilingue (português e francês), com traduções de Bruno Tolentino e de Robert Quemserat, 1971.

"Escrita da Terra e Outros Epitáfios", edição bilingue (português e italiano), com traduções de Vottorio Cattaneo,1974.

"Changer de Rose, Poèmes de Eugénio de Andrade traduits em espagnol, français, italien, anglais et alemand." Trad. de Ángel Crespo, Xosé Lois García, Pilar Vásques Cuesta, Armand Guibert, Robert Quemserat, Isabel Magalhães, Sophia de Mello Breyner e Guillevic, Bruno Tolentino, Carlo Vittorio Cattaneo, Giuseppe Tavani, Luciana Stegagno Picchio, Jonathan Griffin, Jean R. Longland, Mário Cláudio e Michel Gordon Lloyd, Erwin Walter Palm, Curt Meyer-Clason, Porto, 1978.

Prémios

Eugénio foi galardoado com inúmeras distinções, entre as quais:

Prémio Pen Clube (1986)
Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986)
Prémio D. Dinis (1988)
Prémio Jean Malrieu (França, 1989)
Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (APE) (1989)
Prémio APCA (Brasil,1991)
Prémio Europeu de Poesia da Comunidade de Varchatz (República da Sérvia, 1996)
Prémio Vida literária da APE (2000)
Prémio Celso Emilio Ferreiro (Espanha, 2001)
Prémio Camões (2001)
Prémio PEN (2001)
Doutoramento "Honoris Causa" (2005).
Em Setembro de 2003 a sua obra "Os sulcos da sede" foi distinguida com o prémio de poesia do Pen Clube.


*pesquisa realizada em sites da internet.
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Menina e moça
em 23/09/2008 21:30:00 (9893 leituras)
Machado de Assis

Menina e moça

*A Ernesto Cibrão


Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.


Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem cousas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lê versos de amor.


Outras vezes valsando, o seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.


Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, à brisa enamorada,
Abrir as asas de um anjo e tranças de uma huri.


Quando a sala atravessa, é raro que não lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.


Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;
Quando sonha, repete, em santa companhia,
Os livros do colégio e o nome de um doutor.


Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;
E quando entra num baile, é já dama do tom;
Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;
Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.


Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo
Para ela é o estudo, excetuando-se talvez
A lição de sintaxe em que combina o verbo
To love, mas sorrindo ao professor de inglês.


Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!


Ah! se nesse momento, alucinado, fores
Cair-lhe aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás de vê-la zombar de teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.


É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!



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De que serve a bondade
em 23/09/2008 20:00:00 (8109 leituras)
Bertold Brecht

1
De que serve a bondade
Se os bons são imediatamente liquidados,ou são liquidados
Aqueles para os quais eles são bons?

De que serve a liberdade
Se os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam?

2
Em vez de serem apenas bons,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
Ou melhor:que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio.



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Cidade
em 23/09/2008 18:00:00 (2780 leituras)
Sophia Andresen

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.

Sophia de Mello Breyner Andresen



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Analfabeto Político
em 23/09/2008 10:00:00 (15535 leituras)
Bertold Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia
a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta,
o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.



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Acho natural que não se pense
em 23/09/2008 09:50:00 (3711 leituras)
Fernando Pessoa

Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer coisa
Que tem que ver com haver gente que pensa...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me coisas. . .
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente. . .
Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas coisas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos ...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.

Alberto Caeiro


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Flor da mocidade
em 23/09/2008 09:40:00 (8624 leituras)
Machado de Assis

Flor da mocidade


Eu conheço a mais bela flor;
És tu, rosa da mocidade,
Nascida aberta para o amor.
Eu conheço a mais bela flor.
Tem do céu a serena cor,
E o perfume da virgindade.
Eu conheço a mais bela flor,
És tu, rosa da mocidade.


Vive às vezes na solidão,
Como filha da brisa agreste.
Teme acaso indiscreta mão;
Vive às vezes na solidão.
Poupa a raiva do furacão
Suas folhas de azul celeste.
Vive às vezes na solidão,
Como filha da brisa agreste.


Colhe-se antes que venha o mal,
Colhe-se antes que chegue o inverno;
Que a flor morta já nada val.
Colhe-se antes que venha o mal.
Quando a terra é mais jovial
Todo o bem nos parece eterno.
Colhe-se antes que venha o mal,
Colhe-se antes que chegue o inverno.



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Dialética
em 23/09/2008 09:20:00 (5830 leituras)
Vinícius de Moraes

DIALÉTICA
(Vinícius de Moraes)


"É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que sou triste..."
Vinícius de Moraes



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O Velho E A Flor
em 22/09/2008 19:40:00 (9152 leituras)
Vinícius de Moraes

O Velho E A Flor


Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho / Bacalov

Por céus e mares eu andei
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber o que é o amor
Ninguém sabia me dizer
E eu já queria até morrer
Quando um velhinho com uma flor assim falou:

O amor é o carinho
É o espinho que não se vê em cada flor
É a vida quando
Chega sangrando
Aberta em pétalas de amor



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Amigo
em 22/09/2008 10:30:00 (5404 leituras)
Alexandre O´Neill

Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!


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Ode à crítica
em 19/09/2008 14:00:00 (4414 leituras)
Pablo Neruda

Ode à Crítica
(Pablo Neruda )


Eu escrevi cinco versos: um verde,
um outro era um pão redondo,
o terceiro uma casa levantando-se,
o quarto era um anél,
o quinto verso era curto como um relâmpago
e ao escrevê-lo me deixou na razão sua queimadura

E bem, os homens, as mulheres
vieram e tomaram
a sensível matéria,
brisa, vento, fulgor, barro, madeira
e com tão pouca coisa
construiram
paredes, pisos, sonhos,
Em uma linha de minha poesia
secaram roupa ao vento.
Comeram minhas palavras
as guardaram
junto da cabeceira,
viveram com um verso,
com a luz que saiu do meu lado.
Então, chegou um crítico mudo
e outro cheio de linguas,
e outros, outros chegaram
cegos e cheio de olhos,
elegantes alguns
como cravos com sapatos vermelhos...


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O dia da criação
em 15/09/2008 14:30:00 (5847 leituras)
Vinícius de Moraes

O dia da Criação

I

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas como o mar
Em bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por vias das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo o mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguem bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.


II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um gardem-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Há umas difíceis outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva de domingo
Porque hoje é sábado


III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres com as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da esfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos mares de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, nem serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior dos instintos dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, frequentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.



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Vida e Obra
em 12/09/2008 14:20:00 (5062 leituras)
Machado de Assis

Machado de Assis


(...) Assim são as páginas da vida,
como dizia meu filho quando fazia versos,
e acrescentava que as páginas vão
passando umas sobre as outras,
esquecidas apenas lidas.

"Suje-se Gordo!"

Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que freqüentará o autodidata Machado de Assis.

De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando.

Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender. Consta que, em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava, também, com a proteção da madrinha D. Maria José de Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais.

Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito. A Livraria Paula Brito acolhia novos talentos da época, tendo publicado o citado poema e feito de Machado de Assis seu colaborador efetivo.

Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, e começa a escrever durante o tempo livre. Conhece o então diretor do órgão, Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se torna seu protetor.

Em 1858 volta à Livraria Paula Brito, como revisor e colaborador da Marmota, e ali integra-se à sociedade lítero-humorística Petalógica, fundada por Paula Brito. Lá constrói o seu círculo de amigos, do qual faziam parte Joaquim Manoel de Macedo, Manoel Antônio de Almeida, José de Alencar e Gonçalves Dias.

Começa a publicar obras românticas e, em 1859, era revisor e colaborava com o jornal Correio Mercantil. Em 1860, a convite de Quintino Bocaiúva, passa a fazer parte da redação do jornal Diário do Rio de Janeiro. Além desse, escrevia também para a revista O Espelho (como crítico teatral, inicialmente), A Semana Ilustrada(onde, além do nome, usava o pseudônimo de Dr. Semana) e Jornal das Famílias.

Seu primeiro livro foi impresso em 1861, com o título Queda que as mulheres têm para os tolos, onde aparece como tradutor. No ano de 1862 era censor teatral, cargo que não rendia qualquer remuneração, mas o possibilitava a ter acesso livre aos teatros. Nessa época, passa a colaborar em O Futuro, órgão sob a direção do irmão de sua futura esposa, Faustino Xavier de Novais.

Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o título de Crisálidas.

Em 1867, é nomeado ajudante do diretor de publicação do Diário Oficial.

Agosto de 1869 marca a data da morte de seu amigo Faustino Xavier de Novais, e, menos de três meses depois, em 12 de novembro de 1869, casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novais.

Nessa época, o escritor era um típico homem de letras brasileiro bem sucedido, confortavelmente amparado por um cargo público e por um casamento feliz que durou 35 anos. D. Carolina, mulher culta, apresenta Machado aos clássicos portugueses e a vários autores da língua inglesa.

Sua união foi feliz, mas sem filhos. A morte de sua esposa, em 1904, é uma sentida perda, tendo o marido dedicado à falecida o soneto Carolina, que a celebrizou.

Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado em 1872. Com a nomeação para o cargo de primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, estabiliza-se na carreira burocrática que seria o seu principal meio de subsistência durante toda sua vida.

No O Globo de então (1874), jornal de Quintino Bocaiúva, começa a publicar em folhetins o romance A mão e a luva. Escreveu crônicas, contos, poesias e romances para as revistas O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira.

Sua primeira peça teatral é encenada no Imperial Teatro Dom Pedro II em junho de 1880, escrita especialmente para a comemoração do tricentenário de Camões, em festividades programadas pelo Real Gabinete Português de Leitura.

Na Gazeta de Notícias, no período de 1881 a 1897, publica aquelas que foram consideradas suas melhores crônicas.

Em 1881, com a posse como ministro interino da Agricultura, Comércio Obras Públicas do poeta Pedro Luís Pereira de Sousa, Machado assume o cargo de oficial de gabinete.

Publica, nesse ano, um livro extremamente original , pouco convencional para o estilo da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas -- que foi considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira.

Extraordinário contista, publica Papéis Avulsos em 1882, Histórias sem data (1884), Vária Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1889), e Relíquias da casa velha (1906).

Torna-se diretor da Diretoria do Comércio no Ministério em que servia, no ano de 1889.

Grande amigo do escritor paraense José Veríssimo, que dirigia a Revista Brasileira, em sua redação promoviam reuniões os intelectuais que se identificaram com a idéia de Lúcio de Mendonça de criar uma Academia Brasileira de Letras. Machado desde o princípio apoiou a idéia e compareceu às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de 1897, quando se instalou a Academia, foi eleito presidente da instituição, cargo que ocupou até sua morte, ocorrida no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908. Sua oração fúnebre foi proferida pelo acadêmico Rui Barbosa.

É o fundador da cadeira nº. 23, e escolheu o nome de José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono.

Por sua importância, a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.

Dizem os críticos que Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."

BIBLIOGRAFIA:

Comédia

Desencantos, 1861.
Tu, só tu, puro amor, 1881.

Poesia

Crisálidas, 1864.
Falenas, 1870.
Americanas, 1875.
Poesias completas, 1901.

Romance

Ressurreição, 1872.
A mão e a luva, 1874.
Helena, 1876.
Iaiá Garcia, 1878.
Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881.
Quincas Borba, 1891.
Dom Casmurro, 1899.
Esaú Jacó, 1904.
Memorial de Aires, 1908.

Conto:

Contos Fluminenses,1870.
Histórias da meia-noite, 1873.
Papéis avulsos, 1882.
Histórias sem data, 1884.
Várias histórias, 1896.
Páginas recolhidas, 1899.
Relíquias de casa velha, 1906.

Teatro

Queda que as mulheres têm para os tolos, 1861
Desencantos, 1861
Hoje avental, amanhã luva, 1861.
O caminho da porta, 1862.
O protocolo, 1862.
Quase ministro, 1863.
Os deuses de casaca, 1865.
Tu, só tu, puro amor, 1881.

Algumas obras póstumas

Crítica, 1910.
Teatro coligido, 1910.
Outras relíquias, 1921.
Correspondência, 1932.
A semana, 1914/1937.
Páginas escolhidas, 1921.
Novas relíquias, 1932.
Crônicas, 1937.
Contos Fluminenses - 2º. volume, 1937.
Crítica literária, 1937.
Crítica teatral, 1937.
Histórias românticas, 1937.
Páginas esquecidas, 1939.
Casa velha, 1944.
Diálogos e reflexões de um relojoeiro, 1956.
Crônicas de Lélio, 1958.
Conto de escola, 2002.

Antologias

Obras completas (31 volumes), 1936.
Contos e crônicas, 1958.
Contos esparsos, 1966.
Contos: Uma Antologia (02 volumes), 1998

Em 1975, a Comissão Machado de Assis, instituída pelo Ministério da Educação e Cultura, organizou e publicou as Edições críticas de obras de Machado de Assis, em 15 volumes.

Seus trabalhos são constantemente republicados, em diversos idiomas, tendo ocorrido a adaptação de alguns textos para o cinema e a televisão.

*Dia 29/09/2008 vamos comemorar 100 anos da morte de Machado de Assis. Aqui no Brasil, esse ano de 2008 é dedicado a sua obra, bem como publicações comemorativas e eventos ligados ao seu acervo.




*pesquisa realizada nos sites da internet
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Gato que brincas na rua
em 12/09/2008 11:20:00 (20042 leituras)
Fernando Pessoa

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.


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Respondendo a uma pesquisa
em 08/09/2008 20:00:00 (2862 leituras)
Pablo Neruda

Você se pergunta: o que se passará com a poesia no ano de 2000? É uma pergunta embaraçosa. Se esta pergunta me surgisse num beco escuro, de improviso, eu levaria um susto que Deus nosso Senhor me acuda.

Porque, que sei eu do ano 2000? E sobretudo, que sei da poesia?

Do que estou certo é de que não se celebrará o funeral da poesia nesse próximo século.

Em todas as épocas a poesia foi dada como morta, ela porém se tem mostrado centrífuga e sempiterna, se tem mostrado vitalícia, ressuscita com grande intensidade, parece ser eterna. Com Dante pareceu que terminava. Porém pouco depois Jorge Marinque lançava uma centelha, espécie de sputinik, que prosseguia cintilando nas trevas. E logo Victor Hugo parecia arrasar, não ficava nada para os demais. Então o senhor Charles Baudelaire apresentou-se corretamente trajado de dândi, seguido do jovem Arthur Rimbaud, trajado de vagabundo, e a poesia começou de novo. Depois de Walt Whitman, que esperança!, já ficaram plantadas todas as folhas de relva, não se podia pisar no relvado. Não obstante, veio Maiakovski e a poesia parecia uma casa de máquinas: deram-se assobios, disparos, suspiros, soluços, ruídos de trens e de carros blindados. E assim prossegue a história.

É claro que os inimigos da poesia sempre pretenderam assestar-lhe uma pedrada num olho ou um golpe de garrote na nuca. Fizeram-no de diversos modos, como marechais individuais, inimigos da luz, ou regimentos burocráticos que marcharam com passo de ganso contra os poetas. Conseguiram a desesperação de alguns, a decepção de outros, as tristes retificações dos menos. Mas a poesia começou a brotar como uma fonte ou manar como uma ferida, ou a construir com o braço partido, ou a cantar no deserto, ou a levantar-se como uma árvore, ou a transbordar como um rio, ou a estrelar-se como a noite nas mesetas da Bolívia.

A poesia acompanhou os agonizantes e estancou as dores, conduziu às vitórias, acompanhou os solitários, foi queimante como o fogo, leve e fresca como a neve, teve mãos, dedos e punhos, teve brotos como a primavera, teve olhos como a cidade de Granada, foi mais veloz do que os projéteis dirigidos, foi mais forte pelas fortalezas: deitou raízes no coração do homem.

Não é provável que começando o ano 2000, os poetas encabecem uma sublevação mundial para que se reparta a poesia. A poesia se repartirá como conseqüência do progresso humano, do desenvolvimento e do acesso dos povos ao livro e à cultura. Não é provável que os poetas cheguem a opinar ou a governar, embora alguns deles o estejam fazendo, alguns muito mal e outros menos mal. Mas os poetas serão sempre bons conselheiros e cuidado com deixar de ouvi-los. Muitas vezes os governantes têm comunicações públicas com seus povos. A poesia tem comunicação secreta com os sofrimentos do homem. Há que ouvis os poetas. É uma lição de história.

É provável que no ano 2000 o poeta mais novidadeiro, mais na moda em toda a parte, seja um poeta grego que agora ninguém lê e que se chamou Homero.

Eu estou de acordo e com este objetivo vou começar a lê-lo novamente. Vou procurar sua influencia, branda e heróica, suas maldições e profecias, sua mitologia de mármore e seus bordões de cego.

Preparando o novo século, tratarei de escrever á maneira de Homero. Não me ficará mal um estilo tão fabuloso e tão encharcado do mar ilustre.

Logo sairei com algumas bandeiras de Ulisses, rei de Ítaca, pelas ruas. E como os gregos já terão saído de seus presídios, acompanhar-me-ão também para dar normas do novo estilo do século XXI.


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A Colhida e a Morte
em 06/09/2008 15:20:00 (4015 leituras)
Garcia Lorca

Às cinco horas da tarde.

Eram as cinco em ponto da tarde.

Um menino trouxe o lençol branco

às cinco horas da tarde.

Uma ceira de cal já preparada

às cinco horas da tarde.

Tudo o mais era morte, apenas morte

às cinco horas da tarde.



O vento levou os algodões

às cinco horas da tarde.

E o óxido semeou cristal e níquel

às cinco horas da tarde.

Já lutam a pomba e o leopardo

às cinco horas da tarde.

E uma coxa com um chifre desolado

às cinco horas da tarde.

Começaram os acordes de bordão

às cinco horas da tarde.

Os sinos de arsénico e o fumo

às cinco horas da tarde.

Pelas esquinas grupos de silêncio

às cinco horas da tarde.

E o touro sozinho coração acima!

às cinco horas da tarde.

Quando o suor de neve foi chegando

às cinco horas da tarde,

quando a praça se cobriu de iodo

às cinco horas da tarde,

a morte pôs ovos na ferida

às cinco horas da tarde.

às cinco horas da tarde.

Às cinco horas em ponto da tarde.

(...)

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Soneto VI
em 02/09/2008 19:50:00 (3229 leituras)
Dante Milano

Soneto VI


Não sei de que cansaços me proveio
O peso que carrego sobre os ombros.
Sou como quem depois de um bombardeio,
Se levanta no meio dos escombros.

E sente a dor das pedras rebentadas,
Mais alta que o grito das criaturas
A dor do chão, dos muros, das calçadas,
De onde o pranto não brota, dores duras.

O único alívio é olhar o céu sem fundo,
O véu de sonho que recobre o mundo,
E absorve, esbate, anula realidade

Sob a expansão do azul intenso e forte.
Dor sem fim, olhar calmo além da morte,
Não desespero, sim perplexidade!



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Não é preciso
em 31/08/2008 14:30:00 (5402 leituras)
Pablo Neruda

Não é preciso assobio
para estar só,
para viver a escuras.

Em plena multidão, em pleno céu,
nós nos lembramos de quem nós éramos,
ao íntimo, ao desnudo,
ao único que sabe como crescem suas unhas,
que sabe como se faz seu silêncio
e suas pobres palavras.
Há Pedro para todos,
luzes, satisfatórias Berenices,
mas, para dentro,
por debaixo da idade e vestimenta,
ainda não temos nome,
somos de outra maneira.
Não só para dormir os olhos se fecharam
mas sim para não ver o mesmo céu.
Nós cansamos de súbito
e como se tocassem no campanário
para entrar ao colégio,
regressamos à pétala escondida,
para o osso, para a raiz semi-secreta,
e ali, súbito, somos,
somos aquele puro e não lembrado,
somos o verdadeiro
entre os quatro muros de nossa única pele,
entre as duas espadas de viver e de morrer.


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Testamento do poeta
em 31/08/2008 13:20:00 (4340 leituras)
José Régio

Testamento do poeta


Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
Não sou dos que se aceita… a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.

O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!

E o mesmo digo a tudo e a todos, - hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu próprio Deus nego, e o ar me foge.

Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!…
Basta-me o gesto de contar um verso.

José Régio
(1901-1969)



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Vida e Obra
em 24/08/2008 18:00:00 (83596 leituras)
William Shakespeare

Senhoras e senhores:

William Shakespeare (Stratford-upon-Avon, 23 de Abril de 1564 — Stratford-upon-Avon, 23 de Abril de 1616) foi um dramaturgo e poeta inglês, amplamente considerado como o maior dramaturgo da Língua inglesa e um dos mais influentes no mundo ocidental.

Suas obras que permaneceram ao longo dos tempos consistem de 38 peças, 154 sonetos, dois poemas de narrativa longa, e várias outras poesias.

Suas obras são mais atualizadas do que as de qualquer outro dramaturgo. Muitos de seus textos e temas, especialmente os do teatro, permaneceram vivos até aos nossos dias, sendo revisitados com freqüência pelo teatro, televisão, cinema e literatura.

Entre suas obras é impossível não ressaltar Romeu e Julieta, que se tornou a história de amor por excelência e Hamlet, que possui uma das frases mais conhecidas da língua inglesa: To be or not to be: that's the question (Ser ou não ser, eis a questão).

É certo que muito pouco se sabe sobre a vida de William Shakespeare. Shakespeare nasceu e foi criado em Stratford-upon-Avon. Aos 18 anos, segundo alguns estudiosos, casou-se com Anne Hathaway, que lhe concedeu três filhos: Susanna, e os gêmeos Hamnet e Judith Quiney.

Entre os anos 1585 e 1592, William começou uma carreira bem-sucedida em Londres como ator, dramaturgo e proprietário da companhia de teatro Lord Chamberlain's Men, mais tarde conhecida como King's Men. Parece que ele reformou a Stratford em torno de 1613, morrendo três anos depois.

Há especulações sobre sua sexualidade, sobre suas convicções religiosas, e sobre a autoria de suas peças, pois há especulativas que na realidade ele pode nunca ter existido, isto é, talvez suas obras tenham sido compostas por outras pessoas.

Essa última especulação é extensa e tem diversas suposições, desde a de que esses autores assinavam como William Shakespeare, escondendo sua identidade, até a de que William Shakespeare foi provavelmente um ator passando-se como o autor das obras, que na verdade eram compostas por outros dramaturgos.

Produziu suas obras mais famosas entre 1590 e 1613. Suas primeiras peças foram principalmente comédias e histórias, gêneros do qual ele refinou com sofisticação.

Em seguida, escreveu principalmente tragédias até 1608, incluindo Hamlet, Rei lear e Macbeth, considerados alguns dos melhores exemplos do idioma inglês.

Em sua última fase, escreveu tragicomédias e colaborou com outros dramaturgos. Shakespeare era um respeitado poeta e dramaturgo em sua época, mas sua reputação só chegou ao nível em que está hoje a partir do século 19. O Romantismo, em particular, aclamou a genialidade de Shakespeare.

A maioria das informações que se fazem acerca de William Shakespeare são meras especulações derivadas de estudos, leituras, interpretações, pontos de vistas, hipóteses, lógicas. A única coisa que se tem certeza absoluta é que as peças atribuídas a Shakespeare marcaram praticamente todos os séculos seguintes, começando pelo tempo em que viveu.

William Shakespeare morreu em 23 de Abril de 1616, mesmo dia de seu aniversário. Susanna havia se casado com um médico, John Hall, em 1607, e Judith tinha se casado com Thomas Quiney, um vinificador, dois meses antes da morte do pai. A morte de Shakespeare envolve mistério ainda hoje. No entanto, é óbvio que existam diversas anedotas. A que mais se propagou é a de que Shakespeare estaria com uma forte febre, causada pela embriaguez. Recebendo a visita de Ben Jonson e de Michael Drayton, Shakespeare bebeu demais e, segundo diversos biógrafos, seu estado se agravou.

Os restos mortais de Shakespeare foram sepultados na igreja da Santíssima Trindade (Holy Trinity Church) em Stratford-upon-Avon. Seu túmulo mostra uma estátua vibrante, em pose de literário, mais vivo do que nunca. A cado ano, na comemoração de seu nascimento, é colocada uma nova pena de ave na mão direita de sua estátua. Acredita-se que Shakespeare temia o costume de sua época, em que provavelmente havia a necessidade de esvaziar as mais antigas sepulturas para abrir espaços à novas e, por isso, há um epitáfio na sua lápide, que anuncia a maldição de quem mover seus ossos.




Principais obras

Comédias
Sonho de uma Noite de Verão
O Mercador de Veneza
A Comédia dos Erros
Os Dois Cavalheiros de Verona
Muito Barulho por Nada
Noite de Reis
Medida por Medida
Conto do Inverno
Cimbelino
A Megera Domada
A Tempestade
Como Gostais
Tudo Bem quando Termina Bem
As Alegres Comadres de Windsor
Trabalhos de Amores Perdidos
Péricles, Príncipe de Tiro

Tragédias
Tito Andrônico
Romeu e Julieta
Júlio César
Macbeth
Antônio e Cleópatra
Coriolano
Timão de Atenas
Rei Lear
Otelo, o Mouro de Veneza
Hamlet
Tróilo e Créssida
A Tempestade

Dramas históricos
Rei João
Ricardo II
Ricardo III
Henrique IV, Parte 1
Henrique IV, Parte 2
Henrique V
Henrique VI, Parte 1
Henrique VI, Parte 2
Henrique VI, Parte 3
Henrique VIII
Eduardo III



*pesquisa realizada em sites da internet
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Rosa Mutável
em 24/08/2008 16:04:01 (4145 leituras)
Garcia Lorca

Quando se abre na manhã,
rubra como sangue está.
O orvalho não a toca
com medo de se queimar.
Aberta à luz do meio-dia
é dura como um coral.
O sol assoma nos vidros
só para a ver fulgurar.
Quando nos ramos começam
os pássaros a cantar,
e quando a tarde desmaia
nas violetas do mar,
torna-se branca, tão branca
como uma face de sal.
E logo que a noite toca
brando corno de metal,
e as estrelas avançam
enquanto se esconde o ar,
no risco fino da sombra,
começa-se a desfolhar.

in TRINTA E SEIS POEMAS E UMA ALELUIA ERÓTICA,Federico Garcia Lorca, Tradução de Eugénio de Andrade, Editorial Inova Limitada, Janeiro de 1970


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Vou-me embora pra Pasárgada
em 24/08/2008 16:02:41 (58114 leituras)
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo incosenqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’agua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de seu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada



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Alma minha gentil, que te partiste
em 18/08/2008 00:50:00 (16162 leituras)
Luís de Camões

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


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Ninguém venha me dar vida
em 16/08/2008 21:00:00 (8661 leituras)
Cecília Meireles



Ninguém venha me dar vida,
que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer,
que não tenho mal nem dor,
que estou de sonho ferido,
que não me quero curar,
que estou deixando de ser,
e não quero me encontrar,
que estou dentro de um navio,
que sei que vai naufragar,
já não falo e ainda sorrio,
porque está perto de mim
o dono verde do mar
que busquei desde o começo,
e estava apenas no fim.
Corações, por que chorais?
Preparai meu arremesso
para as algas e os corais.
Fim ditoso, hora feliz:
guardai meu amor sem preço,
que só quis quem não me quis.

Cecília Meireles


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Vida e Obra
em 11/08/2008 13:06:36 (34091 leituras)
Pablo Neruda

Senhoras e senhores um Prêmio Nobel da Literatura,

Pablo Neruda:

Nome de batismo: Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, nascido em Parral, 12 de Julho de 1904 e falecido em Santiago, 23 de Setembro de 1973; foi um poeta chileno premiado com o Nobel de Literatura de 1971, um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX e cônsul do Chile na Espanha (1934-1938) e no México.

Neruda era filho de José del Carmen Reyes Morales, operário ferroviário, e de Rosa Basoalto Opazo, professora primária, morta quando Neruda tinha um mês de vida.

Em 1906 o pai se transferiu para Temuco, onde se casou com Trinidad Candia Marverde, que o poeta menciona em diversos textos, como "Confesso que vivi" e "Memorial de Ilha Negra", como o nome de Mamadre. Estudou no Liceu de Homens dessa cidade, e ali publicou seus primeiros poemas no periódico regional "A Manhã". Em 1919 obteve o terceiro lugar nos Jogos Florais de Maule com o poema Noturno Ideal.

Em 1921 radicou-se em Santiago e estudou pedagogia em francês na Universidade do Chile, obtendo o primeiro prêmio da festa da primavera com o poema "A Canção de Festa", publicado posteriormente na revista Juventude. Em 1923 publica Crespusculário, que é reconhecido por escritores como Alone, Raul Silva Castro e Pedro Prado. No ano seguinte aparece pela Editorial Nascimento seus "Vinte poemas de amor e uma canção desesperada", no que ainda se nota uma influência do modernismo. Posteriormente se manifesta um propósito de renovação formal de intenção vanguardista em três breves livros publicados em 1936: O habitante e sua esperança; Anéis (em colaboração com Tomás Lagos) e Tentativa do homem infinito.

Em 1927 começa sua longa carreira diplomática quando é nomeado cônsul em Rangum, Birmânia. Em suas múltiplas viagens conhece em Buenos Aires Federico Garcia Lorca e em Barcelo Rafael Alberti. Em 1935, Manuel Altolaguirre entrega a Neruda a direção da revista "Cavalo verde para a poesia" na qual é companheiro dos poetas da geração de 27. Nesse mesmo ano aparece a edição madrilenha de "Residência na terra".

Em 1936, eclode a Guerra Civil espanhola: Neruda é destituído do cargo consular e escreve "Espanha no coração"

Em 1945 é eleito senador e obtém o Prêmio Nacional de Literatura.

Em 1950 publica "Canto Geral", em que sua poesia adota intenção social, ética e política. Em 1952 publica «Os Versos do Capitão» e em 1954 «As uvas e o vento» e «Odes Elementares».

Em 1953 constrói sua casa em Santiago apelidada "La Chascona" para se encontrar clandestinamente com sua amante Matilde, a quem havia dedicado a obra «Os Versos do Capitão». A casa foi uma de suas três casas no Chile, as outras estão em Isla Negra e Valparaíso. "La Chascona" é um museu com objetos de Neruda e pode ser visitada, em Santiago. Recebeu o Prêmio Lênin da Paz.

Em 1958 apareceu Estravagario com uma nova mudança em sua poesia.

Em 1965 lhe foi outorgado o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Oxford, Grã-Bretanha.

Em outubro de 1971 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.

Morreu em Santiago em 23 de setembro de 1973, de câncer na próstata. Postumamente foram publicadas suas memórias em 1974, com o título "Confesso que vivi" .

Em 1994 um filme chamado Il Postino (também conhecido como O Carteiro e O Poeta ou O Carteiro de Pablo Neruda no Brasil e em Portugal) conta sua história numa ilha na Itália com sua terceira mulher Matilde. No filme Neruda torna-se amigo de um carteiro que lhe pede para ensinar a escrever versos (para poder conquistar uma bonita moça do povoado).

Durante as eleições presidenciais do Chile nos anos 70, Neruda abriu mão de sua candidatura para que Salvador Allende vencesse, pois ambos eram marxistas e acreditavam numa América Latina mais justa que, a seu ver, poderia ocorrer com o socialismo.

Obra:

Crepusculario. Santiago, Ediciones Claridad, 1923.
Veinte poemas de amor y una canción desesperada. Santiago, Nascimento, 1924.
Tentativa del hombre infinito. Santiago, Nascimento, 1926.
El habitante y su esperanza. Novela. Santiago, Nascimento, 1926. (prosa)
Residencia en la tierra (1925-1931). Madrid, Ediciones del Arbol, 1935.
España en el corazón. Himno a las glorias del pueblo en la guerra: (1936- 1937). Santiago, Ediciones Ercilla, 1937.
Tercera residencia (1935-1945). Buenos Aires, Losada, 1947.
Canto general. México, Talleres Gráficos de la Nación, 1950.
Todo el amor. Santiago, Nascimento, 1953.
Odas elementales. Buenos Aires, Losada, 1954.
Nuevas odas elementales. Buenos Aires, Losada, 1955.
Tercer libro de las odas. Buenos Aires, Losada, 1957.
Estravagario. Buenos Aires, Losada, 1958.
Cien sonetos de amor (Cem Sonetos de Amor). Santiago, Ed. Universitaria, 1959.
Navegaciones y regresos. Buenos Aires, Losada, 1959.
Poesías: Las piedras de Chile. Buenos Aires, Losada, 1960.
Cantos ceremoniales. Buenos Aires, Losada, 1961.
Memorial de Isla Negra. Buenos Aires, Losada, 1964. 5 vols.
Arte de pájaros. Santiago, Ediciones Sociedad de Amigos del Arte Contemporáneo, 1966.
Fulgor y muerte de Joaquín Murieta. Bandido chileno injusticiado en California el 23 de julio de 1853. Santiago, Zig-Zag, 1967. (obra teatral)
La Barcaola. Buenos Aires, Losada, 1967.
Las manos del día. Buenos Aires, Losada, 1968.
Fin del mundo. Santiago, Edición de la Sociedad de Arte Contemporáneo, 1969.
Maremoto. Santiago, Sociedad de Arte Contemporáneo, 1970.
La espada encendida. Buenos Aires, Losada, 1970.
Discurso de Stockholm. Alpigrano, Italia, A. Tallone, 1972.
Invitación al Nixonicidio y alabanza de la revolución chilena. Santiago, Empresa Editora Nacional Quimantú, 1973.
Libro de las preguntas. Buenos Aires, Losada, 1974.
Jardín de invierno. Buenos Aires, Losada, 1974.
Confieso que he vivido. Memorias. Barcelona, Seix Barral, 1974. (autobiografía)
Para nacer he nacido. Barcelona, Seix Barral, 1977.
El río invisible. Poesía y prosa de juventud. Barcelona, Seix Barral, 1980.
Obras completas. 3a. ed. aum. Buenos Aires, Losada, 1967. 2 vols.



*pesquisa realizada em sites da internet.

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No meio do caminho
em 11/08/2008 07:40:00 (59443 leituras)
Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

in Carlos Drummond de Andrade, 60 Anos de Poesia, Antologia organizada e apresentada por Arnaldo Saraiva, Edições «O Jornal», Março de 1985



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LXXXI
em 06/08/2008 09:00:00 (3104 leituras)
Pablo Neruda

Já és minha. Repousa com teu sonho em meu sonho.
Amor, dor, trabalhos, devem dormir agora.
Gira a noite sobre suas invisíveis rodas
e junto a mim és pura como o âmbar dormindo.

Nenhuma mais, amor, dormirá com meus sonhos.
Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.
Nenhuma viajará pela sombra comigo,
só tu, sempre-viva, sempre sol, sempre lua.

Já tuas mãos abriram os punhos delicados
e deixaram cair suaves sinais sem rumo
teus olhos se fecharam como duas asas cinzas,

enquanto eu sigo a água que levas e me leva:
a noite, o mundo, o vento enovelam seu destino,
e já não sou sem ti apenas teu sonho.


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Como é por dentro outra pessoa
em 06/08/2008 08:20:00 (8458 leituras)
Fernando Pessoa

Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.



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Vida e Obra
em 01/08/2008 18:30:00 (12596 leituras)
Casimiro de Abreu

Casimiro José Marques de Abreu nasceu em Barra de São João do dia 4 de janeiro de 1839 e faleceu em Nova Friburgo, no dia 18 de outubro de 1860, foi um poeta brasileiro da segunda geração romântica.

Filho de um abastado comerciante e fazendeiro português, e de Luísa Joaquina das Neves, uma fazendeira viúva. A localidade onde nasceu, Barra de São João, é hoje distrito do município que leva seu nome, e também chamada "Casimirana", em sua homenagem. Recebeu apenas a instrução primária no Instituto Freeze, em Nova Friburgo, então cidade de maior porte da região serrana do estado do Rio de Janeiro, e para onde convergiam, à época, os adolescentes induzidos pelos pais a se aplicarem aos estudos. Casimiro, no entanto, só cursou naquela cidade a instrução primária, dos onze aos treze anos.

Aos treze anos transferiu-se para o Rio de Janeiro para trabalhar com o pai no comércio. Com ele, embarcou para Portugal em 1853, onde entrou em contato com o meio intelectual e escreveu a maior parte de sua obra. O seu sentimento nativista e as saudades da família escreve: "estando a minha casa à hora da refeição, pareceu-me escutar risadas infantis da minha mana pequena. As lágrimas brotavam e fiz os primeiros versos de minha vida, que teve o título de Ave Maria".

Em Lisboa, foi representado seu drama Camões e o Jaú em 1856, que foi publicado logo depois.

Seus versos mais famosos do poema Meus oito anos: "Oh! Que saudades que tenho/da aurora da minha vida/, da minha infância querida/que os anos não trazem mais !/ Que amor, que sonhos, que flores,/naquelas tardes fagueiras,/ à sombra das bananeiras,/ debaixo dos laranjais !"

Em 1857 retornou ao Brasil para trabalhar no armazém de seu pai. Isso, no entanto, não o afastou da vida boêmia. Escreveu para alguns jornais e fez amizade com Machado de Assis. Escolhido para a recém fundada Academia Brasileira de Letras, tornou-se patrono da cadeira número seis.

Tuberculoso, retirou-se para a fazenda de seu pai, Indaiaçu, hoje sede do município que recebeu o nome do poeta, onde inutilmente buscou uma recuperação do estado de saúde, vindo ali a falecer. Foi sepultado conforme desejo onde nasceu, estando sua lápide no cemitério da secular Capela de São João Batista, em Barra de São João, junto ao túmulo do pai. Em 1859 editou as suas poesias reunidas sob o título de Primaveras.

Espontâneo e ingênuo, de linguagem simples, tornou-se um dos poetas mais populares do Romantismo no Brasil. Deixou uma obra cujos temas abordavam a casa paterna, a saudade da terra natal e o amor (mas este tratado sem a complexidade e a profundidade tão caras a outros poetas românticos).

A localidade de Barra de São João passou a denominar-se "Casemiro de Abreu" em sua homenagem.


*fonte: sites da internet.

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Dizeres íntimos
em 30/07/2008 12:40:00 (10993 leituras)
Florbela Espanca

É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento da Saudade!

E logo vou olhar (com que ansiedade!...)
As minhas mãos esguias, languescentes,
Mãos de brancos dedos, uns bebés doentes
Que hão-de morrer em plena mocidade!

E ser-se novo é ter-se o Paraíso
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!

E os meus vinte e três anos...(Sou tão nova!)
Dizem baixinho a rir "Que linda a vida!..."
Responde a minha Dor: "Que linda a cova!"

Florbela Espanca


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Primaveras
em 30/07/2008 11:50:00 (38113 leituras)
Casimiro de Abreu

A primavera é a estação dos risos.
Deus fita o mundo com celeste afago,
Tremem as folhas e palpita o lago
Da brisa louca aos amorosos frisos.

Na primavera tudo é viço e gala,
Trinam as aves a canção de amores,
E doce e bela no tapiz das flores
Melhor perfume a violeta exala.

Na primavera tudo é riso e festa,
Brotam aromas do vergel florido,
E o ramo verde de manhã colhido
Enfeita a fronte da aldeã modesta.

A natureza se desperta rindo,
Um hino imenso a criação modula
Canta a calhandra, a juriti arrula,
O mar é calmo porque o céu é lindo

Alegre e verde se balança o galho,
Suspira a fonte na linguagem meiga,
Murmura a brisa:- Como é linda a veiga!
Responde a rosa: - Como é doce o orvalho!

II
Mas como às vezes sobre o céu sereno
Corre uma nuvem que a tormenta guia,
Também a lira alguma vez sombria
Solta gemendo de amargura um treno.

São flores murchas:- o jasmim fenece,
Mas bafejado s’erguerá de novo
Bem como o galho do gentil renovo
Durante a noite quando o orvalho desce.

Se um canto amargo de ironia cheio
Treme nos lábios do cantor mancebo,
Em breve a virgem do seu casto enlevo
Dá-lhe um sorriso e lhe intumesce o seio.

Na primavera - na manhã da vida-
Deus às tristezas o sorriso enlaça,
E a tempestade se dissipa e passa
A voz mimosa da mulher querida.

Na mocidade, na estação fogosa,
Ama-se a vida- a mocidade é crença,
E a alma virgem nesta festa imensa,
Canta, palpita, s’ stasia e goza.
1º. de julho, 1858


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Crepúsculo
em 24/07/2008 14:00:00 (5835 leituras)
David Mourão-Ferreira

Crespúsculo

É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.




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Vida e Obra
em 22/07/2008 17:13:00 (7851 leituras)
Mario Quintana

Mário Quintana...

Mario de Miranda Quintana nasceu na cidade de Alegrete (RS), no dia 30 de julho de 1906, quarto filho de Celso de Oliveira Quintana, farmacêutico, e de D. Virgínia de Miranda Quintana. Com 7 anos, auxiliado pelos pais, aprende a ler tendo como cartilha o jornal Correio do Povo. Seus pais ensinam-lhe, também, rudimentos de francês.

No ano de 1914 inicia seus estudos na Escola Elementar Mista de Dona Mimi Contino.

Em 1915, ainda em Alegrete, freqüentou a escola do mestre português Antônio Cabral Beirão, onde conclui o curso primário. Nessa época trabalhou na farmácia da família. Foi matriculado no Colégio Militar de Porto Alegre, em regime de internato, no ano de 1919. Começa a produzir seus primeiros trabalhos, que são publicados na revista Hyloea, órgão da Sociedade Cívica e Literária dos alunos do Colégio.

Por motivos de saúde, em 1924 deixa o Colégio Militar. Emprega-se na Livraria do Globo, onde trabalha por três meses com Mansueto Bernardi. A Livraria era uma editora de renome nacional.

No ano seguinte, 1925, retorna a Alegrete e passa a trabalhar na farmácia de seu pai. No ano seguinte sua mãe falece. Seu conto, A Sétima Personagem, é premiado em concurso promovido pelo jornal Diário de Notícias, de Porto Alegre.

O pai de Quintana falece em 1927. A revista Para Todos, do Rio de Janeiro, publica um poema de sua autoria, por iniciativa do cronista Álvaro Moreyra, diretor da citada publicação.

Em 1929, começa a trabalhar na redação do diário O Estado do Rio Grande, que era dirigida por Raul Pilla. No ano seguinte a Revista do Globo e o Correio do Povo publicam seus poemas.

Vem, em 1930, por seis meses, para o Rio de Janeiro, entusiasmado com a revolução liderada por Getúlio Vargas, também gaúcho, como voluntário do Sétimo Batalhão de Caçadores de Porto Alegre.

Volta a Porto Alegre, em 1931, e à redação de O Estado do Rio Grande.

O ano de 1934 marca a primeira publicação de uma tradução de sua autoria: Palavras e Sangue, de Giovanni Papini. Começa a traduzir para a Editora Globo obras de diversos escritores estrangeiros: Fred Marsyat, Charles Morgan, Rosamond Lehman, Lin Yutang, Proust, Voltaire, Virginia Woolf, Papini, Maupassant, dentre outros. O poeta deu uma imensa colaboração para que obras como o denso Em Busca do Tempo Perdido, do francês Marcel Proust, fossem lidas pelos brasileiros que não dominavam a língua francesa.

Retorna à Livraria do Globo, onde trabalha sob a direção de Érico Veríssimo, em 1936.

Em 1939, Monteiro Lobato lê doze quartetos de Quintana na revista lbirapuitan, de Alegrete, e escreve-lhe encomendando um livro. Com o título Espelho Mágico o livro vem a ser publicado em 1951, pela Editora Globo.

A primeira edição de seu livro A Rua dos Cataventos, é lançada em 1940 pela Editora Globo. Obtém ótima repercussão e seus sonetos passam a figurar em livros escolares e antologias.

Em 1943, começa a publicar o Do Caderno H, espaço diário na Revista Província de São Pedro.

Canções, seu segundo livro de poemas, é lançado em 1946 pela Editora Globo. O livro traz ilustrações de Noêmia.

Lança, em 1948, Sapato Florido, poesia e prosa, também editado pela Globo. Nesse mesmo ano é publicado O Batalhão de Letras, pela mesma editora.

Seu quinto livro, O Aprendiz de Feiticeiro, versos, de 1950, é uma modesta plaquete que, no entanto, obtém grande repercussão nos meios literários. Foi publicado pela Editora Fronteira, de Porto Alegre.

Em 1951 é publicado, pela Editora Globo, o livro Espelho Mágico, uma coleção de quartetos, que trazia na orelha comentários de Monteiro Lobato.

Com seu ingresso no Correio do Povo, em 1953, reinicia a publicação de sua coluna diária Do Caderno H (até 1967). Publica, também, Inéditos e Esparsos, pela Editora Cadernos de Extremo Sul - Alegrete (RS).

Em 1962, sob o título Poesias, reúne em um só volume seus livros A Rua dos Cataventos, Canções, Sapato Florido, espelho Mágico e O Aprendiz de Feiticeiro, tendo a primeira edição, pela Globo, sido patrocinada pela Secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do Sul.

Com 60 poemas inéditos, organizada por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, é publicada sua Antologia Poética, em 1966, pela Editora do Autor - Rio de Janeiro. Lançada para comemorar seus 60 anos, em 25 de agosto o poeta é saudado na Academia Brasileira de Letras por Augusto Meyer e Manuel Bandeira, que recita o seguinte poema, de sua autoria, em homenagem a Quintana:

Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.

Quinta-essência de cantares...
Insólitos, singulares...
Cantares? Não! Quintanares!

Quer livres, quer regulares,
Abrem sempre os teus cantares
Como flor de quintanares.

São cantigas sem esgares.
Onde as lágrimas são mares
De amor, os teus quintanares.

São feitos esses cantares
De um tudo-nada: ao falares,
Luzem estrelas luares.

São para dizer em bares
Como em mansões seculares
Quintana, os teus quintanares.

Sim, em bares, onde os pares
Se beijam sem que repares
Que são casais exemplares.

E quer no pudor dos lares.
Quer no horror dos lupanares.
Cheiram sempre os teus cantares

Ao ar dos melhores ares,
Pois são simples, invulgares.
Quintana, os teus quintanares.

Por isso peço não pares,
Quintana, nos teus cantares...
Perdão! digo quintanares.


A Antologia Poética recebe em dezembro daquele ano o Prêmio Fernando Chinaglia, por ter sido considerado o melhor livro do ano. Recebe inúmeras homenagens pelos seus 60 anos, inclusive crônica de autoria de Paulo Mendes Campos publicada na revista Manchete no dia 30 de julho.

Preso à sua querida Porto Alegre, mesmo assim Quintana fez excelentes amigos entre os grandes intelectuais da época. Seus trabalhos eram elogiados por Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Cecília Meireles e João Cabral de Melo Neto, além de Manuel Bandeira. O fato de não ter ocupado uma vaga na Academia Brasileira de Letras só fez aguçar seu conhecido humor e sarcasmo. Perdida a terceira indicação para aquele sodalício, compôs o conhecido

Poeminho do Contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
(Prosa e Verso, 1978)


A Câmara de Vereadores da capital do Rio Grande do Sul — Porto Alegre — concede-lhe o título de Cidadão Honorário, em 1967. Passa a publicar Do Caderno H no Caderno de Sábado do Correio do Povo (até 1980).

Em 1968, Quintana é homenageado pela Prefeitura de Alegrete com placa de bronze na praça principal da cidade, onde estão palavras do poeta: "Um engano em bronze, um engano eterno". Falece seu irmão Milton, o mais velho.

1973. Nesse ano o poeta e prosador lançou, pela Editora Globo — Coleção Sagitário — o livro Do Caderno H. Nele estão seus pensamentos sobre poesia e literatura, escritos desde os anos 40, selecionados pelo autor.

Em 1975 publica o poema infanto-juvenil Pé de Pilão, co-edição do Instituto Estadual do Livro com a Editora Garatuja, com introdução de Érico Veríssimo. Obtém extraordinária acolhida pelas crianças.

Quintanares é impresso em 1976, em edição especial, para ser distribuído aos clientes da empresa de publicidade e propaganda MPM. Por ocasião de seus 70 anos, o poeta é alvo de excepcionais homenagens. O Governo do Estado concede-lhe a medalha do Negrinho do Pastoreio — o mais alto galardão estadual. É lançado o seu livro de poemas Apontamentos de História Sobrenatural, pelo Instituto Estadual do Livro e Editora Globo.

A Vaca e o Hipogrifo, segunda seleção de crônicas, é publicado em 1977 pela Editora Garatuja. O autor recebe o Prêmio Pen Club de Poesia Brasileira, pelo seu livro Apontamentos de História Sobrenatural.

Em 1978 falece, aos 83 anos, sua irmã D. Marieta Quintana Leães. Realiza-se o lançamento de Prosa & Verso, antologia para didática, pela Editora Globo. Publica Chew me up slowly, tradução Do Caderno H por Maria da Glória Bordini e Diane Grosklaus para a Editora Globo e Riocell (indústria de papel).

Na Volta da Esquina, coletânea de crônicas que constitui o quarto volume da Coleção RBS, é lançado em 1979, Editora Globo. Objetos Perdidos y Otros Poemas é publicado em Buenos Aires, tradução de Estela dos Santos e organização de Santiago Kovadloff.

Seu novo livro de poemas é publicado pela L&PM Editores - Porto Alegre, em 1980: Esconderijos do Tempo. Recebe, no dia 17 de julho, o Prêmio Machado de Assis conferido pela Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra. Participa, com Cecília Meireles, Henrique Lisboa e Vinicius de Moraes, do sexto volume da coleção didática Para Gostar de Ler, Editora Ática.

Em 1981, participa da Jornada de Literatura Sul Rio-Grandense, uma iniciativa da Universidade de Passo Fundo e Delegacia da Educação do Rio Grande do Sul. Recebe de quase 200 crianças botões de rosa e cravos, em homenagem que lhe é prestada, juntamente com José Guimarães e Deonísio da Silva, pela Câmara de Indústria, Comércio, Agropecuária e Serviços daquela cidade. No Caderno Letras & Livros do Correio do Povo, reinicia a publicação Do Caderno H. Nova Antologia Poética é publicada pela Editora Codecri - Rio de Janeiro.

O autor recebe o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no dia 29 de outubro de 1982.

É publicado, em 1983, o IV volume da coleção Os Melhores Poemas, que homenageia Mario Quintana, uma seleção de Fausto Cunha para a Global Editora - São Paulo. Na III Festa Nacional do disco, em Canela (RS), é lançado um álbum duplo: Antologia Poética de Mario Quintana, pela gravadora Polygram. Publicação de Lili Inventa o Mundo, Editora Mercado Aberto - Porto Alegre, seleção de Mery Weiss de textos publicado em Letras & Livros e outros livros do autor. Por aprovação unânime da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, o prédio do antigo Hotel Magestic (onde o autor viveu por muitos e muitos anos), tombado como patrimônio histórico do Estado em 1982, passa a denominar-se Casa de Cultura Mário Quintana.

Em 1984 ocorrem os lançamentos de Nariz de Vidro, seleção de textos de Mery Weiss, Editora Moderna - São Paulo, e O Sapo Amarelo, Editora Mercado Aberto - Porto Alegre.

O álbum Quintana dos 8 aos 80 é publicado em 1985, fazendo parte do Relatório da Diretoria da empresa SAMRIG, com texto analítico e pesquisa de Tânia Franco Carvalhal, fotos de Liane Neves e ilustrações de Liana Timm.

Ao completar 80 anos, em 1986, é publicada a coletânea 80 Anos de Poesia, organizada por Tânia Carvalhal, Editora Globo. Recebe o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS) e pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Lança Baú de Espantos, pela Editora Globo, uma reunião de 99 poemas inéditos.

Em 1987, são publicados Da Preguiça como Método de Trabalho, Editora Globo, uma coletânea de crônicas publicadas em Do Caderno H, e Preparativos de Viagem, também pela Globo, reflexões do poeta sobre o mundo.

Porta Giratória, pela Editora Globo - Rio de Janeiro, é lançada em 1988, uma reunião de crônicas sobre o cotidiano, o tempo, a infância e a morte.

Em 1989 ocorre o lançamento de A Cor do Invisível pela Editora Globo - Rio de Janeiro. Recebe o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Campinas (UNICAMP) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É eleito o Príncipe dos Poetas Brasileiros, entre escritores de todo o Brasil.

Velório sem Defunto, poemas inéditos, é lançado pela Mercado Aberto em 1990.

Em 1992, a editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) reedita, em comemoração aos 50 anos de sua primeira publicação, A Rua dos Cataventos.

Poemas inéditos são publicados no primeiro número da Revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional/Departamento Nacional do Livro, em 1993. Integra a antologia bilíngüe Marco Sul/Sur - Poesia, publicada Editora Tchê!, que reúne a poesia de brasileiros, uruguaios e argentinos. Seu texto Lili Inventa o Mundo montado para o teatro infantil, por Dilmar Messias. Treze de seus poemas são musicados pelo maestro Gil de Rocca Sales, para o recital de canto Coral Quintanares - apresentado pela Madrigal de Porto Alegre no dia 30 de julho (seu aniversário) na Casa de Cultura Mario Quintana.

Alguns de seus textos são publicados na revista literária Liberté - editada em Montreal, Quebec, Canadá - que dedicou seu 211o número à literatura brasileira (junto com Assis Brasil e Moacyr Scliar), em 1994. Publicação de Sapato Furado, pela editora FTD - antologia de poemas e prosas poéticas, infanto - juvenil. Publicação pelo IEL, de Cantando o Imaginário do Poeta, espetáculo musical apresentado no Teatro Bruno Kiefer pelo Coral da Casa de Cultura Mário Quintana, constituído de poemas musicados pelo maestro Adroaldo Cauduro, regente do mesmo Coral.

Falece, em Porto Alegre, no dia 5 de maio de 1994, próximo de seus 87 anos, o poeta e escritor Mario Quintana.

Escreveu Quintana:

"Amigos não consultem os relógios quando um dia me for de vossas vidas... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira".

E, brincando com a morte: "A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos".

Bibliografia:

- Em português:

- A Rua dos Cata-ventos (1940)
- Canções (1946)
- Sapato Florido (1948)
- O Batalhão de Letras (1948)
- O Aprendiz de Feiticeiro (1950)
- Espelho Mágico (1951)
- Inéditos e Esparsos (1953)
- Poesias (1962)
- Antologia Poética (1966)
- Pé de Pilão (1968) - literatura infanto-juvenil
- Caderno H (1973)
- Apontamentos de História Sobrenatural (1976)
- Quintanares (1976) - edição especial para a MPM Propaganda.
- A Vaca e o Hipogrifo (1977)
- Prosa e Verso (1978)
- Na Volta da Esquina (1979)
- Esconderijos do Tempo (1980)
- Nova Antologia Poética (1981)
- Mario Quintana (1982)
- Lili Inventa o Mundo (1983)
- Os melhores poemas de Mario Quintana (1983)
- Nariz de Vidro (1984)
- O Sapato Amarelo (1984) - literatura infanto-juvenil
- Primavera cruza o rio (1985)
- Oitenta anos de poesia (1986)
- Baú de espantos ((1986)
- Da Preguiça como Método de Trabalho (1987)
- Preparativos de Viagem (1987)
- Porta Giratória (1988)
- A Cor do Invisível (1989)
- Antologia poética de Mario Quintana (1989)
- Velório sem Defunto (1990)
- A Rua dos Cata-ventos (1992) - reedição para os 50 anos da 1a. publicação.
- Sapato Furado (1994)
- Mario Quintana - Poesia completa (2005)
- Quintana de bolso (2006)

No exterior:

- Em espanhol:
- Objetos Perdidos y Otros Poemas (1979) - Buenos Aires - Argentina.
- Mario Quintana. Poemas (1984) - Lima, Peru.

Participação em Antologias:

No Brasil:

- Obras-primas da lírica brasileira (1943)
- Coletânea de poetas sul-rio-grandenses. 1834-1951 - (1952)
- Antologia da poesia brasileira moderna. 1922-1947 - (1953)
- Poesia nossa (1954)
- Antologia poética para a infância e a juventude (1961)
- Antologia da moderna poesia brasileira (1967)
- Antologia dos poetas brasileiros (1967)
- Poesia moderna (1967)
- Porto Alegre ontem e hoje (1971)
- Dicionário antológico das literaturas portuguesa e brasileira (1971)
- Antologia da estância da poesia crioula (1972)
- Trovadores do Rio Grande do Sul (1972)
- Assim escrevem os gaúchos (1976)
- Antologia da literatura rio-grandense contemporânea - Poesia e crônica (1979)
- Histórias de vinho (1980)
- Para gostar de ler: Poesias (1980)
- Te quero verde. Poesia e consciência ecológica (1982)

No Exterior:

- La poésie brésilienne, 1930-1940 - Rio de Janeiro (para circulação no exterior) (1941)
- Brazilian literature. An outline. - New York (1945)
- Poesía brasileña contemporánea, 1920-1946 - Montevideo (1947)
- Antologia de la poesía brasileña - Madrid (1952)
- La poésie brésilliene contemporaine - Paris (1954)
- Un secolo di poesia brasiliana - Siena (1954)
- Antología de la poesía brasileña - Buenos Aires (1959)
- Antología de la poesía brasileña. Desde el Romanticismo a la Generación de Cuarenta y Cinco - Barcelona (1973)
- Chew me up slowly - Porto Alegre (para circulação no exterior) (1978)
- Las voces solidarias - Buenos Aires (1978)

Traduções:

PAPINI, Giovanni. Palavras e sangue. Porto Alegre: Globo, 1934.
MARSYAT, Fred. O navio fantasma. Porto Alegre: Globo, 1937.
VARALDO, Alessandro. Gata persa. Porto Alegre: Globo, 1938.
LUDWIG, Emil. Memórias de um caçador de homens. Porto Alegre: Globo, 1939.
CONRAD, Joseph. Lord Jim. Porto Alegre: Globo, 1939.
STACPOOLE, H. de Vere. A laguna azul. Porto Alegre: Globo, 1940.
GRAVE, R. Eu, Claudius Imperator. Porto Alegre: Globo, 1940.
MORGAN, Charles. Sparkenbroke. Porto Alegre: Globo, 1941.
YUTANG, Lin. A importância de viver. Porto Alegre: Globo, 1941.
BRAUN, Vicki. Hotel Shangai. Porto Alegre: Globo, 1942.
FULOP-MILLER, René. Os grandes sonhos da humanidade. Porto Alegre: Globo, 1942 (de parceria com R. Ledoux).
MAUPASSANT, Guy de. Contos. Porto Alegre: Globo, 1943.
LAMB, Charles & LAMB, Mary Ann. Contos de Shakespeare. Porto Alegre: Globo, 1943.
MORGAN, Charles. A fonte. Porto Alegre: Globo, 1944.
MAUROIS, André. Os silêncios do Coronel Branble. Porto Alegre: Globo, 1944.
LEHMANN, Rosamond. Poeira. Porto Alegre: Globo, 1945.
JAMES, Francis. O albergue das dores. Porto Alegre: Globo, 1945.
LAFAYETTE, Condessa de. A princesa de Cléves. Porto Alegre: Globo, 1945.
BEAUMARCHAIS. O barbeiro de Sevilha ou a precaução inútil. Porto Alegre: Globo, 1946.
WOOLF, Virginia. Mrs. Dalloway. Porto Alegre: Globo, 1946.
PROUST, Marcel. No caminho de Swann. Porto Alegre: Globo, 1948.
BROWN, Frederiek. Tio prodigioso. Porto Alegre: Globo, 1951.
HUXLEY, Aldous. Duas ou três graças. Porto Alegre: Globo, 1951.
MAUGHAM, Somerset. Confissões. Porto Alegre: Globo, 1951.
PROUST, Marcel. À sombra das raparigas em flor. Porto Alegre: Globo, 1951.
VOLTAIRE. Contos e novelas. Porto Alegre: Globo, 1951.
BALZAC, Honoré de. Os sofrimentos do inventor. Porto Alegre: Globo, 1951.
MAUGHAM, Somerset. Biombo chinês. Porto Alegre: Globo, 1952.
THOMAS, Henry & ARNOLD, Dana. Vidas de homens notáveis. Porto Alegre: Globo, 1952.
GRENNE, Graham. O poder e a glória. Porto Alegre: Globo, 1953.
PROUST, Marcel. O caminho de Guermantes. Porto Alegre: Globo, 1953.
PROUST, Marcel. Sodoma e Gomorra. Porto Alegre:Globo, 1954.
BALZAC, Honoré de. Uma paixão no deserto. Porto Alegre: Globo, 1954.
MÉRIMÉE, Prospero Novelas completas. Porto Alegre:Globo, 1954.
MAUGHAM, Somerset. Cavalheiro de salão. Porto Alegre: Globo, 1954.
BUCK, Pearl S. Debaixo do céu. Porto Alegre: Globo, 1955.
BALZAC, Honoré de. Os proscritos. Porto Alegre: Globo, 1955.
BALZAC, Honoré de. Seráfita. Porto Alegre: Globo, 1955.

Discos:

- Antologia Poética de Mario Quintana - Gravadora Polygram (1983)

Música:

- Recital Canto Coral Quintanares (1993) - treze poemas musicados pelo maestro Gil de Rocca Sales.

- Cantando o Imaginário do Poeta (1994) - Coral Casa de Mario Quintana - poemas musicados pelo maestro Adroaldo Cauduro.

Teatro:

- Lili Inventa o Mundo (1993) - montagem de Dilmar Messias.

Sobre o autor:

- Quintana dos 8 aos 80 (1985)


Dados obtidos em livros do e sobre o autor e páginas na Internet, em especial a da Casa de Cultura Mario Quintana / Suzana Kanter.

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Vida e Obra
em 21/07/2008 13:27:50 (14440 leituras)
Manuel Bandeira

Senhoras e Senhores, Manuel Bandeira:

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho - Manuel Bandeira - nasceu em Recife, dia 19 de abril de 1886 e faleceu no Rio de Janeiro, em 13 de outubro de 1968 - foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.

Considera-se que Bandeira faça parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema "Os Sapos" o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922. Juntamente com escritores como João Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto Freyre e José Condé, representa o que há de melhor na produção literária do estado de Pernambuco.

Filho do engenheiro Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e de sua esposa Francelina Ribeiro, era neto paterno de Antônio Herculano de Sousa Bandeira, advogado, professor da Faculdade de Direito do Recife e deputado geral na 12ª legislatura. Tendo dois tios reconhecidamente importantes, sendo um, João Carneiro de Sousa Bandeira, que foi advogado, professor de Direito e membro da Academia Brasileira de Letras e o outro, Antônio Herculano de Sousa Bandeira Filho, que era o irmão mais velho do engenheiro Sousa Bandeira e foi advogado, procurador da coroa, autor de expressiva obra jurídica e foi também Presidente da Províncias da Paraíba e de Mato Grosso.

Seu avô materno era Antônio José da Costa Ribeiro, advogado e político, deputado geral na 12ª legislatura. Costa Ribeiro era o avô citado em Evocação do Recife. Sua casa na rua da União é referida no poema como "a casa de meu avô". No Rio de Janeiro, para onde viajou com a família, em função da profissão do pai, engenheiro civil do Ministério da Viação, estudou no Colégio Pedro II (Ginásio Nacional, como o chamaram os primeiros republicanos) foi aluno de Silva Ramos, de José Veríssimo e de João Ribeiro, e teve como condiscípulos Álvaro Ferdinando Sousa da Silveira, Antenor Nascentes, Castro Menezes, Lopes da Costa, Artur Moses.

Em 1904 terminou o curso de Humanidades e foi para São Paulo, onde iniciou o curso de arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo, que interrompeu por causa da tuberculose. Para se tratar buscou repouso em Campos do Jordão, Campanha e outras localidades de clima mais ameno. Com a ajuda do pai que reuniu todas as economias da família foi para Suíça, onde esteve no Sanatório de Clavadel.

Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de1968 com hemorragia gástrica aos 82 anos de idade, no Rio de Janeiro, e foi sepultado no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.


Poesia de Bandeira

Ele foi um dos poetas nacionais mais admirados, inspirando, até hoje, desde novos escritores a compositores. Aliás, o "ritmo bandeiriano" merece estudos aprofundados de ensaístas. Por vezes inspira escritores não em razão de sua temática, mas, também devido ao estilo sóbrio de escrever.

Manuel Bandeira possui um estilo simples e direto, embora não compartilhe da dureza de poetas como João Cabral de Melo Neto, também pernambucano. Aliás, numa análise entre as obras de Bandeira e João Cabral, vê-se que este, ao contrário daquele, visa a purgar de sua obra o lirismo. Bandeira foi o mais lírico dos poetas. Aborda temáticas cotidianas e universais, às vezes com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares. Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de formas colhidas nas tradições clássicas e medievais. Em sua obra de estréia (e de curtíssima tiragem) estão composições poéticas rígidas, sonetos em rimas ricas e métrica perfeita, na mesma linha onde, em seus textos posteriores, encontramos composições como o rondó e trovas.

É comum criar poemas (como o Poética, parte de Libertinagem) que se transforma quase que em um manifesto da poesia moderna. No entanto, suas origens estão na poesia parnasiana. Foi convidado a participar da Semana de arte moderna de 1922, embora não tenha comparecido, deixou um poema seu (Os Sapos) para ser lido no evento.

Uma certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver. Doente dos pulmões, Bandeira sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra.

A imagem de bom homem, terno e em parte amistoso que Bandeira aceitou adotar no final de sua vida tende a produzir enganos: sua poesia, longe de ser uma pequena canção terna de melancolia, está inscrita em um drama que conjuga sua história pessoal e o conflito estilístico vivido pelos poetas de sua época. Cinza das Horas apresenta a grande tese: a mágoa, a melancolia, o ressentimento enquadrados pelo estilo mórbido do simbolismo tardio. Carnaval, que virá logo após, abre com o imprevisível: a evocação báquica e, em alguns momentos, satânica do carnaval, mas termina em plena melancolia. Essa hesitação entre o júbilo e a dor articular-se-á nas mais diversas dimensões figurativas. Se em Ritmo Dissoluto, seu terceiro livro, a felicidade aparece em poemas como Vou embora para Pasárgada, onde é questão a evocação sonhadora de um país imaginário, o pays de cocagne, onde todo desejo, principalmente erótico, é satisfeito, não se trata senão de um alhures intangível, de um locus amenus espiritual. Em Bandeira, o objeto de anseio restará envolto em névoas e fora do alcance. Lançando mão do tropo português da “saudade”, poemas como Pasárgada e tantos outros encontram um símile na nostálgica rememoração bandeiriana da infância, da vida de rua, do mundo cotidiano das provincianas cidades brasileiras do início do século. O inapreensível é também o feminino e o erótico. Dividido entre uma idealidade simpática às uniões diáfanas e platônicas e uma carnalidade voluptuosa, Manuel Bandeira é, em muitos de seus poemas, um poeta da culpa. O prazer não se encontra ali na satisfação do desejo, mas na excitação da algolagnia do abandono e da perda. Em Ritmo Dissoluto, o erotismo, tão mórbido nos dois primeiros livros, torna-se anseio maravilhado de dissolução no elemento líquido marítimo, como é o caso de Na Solidão das Noites Úmidas.

Esse drama silencioso surpreende mesmo em poemas “ternos”, quando inesperadamente encontram-se, como é o caso dos poemas jornalísticos de Libertinagem, comentários mordazes e sorrateiros interrompendo a fluência ingênua de relatos líricos, fazendo revelar todo um universo de sentimentos contraditórios. Com Libertinagem, talvez o mais celebrado dos livros de Bandeira, adotam-se formas modernistas, abandona-se a metrificação tradicional e acolhe-se o verso livre. Em grosso, é um livro menos personalista. Se os grandes temas nostálgicos cedem ao avanço modernista, não é somente porque os sufocam o desfile fulminante de imagens quotidianas e os esquetes celebratórios do modernismo, mas também porque é um princípio motor de sua obra o reencenar a luta dos dois momentos sentimentais da alegria e da tristeza. O cotidiano “brasileiro” aparece ali, realçando o júbilo evocatório, com o pitoresco popular que se assimila, por exemplo em Evocação do Recife, ao tom triste e nostálgico; usa-se o diálogo anedótico para brindar fatos tão sórdidos quanto sua própria doença (Pneumotórax); a forma do esquete, favorável à apreensão imediata do objeto, funde-se, em O Cacto, a um lirismo narrativo que se aperfeiçoará em sua poesia posterior. Tanto em Libertinagem como no restante de sua obra, a adoção da linguagem coloquial nem sempre será coroada de êxito. Em certos meios-tons perde-se a distinção entre o coloquial estilizado e o coloquial natural, como em Pensão Familiar, onde os diminutivos são usados abusivamente. Libertinagem dará o tom de toda a poesia subseqüente de Manuel Bandeira. Em Estrela da Manhã, Lira dos Cinquent’anos e outros livros, as experiências da primeira fase darão lugar ao acomodamento do material lírico em formas mais brandas e às vezes mesmo ao retorno a formas tradicionais.

Poesia

A Cinza das Horas - Jornal do Comércio - Rio de Janeiro, 1917
Carnaval - Rio de janeiro,1919
O Ritmo Dissoluto - Rio de Janeiro, 1924
Poesia (A cinza das Horas, Carnaval, Ritmo Dissoluto) - Rio de Janeiro, 1924
Libertinagem - Rio de Janeiro, 1930
Estrela da Manhã - Rio de Janeiro, 1936
Poesias Escolhidas - Rio de Janeiro, 1937
Poesias Completas - Rio de Janeiro todos livros anteriores com o novo Lira dos Cinquent'anos), 1940
Poemas Traduzidos - Rio de Janeiro
Poema trem de ferro

Prosa

Crônicas da Província do Brasil - Rio de Janeiro, 1936
Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro, 1938
Noções de História das Literaturas - Rio de Janeiro, 1940
Autoria das Cartas Chilenas - Rio de Janeiro, 1940
Apresentação da Poesia Brasileira - Rio de Janeiro, 1946
Literatura Hispano-Americana - Rio de Janeiro, 1949
Gonçalves Dias, Biografia - Rio de Janeiro, 1952
Itinerário de Pasárgada - Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1954
De Poetas e de Poesia - Rio de Janeiro, 1954
A Flauta de Papel - Rio de Janeiro, 1957
Itinerário de Pasárgada - Livraria São José - Rio de Janeiro, 1957
Andorinha, Andorinha - José Olympio - Rio de Janeiro, 1966
Itinerário de Pasárgada - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1966
Colóquio Unilateralmente Sentimental - Editora Record - RJ, 1968
Seleta de Prosa - Nova Fronteira - RJ
Berimbau e Outros Poemas - Nova Fronteira - RJ


Antologias

Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica, N. Fronteira, RJ
Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana - N. Fronteira, RJ
Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Moderna - Vol. 1, N. Fronteira, RJ
Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Moderna - Vol. 2, N. Fronteira, RJ
Antologia dos Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos, N. Fronteira, RJ
Antologia dos Poetas Brasileiros - Poesia Simbolista, N. Fronteira, RJ
Antologia Poética - Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1961
Poesia do Brasil - Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1963
Os Reis Vagabundos e mais 50 crônicas - Editora do Autor, RJ, 1966
Manuel Bandeira - Poesia Completa e Prosa, Ed. Nova Aguilar, RJ
Antologia Poética (nova edição), Editora N. Fronteira, 2001

Em co-autorias

Quadrante 1 - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1962 (com Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga)
Quadrante 2 - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1963 (com Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga)
Quatro Vozes - Editora Record - Rio de Janeiro, 1998 (com Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz e Cecília Meireles)
Elenco de Cronistas Modernos - Ed. José Olympio - RJ (com Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga
O Melhor da Poesia Brasileira 1 - Ed. José Olympio - Rio de Janeiro (com Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto)


Traduções

O Auto Sacramental do Divino Narciso de Sóror Juana Inés de la Cruz, 1949
Maria Stuart, de Schiler, encenado no Rio de Janeiro e em São Paulo, 1955
Macbeth, de Shakespeare, e La Machine Infernale, de Jean Cocteau, 1956.
As peças June and the Paycock, de Sean O'Casey, e The Rainmaker, de N. Richard Nash, 1957
The Matchmaker (A Casamenteira), de Thorton Wilder, 1958
D. Juan Tenório, de Zorrilla, 1960
Mireille, de Fréderic Mistral, 1961
Prometeu e Epimeteu de Carl Spitteler, 1962
Der Kaukasische Kreide Kreis, de Bertold Brecht, 1963
O Advogado do Diabo, de Morris West, e Pena Ela Ser o Que É, de John Ford, 1964
Os Verdes Campos do Eden, de Antonio Gala; A Fogueira Feliz, de J. N.Descalzo, e Edith Stein na Câmara de Gás de Frei Gabriel Cacho, 1965


Selecção e organização

Sonetos Completos e Poemas Escolhidos de Antero de Quental
Obras Poéticas de Gonçalves Dias, 1944
Rimas de José Albano, 1948
Cartas a Manuel Bandeira, de Mário de Andrade, 1958


Sobre o autor

Homenagem a Manuel Bandeira, 1936
Homenagem a Manuel Bandeira (edição fac-similar), 1986
- Homenagem a Manuel Bandeira- (sessenta autores com organização de
Bandeira a Vida Inteira - Edições Alumbramento, Rio de Janeiro, 1986 (com um disco contendo poemas lidos pelo autor).
Os Melhores Poemas de Manuel Bandeira (seleção de Francisco de A. Barbosa) - Editora Global - Rio de Janeiro
Manuel Bandeira: Uma Poesia da Ausência. De Yudith Rosebaum. São Paulo: Edusp/Imago, 1993.

Multimédia

CD "Manuel Bandeira: O Poeta de Botafogo" - Gravações inéditas feitas pelo poeta e por Lauro Moreira, tendo como fundo musical peças de Camargo Guarnieri interpretadas pelo pianista Belkiss Carneiro Mendonça, 2005.


Academia Brasileira de Letras

Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde foi o terceiro ocupante da cadeira 24 cujo patrono é Júlio Ribeiro. Sua eleição ocorreu em 29 de agosto de 1940, sucedendo Luís Guimarães Filho, e foi recebido pelo acadêmico Ribeiro Couto em 30 de novembro de 1940.



*pesquisa realizada em sites da internet

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Meninos carvoeiros
em 20/07/2008 13:30:00 (42508 leituras)
Manuel Bandeira

Meninos carvoeiros


Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
— Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.


Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.


(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)


— Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles . . .
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!


—Eh, carvoero!


Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.


Petrópolis, 1921



FONTE: JORNAL DA POESIA


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NAMORO A CAVALO
em 17/07/2008 16:10:00 (12695 leituras)
Álvares de Azevedo

Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
Que rege minha vida malfadada
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.

Alugo ( três mil reis) por uma tarde
Um cavalo de trote ( que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
À minha namorada na janela...

Todo o meu ordenado vai-se em flores
E em lindas folhas de papel bordado
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito...mas furtado.

Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento...
Se ela quisesse eu acabava a história
Como toda Comédia – em casamento...

Ontem tinha chovido...Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama.

Eu não desanimei. Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada...

Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me todo lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela...

O cavalo ignorante de namoros
Entre os dentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
Com as pernas para o ar, sobre a calçada...

Dei ao diabo os namoros. Escovando
Meu chapéu que sofrera no pagode,
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.

Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...


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A meu Pai doente
em 16/07/2008 15:40:00 (10645 leituras)
Augusto dos Anjos

Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas...
Tu, para amenizar as dores tuas,
Eu, para amenizar as minhas dores!

Que cousa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!

Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria,
Indiferente aos mil tormentos teus
De assim magoar-te sem pesar havia?!

- Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim
É bom, é justo, e sendo justo, Deus,
Deus não havia de magoar-te assim!


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Comentários?
A miséria do meu ser
em 14/07/2008 17:50:00 (11271 leituras)
Fernando Pessoa

A miséria do meu ser,
Do ser que tenho a viver,
Tornou-se uma coisa vista.
Sou nesta vida um qualquer
Que roda fora da pista.

Ninguém conhece quem sou
Nem eu mesmo me conheço
E, se me conheço, esqueço,
Porque não vivo onde estou.
Rodo, e o meu rodar apresso.

É uma carreira invisível,
Salvo onde caio e sou visto,
Porque cair é sensível
Pelo ruído imprevisto...
Sou assim. Mas isto é crível?


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Elegia(I)
em 10/07/2008 09:00:00 (3503 leituras)
Orides Fontela

ELEGIA (I)

Mas para que serve o pássaro?
Nós o contemplamos inerte.
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos?

O que era vôo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido,
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico

O que era pássaro e é
o objeto: jogo
de uma inocência que

o contempla e revive
— criança que tateia
no pássaro um
esquema de distâncias —

mas para que serve o pássaro?

O pássaro não serve. Arrítmicas
brandas asas repousam.


De Transposição (1969)



FONTE: AVE, POESIA


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Que cor ó telhados de miséria
em 08/07/2008 01:00:00 (3054 leituras)
António Ramos Rosa

Que cor ó telhados de miséria


Que cor ó telhados de miséria
onde nasci
de tanta pequenez de tão humildes ovos
de nenhum querer
a que horas nasceram as estrelas que
um dia foram
a que horas nasci?

Não vim embarcado não me encontrei
na rua
não nos vimos
não nos beijamos
nunca parti


Não sei que idade tenho


Quando havia antes um antigamente
havia uma esperança
agora no próprio coração da ilusão
onde a água limpa as pedras das ruínas
entre destroços límpidos
deito-me sobre a minha sombra e durmo
e durmo


Quando havia antes um amanhecer
à beira do abismo
agora no próprio coração do coração
durmo estrangulando um monstro inerme
um palhaço de palha seca e pálido
quando havia antes um caminho


Não houve nunca amigos nem, pureza
Nem carinhos de mãe salvam a noite
É preciso ir mais longe na incerteza
É preciso no silêncio não escutar


A manhã que eu procuro não foi sonhada
Uma árvore me ignora na raiz
Perfeitamente desesperado é o meu sonho
Os pássaros insultam-me na cama
Só com doidos com doidos amaria
perfeitamente presente na frescura
do mar


Uma casa para eu ter a humildade de ser espaço
a líquida frescura duma jarra
um passo leve e certo em cada sombra
um ninho em cada ouvido
de doces abelhas cegas


Uma casa uma caixa de música e sossego
Um violão adormecido na doçura
Um mar longínquo à volta atrás do campo
Uma inundação de verdura e espessa paz
Uma repetida e vasta constelação de grilos
e os galos álacres do silêncio


Um mar de espuma e alegria obscura
um mar de espuma e alegria clara
entre o verde e a brisa


Na brancura dos quartos
a inocência poderá sonhar desnuda
os insetos poderão entrar
juntamente com as plantas e as aves
Uma longa asa passará
O mundo e o silêncio a mesma ave
e o mar
o mudo leão longínquo e fresco
faiscará entre o ver e as lâminas solares


fonte: jornal da poesia


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Vida e Obra
em 04/07/2008 10:51:57 (5403 leituras)
Dante Milano

Apresentando outro autor consagrado:

Senhoras e senhores, Dante Milano:

Dante Milano nasceu no Rio de Janeiro filho do maestro Nicolino Milano e de Corina Milano. O seu irmão Atílio Milano foi também poeta. Trabalhou como conferente de textos na Gazeta de Notícias (Rio de Janeiro) a partir de 1913. Foi também funcionário do Juizado de Menores, no Ministério da Justiça.

Publicou seu primeiro poema, "Lágrima Negra", em 1920, na revista carioca Selecta.

"Lagryma negra"

Aperte fortemente a pena ingrata
entre os dedos nervosos e trementes,
e os versos jorram, claros e estridentes,
n'uma cascata, n'uma catarata!

Escrevo, e canto cânticos ardentes,
enquanto dos meus olhos se desata
uma fiada de lagrymas de prata
como um colar de pérolas pendentes...

Eu canto o sofrimento, a ânsia incontida
de amor, que é a maior ânsia desta vida,
- vida a que a Humanidade se condena!

E todo o meu sofrer, todo, se pinta
n'este pingo de dor -- pingo de tinta,
lagryma negra que me cai da pena.

***

Nessa época trabalhava como empregado na contabilidade da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro.

Nos anos de 1930 foi colaborador do suplemento "Autores e Livros", de "A Manhã" e do "Boletim de Ariel".

Em 1935 organizou a "Antologia dos Poetas Modernos", primeira antologia de poetas dessa fase.

Casa-se com Alda em 1947. Seu primeiro livro, "Poesias", foi publicado em 1948, e recebeu o Prêmio Felipe d'Oliveira de melhor livro de poesia do ano.

Nos anos seguintes trabalhou como tradutor, lançando, em 1953, "Três Cantos do Inferno", de Dante Alighieri.

Em 1979 foi publicado seu livro "Poesia e Prosa".

Publicou em 1988 "Poemas Traduzidos de Baudelaire e Mallarmé". No mesmo ano recebeu o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras.

Dante Milano é um dos poetas representativos da terceira geração do Modernismo.

Para o crítico David Arrigucci Jr., Milano, “como o amigo Bandeira, refletiu muito sobre a morte, casando o pensamento à forma enxuta de seus versos - lírica seca e meditativa, avessa ao fácil artifício, onde o ritmo interior persegue em poemas curtos, com justeza e sem alarde, o sentido”.

Dante Milano vem à tona!!:

Por: Aleilton Fonseca

[in Jornal do Brasil, 23.06.2005]

Com a edição de sua Obra reunida, o poeta carioca Dante Milano (1899-1991) vem à tona, após um longo e injustificável esquecimento.

Ele estreou em 1920, e acompanhou à distância os desdobramentos da poesia modernista de 22, sem assumir posição de renovador estético.

Independente, à margem das tendências em voga, tornou-se um poeta à parte e, como tal, ignorado pelos autores de panoramas literários. Nada mais injusto, pois seus poemas têm uma força lírica extraordinária.

Milano é um poeta moderno para além dos ismos de ocasião. Sua poesia encanta pela sutileza, beneficiando-se da aparente simplicidade dos assuntos, com o vigor do pensamento metafísico, a feição cristalina dos versos, o ritmo e a musicalidade personalíssimos, a clareza das imagens e do vocabulário, a requintada ironia ao tratar de questões da existência, da vida, do amor e da morte.

O leitor atento percebe uma aproximação lírica de Dante Milano com Manuel Bandeira, seu amigo e admirador, fato bastante visível no poema Lágrima negra (p. 157).

Ele também se aproxima de Cecília Meireles, no tocante à concepção musical dos versos e à leveza das imagens.

O seu poema Descobrimento da poesia (p. 21) corresponde, pela concepção, ao famoso Motivo ceciliano. Isto, por si só, já justifica o interesse por sua obra.

Milano também escreveu textos sobre literatura, nos quais se observa a opinião de um leitor envolvido, reflexivo, lido e bem informado.

Sua análise é intuitiva, sem aparato crítico nem método fechado, mas com a clarividência, a sutileza e a sensibilidade de poeta e leitor atento.

Geralmente curtos, seus textos refletem posições pessoais, de autor mesmo, perante questões de interesse teórico, mantendo-se sempre como uma escrita literária.

Outro legado valioso de Milano é, sem dúvida, a tradução de poesia: ele traduziu textos de Dante Alighieri, Shakespeare, Charles Baudelaire e Mallarmé.

Essa iniciativa do poeta tem importância não somente pelo trabalho em si, mas pela lição que acrescenta à difícil arte de traduzir poesia, a par de sua concepção e seu talento ao propor soluções originais, ao recriar poemas célebres da tradição literária universal.

O poeta, crítico e tradutor Ivan Junqueira faz a apresentação do autor e sua obra, com profundo senso de percepção e análise. Sua abordagem reorienta críticos e ensaístas, ao apontar critérios e caminhos para uma compreensão da obra e da personalidade poética de Dante Milano.

Já o organizador, Sérgio Martagão Gesteira, esclarece, numa ''nota explicativa'', os critérios, as escolhas e os procedimentos de seu trabalho. Sem dúvida, este livro é uma contribuição importantíssima para o acervo bibliográfico da poesia brasileira do século 20.

Informativo: Hoje, Dante Milano faz parte da Coleção Austregésilo de Athayde, que tem como objetivo editar obras recentes de acadêmicos e de autores que tenham conexão com a Academia Brasileira de Letras. Segue o resumo do livro que leva seu nome:

Dante Milano - Obra reunida, Organização e estabelecimento do texto de Sérgio Martagão Gesteira. (2004. 529 pp.).

Embora egresso do modernismo de 1922, Dante Milano é, na verdade, anterior ao movimento modernista, do qual participou à distância e ao qual, efetivamente, jamais se filiou nem durante nem depois da festiva e turbulenta década de 1920. Não há dúvida de que apoiou o movimento, pois nele via, como todos os artistas da época, um caminho de libertação estética. A rigor, entretanto, o Modernismo pouco ou nada teria a oferecer-lhe em termos de subsídio literário ou de plataforma estética. E mais: à época da agitação modernista, o poeta Dante Milano já estava pronto, infenso, portanto, a quaisquer aquisições mais profundas e radicais do ponto de vista formal, ainda que aberto e sensível às conquistas expressionais do movimento. Por outro lado, dizer-se que, entre 1920 e 1948 - quando saiu a primeira edição das Poesias -, haja ele se conservado na condição de bissexto não procede: Dante escrevia muito - e muitíssimo destruiu do que escreveu -, conquanto nada publicasse em livro até aquela data. A que se deve, então, esse altivo silêncio, essa monástica reclusão, esse obsessivo mutismo editorial - cúmplice, talvez, daquela "vocação póstuma" a que já aludimos? É o que tentaremos decifrar, leitor, se possível com o teu benévolo e empático beneplácito. [...] [Ivan Junqueira em "Dante Milano: o pensamento emocionado"].






*pesquisa realizada em sites da internet.

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Vida e Obra
em 01/07/2008 19:00:59 (3502 leituras)
Orides Fontela

Apresento, segundo a indicação do nosso amigo Luso, Júlio Saraiva:

Uma poeta que viveu, escreveu, foi consagrada e morreu na pobreza:

Orides de Lourdes Teixeira Fontela nasceu na cidade de São João da Boa Vista (SP), no dia 21/04/1940.

Em 1946, educada por sua mãe, começa a escrever poemas. No ano de 1951, cursa o Ginásio e, em 1955, a Escola Normal de São João da Boa Vista.

Seus primeiros versos são publicados em 1956 no jornal “O Município” daquela cidade.

Muda-se para São Paulo (SP), em 1967, onde ingressa no curso de Filosofia da Universidade de São Paulo – USP. Estréia, em 1969, com o livro de poemas “Transposição”, publicado com a ajuda do professor e crítico Davi Arrigucci.

Em 1973, lança “Helianto”. Em 1983 é publicado seu terceiro livro de poemas, “Alba”, que recebe o Prêmio Jabuti.

Trabalha como professora primária e bibliotecária em várias escolas da rede estadual de ensino. Em 1986, é lançado “Rosácea”.

O escritor, poeta e crítico Augusto Massi reúne, em 1988, toda a obra anterior da poeta no livro “Trevo”.

Em 1996, o livro “Teia”, reunião de toda a sua obra, recebe o Prêmio concedido pela APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte.

Tentando superar suas dificuldades financeiras — havia sido despejada do apartamento onde vivia — vai viver na Casa do Estudante, um velho prédio na Avenida São João daquela capital.

De personalidade difícil, isola-se cada vez mais dos amigos, morrendo em 02/11/1998, num sanatório em Campos do Jordão (SP). Sem condições financeiras.

Seu livro, “Poesia Reunida”, é lançado em 2006.

"Viagem"

Viajar
mas não
para

viajar
mas sem
onde

sem rota sem ciclo sem círculo
sem finalidade possível.

Viajar
e nem sequer sonhar-se
esta viagem.
Orides Fontela


O poema acima foi publicado no livro “Rosácea”, Ed. Duas Cidades - São Paulo (SP), 1986.


Obras publicadas no Brasil

Poesia

Transposição – 1969
Helianto – 1973
Alba – 1983
Rosácea - 1986
Trevo (1969-1988) – 1988
Teia – 1996
Poesia Reunida - 2006

Obras publicadas no exterior

Francês

Trèfle (Trevo) - Tradução Emmanuel Jaffelin e Márcio de Lima Dantas - Paris: L'Harmattan, 1998.

Rosace (Rosácea) - Tradução Emmanuel Jaffelin e Márcio de Lima Dantas - Paris: L'Harmattan, 2000.



*pesquisa feita em sites da internet.


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Vida e Obra
em 01/07/2008 10:50:00 (13088 leituras)
Cecília Meireles

Senhoras e Senhores,

A dama da literatura, Cecília Meireles:

"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."

(Romanceiro da Inconfidência)


Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil S.A., e de D. Matilde Benevides Meireles, professora municipal, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro.

Foi a única sobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe quando ainda não tinha três anos. Criou-a, a partir de então, sua avó D. Jacinta Garcia Benevides. Escreveria mais tarde:

"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.

(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.

(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano."

Conclui seus primeiros estudos — curso primário — em 1910, na Escola Estácio de Sá, ocasião em que recebe de Olavo Bilac, Inspetor Escolar do Rio de Janeiro, medalha de ouro por ter feito todo o curso com "distinção e louvor".

Diplomando-se no Curso Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, passa a exercer o magistério primário em escolas oficiais do antigo Distrito Federal.

Dois anos depois, em 1919, publica seu primeiro livro de poesias, "Espectro". Seguiram-se "Nunca mais... e Poema dos Poemas", em 1923, e "Baladas para El-Rei, em 1925.

Casa-se, em 1922, com o pintor português Fernando Correia Dias, com quem tem três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda, esta última artista teatral consagrada. Suas filhas lhe dão cinco netos.

Publica, em Lisboa - Portugal, o ensaio "O Espírito Vitorioso", uma apologia do Simbolismo.

Correia Dias suicida-se em 1935. Cecília casa-se, em 1940, com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo.

De 1930 a 1931, mantém no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação.

Em 1934, organiza a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, ao dirigir o Centro Infantil, que funcionou durante quatro anos no antigo Pavilhão Mourisco, no bairro de Botafogo.

Profere, em Lisboa e Coimbra - Portugal, conferências sobre Literatura Brasileira.

De 1935 a 1938, leciona Literatura Luso-Brasileira e de Técnica e Crítica Literária, na Universidade do Distrito Federal (hoje UFRJ).

Publica, em Lisboa - Portugal, o ensaio "Batuque, Samba e Macumba", com ilustrações de sua autoria.

Colabora ainda ativamente, de 1936 a 1938, no jornal A Manhã e na revista Observador Econômico.

A concessão do Prêmio de Poesia Olavo Bilac, pela Academia Brasileira de Letras, ao seu livro Viagem, em 1939, resultou de animados debates, que tornaram manifesta a alta qualidade de sua poesia.

Publica, em 1939/1940, em Lisboa - Portugal, em capítulos, "Olhinhos de Gato" na revista "Ocidente".

Em 1940, leciona Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas (USA).

Em 1942, torna-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro (RJ).

Aposenta-se em 1951 como diretora de escola, porém continua a trabalhar, como produtora e redatora de programas culturais, na Rádio Ministério da Educação, no Rio de Janeiro (RJ).

Em 1952, torna-se Oficial da Ordem de Mérito do Chile, honraria concedida pelo país vizinho.

Realiza numerosas viagens aos Estados Unidos, à Europa, à Ásia e à África, fazendo conferências, em diferentes países, sobre Literatura, Educação e Folclore, em cujos estudos se especializou.

Torna-se sócia honorária do Instituto Vasco da Gama, em Goa, Índia, em 1953.

Em Délhi, Índia, no ano de 1953, é agraciada com o título de Doutora Honoris Causa da Universidade de Délhi.

Recebe o Prêmio de Tradução/Teatro, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1962.

No ano seguinte, ganha o Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária, pelo livro "Poemas de Israel", concedido pela Câmara Brasileira do Livro.

Seu nome é dado à Escola Municipal de Primeiro Grau, no bairro de Cangaíba, São Paulo (SP), em 1963.

Falece no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas. Seu corpo é velado no Ministério da Educação e Cultura. Recebe, ainda em 1964, o Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro "Solombra", concedido pela Câmara Brasileira do Livro.

Ainda em 1964, é inaugurada a Biblioteca Cecília Meireles em Valparaiso, Chile.

Em 1965, é agraciada com o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra, concedido pela Academia Brasileira de Letras. O Governo do então Estado da Guanabara denomina Sala Cecília Meireles o grande salão de concertos e conferências do Largo da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro. Em São Paulo (SP), torna-se nome de rua no Jardim Japão.

Em 1974, seu nome é dado a uma Escola Municipal de Educação Infantil, no Jardim Nove de Julho, bairro de São Mateus, em São Paulo (SP).

Uma cédula de cem cruzados novos, com a efígie de Cecília Meireles, é lançada pelo Banco Central do Brasil, no Rio de Janeiro (RJ), em 1989.

Em 1991, o nome da escritora é dado à Biblioteca Infanto-Juvenil no bairro Alto da Lapa, em São Paulo (SP).

O governo federal, por decreto, instituiu o ano de 2001 como "O Ano da Literatura Brasileira", em comemoração ao sesquicentenário de nascimento do escritor Silvio Romero e ao centenário de nascimento de Cecília Meireles, Murilo Mendes e José Lins do Rego.

Há uma rua com o seu nome em São Domingos de Benfica, uma freguesia da cidade de Lisboa. Na cidade de Ponta Delgada, capital do arquipélago dos Açores, há uma avenida com o nome da escritora, que era neta de açorianos.

Traduziu peças teatrais de Federico Garcia Lorca, Rabindranath Tagore, Rainer Rilke e Virginia Wolf.

Sua poesia, traduzida para o espanhol, francês, italiano, inglês, alemão, húngaro, hindu e urdu, e musicada por Alceu Bocchino, Luis Cosme, Letícia Figueiredo, Ênio Freitas, Camargo Guarnieri, Francisco Mingnone, Lamartine Babo, Bacharat, Norman Frazer, Ernest Widma e Fagner, foi assim julgada pelo crítico Paulo Rónai:

"Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa. Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo...A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea.


Bibliografia:

Tendo feito aos 9 anos sua primeira poesia, estreou em 1919 com o livro de poemas Espectros, escrito aos 16 e recebido com louvor por João Ribeiro.

Publicou a seguir:

Criança, meu amor, 1923
Nunca mais... e Poemas dos Poemas, 1923
Criança meu amor..., 1924
Baladas para El-Rei, 1925
O Espírito Vitorioso, 1929 (ensaio - Portugal)
Saudação à menina de Portugal, 1930
Batuque, Samba e Macumba, 1935 (ensaio - Portugal)
A Festa das Letras, 1937
Viagem, 1939
Vaga Música, 1942
Mar Absoluto, 1945
Rute e Alberto, 1945
Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1949 (biografia de Rui Barbosa para crianças)
Retrato Natural, 1949
Problemas de Literatura Infantil, 1950
Amor em Leonoreta, 1952
Doze Noturnos de Holanda & O Aeronauta, 1952
Romanceiro da Inconfidência, 1953
Batuque, 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955
Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955
Panorama Folclórico de Açores, 1955
Canções, 1956
Giroflê, Giroflá, 1956
Romance de Santa Cecília, 1957
A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957
A Rosa, 1957
Obra Poética,1958
Metal Rosicler, 1960
Poemas Escritos na Índia, 1961
Poemas de Israel, 1963
Antologia Poética, 1963
Solombra, 1963
Ou Isto ou Aquilo, 1964
Escolha o Seu Sonho, 1964
Crônica Trovada da Cidade de Sam Sebastiam no Quarto Centenário da sua Fundação Pelo Capitam-Mor Estácio de Saa, 1965
O Menino Atrasado, 1966
Poésie (versão para o francês de Gisele Slensinger Tydel), 1967
Antologia Poética, 1968
Poemas italianos, 1968
Poesias (Ou isto ou aquilo & inéditos), 1969
Flor de Poemas, 1972
Poesias completas, 1973
Elegias, 1974
Flores e Canções, 1979
Poesia Completa, 1994
Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998
Canção da Tarde no Campo, 2001
Episódio humano, 2007

Teatro:

1947 - O jardim
1947 - Ás de ouros
Observação: "O vestido de plumas"; "As sombras do Rio"; "Espelho da ilusão"; "A dama de Iguchi" (texto inspirado no teatro Nô, arte tipicamente japonesa), e "O jogo das sombras" constam como sendo da biografada, mas não são conhecidas.

OUTROS MEIOS:

1947 - Estréia "Auto do Menino Atrasado", direção de Olga Obry e Martim Gonçalves. música de Luis Cosme; marionetes, fantoches e sombras feitos pelos alunos do curso de teatro de bonecos.

1956/1964 - Gravação de poemas por Margarida Lopes de Almeida, Jograis de São Paulo e pela autora (Rio de Janeiro - Brasil)

1965 - Gravação de poemas pelo professor Cassiano Nunes (New York - USA).

1972 - Lançamento do filme "Os inconfidentes", direção de Joaquim Pedro de Andrade, argumento baseado em trechos de "O Romanceiro da Inconfidência".


Dados obtidos em livros da autora e sobre ela, e no site do Itaú Cultural.



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Vida e Obra
em 22/06/2008 14:43:24 (21971 leituras)
Miguel Torga

Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia Rocha. Nasceu em São Martinho de Anta - Vila Real, em 12 de Agosto de 1907 — e faleceu em Coimbra, em 17 de Janeiro de 1995, foi um dos mais importantes escritores portugueses do século XX.

Filho de Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição Barros, gente humilde do campo do concelho de Sabrosa (Alto Douro).

Em 1917, aos dez anos, vai para uma casa apalaçada do Porto, habitada por parentes da família. Fardado de branco servia de porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava o pó e polia os metais da escadaria nobre, atendia campainhas. Foi despedido um ano depois, devido à constante insubmissão.

Em 1918 vai para o Seminário de Lamego, onde viveu um dos anos cruciais da sua vida, tendo melhorado os conhecimentos de português, da geografia, da história, aprendido o latim e ganhado familiaridade com os textos sagrados. No fim das férias comunicou ao pai que não seria padre.

Emigrou para o Brasil em 1919, com doze anos, para trabalhar na fazenda do tio, na cultura do café. O tio apercebe-se da sua inteligência e patrocina-lhe os estudos liceais, em Leopoldina. Distingue-se como um aluno dotado.

Em 1925, na convicção de que ele havia de vir a ser doutor em Coimbra, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço - o que levou ao seu regresso a Portugal.

Em 1928 entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro, "Ansiedade", de poesia.

Em 1929, com 22 anos, deu início à colaboração na revista Presença, folha de arte e crítica, com o poema “Altitudes”. A revista, fundada em 1927 pelo grupo literário avançado de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, era bandeira literária do grupo modernista e era também, bandeira libertária da Revolução Modernista.

Em 1930 rompe definitivamente com a revista Presença, por "razões de discordância estética e razões de liberdade humana".

É bastante crítico da praxe e tradições académicas, e chama depreciativamente "farda" à capa e batina, mas ama a cidade de Coimbra, onde viria também a exercer a sua profissão de médico a partir de 1939 e onde escreve a maioria dos seus livros.

Em 1933 concluiu a formatura em Medicina, com apoio financeiro do tio do Brasil. Exerceu no início nas agrestes terras transmontanas, de onde era originário e que são pano de fundo da maior parte da sua obra.

Casa com Andrée Crabbé em 1940, estudante de nacionalidade belga - aluna de Estudos Portugueses, ministrados por Vitorino Nemésio em Bruxelas - que viera a Portugal para frequentar um curso de férias na Universidade de Coimbra. A sua filha, Clara Rocha, nasce a 3 de Outubro de 1955.


Vida política

Foi preso várias vezes devido aos seus escritos, sendo a primeira em 1939, em Aljube. A PIDE negar-lhe-ia , várias vezes o pedido de visto para sair do país. Andrée Rocha é suspensa do seu lugar académico, passou a fazer traduções e a ajudar o marido na sua actividade profissional.

Em 1967, assina um manifesto no qual é pedida a aprovação de uma lei da Imprensa, a abolição da censura prévia e a interposição de recurso no caso de apreensão de livros.

Não apoia nem tem a mínima simpatia pela União Europeia. Ela ofende o seu espírito patriótico e o seu ideal de Pátria. É também contra a regionalização.

A origem do pseudónimo

Em 1934, aos 27 anos, Adolfo Correia Rocha auto-define-se pelo pseudónimo que criou, "Miguel" e "Torga". Miguel, em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Já Torga é a designação nortenha da urze, planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho.

A obra de Torga

A obra de Torga tem um carácter humanista: criado nas serras transmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos de perpetuação da Natureza, Torga aprendeu o valor de cada homem, como criador e propagador da vida e da Natureza: sem o homem, não haveria searas, não haveria vinhas, não haveria toda a paisagem duriense, feita de socalcos nas rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho humano. Ora, estes homens e as suas obras levam Torga a revoltar-se contra a Divindade Transcendente a favor da imanência: para ele, só a humanidade seria digna de louvores, de cânticos, de admiração: (hinos aos deuses, não/os homens é que merecem/que se lhes cante a virtude/bichos que cavam no chão/actuam como parecem/sem um disfarce que os mude).

Para Miguel Torga, nenhum deus é digno de louvor: na sua condição omnisciente é-lhe muito fácil ser virtuoso, e enquanto ser sobrenatural não se lhe opõe qualquer dificuldade para fazer a Natureza - mas o homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à morte é também capaz de criar, e é sobretudo capaz de se impor à Natureza, como os trabalhadores rurais transmontanos impuseram a sua vontade de semear a terra aos penedos bravios das serras. E é essa capacidade de moldar o meio, de verdadeiramente fazer a Natureza mau grado todas as limitações de bicho, de ser humano mortal que, ao ver de Torga fazem do homem único ser digno de adoração.

Considerado por muitos como um avarento de trato difícil e carácter duro, foge dos meios das elites pedantes, mas dá consultas médicas gratuitas a gente pobre e é referido pelo povo como um homem de bom coração e de boa conversa.

Poesia

1928 - Ansiedade.
1930 - Rampa.
1931 - Tributo.
1932 - Abismo.
1936 - O Outro Livro de Job.
1943 - Lamentação.
1944 - Libertação.
1946 - Odes.
1948 - Nihil Sibi.
1950 - Cântico do Homem.
1952 - Alguns Poemas Ibéricos.
1954 - Penas do Purgatório.
1958 - Orfeu Rebelde.
1962 - Câmara Ardente.
1965 - Poemas Ibéricos.

Ficção

1931 - Pão Ázimo.
1931 - Criação do Mundo.
1934 - A Terceira Voz.
1937 - Os Dois Primeiros Dias.
1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo.
1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo.
1940 - Bichos.
1941 - Contos da Montanha.
1942 - Rua.
1943 - O Senhor Ventura.
1944 - Novos Contos da Montanha.
1945 - Vindima.
1951 - Pedras Lavradas
1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo.
1976 - Fogo Preso.
1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo.
1982 - Fábula de Fábulas.

Peças de teatro

1941 - "Terra Firme" e "Mar".
1947 - Sinfonia.
1949 - O Paraíso.
1950 - Portugal.
1955 - Traço de União.

Traduções

Livros seus estão traduzidos para diversas línguas, algumas vezes publicados com um prefácio seu: espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro.

Prémios

1969 - Prémio do Diário de Notícias.
1976 - Prémio Internacional de Poesia de Knokke-Heist.
1980 - Prémio Morgado de Mateus, ex-aecquo com Carlos Drummond de Andrade.
1981 - Prémio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S..
1989 - Prémio Camões.
1991 - Prémio Personalidade do Ano.
1992 - Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores.
1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra.


*pesquisa realizada em sites da internet

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Em silêncio descobri essa cidade no mapa
em 20/06/2008 20:50:00 (6154 leituras)
Herberto Helder

Em silêncio descobri essa cidade no mapa
a toda a velocidade: gota
sombria. Descobri as poeiras que batiam
como peixes no sangue.
A toda a velocidade, em silêncio, no mapa -
como se descobre uma letra
de outra cor no meio das folhas,
estremecendo nos olmos, em silêncio. Gota
sombria num girassol. -
essa letra, essa cidade em silêncio,
batendo como sangue.

Era a minha cidade ao norte do mapa,
numa velocidade chamada
mundo sombrio. Seus peixes estremeciam
como letras no alto das folhas,
poeiras de outra cor: girassol que se descobre
como uma gota no mundo.
Descobri essa cidade, aplainando tábuas
lentas como rosas vigiadas
pelas letras dos espinhos. Era em silêncio
como uma gota
de seiva lenta numa tábua aplainada.

Descobri que tinha asas como uma pêra
que desce. E a essa velocidade
voava para mim aquela cidade do mapa.
Eu batia como os peixes batendo
dentro do sangue - peixes
em silêncio, cheios de folhas. Eu escrevia,
aplainando na tábua
todo o meu silêncio. E a seiva
sombria vinha escorrendo do mapa
desse girassol, no mapa
do mundo. Na sombra do sangue, estremecendo
como as letras nas folhas
de outra cor.

Cidade que aperto, batendo as asas - ela -
no ar do mapa. E que aperto
contra quanto, estremecendo em mim com folhas,
escrevo no mundo.
Que aperto com o amor sombrio contra
mim: peixes de grande velocidade,
letra monumental descoberta entre poeiras.
E que eu amo lentamente até ao fim
da tábua por onde escorre
em silêncio aplainado noutra cor:
como uma pêra voando,
um girassol do mundo.





Não te queria quebrada pelos quatro elementos.
Nem apanhada apenas pelo tacto;
ou no aroma;
ou pela carne ouvida, aos trabalhos das luas
na funda malha de água.
Ou ver-te entre os braços a operação de uma estrela.
Nem que só a falcoaria me escurecesse como um golpe,
trêmulo alimento entre roupa
alta,
nas camas.
Magnificência.
Levantava-te
em música, em ferida
- aterrada pela riqueza -
a negra jubilação. Levantava-te em mim como uma coroa.
Fazia tremer o mundo.
E queimavas-me a boca, pura
colher de ouro tragada
viva. Brilhava-te a língua.
Eu brilhava.
Ou que então, entrecravados num só contínuo nexo,
nascesse da carne única
uma cana de mármore.
E alguém, passando, cortasse o sopro
de uma morte trançada. Lábios anônimos, no hausto
de árdua fêmea e macho
anelados em si, criassem um órgão novo entre a ordem.
Modulassem.
E a pontadas de fogo, pulsavam os rostos, emplumavam-se.
Os animais bebiam, ficavam cheios da rapidez da água.
Os planetas fechavam-se nessa
floresta de som unânime
pedra. E éramos, nós, o fausto violento, transformador
da terra

Nome do mundo, diadema.





A oferenda pode ser um chifre ou um crânio claro ou
uma pele de onça
deixem-me com as minhas armas
deixem-me entoar as onomatopéias, a minha canção de glória.
À noite o cabelo frio
de dia caminho por entre a fábula das corolas
sim, eu sei, queimam-se de olho a olho selvagem mas não se movem
mais altas que eu, mais soberanas, amarelas.
Escuto a travessia cantora dos rios no mundo
depois aparece a longa frase cheia de água.
Guio-me pelas luas no ar desfraldado e
grito de água para água levanto as armas
gritando
enquanto danço o algodão cresce fica maduro o tabaco.
Ninguém fez uma guerra maior. Corno chumbado em sangue e osso,
crânio com luz própria pousando na sua luz,
na pele
as pálpebras abrindo e fechando ¿quem se exaltava
vestido com elas?
Meti na boca um punhado de diamantes - e
respirei com toda a força. E tremi ao ver como eu era inocente, assim
com dedos e língua calcinados; e
levando a mão à boca entoei a canção inteira das onomatopéias;
era a guerra. Como se caça uma fêmea com tanto sangue entre as ancas?
A ouro rude. Boca na boca
enchê-la de diamantes. Que fique a brilhar nos sítios
violentos. Doce, que seja doce, acre
mexida na sua curva de argila sombria andando coberta de olhos,
onça pintada no meio de flores que expiram.
Quem ergue o hemisfério a mãos ambas acima da testa?
quem morre porque a testa é negra?
quem entra pela porta com a testa saindo da fornalha?
O animal cerrado que se toca a medo:
o braço estremece, o coração estremece até à raiz do braço
entre carmesim e carmesim
bárbaro, estremecem
a memória e a sua palavra. Tocar na coluna
vertebral o continente todo
toda a pessoa - transformam-se numa imagem trabalhada a poder
de estrela. Quando se agarra numa ponta e a imagem
devora quem a agarra.
No chão o buraco. da estrela -



Sobre os cotovelos a água olha o dia sobre

os cotovelos. batem folhas da luz
um pouco abaixo do silêncio. Quero saber
o nome de quem morre: o vestido de ar
ardendo, os pés e movimento no meio
do meu coração. O nome: madeira que arqueja, seca desde o fundo
do seu tempo vegetal coarctado.
E, ao abrir-se a toalha viva, o
nome: a beleza a voltar-se para trás, com seus
pulmões de algodão queimando.
Uma serpente de ouro abraça os quadris
negros e molhados. E a água que se debruça

olha a loucura com seu nome: indecifrável cego



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Te Necessito
em 25/09/2008 14:20:00 (17599 leituras)
Pablo Neruda

Ainda te Necessito
(Pablo Neruda - Tradução Lustato Tenterrara)


"Ainda não estou preparado para perder-te
Não estou preparado para que me deixes só.

Ainda não estou preparado pra crescer
e aceitar que é natural,
para reconhecer que tudo
tem um princípio e tem um final.

Ainda não estou preparado para não te ter
e apenas te recordar
Ainda não estou preparado para não poder te olhar
ou não poder te falar.

Não estou preparado para que não me abraces
e para não poder te abraçar.

Ainda te necessito.

E ainda não estou preparado para caminhar
por este mundo perguntando-me: Por quê?

Não estou preparado hoje nem nunca o estarei.

Ainda te Necessito."
(Pablo Neruda - Tradução Lustato Tenterrara)


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Expulso por bom motivo
em 25/09/2008 09:10:00 (5908 leituras)
Bertold Brecht

Eu cresci como filho
De gente abastada. Meus pais
Me colocaram um colarinho, e me educaram
No hábito de ser servido
E me ensinaram a dar ordens. Mas quando
Já crescido, olhei em torno de mim
Não me agradaram as pessoas da minha classe e me juntei
À gente pequena.


Assim
Eles criaram um traidor, ensinaram-lhe
Suas artes, e ele
Denuncia-os ao inimigo.
Sim, eu conto seus segredos. Fico
Entre o povo e explico
Como eles trapaceiam, e digo o que virá, pois
Estou instruído em seus planos.
O latim de seus clérigos corruptos
Traduzo palavra por palavra em linguagem comum,


Então
Ele se revela uma farsa. Tomo
A balança da sua justiça e mostro
Os pesos falsos. E os seus informantes relatam
Que me encontro entre os despossuídos, quando
Tramam a revolta.
Eles me advertiram e me tomaram
O que ganhei com meu trabalho. E quando me corrigi
Eles foram me caçar, mas
Em minha casa
Encontraram apenas escritos que expunham
Suas tramas contra o povo. Então
Enviaram uma ordem de prisão
Acusando-me de ter idéias baixas, isto é
As idéias da gente baixa.
Aonde vou sou marcado
Aos olhos dos possuidores.
Mas os despossuídos
Lêem a ordem de prisão
E me oferecem abrigo. Você, dizem
Foi expulso por bom motivo.



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Vida e Obra
em 24/09/2008 19:30:00 (31963 leituras)
José Saramago

José de Sousa Saramago (Azinhaga, 16 de Novembro de 1922) é um escritor, roteirista, jornalista e poeta português galardoado em 1998 com o Nobel da Literatura. Também ganhou o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Nasceu na província do Ribatejo, no dia 16 de novembro, embora o registro oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, é membro do Partido Comunista Português e foi director do Diário de Notícias. Juntamente com Luís Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC).Casado com a espanhola Pilar del Río, Saramago vive actualmente em Lanzarote, nas Ilhas Canárias.

Biografia:

Saramago nasceu numa aldeia do Ribatejo, chamada Azinhaga. De uma família de pais e avós pobres. A vida simples, transcorrida em grande parte em Lisboa, para onde a família se muda em 1924 – era um menino de apenas 2 anos de idade – impede-o de ingressar em uma universidade, apesar do gosto que demonstra desde cedo pelos estudos. Para garantir o seu sustento, formou-se em uma escola técnica. Seu primeiro emprego foi como mecânico de carros. Entretanto, fascinado pelos livros, à noite visitava com grande freqüência a Biblioteca Municipal Central - Palácio Galveias na capital portuguesa.

Autodidata, aos 25 anos publica o primeiro romance Terra do pecado (1947), mesmo ano de nascimento de sua filha, Violante, fruto do primeiro casamento com Ilda Reis – com quem se casou em 1944 e permaneceu até 1970 - nessa época, Saramago era funcionário público; em 1988, se casaria com a jornalista e tradutora espanhola María del Pilar del Río Sánchez, que conheceu em 1986, ao lado da qual continua a viver. Em 1955, começa a fazer traduções para aumentar os rendimentos – Hegel, Tolstói e Baudelaire, entre outros autores a quem se dedica.

Depois de Terra do Pecado, Saramago apresenta a seu editor o livro Clarabóia, que, rejeitado, permanece inédito até hoje. Saramago persiste nos esforços literários e, 19 anos depois – então funcionário da Editorial Estudos Cor - troca a prosa pela poesia e lança Os poemas possíveis. Em um espaço de cinco anos, depois, publica sem alarde mais dois livros de poesia, Provavelmente alegria (1970) e O ano de 1993 (1975). É quando troca também de emprego, abandonando a Estudos Cor para ingressar nos jornais Diário de Notícias, depois no Diário de Lisboa. Em 1975, retorna ao Diário de Notícias como diretor-adjunto, onde permanece por dez meses, até 25 de novembro do mesmo ano, quando os militares portugueses intervêm na publicação (reagindo ao que consideravam os excessos da Revolução dos Cravos) demitindo vários funcionários. Demitido, Saramago resolve dedicar-se apenas à literatura, substituindo de vez o jornalista pelo ficcionista: “(...) Estava a espera de que as pedras do puzzle do destino – supondo-se que haja destino, não creio que haja – se organizassem. É preciso que cada um de nós ponha a sua própria pedra, e a que eu pus foi esta: “Não vou procurar trabalho”, disse Saramago em entrevista à revista Playboy, em 1988[1].

Da experiência vivida nos jornais, restaram quatro crônicas: Deste mundo e do outro, 1971, A bagagem do viajante, 1973, As opiniões que o DL teve, 1974 e Os apontamentos, 1976. Mas, não são as crônicas, nem os contos, nem o teatro os responsáveis por fazer de Saramago um dos autores portugueses de maior destaque - missão reservada a seus romances, gênero a que retorna em 1977.

Três décadas depois de publicado Terra do pecado, Saramago retorna ao mundo da prosa ficcional com Manual de pintura e caligrafia. Mas, ainda não foi aí que o autor definiu o seu estilo. As marcas características do estilo saramaguiano só apareceriam com Levantado do chão (1980), livro no qual o autor retrata a vida de privações da população pobre do Alentejo.

Dois anos depois de Levantado do chão (1982) surge Memorial do convento, livro que conquista definitivamente a atenção de leitores e críticos. Nele, Saramago mistura fatos reais com personagens inventados: o rei D. João V e Bartolomeu de Gusmão, com a misteriosa D. Blimunda e o operário Baltazar, por exemplo.

De 1980 a 1991, o autor traz a lume mais quatro romances que remetem a fatos da realidade material, problematizando a interpretação da "história" oficial: O ano da morte de Ricardo Reis (1984) - sobre as andanças do heterônimo de Fernando Pessoa por Lisboa; A jangada de pedra (1986) - quando a Península Ibérica solta-se do resto da Europa e navega pelo Atlântico; História do cerco de Lisboa (1989) - onde um revisor é tentado a introduzir um "não" no texto histórico que corrige, mudando-lhe o sentido; e O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991) - onde Saramago reescreve o livro sagrado sob a ótica de um Cristo humanizado (sua obra mais controvertida).

Nos anos seguintes, entre 1995 e 2005, Saramago publicará mais seis romances, dando início a uma nova fase em que os enredos não se desenrolam mais em locais ou épocas determinados e personagens dos anais da história se ausentam: Ensaio sobre a cegueira (1995); Todos os nomes (1997); A caverna (2001); O homem duplicado (2002); Ensaio sobre a lucidez (2004); e As intermitências da morte (2005). Nessa fase, Saramago penetra de maneira mais investigativa os caminhos da sociedade contemporânea.

Obra:

Saramago é conhecido por utilizar frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional. Os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões nos seus livros: este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento. Muitas das suas frases (i.e. orações) ocupam mais de uma página, usando vírgulas onde a maioria dos escritores usaria pontos finais. Da mesma forma, muitos dos seus parágrafos ocupariam capítulos inteiros de outros autores. Apesar disso o seu estilo não torna a leitura mais difícil, os seus leitores habituam-se facilmente ao seu ritmo próprio.

Estas características tornam o estilo de Saramago único na literatura contemporânea: é considerado por muitos críticos um mestre no tratamento da língua portuguesa. Em 2003, o crítico norte-americano Harold Bloom, em seu livro Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds ("Génio: um mosaico de cem mentes criativas exemplares"), considerou José Saramago "o mais talentoso romancista vivo nos dias de hoje" (tradução livre de the most gifted novelist alive in the world today), referindo-se a ele como "o Mestre". Declarou ainda que Saramago é "um dos últimos titãs de um género literário que se está desvanecendo".

Obras publicadas:

Poesia
Os poemas possíveis, 1966
Provavelmente alegria, 1970
O ano de 1993, 1975

Crónicas
Deste mundo e do outro, 1971
A bagagem do viajante, 1973
As opiniões que o DL teve, 1974
Os apontamentos, 1977

Viagens
Viagem a Portugal, 1981

Peças de teatro
A noite, 1979
Que farei com este livro?, 1980
A segunda vida de Francisco de Assis, 1987
In Nomine Dei, 1993
Don Giovanni ou O dissoluto absolvido, 2005

Contos
Objecto quase, 1978
Poética dos cinco sentidos - O ouvido, 1979
O conto da ilha desconhecida, 1997

Romances
Terra do pecado, 1947
Manual de pintura e caligrafia, 1977
Levantado do chão, 1980
Memorial do convento, 1982
O ano da morte de Ricardo Reis, 1984
A jangada de pedra, 1986
História do cerco de Lisboa, 1989
O Evangelho segundo Jesus Cristo, 1991
Ensaio sobre a cegueira, 1995
A bagagem do viajante, 1996
Cadernos de Lanzarote, 1997
Todos os nomes, 1997
A caverna, 2000
O homem duplicado, 2002
Ensaio sobre a lucidez, 2004
As intermitências da morte, 2005
As pequenas memórias, 2006

Premiações
Dentre as premiações destacam-se o Prêmio Camões (1995) - distinção máxima oferecida aos escritores de língua portuguesa; o Prêmio Nobel de Literatura (1998) - o primeiro concedido a um escritor de língua portuguesa.

Polémicas:

Marx nunca teve tanta razão como hoje

– José Saramago, Público, 15/06/2008

A carreira de Saramago tem sido acompanhada de diversas polémicas. As suas opiniões pessoais sobre religião ou sobre a luta internacional contra o terrorismo são discutidas e algumas resultam mesmo em acusações de diversos quadrantes. Logo após a atribuição do Prémio Nobel, o Vaticano repudiava a atribuição da honraria a um "comunista inveterado".

O livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" foi adaptado para o teatro em 2001. A peça foi motivo de crítica ferrenha por parte de grupos religiosos que consideram a obra uma ofensa à Igreja.

Críticas a Israel e acusações de anti-semitismo:

Um caso que tem tido alguma repercussão relaciona-se com a posição crítica do autor em relação à posição de Israel no conflito contra os palestinianos. Por exemplo, a 13 de Outubro de 2003, numa visita a São Paulo, em entrevista ao jornal O Globo, afirmou que os Judeus não merecem a simpatia pelo sofrimento por que passaram durante o Holocausto... Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós. A Anti-Defamation League (ADL) (Liga Anti-Difamação), um grupo judaico de defesa dos direitos civis, caracterizou estes comentários como sendo anti-semitas. Segundo as palavras de Abraham Foxman, director da ADL, "os comentários de José Saramago são incendiários, profundamente ofensivos e mostram uma ignorância destes assuntos, o que sugere um preconceito contra os Judeus".

Em defesa de Saramago, diversos autores afirmam que ele não se insurge contra os judeus, mas contra a política de Israel, como, por exemplo, num artigo publicado a 3 de Maio de 2002 no jornal Público, onde, comparando o actual conflito com a cena bíblica de David e Golias, o autor diz que David, representando Israel, "se tornou num novo Golias" e que aquele "lírico David que cantava loas a Betsabé, encarnado agora na figura gargantuesca de um criminoso de guerra chamado Ariel Sharon, lança a "poética" mensagem de que primeiro é necessário esmagar os palestinos para depois negociar com o que deles restar".

Integração de Portugal numa Federação Ibérica:

Em entrevista ao jornal Diário de Notícias em 15 de Julho de 2007, Saramago afirmou que a integração entre Espanha e Portugal é uma forte probabilidade e que os portugueses só teriam a ganhar se Portugal fosse integrado na Espanha, país no qual se auto-exilou (na seca e lunar ilha de Lanzarote) e que viu como seu a atribuição do Nobel da Literatura. [1].

A ida para Lanzarote conta mais sobre o escritor do que deixa transparecer a justificativa corrente (a medida censória portuguesa). Com o gesto de afastamento rumo à ilha mais oriental das Canárias, Saramago não apenas protesta ante o cerceamento, como finca raízes num local de geografia inóspita (trata-se de uma ilha vulcânica, com pouca vegetação e nenhuma fonte de água potável). A decisão tem um caráter revelador, tanto mais se se levar em conta que, neste caso, “mais oriental” significa dizer mais próximo de Portugal e do continente europeu.

Mesmo em dias de hegemonia do pensamento pró-mercado, Saramago guarda um olhar abrigado em uma ilha européia mais próxima da África que do velho centro da civilização capitalista. Sempre atento às injustiças da era moderna, vigilante das mais diversas causas sociais, Saramago não se cansa de investir, usando a arma que lhe coube usar, a palavra. “Aqui na Terra a fome continua, / A miséria, o luto, e outra vez a fome.”, diz o eu lírico do poema saramaguiano “Fala do velho do Restelo ao astronauta” (do livro Os poemas possíveis, editado em 1966).

Cronologia da atribuição de um prémio Nobel:

Setembro de 1997 - A agência publicitária sueca, Jerry Bergström AB, de Estocolmo, contratada pelo ICEP - (orgão estatal português para a promoção do comércio e turismo nacional), organizou uma visita de José Saramago a Estocolmo, incluindo:
Um seminário na Hedengrens, a principal cadeia de livrarias sueca
Discurso na Universidade de Estocolmo
Várias entrevistas a jornais, revistas e rádios suecas
Nesses mesmos dias, a televisão estatal sueca produziu um programa especial dedicado a Saramago
Outubro de 1997 - A Feira Internacional do Livro de Frankfurt tem neste ano Portugal como país em destaque
10 de Dezembro de 1998 - Saramago recebe o Prémio Nobel em Estocolmo
Segundo o "Diário de Notícias", o director da empresa sueca Jerry Bergström AB afirmou: "Portugal nunca tinha tido um Prêmio Nobel e uma parte de nossa missão consistia em mudar essa situação".

Comentando esta atribuição, Sture Allén, então secretário da Academia Sueca, negou que a decisão tenha sido afectada por "campanhas publicitárias, comentários de académicos ou escritores, ou qualquer outro tipo de pressão".

Contradizendo Allén, Knut Ahnlund e Lars Gyllensten, membros da academia afirmaram que seria ridículo afirmar que os membros da academia sejam "imunes a agências publicitárias".

Segundo o Dagens Nyheter haveria provas de que uma campanha semelhante foi organizada pela Alemanha.

Knut Ahnlund, membro da academia sueca, foi crítico da atribuição do prémio Nobel a Saramago, que segundo ele foi o culminar de uma campanha profissional de relações públicas.




*pesquisa realizada em sites da internet.
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Privatizado
em 24/09/2008 19:00:00 (8697 leituras)
Bertold Brecht

Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário.
E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.





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Poética I
em 24/09/2008 17:20:00 (3564 leituras)
Vinícius de Moraes

POÉTICA I
Vinícius de Moraes


De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:

Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.
Vinícius de Moraes



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Adeus
em 24/09/2008 13:00:00 (7783 leituras)
Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

(foi mantida a grafia original)

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Talvez tenhamos tempo
em 23/09/2008 21:00:00 (9395 leituras)
Pablo Neruda

Talvez ainda tenhamos tempo
para ser e para ser justos.
De uma maneira transitória
ontem a verdade morreu
e embora o saiba todo mundo
o mundo todo dissimula:
nenhum de nós lhe mandou flores:
já morreu e não chora ninguém.

Talvez entre o olvido e o apuro
pouco antes de ser enterrada
teremos a oportunidade
de nossa morte e nossa vida
para sair por rua e mais rua,
de mar em mar, de porto em porto,
de cordilheira em cordilheira,
e sobretudo, de homem em homem,
perguntando se a matamos
ou foram outros que a mataram,
se foram nossos inimigos
ou nosso amor cometeu o crime,
porque já morreu a verdade
e agora podemos ser justos.

Antes deveríamos lutar
com armas de obscuro calibre
e por ferir-nos esquecemos
o porquê de estarmos lutando.

Nunca se soube de quem era
o sangue que nos envolvia,
nós acusávamso sem parar,
sem parar fomos acusados,
eles sofreram, e sofremos,
e quando já ganharam eles
e também nós quando ganhamos
a verdade tinha morrido
de antigüidade ou violência.
Agora não há o que fazer:
todos perdemos a batalha.

É por isso que eu penso, talvez,
por fim pudéssemos ser justos
ou por fim pudéssemos ser:
temos este último minuto
e logo mil anos de glória
para não ser e pra não voltar.



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Frente a frente
em 23/09/2008 19:00:00 (5687 leituras)
Eugénio de Andrade

Nada podeis contra o amor,
contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mis vil, isso podeis
E é tão pouco!





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A flor da noite
em 23/09/2008 17:30:00 (7201 leituras)
Vinícius de Moraes

Na solidão escura
Do velho Pelourinho
Matilde, a louca mansa
Vivia mercando assim:
Olha a flor da noite ...
Olha a flor da noite ...

Seria a flor da noite
A luz da estrela solitária
A tremular tão pura
Sobre o velho Pelourinho?
Ou o som da voz ausente
Da menina triste
Que mercava o seu triste descaminho:
Olha a flor da noite ...
Olha a flor da noite ...

Ou seria a flor da noite
A face oculta atrás da aurora
Por quem o homem luta
Desde nunca até agora
A louca aprisionada
Pelos monstros do poente
E que avisa e grita alucinadamente:
Olha a flor da noite ...
Olha a flor da noite ...


in Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"

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Súplica...
em 23/09/2008 09:50:00 (5621 leituras)
Miguel Torga




Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.





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Síntese da felicidade...
em 23/09/2008 09:40:00 (45622 leituras)
Carlos Drummond de Andrade

Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.



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Árvores do Alentejo
em 23/09/2008 09:30:00 (6974 leituras)
Florbela Espanca

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não chorais! Olhai e vêde;
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!



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A solidão
em 22/09/2008 20:39:36 (13066 leituras)
Pablo Neruda

O que não aconteceu foi
rápido, fiquei para sempre,
sem saber, sem que me soubessem,
como debaixo de um sofá,
como perdido pela noite:
assim foi aquilo que não foi,
e assim eu fiquei para sempre.

Aos astros perguntei depois,
para as mulheres, para os homens,
o que faziam com tanta razão
e como aprenderam a vida:
na realidade não falaram,
seguiram dançando e vivendo.

O que não passou com alguém
é que determina o silêncio,
e não quero seguir falando
porque eu fiquei ali esperando:
nessa região, naquele dia
não sei o que me aconteceu
porém eu não sou mais o mesmo.



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Poema de Alberto Caeiro
em 22/09/2008 11:30:00 (5807 leituras)
Fernando Pessoa

Não me importo com as rimas.Raras vezes
Há duas árvores iguais,uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor.
Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior.

Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
E a minha poesia é natural como o levantar-se o vento...



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Não senhores
em 22/09/2008 09:30:00 (3014 leituras)
Pablo Neruda

É em vão que nos observam os que esperam
que eu me coloque na esquina pra vender
minhas armas, razão, minha esperança.
Eu que escutei todos os dias a ameaça,
a sedução, a fúria e a mentira,
eu não retrocedi desde minha estrela.



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Carolina
em 17/09/2008 11:50:00 (57101 leituras)
Machado de Assis

Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.


Machado de Assis, 1906


*este poema Machado de Assis dedicou a sua esposa Carolina depois que ela faleceu.

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A mosca azul
em 13/09/2008 13:50:00 (13207 leituras)
Machado de Assis

A mosca azul


Era uma mosca azul, asas de ouro e granada,
Filha da China ou do Indostão.
Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada.
Em certa noite de verão.

E zumbia, e voava, e voava, e zumbia,
Refulgindo ao clarão do sol
E da lua — melhor do que refulgiria
Um brilhante do Grão-Mogol.

Um poleá que a viu, espantado e tristonho,
Um poleá lhe perguntou:
— "Mosca, esse refulgir, que mais parece um sonho,
Dize, quem foi que te ensinou?"

Então ela, voando e revoando, disse:
— "Eu sou a vida, eu sou a flor
Das graças, o padrão da eterna meninice,
E mais a glória, e mais o amor".

E ele deixou-se estar a contemplá-la, mudo
E tranqüilo, como um faquir,
Como alguém que ficou deslembrado de tudo,
Sem comparar, nem refletir.

Entre as asas do inseto a voltear no espaço,
Uma coisa me pareceu
Que surdia, com todo o resplendor de um paço,
Eu vi um rosto que era o seu.

Era ele, era um rei, o rei de Cachemira,
Que tinha sobre o colo nu
Um imenso colar de opala, e uma safira
Tirada ao corpo de Vixnu.

Cem mulheres em flor, cem nairas superfinas,
Aos pés dele, no liso chão,
Espreguiçam sorrindo as suas graças finas,
E todo o amor que têm lhe dão.

Mudos, graves, de pé, cem etíopes feios,
Com grandes leques de avestruz,
Refrescam-lhes de manso os aromados seios.
Voluptuosamente nus.

Vinha a glória depois; — quatorze reis vencidos,
E enfim as páreas triunfais
De trezentas nações, e os parabéns unidos
Das coroas ocidentais.

Mas o melhor de tudo é que no rosto aberto
Das mulheres e dos varões,
Como em água que deixa o fundo descoberto,
Via limpos os corações.

Então ele, estendendo a mão calosa e tosca.
Afeita a só carpintejar,
Com um gesto pegou na fulgurante mosca,
Curioso de a examinar.

Quis vê-la, quis saber a causa do mistério.
E, fechando-a na mão, sorriu
De contente, ao pensar que ali tinha um império,
E para casa se partiu.

Alvoroçado chega, examina, e parece
Que se houve nessa ocupação
Miudamente, como um homem que quisesse
Dissecar a sua ilusão.

Dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte, que ela,
Rota, baça, nojenta, vil
Sucumbiu; e com isto esvaiu-se-lhe aquela
Visão fantástica e sutil.

Hoje quando ele aí cai, de áloe e cardamomo
Na cabeça, com ar taful
Dizem que ensandeceu e que não sabe como
Perdeu a sua mosca azul.



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Tudo o que faço ou medito
em 12/09/2008 11:30:00 (17649 leituras)
Fernando Pessoa

Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou uma mar de sargaço-

Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.



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Pássaro
em 12/09/2008 11:00:00 (9990 leituras)
Cecília Meireles

Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.

Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.

Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.

Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.


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Flor da noite
em 08/09/2008 18:00:00 (3952 leituras)
Vinícius de Moraes

Na solidão escura
Do velho Pelourinho
Matilde, a louca mansa
Vivia mercando assim:
Olha a flor da noite ...
Olha a flor da noite ...

Seria a flor da noite
A luz da estrela solitária
A tremular tão pura
Sobre o velho Pelourinho?
Ou o som da voz ausente
Da menina triste
Que mercava o seu triste descaminho:
Olha a flor da noite ...
Olha a flor da noite ...

Ou seria a flor da noite
A face oculta atrás da aurora
Por quem o homem luta
Desde nunca até agora
A louca aprisionada
Pelos monstros do poente
E que avisa e grita alucinadamente:
Olha a flor da noite ...
Olha a flor da noite ...


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Vida e Obra
em 06/09/2008 11:00:00 (8784 leituras)
Jorge Amado

Apresentando mais um escritor consagrado:

Filho de João Amado de Faria e de D. Eulália Leal, Jorge Amado de Faria nasceu no dia 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, em Ferradas, distrito de Itabuna - Bahia. O casal teve mais três filhos: Jofre (1915), Joelson (1920) e James (1922).

Com apenas dez meses, vê seu pai ser ferido numa tocaia dentro de sua própria fazenda. No ano seguinte uma epidemia de varíola obriga a família a deixar a fazenda e se estabelecer em Ilhéus. Em 1917 a família muda-se para a Fazenda Taranga, em Itajuípe, onde seu pai volta à lida na lavoura de cacau.

Em 1918, já alfabetizado por sua mãe, Jorge retorna a Ilhéus e passa a freqüentar a escola de D. Guilhermina, professora que não hesitava usar a palmatória e impor outros castigos a seus alunos. No ano de 1922 cria um jornalzinho, "A Luneta", que é distribuído para vizinhos e parentes. Nessa época vai estudar em Salvador, em regime de internato, no Colégio Antonio Vieira, de padres jesuítas.

A bela redação que apresentou ao padre Luiz Gonzaga Cabral, com o título de "O Mar", lhe rende elogios e faz com que o religioso passe a lhe emprestar livros de autores portugueses e de outras partes do mundo. Dois anos depois, seu pai vai levá-lo até o colégio após as férias. Despedem-se e Jorge, ao invés de entrar nele, foge. Viaja por dois meses até chegar à casa de seu avô paterno, José Amado, em Itaporanga, no Sergipe. A pedido de seu pai, seu tio Álvaro o leva de volta para a fazenda em Itajuípe.

É matriculado no Ginásio Ipiranga, novamente como interno. Conhece Adonias Filho e dirige o jornal do grêmio da escola, "A Pátria". Pouco tempo depois funda "A Folha", que fazia oposição ao primeiro. No ano de 1927, passa para o regime de externato e vai morar num casarão no Pelourinho. Emprega-se como repórter policial no "Diário da Bahia". Pouco depois vai para o jornal "O Imparcial". Uma poesia de sua autoria, "Poema ou prosa", é publicada na revista "A Luva". Conhece o pai-de-santo Procópio, que o nomeará ogã (protetor), o primeiro de seus muitos títulos no candomblé.

Reúnem-se em torno do experimentado jornalista e poeta Pinheiro da Veiga os integrantes da Academia dos Rebeldes, grupo literário do qual, além de Jorge, faziam parte Clóvis Amorim, Guilherme Dias Gomes, João Cordeiro, Alves Ribeiro, Edison Carneiro, Aydano do Couto Ferraz, Emanuel Assemany, Sosígenes Costa e Walter da Silveira. A Academia fazia oposição ao grupo Arco & Flexa e pregava, no dizer de Jorge Amado, "uma arte moderna sem ser modernista". Os trabalhos de seus integrantes são publicados nas revistas "Meridiano" e "O Momento", ambas fundadas por eles.

Em 1929, começa a trabalhar em “O Jornal” onde publica, sob o pseudônimo de Y. Karl, a novela "Lenita", escrita em parceria com Dias da Costa e Edison Carneiro, que assinavam como Glauter Duval e Juan Pablo.

No ano seguinte transfere-se para o Rio de Janeiro para estudar. Conhece Vinicius de Moraes, Otávio de Faria e outros nomes importantes da literatura. "Lenita" é editada em livro por A. Coelho Branco Filho, do Rio de Janeiro.

Aprovado, entre os primeiros colocados, na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, em 1931, Jorge vê publicado pela Editora Schmidt seu primeiro romance, "O país do carnaval", com prefácio de Augusto Frederico Schmidt e tiragem de mil exemplares. O livro recebe elogios dos críticos e torna-se um sucesso de público.

No ano de 1932, muda-se para um apartamento em Ipanema com o poeta Raul Bopp. Conhece José Américo de Almeida, Amando Fontes, Rachel de Queiroz (através de quem se aproxima dos comunistas) e Gilberto Freyre. Sai a segunda edição de "O país do carnaval", desta vez com tiragem de dois mil exemplares. Aconselhado por Otávio de Faria e Gastão Cruls, desiste de publicar o romance "Rui Barbosa nº. 2"; para eles, o livro não passava de uma cópia de "O país do carnaval". Viaja para Pirangi, na Bahia; impressionado com a vida dos trabalhadores da região, começa a escrever "Cacau".

A Ariel Editora, do Rio, em 1933, publica "Cacau", com tiragem de dois mil exemplares e capa e ilustrações de Santa Rosa. O livro esgota-se em um mês; a segunda edição sai com três mil exemplares. Entre a primeira e a segunda edição de Cacau, Jorge tem acesso, através de José Américo de Almeida, aos originais de "Caetés", romance de Graciliano Ramos. Empolgado com o talento do escritor alagoano, viaja para Maceió só para conhecê-lo, iniciando uma amizade que duraria até a morte de Graciliano. Conhece também José Lins do Rego, Aurélio Buarque de Holanda e Jorge de Lima. Torna-se redator­chefe da revista "Rio Magazine". Casa-se em dezembro, em Estância, Sergipe, com Matilde Garcia Rosa. Juntos, eles lançam, pela Schmidt, o livro infantil Descoberta do mundo.

Em 1934, publica — também pela Ariel — o romance "Suor". Trabalha na Livraria José Olympio Editora, do Rio de janeiro, primeiro escrevendo releases e depois na parte editorial propriamente dita; tendo influenciado na publicação de "O conde e o passarinho", primeiro livro de Rubem Braga, e no lançamento de autores latino-americanos como o uruguaio Enrique Amorim, o equatoriano Jorge Icaza, o peruano Ciro Alegría e o venezuelano Rómulo Gallegos (de quem traduziu o romance "Dona Bárbara").

Nasce sua filha Eulália Dalila Amado, em 1935. Escreve em "A Manhã", jornal da Aliança Nacional Libertadora, pelo qual cobre a viagem do presidente Getúlio Vargas ao Uruguai e à Argentina. "Cacau" é publicado pela Editorial Claridad, de Buenos Aires. Neste mesmo ano "Cacau" e "Suor" seriam lançados em Moscou. Conclui o curso de Direito. Lança "Jubiabá" pela José Olympio Editora.

Sofre sua primeira prisão em 1936, por motivos políticos: acusado de participar do levante ocorrido em novembro do ano anterior em Natal — chamado de "Intentona Comunista” — é detido no Rio. Publica “Mar morto”, que recebe o Prêmio Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras.

No ano seguinte faz papel de pescador no filme “Itapuã”, de Ruy Santos, no qual também colabora com o argumento. Viaja pela América Latina e depois vai aos Estados Unidos. Enquanto está fora, sai no Brasil “Capitães da areia”. Quando chega a Belém, vindo do exterior, é avisado pelo escritor paraense Dalcídio Jurandir do golpe de Vargas. Foge para Manaus, mas lá é preso. Seus livros, considerados subversivos, são queimados em plena Salvador por determinação da Sexta Região Militar. Segundo as atas militares, foram queimados 1.694 exemplares de "O país do carnaval", "Cacau", "Suor", "Jubiabá", "Mar morto" e "Capitães da areia".

Liberto, em 1938, o escritor é mandado para o Rio. Muda-se para São Paulo, onde reside com Rubem Braga. Depois vai para a Bahia e em seguida, Sergipe; aqui imprime uma pequena edição do livro de poemas “A estrada do mar”, que distribui para os amigos. Estréia em dois consagrados idiomas literários do Ocidente: "Suor " sai em inglês pela pequena New America, de Nova York, e "Jubiabá" em francês pela prestigiosa Gallimard.

Retorna ao Rio no ano de 1939. Exerce intensa atividade política, em decorrência das torturas de presos e a desarticulação do Partido Comunista. Torna-se redator-chefe das revistas Dom Casmurro e Diretrizes. Inicia colaboração com a revista Vamos ler; que manterá até 1941. Compõe, com Dorival Caymmi e Carlos Lacerda, a serenata "Beijos pela noite". O escritor franco-argelino Albert Camus, futuro Nobel de Literatura (1957), escreve artigo no jornal Alger Républicain classificando "Jubiabá" de "magnífico e assombroso".

Diretrizes publica o primeiro capítulo de "ABC de Castro Alves", em 1940, e edita também, em forma de folhetim, a novela "Brandão entre o mar e o amor", iniciada por Jorge Amado e continuada por José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz. Trabalha no jornal Meio-Dia.

Decide escrever, em 1941, um livro sobre Luís Carlos Prestes, pensando numa possível campanha por sua anistia. Viaja para o Uruguai a fim de recolher material; também faz pesquisas sobre o tema na Argentina. Lança "ABC de Castro Alves", pela Livraria Martins Editora, de São Paulo.

Publica em Buenos Aires "A vida de Luís Carlos Prestes", em 1942. Embora editado em espanhol, o livro é vendido clandestinamente no Brasil. Volta ao país, mas é preso ao desembarcar em Porto Alegre. De lá é enviado para o Rio. Não permanece, porém, na então capital federal: a polícia decide despachá-lo para Salvador, onde fica confinado.

1943 marca sua volta às páginas de O Imparcial assinando a seção "Hora da guerra" e escrevendo pequenas histórias na coluna "José, o ingênuo", que reveza com o jornalista e escritor baiano Wilson Lins. Sai "Terras do sem fim", seu primeiro livro a ser vendido livremente após seis anos de censura.

Em 1944, a pedido de Bibi Ferreira escreve a peça "O amor de Castro Alves", mas a companhia teatral da atriz é desfeita antes da encenação. Lança "São Jorge dos Ilhéus". Desquita-se de Matilde.

Participa, em janeiro de 1945, na condição de chefe da delegação baiana, do I Congresso de Escritores, em São Paulo. O encontro termina com uma manifestação contra o Estado Novo. Jorge é preso por um breve período juntamente com Caio Prado Jr. O Barão de Itararé apresenta o romancista a Zélia Gattai na Boate Bambu, durante jantar em homenagem aos participantes do Congresso de Escritores. Passa a viver em São Paulo, onde chefia a redação do jornal Hoje, do Partido Comunista Brasileiro. Escreve também na Folha da Manhã. Torna-se secretário do Instituto Cultural Brasil-URSS, cujo diretor era Monteiro Lobato. Sai no Brasil "A vida de Luís Carlos Prestes", rebatizado de "O cavaleiro da esperança". Em julho, passa a viver com Zélia. No mesmo mês participa, ao lado do poeta chileno Pablo Neruda (que em 1971 ganharia o Nobel de Literatura), do comício de Luís Carlos Prestes no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Lança "Bahia de Todos os Santos". É eleito, com 15.315 votos, deputado federal pelo PCB. Publica o conto "História de carnaval" na revista O Cruzeiro. "Terras do sem fim" sai pela respeitada editora A. Knopf, de Nova York.

No ano seguinte assume o mandato na Assembléia Constituinte e passa a residir no Rio de Janeiro. Várias de suas emendas, como a da liberdade de culto religioso e a que dispõe sobre direitos autorais, são aprovadas. Lança "Seara vermelha", pela Martins e, pela Edições Horizonte, do Rio de Janeiro, "Homens e coisas do Partido Comunista". Entusiasmado com a leitura de "Jubiabá", chega à Bahia o fotógrafo e etnólogo francês Pierre Verger, que acabaria se radicando em Salvador e se tornando um dos amigos mais íntimos de Jorge Amado.

Publica, em 1947, pela Editora do Povo, do Rio de Janeiro, "O amor de Castro Alves". É um ano de vários acontecimentos na área do cinema para o escritor: a Atlântida compra os direitos de "Terras do sem fim"; ele escreve os diálogos do filme "O cavalo número 13", uma produção de Fernando de Barros e ainda o argumento de "Estrela da manhã", que seria dirigido por Mário Peixoto, encarregado também do roteiro (o filme acabou sendo feito, mas não por Peixoto). Nasce, no Rio de Janeiro, o filho João Jorge.

Com o cancelamento, em janeiro de 1948, do registro do Partido Comunista, o mandato de Jorge Amado é cassado. Sem assento na Câmara Federal e tendo seus livros considerados como "material subversivo", o escritor, ainda no mês de janeiro, parte sozinho em exílio voluntário para Paris. Em fevereiro, sua casa no Rio é invadida por agentes federais, que apreendem livros, fotos e documentos. Logo após o episódio, Zélia e o filho partem para Gênova, Itália, onde Jorge os apanha, levando-os a residir com ele em Paris. É nesta ocasião que o escritor trava amizade com Jean-Paul Sartre, Picasso e outros expoentes da literatura e da arte mundial. Na Polônia, participa do Congresso Mundial de Escritores e Artistas pela Paz. Com o título de "Terras violentas", estréia no Rio a adaptação da Atlântida do romance "Terras do sem fim". Para comemorar o primeiro aniversário do filho, escreve a história "O gato Malhado e a andorinha Sinhá". Viaja pela Europa e União Soviética.

Em 1949, dirigindo-se para a Tchecoslováquia, onde participaria de um congresso de escritores, sofre um acidente de avião na cidade de Frankfurt, Alemanha; escapa ileso. Morre no Rio, "de repente", conforme conta o escritor, sua filha Eulália.

Por motivos políticos, em 1950, o governo francês expulsa Jorge Amado e sua família do país. O escritor, Zélia e João Jorge passam a residir em Dobris, Tchecoslováquia, no castelo da União dos Escritores. Realiza viagens políticas pela Europa Central e União Soviética. Escreve "O mundo da paz", livro sobre os países socialistas.

No ano seguinte escreve o romance tripartido "Os subterrâneos da liberdade" (Os ásperos tempos, Agonia da noite e A luz no túnel). Sai no Brasil, pela Editorial Vitória, do Rio, o livro "O mundo da paz" pelo qual Jorge Amado seria processado e enquadrado na lei de segurança. Nasce em Praga sua filha Paloma. Recebe, em Moscou, o Prêmio Internacional Stalin.

Vai à China e à Mongólia, em 1952. Volta ao Brasil com a família fixando residência no apartamento de seu pai, no Rio de Janeiro. Responde ao processo por "O mundo da paz". O juiz responsável pelo caso arquiva o processo, dizendo que o livro "é sectário e não subversivo". Com a aprovação, nos Estados Unidos, da lei anticomunista, o escritor é proibido de entrar naquele país; seus livros também são vetados por lá.

Viaja à Europa, Argentina e Chile, em 1953. Na última etapa do giro, é informado sobre a doença de Graciliano Ramos. Volta ao Brasil para rever o amigo, que acabaria morrendo em seguida. Jorge Amado faz então o discurso de despedida à beira do túmulo de Graciliano, a quem substitui na presidência da Associação Brasileira de Escritores. Dirige a coleção "Romances do povo", da Editorial Vitória; acabará fazendo este trabalho até 1956. Sai a quinta edição de "O mundo da paz"; o escritor proíbe reedições da obra, por acreditar que o livro "trazia uma visão desatualizada da realidade dos países socialistas".

O romance "Os subterrâneos da liberdade" é lançado em três volumes, em 1954. A trilogia provoca uma dura reação dos trotskistas brasileiros, gerando polêmica com o jornalista Hermínio Sacchetta (o "Abelardo Saquilá" do romance). Sai em Portugal, pela Editorial Avante, um folheto de seis páginas assinado por Jorge Amado e Pablo Neruda, cujo objetivo era contribuir para a libertação do líder comunista Álvaro Cunhal e marcar posição contra o salazarismo.

De janeiro a março de 1955, permanece em Viena. Em dezembro faz rápida viagem à Bahia.

É lançada, pela Ricordi brasileira, em 1956, a partitura de "Não te digo adeus", com letra de Jorge Amado e música do músico e maestro amazonense Cláudio Santoro. Assume no Rio a chefia de redação do quinzenário Para-todos, ao lado do irmão James, de Oscar Niemeyer e Moacir Werneck de Castro, dentre outros. Sai do Partido Comunista, segundo explica, "porque queria voltar a escrever". Jorge Amado diz que sabia desde 1954 das atrocidades de Stalin, denunciadas publicamente neste ano no XX Congresso do PCUS. "Mas na realidade deixei de militar politicamente porque esse engajamento estava me impedindo de ser escritor", afirma.

Viaja ao Oriente ao lado de Zélia, Pablo e Matilde Neruda, em 1957. "Terras do sem fim" é lançado em quadrinhos. Carlo Ponti, cineasta italiano, compra os direitos de "Mar morto"; mas o filme não chega a ser realizado. Conhece a mãe-de-santo Menininha do Gantois, a quem ficaria ligado até a morte dela, ocorrida em agosto de 1986.

Na tranqüilidade de Petrópolis, em 1958, escreve "Gabriela, cravo e canela". O livro, publicado em agosto, esgota 20 mil exemplares em apenas duas semanas; até dezembro venderia mais de 50 mil exemplares. Sai o disco "Canto de amor à Bahia e quatro acalantos de Gabriela, cravo e canela", trazendo leituras de Jorge Amado e música de Dorival Caymmi.

No ano seguinte, "Gabriela" coleciona prêmios: Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro; Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro e Luiza Cláudio de Souza, do Pen Club, são alguns deles. O romance ultrapassa a casa dos 100 mil exemplares vendidos. Recebe em Salvador, do Axé Opô Afonjá, um dos mais altos títulos do candomblé, o de obá orolu (também receberam tal distinção o compositor Dorival Caymmi e o artista plástico Carybé). "Obá, no sentido primitivo, é um dos doze ministros de Xangô", explica Jorge Amado. Funda a Academia de Letras de Ilhéus. Lança na revista Senhor, do Rio de Janeiro, a novela "A morte e a morte de Quincas Berro Dágua"; a idéia inicial era que este texto, de 98 páginas datilografadas e escrito em dois dias, integrasse o romance "Os pastores da noite". Naquela mesma publicação sairia o conto "De como o mulato Porciúncula descarregou o seu defunto".

Na condição de vice-presidente da União Brasileira de Escritores, Jorge Amado promove, com o então presidente Peregrino Jr., o Festival do Escritor Brasileiro num shopping center de Copacabana, em 1960. A data do evento, 25 de julho; acabaria sendo consagrada, por decreto governamental, como "Dia do Escritor". Ciceroneia o casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em sua estada no Brasil.

Por unanimidade, é eleito, no dia 6 de abril de 1961, em primeiro escrutínio, para a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, que pertencia a Otávio Mangabeira. No mesmo mês estréia na Tv Tupi do Rio de Janeiro a adaptação de "Gabriela" feita por Antônio Bulhões de Carvalho e com direção de Maurício Sherman; no papel­título da novela está Janete Vollu de Carvalho e no de Nacib, Renato Consorte. A Metro Goldwin Mayer compra os direitos de adaptação para o cinema de "Gabriela". Com o dinheiro, Jorge adquire um terreno em Rio Vermelho, então na periferia de Salvador, e começa a construir lá uma casa. Anos depois, o escritor recompraria do estúdio americano os direitos do romance. Ele assegura que não se lembra mais de nenhum dos valores negociados com a Metro. A posse na ABL acontece no dia 17 de julho; lá Jorge Amado é recepcionado por Raimundo Magalhães Jr. Saí "Os velhos marinheiros", livro que comporta as novelas "A morte e a morte de Quincas Berro Dáguá" e "A completa verdade sobre as discutidas aventuras do comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso". É eleito membro do Conselho da Presidência do Pen Club do Brasil. O presidente Juscelino Kubitschek convida-o para ser embaixador do Brasil na República Árabe Unida; o escritor recusa o convite. Homenagens no Rio, na Bahia e em outros estados por seus 30 anos de atividade literária; sua editora, a Martins, lança um livro alusivo à data. A revista francesa Les Temps Modernes publica a tradução de "A morte e a morte de Quincas Berro Dágua".

Seu pai morre no Rio de Janeiro, aos 81 anos de idade, em 1962. Cria a Proa Filmes, companhia de cinema cujo primeiro e único trabalho é a adaptação de "Seara vermelha", com direção de Alberto D'Avessa e estrelada por Marilda Alves; o filme estrearia no ano seguinte. Saí, pela gráfica O Cruzeiro, o romance policial "O Mistério dos MMM", escrito por Jorge Amado, Viriato Corrêa, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, José Condé, Guimarães Rosa, Antonio Callado, Orígenes Lessa e Rachel de Queiroz. Viagem a Havana, a convite da União dos Escritores Cubanos.

"O cavaleiro da esperança" é apreendido pela polícia, em 1963. Instala­se na casa do bairro de Rio Vermelho (à Rua Alagoinhas, 33), onde reside até falecer.

Lança "Os pastores da noite", em 1964.

No ano seguinte publica o conto "As mortes e o triunfo de Rosalinda" na antologia "Os dez mandamentos", da editora Civilização Brasileira, do Rio de Janeiro. Graças à intervenção de Guilherme Figueiredo, então adido cultural do Brasil na França, Jorge Amado e sua família recebem autorização para poder entrar de novo naquele país. A Warner Brothers adquire os direitos de filmagem de "A completa verdade sobre as discutidas aventuras do comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso".

Mais de mil pessoas comparecem à primeira sessão de autógrafos de Jorge Amado em Portugal, em 1966, na Sociedade Nacional de Belas Artes. O escritor chega aos mil autógrafos no lançamento de "Dona Flor e seus dois maridos" na livraria Civilização Brasileira, em Salvador. O romance sai com tiragem de 75 mil exemplares. Uma segunda sessão de autógrafos é marcada na capital baiana para atender aos leitores que ficaram de fora da primeira.

A União Brasileira de Escritores, presidida por Peregrino Jr., apresenta em Estocolmo a candidatura formal de Jorge Amado ao Prêmio Nobel de Literatura, em 1967, embora o escritor a recuse. Durante duas horas e meia, Jorge depõe para o arquivo do Museu da Imagem e do Som, na presença de James Amado, do crítico Eduardo Portella e do romancista Antonio Olinto, dentre outros.

A UBE insiste em apresentar novamente a candidatura de Jorge Amado ao Nobel, em 1968. O escritor concorda, mas exige que ela seja feita junto com a do romancista português Ferreira de Castro, seu amigo. O cineasta polonês Roman Polanski visita o escritor na Bahia para "agradecer a alegria que seus livros me proporcionaram na juventude".

No ano seguinte lança "Tenda dos milagres" (tiragem de 75 mil exemplares), livro que começou a escrever na casa de campo do pintor baiano Genaro de Carvalho. Jorge dizia ter sido este seu melhor romance.

Recebe em São Paulo o Prêmio Juca Pato - 1970, da União Brasileira de Escritores, como "Intelectual do Ano". Lidera, ao lado do escritor gaúcho Érico Veríssimo, um movimento contra a censura prévia aos livros. Estréia o filme "Capitães da areia", produção americana dirigida por Hall Bartlett.

Seu primeiro neto, Bruno, filho de João Jorge e Maria da Luz Celestino nasce em Salvador, em 1971. Divide com Ferreira de Castro o Prêmio Gulbenkian de Ficção, entregue na Academia do Mundo Latino, em Paris. Faz conferência no Instituto de Letras da Universidade da Pensilvânia.

Sua mãe morre em Salvador, aos 88 anos de idade, em 1972. Nasce Mariana, a primeira neta, filha de Paloma e Pedro Costa. Sai "Tereza Batista cansada de guerra". A escola de samba Lins Imperial, de São Paulo, apresenta o enredo "Bahia de Jorge Amado". Numa viagem à Europa encontra, em Barcelona, o escritor colombiano Gabriel García Márquez, futuro Nobel de Literatura (1982).

Nasce Maria João, filha de João Jorge e Maria da Luz, em 1973. Fernando Sabino dirige um documentário sobre Jorge Amado, "Na casa do Rio Vermelho".

Inaugurado em Salvador o Hotel Pelourinho, com registro em placa da época em que o escritor morou naquele local, em 1974.

A Martins, que havia pedido concordata no ano anterior, começa a lançar livros de Jorge Amado em co-edição com a Record, do Rio de Janeiro, em 1975. Marcel Camus leva para o cinema o romance "Os pastores da noite", que é exibido na França com o título de "Otalia da Bahia". Este é o ano também da estréia do maior sucesso do escritor na TV: a adaptação de Walter George Durst do romance "Gabriela, cravo e canela", levada ao ar pela Rede Globo, com direção de Walter Avancini, Sônia Braga no papel-título e Armando Bogus interpretando Nacib.

Com o fechamento da Livraria Martins Editora, em 1976, Jorge passa a ser autor exclusivo da Record. Nasce a neta Cecília, filha de Paloma e Pedro Costa. Estréia no cinema "Dona Flor e seus dois maridos", de Bruno Barreto, com Sônia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça. Após três meses de exibição o filme bate recorde de bilheteria — dez milhões de espectadores. Na Bahia, começa a escrever "Tieta do Agreste". Participa da Feira Internacional do Livro de Frankfurt; que neste ano é dedicada à literatura latino-americana. A pedido do filho João Jorge e do amigo Carybé, que faz as ilustrações, publica "O gato Malhado e a andorinha Sinhá".

No ano seguinte, cercado de intensa campanha publicitária, é lançado no Rio o romance "Tieta do Agreste", que Jorge Amado concluíra em Londres. Também no Rio o autor, participa do ato de inauguração da rua Tieta do Agreste, localizada no Recreio dos Bandeirantes, zona sul da cidade. Recebe o título de sócio benemérito do afoxé Filhos de Gandhi. Estréia "Tenda dos milagres", filme de Nelson Pereira dos Santos. Interpreta um dos apóstolos de Cristo na cena da "Última Ceia" do filme A Idade da Terra, de Glauber Rocha. A casa onde o escritor viveu em Ferradas é tombada pela Prefeitura de Itabuna. Grava no Rio, para a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, trechos de seus romances "Os pastores da noite" e "Tereza Batista cansada de guerra".

Em 1978, Glauber Rocha realiza documentário abordando a obra de Jorge Amado. O escritor oficializa, no dia 13 de maio, sua união com Zélia Gattai; a cerimônia acontece na casa do pintor Calasans Neto, em Itapuã.

Sai "Farda fardão camisola de dormir", em 1979. Estréia na Broadway o musical Saravá, de Richard Nash e Mitch Leigh, baseado em "Dona Flor e seus dois maridos". Escreve, sob encomenda de um banco, para uma edição especial de fim de ano, o conto "Do recente milagre dos pássaros acontecido em terras de Alagoas, nas ribanceiras do rio São Francisco". Lança em disco, pela Som Livre, uma versão do livro "Bahia de Todos os Santos".

Nasce João Jorge Filho, em 1980, outro neto que lhe é dado por João Jorge e Maria da Luz. A revista Vogue Brasil dedica um número a Jorge Amado, que escreve o texto "O menino grapiúna", onde conta reminiscências da época em que viveu na região cacaueira. Daí surgiu a idéia de "Tocaia Grande", que falaria do nascimento e desenvolvimento de uma cidade naquela área. Recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia. É condecorado como Grande Oficial da Ordem de Santiago da Espada pelo presidente português Ramalho Eanes. Participa, na condição de convidado especial, do programa L'apostrophe, da televisão francesa, comandado por Bernard Pivot.

"O menino grapiúna" é lançado numa edição não-comercial, em 1981. O jornal francês Le Matin publica o conto "Do recente milagre dos pássaros acontecido em terras de Alagoas, nas ribanceiras do rio São Francisco". "Terras do sem fim" estréia na Tv Globo (adaptação de Walter George Durst e direção de Herval Rossano); na trilha sonora, Jorge Amado assina, com Dorival Caymmi, a música Cantiga de cego. No centenário de Ilhéus, o escritor é homenageado com uma placa e uma escultura de bronze numa rua que leva seu nome; uma outra rua ganha o nome de seu pai. É entrevistado em Salvador pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa, que à época apresentava, nas noites de domingo, um programa na TV de seu país.

O autor passa a ser nome de rua em Itapuã, em 1982. É homenageado no carnaval de Salvador pelo bloco Dengo da Bahia, que apresenta o enredo Bahia de Jorge Amado. Começa a escrever "Bóris, o vermelho", que, por diferentes motivos, seria seguidamente interrompido e acabou não sendo concluído. Na primeira vez que adiou a redação de "Bóris", disse que foi "porque a idéia não estava bem amadurecida". Jorge Amado inicia "Tocaia Grande". A Caixa Econômica Federal lança seis milhões de bilhetes de loteria com a efígie do escritor. Zélia Gattai publica Um chapéu para viagem, onde conta como conheceu Jorge. Sai a edição comercial de "O menino grapiúna".

Nasce Jorge Amado Neto, filho de João Jorge com sua segunda mulher, Rízia Vaz Coutrim, em 1983. Inaugurado em Ferradas um busto do escritor. Estréia o filme "Gabriela", co-produção Brasil­Itália dirigida por Bruno Barreto com Sônia Braga no papel-título e o ator italiano Marcello Mastroianni interpretando Nacib.

Em 1984, publica "Tocaia Grande" (com uma anunciada tiragem inicial de 150 mil exemplares). Tenta retomar "Bóris, o vermelho", mas o deixa de lado para escrever "A guerra dos santos", título original do romance que se chamaria "O sumiço da santa". O presidente francês, François Mitterrand, outorga-lhe a comenda da Legião da Honra. Lança "A bola e o goleiro", uma história infantil. Começa a articular a criação da Fundação Casa de Jorge Amado. Zélia publica Senhora dona do baile, onde fala do primeiro exílio do escritor.

Toma posse na Academia de Letras da Bahia (cadeira 21), em 1985. Recebe o título de Grão-Mestre da Ordem do Rio Branco, no grau de Grande Oficial, oferecido pelo governo brasileiro. Participa do Festival de Cinema de Cannes. É homenageado pelo Centro Georges Pompidou, de Paris, onde se realiza um debate sobre sua obra. Estréia na Rede Globo a minissérie "Tenda dos milagres" (adaptação de Aguinaldo Silva e Regina Braga e direção de Paulo Afonso Grisolli, Maurício Farias e Ignácio Coqueiro; no papel de Pedro Archanjo, Nelson Xavier).

Morre, em 1986, aos 73 anos de idade, sua ex-esposa Matilde Mendonça Garcia Rosa. Participa, como presidente do júri, do VIII Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, em Cuba; na ocasião, é homenageado por Fidel Castro. Decreto assinado pelo presidente José Sarney no dia 2 de julho, data de aniversário de Zélia Gattai, cria a Fundação Casa de Jorge Amado. Lança, pela Berlendis & Vertecchia, de São Paulo, "O capeta Carybé", sobre o artista plástico argentino, nascido Hector Julio Páride Bernabó, seu amigo desde os anos 50, quando se instalou na Bahia.

Inaugurada, no dia 7 de março de 1987, a Fundação Casa de Jorge Amado, que passa a desenvolver intenso trabalho de preservação e divulgação da obra do escritor. Na presidência da entidade está Germano Tabacof e na diretoria executiva, Myriam Fraga. O símbolo da Casa é um exu desenhado por Carybé, que já vinha aparecendo nas edições dos livros de Jorge Amado. Segundo o escritor, exu é um deus dos mais importantes nas religiões fetichistas; se elas admitissem a existência do diabo, ele seria o diabo. Segundo as mães-de-santo, "exu é uma divindade travessa, uma criança, que adora pregar peças e, principalmente, não admite censura". Recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Lumière, da cidade francesa de Lyon. Lançamento da revista Exu, da Fundação Casa de Jorge Amado; o número de estréia traz uma bibliografia do escritor e um texto dele intitulado "O enterro do Yalorixá". Zélia lança o livro Reportagem incompleta, que reúne fotos que ela fez de Jorge Amado. O escritor recebe o título de sócio honorário do Pen Club do Brasil. Lançado 0 filme "Jubiabá", dirigido por Nelson Pereira dos Santos.

Zélia Gattai publica, em 1988, Jardim de inverno, onde fala do exílio na Tchecoslováquia em companhia de Jorge Amado. A Orquestra Sinfônica da Bahia, sob regência do maestro Carlos Veiga, apresenta uma peça do compositor paulista Francisco Mignone inspirada em "A morte e a morte de Quincas Berro Dágua". Publica "O sumiço da santa". Recebe em Brasília o Prêmio Pablo Picasso, da Unesco, durante o Simpósio Internacional de Escritores da América Latina e do Caribe. Inauguração, em Ilhéus, da Casa de Cultura Jorge Amado.

A escola de samba Império Serrano, do Rio de Janeiro, apresenta o enredo "Jorge Amado - Axé, Brasil", em 1989. Recebe o Prêmio Pablo Neruda, da Associação dos Escritores Soviéticos. Estréia na Rede Globo a novela "Tieta", com adaptação de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares e direção de Paulo Ubiratan, Reynaldo Boury e Luiz Fernando Carvalho; no papel-título, Bety Faria. Jorge Amado é entrevistado no programa do escritor Georges Simenon na TF1 (França). Escreve texto em favor da candidatura à Presidência da República, pelo Partido Comunista Brasileiro, do deputado federal Roberto Freire (PE). Estréia na Tv Bandeirantes a minissérie "Capitães da areia", com adaptação de José Louzeiro e Antonio Carlos Fontoura e direção de Walter Lima Jr.

Em 1990, participa, como representante do Brasil, da comissão internacional que dará assessoria ao projeto de reconstrução da antiga biblioteca de Alexandria, no Egito. Aberto em Recife o arquivo do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) pernambucano, no qual o prontuário de número 6.172 trata das atividades políticas de Jorge Amado. Recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Israel e da Universidade Dagli Studi de Bari, Itália. Na Itália recebe os prêmios Cino del Duca, concedido por um júri presidido pelo escritor Maurice Druon, secretário-geral da Academia Francesa. A Universidade Livre de Berlim realiza o seminário "Cultura popular na obra de Jorge Amado".

Paralelamente a "Bóris, o vermelho", escreve "Navegação de cabotagem", relato memorialístico, em 1991. Recebe o teatrólogo e novelista Dias Gomes na Academia Brasileira de Letras. Escreve, sob encomenda, para uma empresa italiana, a história "A descoberta da América pelos turcos", que deveria ser incluída num livro ao lado de textos do americano Norman Mailer e do mexicano Carlos Fuentes. Preside o 14° Festival Cultural de Asylah, Marrocos, cujo tema é "Mestiçagem, o exemplo do Brasil". Participa do Fórum Mundial das Artes em Veneza, Itália.

Estréia na Rede Globo, em 1992, a minissérie "Tereza Batista" (com adaptação de Vicente Sesso, direção de Paulo Afonso Grisolli e Patrícia França no papel-título). Publica "Navegação de cabotagem". Uma série de eventos comemora os 80 anos do escritor. As principais homenagens, naturalmente, se concentram em Salvador: shows no Pelourinho, debates, exposições. Para festejar a data, a Fundação Casa de Jorge Amado publica o livro "Jorge Amado: 80 anos de vida e obra", organizado por Maried Carneiro e Rosane Canelas Rubim. Paloma Amado e Pedro Costa iniciam a revisão completa da obra do escritor, a fim de eliminar erros acumulados ao longo das sucessivas reedições de seus livros. É homenageado no Centro Georges Pompidou com a exposição Jorge Amado, écrivain de Bahia; no mesmo local participa do seminário "Reencontro de dois mundos", realizado para comemorar o quarto centenário do descobrimento da América.

Publica, em 1994, no Brasil, "A descoberta da América pelos turcos" (o projeto do livro com Mailer e Fuentes não vingara, mas o texto de Jorge Amado já tinha saído em 1992 na França). "Gabriela, cravo e canela" inaugura a série de relançamentos revisados da obra do escritor.

Recebe, dos governos brasileiro e português, o Prêmio Camões, em 1995. Começa a escrever um romance provisoriamente intitulado "A apostasia universal de Água Brusca", que focaliza a luta pelo poder entre a igreja e os coronéis do sertão baiano. Recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Pádua, Itália; também na Itália é contemplado com o Prêmio Vitaliano Brancatti. João Moreira Salles realiza o documentário "Jorge Amado".

Em maio de 1996, o escritor sofre em Paris um edema pulmonar. Depois de dez dias de internação, recebe alta e viaja para Salvador, onde em julho comemora com os amigos os 80 anos de Zélia. Estréia "Tieta do Agreste", filme de Cacá Diegues, que também assina o roteiro, ao lado de João Ubaldo Ribeiro e Antonio Calmon. No papel­título, Sônia Braga. Em outubro, é submetido a uma angioplastia. A operação mobiliza atenções do país inteiro e é coroada de pleno êxito. Na saída do hospital o escritor anuncia que retomará "brevemente" seus projetos literários.

O romance "Tieta do Agreste" é escolhido como tema do carnaval de Salvador, em 1997. No domingo de folia, o bloco "Amigos do Amado Jorge", liderado pelo cantor e compositor Caetano Veloso, desfila em homenagem ao romancista, que assiste à festa ao lado de Zélia Gattai no camarote da passarela da Praça do Campo Grande. A editora Record lança "Milagre dos Pássaros", livro com conto ainda inédito no Brasil.

No Salão do Livro de Paris, em 1998, é uma das principais atrações e recebe o título de Doutor Honoris Causa na Sorbonne. Estréia na Rede Globo a mini-série "Dona Flor e seus dois maridos", adaptação de Dias Gomes para o romance de mesmo nome.

Em maio de 1999, é hospitalizado para fazer exames de rotina e tratar de um mal-estar digestivo. Em junho, a Fundação Casa de Jorge Amado lança o livro "Rua Alagoinhas 33, Rio Vermelho", sobre a casa em que o autor vivia e sobre seu cotidiano.

Cada vez mais recluso, face a seus problemas de saúde, comemora em agosto de 2000, com poucos amigos e a família, seus 88 anos. Vivia deprimido por se encontrar quase sem enxergar, sob dieta rigorosa, privando-se do que muito gostava: de escrever, de ler um bom livro e de um bom prato.

No dia 21 de junho de 2001, Jorge Amado é internado com uma crise de hiperglicemia e tem uma fibrilação cardíaca. Após alguns dias, retorna à sua casa, porém, em 06 de agosto volta a se sentir mal e falece na cidade de Salvador às 19,30 horas. A seu pedido, seu corpo foi cremado e suas cinzas foram espalhadas em torno de uma mangueira em sua residência no Rio Vermelho.

Leia a linda crônica escrita por João Ubaldo Ribeiro, "Jorge Amado e eu", onde nos fala da dor pela perda de seu grande amigo e incentivador.


Bibliografia

Individuais

Romances:

- O País do Carnaval, 1931

- Cacau, 1933

- Suor, 1934

- Jubiabá, 1935

- Mar Morto, 1936

- Capitães da Areia, 1936

- Terras do Sem Fim, 1943

- São Jorge dos Ilhéus, 1944

- Seara Vermelha, 1946

- Os Subterrâneos da Liberdade (3v), 1954 (v. 1:Os Ásperos Tempos; v. 2: Agonia da Noite; v. 3: A Luz no Túnel)

- Gabriela, Cravo e Canela: crônica de uma cidade do interior, 1958

- Os Pastores da Noite, 1964

- Dona Flor e Seus Dois Maridos: esotérica e comovente história vivida por Dona Flor, emérita professora de Arte Culinária, e seus dois maridos — o primeiro, Vadinho de apelido; de nome Teodoro Madureira e farmacêutico o segundo ou A espantosa batalha entre o espírito e a matéria, 1966

- Tenda dos Milagres, 1969

- Teresa Batista Cansada da Guerra, 1972

- Tieta do Agreste: pastora de cabras ou A volta da filha pródiga, melodramático folhetim em cinco sensacionais episódios e comovente epílogo: emoção e suspense!, 1977

- Farda Fardão Camisola de Dormir:fábula para acender uma esperança, 1979

- Tocaia Grande: a face obscura, 1984

- O Sumiço da Santa: uma história de feitiçaria, 1988

- A Descoberta da América pelos Turcos ou De como o árabe Jamil Bichara, desbravador de florestas, de visita à cidade de Itabuna, para dar abasto ao corpo, ali lhe ofereceram fortuna e casamento ou ainda Os esponsais de Adma, 1994

- O Compadre de Ogum, 1995

Novelas

- A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua, 1959

- A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua (publicada juntamente com Os Velhos Marinheiros ou A completa verdade sobre as discutidas aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso, in Os velhos marinheiros, 1961

- Os Velhos Marinheiros ou A completa verdade sobre as discutidas aventuras do comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso, 1976

Literatura Infanto-Juvenil:

- O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma história de amor, 1976

- A Bola e o Goleiro, 1984

- O Capeta Carybé, 1986

Poesia:

- A Estrada do Mar, 1938

Teatro:

- O Amor do Soldado, 1947 (ainda com o título O Amor de Castro Alves), 1958

Contos:

- Sentimentalismo, 1931

- O homem da mulher e a mulher do homem, 1931

- História do carnaval, 1945

- As mortes e o triunfo de Rosalinda, 1965

- Do recente milagre dos pássaros acontecido em terras de Alagoas, nas ribanceiras do rio São Francisco, 1979

- O episódio de Siroca, 1982

- De como o mulato Porciúncula descarregou o seu defunto, 1989

Relatos autobiográficos:

- O menino grapiúna, 1981

- Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei, 1992

Textos autobiográficos:

- ABC de Castro Alves, 1941

- O cavaleiro da esperança, 1945

Guia/Viagens:

- Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e de mistérios, 1945

- O mundo da paz (viagens), 1951

- Bahia Boa Terra Bahia, 1967

- Bahia, 1970

- Terra Mágica da Bahia, 1984.

Documento político/Oratória:

- Homens e coisas do Partido Comunista, 1946

- Discursos, 1993

Livro traduzido:

- Dona Bárbara (Doña Barbara), romance do venezuelano Rómulo Gallegos, 1934

Em parceria:

- Lenita (novela), com Edison Carneiro e Dias da Costa, 1929

- Descoberta do mundo (literatura infantil), com Matilde Garcia Rosa, 1933

- Brandão entre o mar e o amor, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz, 1942

- O mistério de MMM, com Viriato Corrêa, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Rachel de Queiroz, José Condé, Guimarães Rosa, Antônio Callado e Orígines Lessa, 1962

Publicações no exterior:

Segundo a Fundação Casa de Jorge Amado, existem registros oficiais de traduções de obras do escritor para os seguintes idiomas: azerbaidjano, albanês, alemão, árabe, armênio, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego, georgiano, grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano, japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês, romeno, russo, sérvio, sueco, tailandês, tcheco, turco, turcumênio, ucraniano e vietnamita (48 no total). Essas traduções foram publicadas no mínimo nos seguintes países: Albânia, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Armênia, Áustria, Azerbaidjão, Bulgária, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia do Norte, Coréia do Sul, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Eslováquia, Estônia, Finlândia, França, Geórgia, Grécia, Holanda, Hungria, Inglaterra, Irã, Islândia, Israel, Itália, Iugoslávia, Japão, Letônia, Lituânia, México, Mongólia, Noruega, Paraguai, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, Rússia, Suécia, Tailândia, Turquia, Ucrânia, Uruguai, Venezuela e Vietnã; o Brasil também deve ser computado em função da edição nacional em esperanto, totalizando 52 nações.


**Dados extraídos de livros do autor, portais da Internet, outros livros e revistas e, em especial, dos Cadernos de Literatura Brasileira publicados pelo Instituto Moreira Salles.

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Balada dos mortos dos campos de concentração
em 02/09/2008 18:40:00 (6547 leituras)
Vinícius de Moraes

Cadáveres de Nordhausen
Erla, Belsen e Buchenwald!
Ocos, flácidos cadáveres
Como espantalhos, largados
Na sementeira espectral
Dos ermos campos estéreis
De Buchenwald e Dachau.
Cadáveres necrosados
Amontoados no chão
Esquálidos enlaçados
Em beijos estupefatos
Como ascetas siderados
Em presença da visão.
Cadáveres putrefatos
Os magros braços em cruz
Em vossas faces hediondas
Há sorrisos de giocondas
E em vossos corpos, a luz
Que da treva cria a aurora.
Cadáveres fluorescentes
Desenraizados do pó
Grandes, góticos cadáveres!
Ah, doces mortos atônitos
Quebrados a torniquete
Vossas louras manicuras
Arancaram-vos as unhas
No requinte da tortura
Da última toalete . . .
A vós vos tiraram a casa
A vós vos tiraram o nome
Fostes marcados a brasa
E vos mataram de fome!
Vossas peles afrouxadas
Sobre os esqueletos dão-me
A impressão que éreis tambores —
Os instrumentos do Monstro —
Desfibrados a pancada:
Ó mortos de percussão!
Cadáveres de Nordhausen
Erla, Belsen e Buchenwald!
Vós sois o húmus da terra
De onde a árvore do castigo
Dará madeira ao patíbulo
E de onde os frutos da paz
Tombarão no chão da guerra!

FONTE: JORNAL DA POESIA




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Para uma menina com uma flor
em 31/08/2008 14:30:00 (5796 leituras)
Vinícius de Moraes

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, que aliás você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você quando sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, como uma santa moderna, e anda lento, a fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara- na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavaleiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.



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Frases e Pensamentos
em 25/08/2008 17:40:00 (23943 leituras)
William Shakespeare

Citações

William Shakespeare


— Devemos aceitar o que é impossível deixar de acontecer.

— Até mesmo a bondade, se em demasia, morre do próprio excesso.

— O cansaço ronca em cima de uma pedra, enquanto a indolência acha duro o melhor travesseiro.

— Vazias as veias, nosso sangue se arrefece, indispostos ficamos desde cedo, incapazes de dar e de perdoar. Mas quando enchemos os canais e as calhas de nosso sangue com comida e vinho, fica a alma muito mais maleável do que durante esses jejuns de padre.

— Ninguém poderá jamais aperfeiçoar-se, se não tiver o mundo como mestre. A experiência se adquire na prática.

— Se o ano todo fosse de feriados, o lazer, como o trabalho, entediaria.

— Ventre grande é sinal de espírito oco; quando a gordura é muita, o senso é pouco.

— Que é o homem, se sua máxima ocupação e o bem maior não passam de comer e dormir?

— Do jeito que o mundo anda, ser honesto é (igual) a ser escolhido entre dez mil.

— Hóspede oferecido (...) só é bem-vindo quando se despede.

— Um homem inteligente pode transformar-se num joão-bobo, quando não sabe valer-se de seus recursos naturais.

— Quem não sabe mandar deve aprender a ser mandado.

— A mulher que não sabe pôr a culpa no marido por suas próprias faltas, não deve amamentar o filho, na certeza de criar um palerma.

— As coisas mais mesquinhas enchem de orgulho os indivíduos baixos.

— Ninguém pode calcular a potência venenosa de uma palavra má num peito amante.

— Sábio é o pai que conhece seu próprio filho.

— Tem ventura fugaz, sempre periga, quem se fia em rapaz ou rapariga.

— Ser ou não ser... eis a questão.

— É estranho que, sem ser forçado, saia alguém em busca de trabalho.

—As mais belas jóias, sem defeito, com o uso o encanto perdem.

— O bom vinho é um camarada bondoso e de confiança, quando tomado com sabedoria.

— Nunca poderá ser ofensivo aquilo que a simplicidade e o zelo ditam.


*Pesquisa em sites da internet.
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Perdidamente
em 24/08/2008 16:05:40 (12964 leituras)
Florbela Espanca

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


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Ah, a frescura na face de não cumprir um dever
em 24/08/2008 16:03:25 (4615 leituras)
Fernando Pessoa

Ah, a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros.
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte... Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.



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Sedutora
em 18/08/2008 16:50:00 (4284 leituras)
Augusto dos Anjos

Sedutora

por Augusto dos Anjos

Alva d'aurora, e em lânguida sonata
Vinhas transpondo a margem do caminho,
Branca bem como empalecido arminho,
Alvorejando em arrebol de prata.

Bendita a Santa do Carinho, inata!
E, ajoelhando à imagem do Carinho,
O roble altivo entreteceu-te um ninho,
Alva d'aurora, te acolheu a mata.

Pérolas e ouro pela serrania...
No lago branco e rútilo do dia
O azul pompeava pra sempre vasto.

Chegaste, o seio branco, e, tu, chegando,
Uma pantera foi se ajoelhando,
Rendida ao eflúvio do teu seio casto!


do livro "EU" página 265.

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A máquina do tempo
em 16/08/2008 21:10:00 (10147 leituras)
Fernando Pessoa

O Universo
é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.

Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,

esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.


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Teresa
em 14/08/2008 12:50:00 (25380 leituras)
Manuel Bandeira

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o
[resto do corpo
(Os olhos nasceram e fizeram dez anos esperando
[que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a
[face das águas.


in, Poesia Brasileira do Século XX, dos Modernistas à Actualidade, selecção, introdução e notas, Jorge Henrique Borges, Editora Antígona, 2002.


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The Poem
em 11/08/2008 10:00:00 (2823 leituras)
Fernando Pessoa

THE POEM

There sleeps a poem in my mind
That shall my entire soul express.
I feel it vague as sound and wind
Yet sculptured in full definiteness.

It was no stanza, verse or word.
Ev’n as I dream it, it is not.
‘Tis a mere feeling of it, blurred,
And but a happy mist round thought.

Day and night in my mystery
I dream and read and spell it over,
And ever round words’ brink in me
Its vague completeness seems to hover.

I know it never shall be writ.
I know I know not what it is.
But I am happy dreaming it,
And false bliss, although false, is bliss.

O POEMA

Dentro de mim dorme um poema
Capaz de exprimir minha alma toda.
Sinto-o vago como o som ou vento
Embora já esculpido inteiro para sempre.

Sem estrofes, versos ou palavras.
Nem com sonhar ainda é.
Mera emoção dele, esfumado apenas
Bruma feliz em volta do pensar.

Dia e noite meu mistério
Sonho-o, leio-o, de novo soletro,
E sempre a fímbria das palavras me aborda
Como adejando sua vaga integridade.

Sei que nunca será escrito.
Nem sei, não sei sequer que é.
Mas a sonhá-lo sinto-me feliz,
E alegria, mesmo falsa, é alegria.

(Tradução de José Blanc de Portugal)



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XVI - Quem me Dera
em 06/08/2008 10:00:00 (5436 leituras)
Fernando Pessoa

(Alberto Caeiro)

XVI - Quem me Dera


Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.
Eu não tinha que ter esperanças — tinha só que ter rodas ...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.




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Tenho tanto sentimento que...
em 06/08/2008 08:40:00 (6210 leituras)
Fernando Pessoa

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.


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Sossega coração
em 06/08/2008 07:20:00 (12499 leituras)
Fernando Pessoa

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição dos seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo,
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho concebê-lo!

Sossega, coração! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme.
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.


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Vida e Obra
em 30/07/2008 14:10:00 (13826 leituras)
Florbela Espanca

Senhoras e Senhores a "Dama" dos sonetos:

Florbela Espanca,


Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, no dia 8 de Dezembro de 1894 e faleceu em Matosinhos, no dia 8 de Dezembro de 1930, batizada com o nome Flor Bela de Alma da Conceição, foi uma poetisa portuguesa.

Mesmo antes de seu nascimento, a vida de Florbela Espanca já estava marcada pelo inesperado, pelo dramático, pelo incomum.

Seu pai, João Maria Espanca era casado com Maria Toscano. Como a mesma não pôde dar filhos ao marido, João Maria se valeu de uma antiga regra medieval, que diz que quando de um casamento não houver filhos, o marido tem o direito de ter os mesmos com outra mulher de sua escolha. Assim, no dia 8 de dezembro de 1894 nasce Flor Bela Lobo, filha de Antónia da Conceição Lobo. João Maria ainda teve mais um filho com Antónia, Apeles. Mais tarde, Antónia abandona João Maria e os filhos passam a conviver com o pai e sua esposa, que os adotam.

Florbela entra para o curso primário em 1899, passando a assinar Flor d’Alma da Conceição Espanca. O pai de Florbela foi em 1900 um dos introdutores do cinematógrafo em Portugal. A mesma paixão pela fotografia o levará a abrir um estúdio em Évora, despertando na filha a mesma paixão e tomando-a como modelo favorita, razão pela qual a iconografia de Florbela, principalmente feita pelo pai, é bastante extensa.

Em 1903, aos sete anos, faz seu primeiro poema, A Vida e a Morte. Desde o início é muito clara sua precocidade e preferência a temas mais escusos e melancólicos.

Em 1908 Antônia Conceição, mãe de Florbela, falece. Florbela então ingressa no Liceu de Évora, onde permanece até 1912, fazendo com que a família se desloque para essa cidade. Foi uma das primeiras mulheres a ingressar no curso secundário, fato que não era visto com bons olhos pela sociedade e pelos professores do Liceu. No ano seguinte casa-se no dia de seus 19 anos com Alberto Moutinho, colega de estudos.

O casal mora em Redondo até 1915, quando regressa à Évora devido a dificuldades financeiras. Eles passam a morar na casa de João Maria Espanca. Sob o olhar complacente de Florbela ele convive abertamente com uma empregada, divorciando-se da esposa em 1921 para casar-se com Henriqueta de Almeida, a então empregada.

Voltando a Redondo em 1916, Florbela reúne uma seleção de sua produção poética de 1915 e inaugura o projeto Trocando Olhares, coletânea de 88 poemas e três contos. O caderno que deu origem ao projeto encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, contendo uma profusão de poemas, rabiscos e anotações que seriam mais tarde ponto de partida para duas antologias, onde os poemas já devidamente esclarecidos e emendados comporão o Livro de Mágoas e o Livro de Soror Saudade.

Regressando a Évora em 1917 a poetisa completa o 11º ano do Curso Complementar de Letras, e logo após ingressa na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Após um aborto involuntário, se muda para Quelfes, onde apresenta os primeiros sinais sérios de neurose. Seu casamento se desfaz pouco depois.

Em junho de 1919 sai o Livro de Mágoas, que apesar da poetisa não ser tão famosa faz bastante sucesso, esgotando-se rapidamente. No mesmo ano passa a viver com Antônio Guimarães, casando-se com ele em 1921. Logo depois Florbela passa a trabalhar em um novo projeto que a princípio se chamaria Livro do Nosso Amor ou Claustro de Quimeras. Por fim, torna-se o Livro de Soror Saudade, publicado em janeiro de 1923.

Após mais um aborto separa-se pela segunda vez, o que faz com que sua família deixe de falar com ela. Essa situação a abalou muito. O ex-marido abriu mais tarde em Lisboa uma agência, “Recortes”, que enviava para os respectivos autores qualquer nota ou artigo sobre ele. O espólio pessoal de Antônio Guimarães reúne o mais abundante material que foi publicado sobre Florbela, desde 1945 até 1981, ano do falecimento do ex-marido. Ao todo são 133 recortes.

Em 1925 Florbela casa-se com Mário Lage no civil e no religioso e passa a morar com ele, inicialmente em Esmoriz e depois na casa dos pais de Lage em Matosinhos, no Porto.

Passa a colaborar no D. Nuno em Vila Viçosa, no ano de 1927, com os poemas que comporão o Charneca em Flor. Em carta ao diretor do D. Nuno fala da conclusão de Charneca em Flor, e fala também da preparação de um livro de contos, provavelmente O Dominó Preto.

No mesmo ano Apeles, irmão de Florbela, falece em um trágico acidente, fato esse que abalou demais a poetisa. Ela aferra-se à produção de As Máscaras do Destino, dedicando ao irmão. Mas então Florbela nunca mais será a mesma, sua doença se agrava bastante após o ocorrido.

Começa a escrever seu Diário de Último Ano em 1930. Passa a colaborar nas revistas Portugal Feminino e Civilização, trava também conhecimento com Guido Batelli, que se oferece para publicar Charneca em Flor. Florbela então revê em Matosinhos as provas do livro, depois de tentar o suicídio, período em que a neurose se agrava e é diagnosticado um edema pulmonar.

Em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de dezembro – no dia do seu aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal. Algumas décadas depois seus restos mortais são transportados para Vila Viçosa, “… a terra alentejana a que entranhadamente quero”.

Cronologia:

1894: No princípio da madrugada de 08 de dezembro, nasce, em Vila Viçosa (Alentejo), Florbela d’Alma da Conceição Espanca, na casa de sua mãe Antônia da Conceição Lobo, à Rua do Angerino. O pai, o republicano João Maria Espanca, casado com Mariana do Carmo Ingleza, providenciará para que a esposa se torne madrinha de batismo da filha, em 20 de junho de 1895, oferecendo-lhe como padrinho o amigo Daniel da Silva Barroso.
Embora nos registros da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa conste Florbela ser “filha ilegítima de pai incógnito��?, será a menina criada pelo pai e pela madrasta desde o nascimento. Igual procedimento se verá da parte de João Maria para com Apeles, o único irmão da poetisa, filho da mesma mãe e do mesmo pai, que vai nascer em 10 de março de 1897. Também como Florbela, Apeles será registrado “filho ilegítimo de pai incógnito��?.

1899: Florbela freqüenta a escola primária em Vila Viçosa. O pai viaja muito, trabalhando, nessa altura, como antiquário, e já em 1900, torna-se um dos introdutores do cinematógrafo em Portugal, projetando, por todo o país, filmes em salas particulares, graças ao recém adquirido “Vitascópio de Edson��?. A paixão pela fotografia o levará também, a abrir um estúdio em Évora, o “Photo Calypolense de J. M.. Espanca��?, despertando na filha o gosto pelo retrato e elegendo-a o seu modelo predileto, visto que a iconografia de Florbela Espanca, sobretudo a da sua lavra é bastante farta.
João Maria Espanca e o pai de Milburges Ferreira (a amiga e vizinha Buja, também afilhada de Mariana Ingleza) serão, como republicanos ferrenhos, num tempo em que tal era suspeito, perseguidos ao longo de diversas ocasiões, como inimigos do regime monárquico.

1903. Data de 11 de novembro o poema “A vida e a morte��?, provavelmente a primeira peça escrita por Florbela, e a poesia parece ter-se constituído, na infância da jovem, num meio particular de aproximação com os outros, espécie de doação generosa de si mesma, de original presente que ela oferece, sobretudo ao pai e ao irmão, ambos foco de seu carinho e de toda a sua atenção.

1908: O rei D. Carlos e o príncipe herdeiro D. Luís Felipe são, em 1º de fevereiro (dia do aniversário de João Espanca), assassinados em Lisboa, quando voltavam do Palácio Ducal de Vila Viçosa (residência de férias da Coroa), e este é um dos acontecimentos que vão precipitar a instauração revolucionária da República em 05 de outubro de 1910.
Florbela ingressa no Liceu de Évora, onde permanece até 1912, de modo que a família muda-se nesse ano para Évora, a fim de facilitar-lhe a permanência nos estudos. Ainda em 1908, falece em Vila Viçosa, a terra natal que a regressara, Antônia da Conceição Lobo, então com vinte e nove anos de idade.

1913. Flobela batiza, em 08 de maio, o primo Túlio Espanca, a quem se dedicará sempre com desvelos de assídua madrinha. Este, recentemente falecido, tornar-se-á editor de A Cidade de Évora e importante autoridade nos meios intelectuais portugueses, graças à sua competência de profundo conhecedor de história da arte, vogal das Academias Portuguesas de História e Nacional de Belas Artes, tendo sido encarregado de elaborar, dentre outras obras, o Inventário Artístico de Portugal- Distrito de Évora.
No dia do seu aniversário, Florbela casa-se, na Conservadoria do Registro Civil de Vila Viçosa, com Alberto de Jesus Silva Moutinho, um ano mais velho que ela, rapaz que, desde o primário era seu colega de estudos.

1914: Logo em janeiro, Florbela e o marido vão morar em Redondo; ali atravessarão um período econômico difícil, já que se sustentam dos parcos rendimentos das aulas particulares a alunos de Colégio. Por isso, em setembro de 1915, o jovem casal regressará a Évora, para viver em casa de João Maria Espanca e para dar aulas no Colégio de Nossa Senhora da Conceição. Por essa época, Mariana Ingleza já se acha doente (ela morrerá em dezembro de 1925), e o pai de Florbela, sob os olhares complacentes da mulher, vive livremente na mesma casa com a empregada Henriqueta de Almeida. João Maria vai divorciar-se de Mariana em 09 de novembro de 1921 e casar-se com Henriqueta em 04 de julho de 1922. Em 03 de julho de 1954, João Maria Espanca virá a falecer, depois de, na Conservadoria do Registro Civil de Vila Viçosa, ter perfilhado Florbela em 13 de junho de 1949.

1916: Em meados de abril de 1916, vivendo novamente em Redondo, Florbela seleciona, dentre a sua produção poética cerca de trinta peças produzidas a partir de 10 de maio de 1915, com as quais inaugura o projeto e o manuscrito Trocando Olhares.Esse caderno (32,2 X 11cm), contendo capa dura e apresentando quarenta e sete folhas, encontra-se hoje depositado no seu espólio da Biblioteca Nacional de Lisboa. Compreende oitenta e oito poemas e três contos e parece se impor, da maneira como subsiste, como uma expressiva ��?oficina literária��?, acolhendo projetos poéticos de distintas naturezas, anotações, refundições de poemas em páginas que por vezes, se assemelham a palimpsestos. Prestou-se ele também como matriz a duas antologias dali retiradas na altura, como importante foco irradiador de peças que emigrarão, refundidas, para o Livro de Mágoas e para o Livro de Sóror Saudade, e, enquanto campo temático, como precioso propulsor para o restante da obra de Florbela.
Datam também de 1916, os primeiros esforços da jovem poetisa para ser publicada , e a sua correspondência com Madame Carvalho, diretora do suplemento “Modas e Bordados��? de O Século de Lisboa, tem início em 08 de janeiro desse ano. Ao longo de 1916, Florbela inicia colaboração no mencionado Suplemento, em Notícias de Évora e em A Voz Pública de Évora. Muitos desses poemas, enviados a Júlia Alves (com quem enceta correspondência a partir de junho de 1916 e que se alonga até 05 de abril de 1917), serão recuperados e publicados no póstumo Juvenília.
Portugal inicia a sua intervenção na Primeira Grande Guerra Mundial em 09 de março de 1916, e Florbela, entusiasmada com a causa republicana, começa a partir de princípio de junho, a se ocupar de um novo projeto poético, A Alma de Portugal, em “homenagem humilíssima à pátria que estremeço��?, como o registra a sua correspondência e segundo o atestam os poemas do referido manuscrito. Logo após 18 de julho, ela está enviando a Raul Proença, por meio do pai, que é amigo de Luís Sangreman Proença (irmão do intelectual republicano), a sua antologia Primeiros Passos. A apreciação do importante Conservador da Biblioteca Nacional de Lisboa, de que Florbela toma conhecimento nos dias imediatamente anteriores a 12 de agosto, será fundamental para o auto-reconhecimento do que produzia até então, bem como valiosa para a definição da sua personalidade poética. O exame do parecer de Proença demonstra ter sido ele o único crítico efetivamente competente com que Florbela deveras dialogou, acontecimento verdadeiramente isolado nos minguados horizontes literários da sua existência. A crer nas únicas duas peças da correspondência de Florbela com o republicano (depositada no espólio de Proença na Biblioteca Nacional de Lisboa), a interlocução crítica que com ele manteve deve ter-se alongado pelo menos até 1927 (quando Proença foi exilado em virtude de sua publicaçãoPrimeiro panfleto contra a ditadura militar, e foi decisiva para o engendramento e seleção dos sonetos que perfariam o Livro de Mágoas e, quem sabe, também o Livro de Sóror Saudade, visto que nessa obra se acham traços da continuada epistolografia (o Prince Charmant…, é a ele dedicado, tendo sido antes publicado, em 1º de agosto de 1922, no n.º 16 da Seára Nova, revista literária que se tornou o símbolo da resistência ao salazarismo e do qual Proença era um dos fundadores e integrantes do corpo diretivo).
Por volta de 28 de julho, Florbela reavalia o seu manuscrito e elege peças que, ao lado de outras que comporá, perfarão mais um dos seus projetos poético:O Livro d’Ele.
Em outubro do mesmo ano, a poetisa está de volta a Évora como explicadora no mesmo Colégio. Por essa altura, engendra um novo projeto poético, indicado no manuscrito, apenas pelo título das duas partes que o compõe: Minha Terra, Meu Amor, condensando nele a essência dos abandonados Alma de Portugal e O Livro d’Ele. Apenas em novembro retoma o liceu interrompido, de maneira que concluirá o Curso Complementar de Letras em 24 de julho de 1917.

1917: Florbela encerra o manuscrito Trocando Olhares em 30 de abril desse ano (quando se dá a mencionada interlocução com a poética de Américo Durão), regressando posteriormente a ele para anotações acerca de uma nova antologia, a Primeiros Versos (provavelmente destinada a leitura de Raul Proença), e para rascunhar refundições de poemas presentes ou não no caderno.
Apeles, que tem dotes artísticos e que pratica sensivelmente a pintura, está seguindo carreira oposta em Lisboa: em 19 de agosto, termina o Curso da Escola Naval, graduando-se aspirante.
Em 09 de outubro, Florbela, vivendo desde setembro na capital do país subsidiada pelo pai, matricula-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que abandonará em meados de

1920: dentre os trezentos e quarenta e sete alunos inscritos, é de apenas quatorze o número de mulheres. Conhecerá aí José Schimidt Rau, Américo Durão, João Botto de Carvalho, por intermédio de Apeles, que também se aplica em mostrar para a irmã a vida artística de Lisboa, acompanhando-a na visita a exposições. Embora Florbela tenha sido colega de Alfredo Pedro Guisado na Universidade, ligado, portanto, ao grupo Orpheu, não há nenhum indício de que ela tenha tomado conhecimento da existência do Modernismo em Portugal nem dos seus mentores, embora a temática da “despersonalização��? atravessasse, mas como condição feminina, a sua obra, que, nesse aspecto da “fragmentação��?, aparenta-se sobretudo com a de Mário de Sá-Carneiro.

1918: Em abril, Florbela que se encontra adoentada, vai com o marido a Quelfes (Algarve) para repouso, permanecendo o casal hospedado em Olhão, na casa de Dorothea Moutinho. A carta que envia dali a Proença, em 07 de maio, atesta a efabulação do volume que se tornaria O Livro de Mágoas.

1919: Em junho vem à luz, pela Tipografia Maurício de Lisboa, o O Livro de Mágoas, dedicado “A meu Pai. Ao meu melhor amigo? e “A querida Alma irmã da minha. Ao meu irmão? e, já em seguida, Florbela começa a trabalhar num novo projeto que, entre essa data e pelo menos o final de 1922, terá seu título oscilando entre Livro do Nosso Amor e Claustro de Quimeras, conforme o atestam dois diferentes manuscritos depositados na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Durante toda a fase em Lisboa que intermitentemente, se prolonga até novembro de 1923, Florbela está sempre em contato com Buja, que ali reside então, e trabalha como explicadora particular de português. Data de tal experiência profissional a amizade com Aurélia Borges que, após sua morte e por ocasião do moroso affaire, se transformará em empenhada defensora da causa florbeliana, publicando, entre outras obras, o Florbela Espanca e sua obra (1946).

1921 Apeles é graduado guarda-marinha pela Escola Naval. Em 30 de abril é decretado, em Évora, o divórcio de Florbela com Moutinho. Em 29 de junho, Florbela se casa, na Conservadoria do registro Civil do Porto, com o alferes de artilharia da Guarda republicana, Antônio José Marques Guimarães, então com 26 anos, e o novo casal vai residir naquela freguesia, transferindo-se, em março de 1922, para uma Quinta na Amadora e, já em junho do mesmo ano, para Lisboa.

1922 Apeles que está em vias de tornar-se segundo tenente, presta serviços no cruzador “Carvalho Araújo?, que transporta, de Portugal para o Brasil, um dos aviões utilizados para a célebre travessia aérea de Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Corresponde-se assiduamente com a irmã, que acompanha pelos jornais os acontecimentos e que conserva fotos da façanha, em algumas das quais Apeles se acha presente. Também das incursões do cruzador pela ?frica o irmão lhe dá notícias em cartas bem humoradas, em que se compromete, por exemplo a trazer, das caçadas pelo interior de Luanda, umas “penas para um chapéu para Bela?.

1923 Em janeiro vem a lume pela Tipografia A Americana de Lisboa o Livro de Sóror Saudade, refundição dos dois manuscritos anteriores: as provas tipográficas do volume se acham depositadas na Biblioteca Nacional de Lisboa. Também lá se encontram, entre recortes ou apreciações manuscritas de outrem a respeito da publicação do Livro de Mágoas, sete peças; a propósito do Livro de Sóror Saudade outras sete, além de duas outras que atestam comentários de passagem sobre a sua poesia- que Florbela conservou. Tal montante certifica, pois, que ela acompanhou com atenção, recortando e guardando para si, a pífia repercussão das usas obras.
Em novembro, a poetisa se encontra novamente adoentada e segue para Gonça (Guimarães) a fim de tratar-se.

1924 A 4 de abril, em Lisboa, Antônio Guimarães entra com o pedido de divórcio contra Florbela Espanca, na 6ª Vara Cível, que será deferido em 23 de junho de 1925. Em setembro de 1925, Antônio Guimarães se casa com Rosa de Oliveira Roma Leão e, muito mais tarde, ele fundará em Lisboa uma importante agência, a de “recortes��?, que se aplica em através de assinaturas, enviar para os respectivos autores qualquer matéria publicada que lhes diga respeito. Não deixa de ser curioso que o espólio pessoal de Antônio Guimarães se componha do mais abundante material que sobre Florbela se publicou desde 1945 até 1981, ano em que faleceu em Lisboa: são cerca de cento e trinta e três recortes.

1925 Em 15 de outubro, ela se casa, na Repartição do registro Civil de Matosinhos (e a 29 do mesmo mês na Igreja do Bom Jesus de Matosinhos), com Mário Pereira Lage, médico que contava então trinta e dois anos, passando o casal a residir em Esmoriz e transferindo-se em junho de 1926, para a casa dos pais de Lage, em Matosinhos (Porto). Data dessa época uma foto sua, ao lado e outras senhoras numa campanha para angariar fundos para a Cruz Vermelha.

1926 É publicado o decreto ditatorial, com força de lei, que dissolve o Congresso da República.
Apeles gradua-se primeiro-tenente da Marinha.

1927: Durante esse ano, Florbela começa a colaborar no D. Nuno de Vila Viçosa (cujo diretor é José Emídio Amaro), e os poemas ali estampados são por ela indicados como pertença de Charneca em Flor.Inicia também o seu trabalho de tradutora de romances franceses para a Civilização do Porto, função que desempenhará até a morte, e em 15 de maio, numa carta a José Emídio Amaro, dá notícias de Charneca em Flor, que diz ter pronto, e de um livro de contos que está preparando, provavelmente O Dominó Preto.
Em vôo de treino com o hidroavião Hanrior 33, em 06 de junho, Apeles mergulha no Tejo, diante de Porto Brandão, cumprindo, presumivelmente, a decisão que expusera a irmã em carta imediata a morte da noiva (Maria Augusta Teixeira de Vasconcelos), ocorrida em dezembro de 1925.
Florbela reage heroicamente pondo-se a produzir com afinco um livro de contos, à memória dele dedicado - “A meu Irmão, ao meu querido morto��?- , o As Máscaras do Destino. Mas desde então, embora continue a colaborar no D. Nuno, a escrever poemas que provavelmente, já constituem o póstumo Reliquiae; embora se esforce por fazer publicar o último livro de contos, e embora permaneça com a tarefa das traduções - ela se declara quase permanentemente deprimida, doente dos nervos, fumando em demasia e emagrecendo sensivelmente.

1930: Inicia a colaboração no recém-fundado Portugal Feminino com poemas e contos, na revista Civilização e no Primeiro de Janeiro, ambos de Porto; deslocando-se de vez em quando para Évora ou para Lisboa, onde participa das reuniões da revista feminina (e há mesmo uma foto publicada na altura pelo Portugal Feminino, que registra esse acontecimento, na qual Florbela se acha presente ao lado de outras intelectuais e feministas, como Elina Guimarães, Maria Amélia Teixeira, diretora da revista, Branca da Gonta Colaço, Ana de Castro Osório, Alice Ogando, Maria Lamas, Thereza Leitão de Barros, Laura Chaves e Fernanda de Castro).

O seu Diário do último ano, encetado em 11 de janeiro, dá conta do estado de solidão em que Florbela está mergulhada: “O olhar dum bicho comove-me mais profundamente que um olhar humano. Há lá dentro uma alma que quer falar e não pode, princesa encantada por qualquer fada má. Num grande esforço de compreensão, debruço-me, mergulho os meus olhos nos olhos do meu cão: tu que queres? E os olhos respondem-me e eu não entendo…Ah, Ter quatro patas e compreender a súplica humilde, a angustiosa ansiedade daquele olhar! Afinal…de que tendes vós orgulho, ó gentes? E certamente não é em vão que Florbela se faz acompanhar, durante esse último percurso, por essa imagem: não é o cão mitológico guardião da morte?

Em 18 de julho, dá início à correspondência com Guido Battelli, que, entre 18 de novembro até a última peça, de 5 de dezembro, apenas registra a sua preocupação pelo aspecto estético e comercial do Charneca em Flor, que se encontra no prelo, e pelas provas tipográficas da obra, das quais ela chaga a revisar mais de uma dúzia de folhas.
Seu Diário se encerra em 02 de dezembro com uma única frase “e não haver gestos novos nem palavras novas!? Na passagem de 07 para 08 de dezembro, Florbela d’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos e é enterrada, no mesmo dia 08, no Cemitério de Sedin. Seus restos mortais serão, em 17 de maio de 1964, transportados para o Cemitério de Vila Viçosa, “a terra alentejana a que entranhadamente quero?, como à terra natal tiveram oportunidade de se referir na mencionada carta a José Emídio Amaro, em 15 de maio de 1927.


Obras:

Livro de Mágoas.
Lisboa, Tipografia Maurício, 1919.

Livro de Sóror Saudade.
Lisboa, Tipografia A Americana, 1923.

Charneca em Flor.
Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.

Charneca em Flor.
(com 28 sonetos inéditos). Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.

Cartas de Florbela Espanca.
(a Dona Júlia Alves e a Guido Battelli). Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.

As Máscaras do Destino.
Porto, Editora Maranus, 1931.

Sonetos Completos.
(Livro de Mágoas, Livro de Sóror Saudade, Charneca em Flor, Reliquiae). Coimbra, Livraria Gonçalves, 1934.

Cartas de Florbela Espanca.
Lisboa, Edição dos Autores, s/d, prefácio de Azinhal Abelho e José Emídio Amaro(1949).

Diário do último ano.
Lisboa, Bertrand, 1981, prefácio de Natália Correia.

O Dominó Preto.
Lisboa, Bertrand, 1982, prefácio de Y. K. Centeno.

Obras Completas de Florbela Espanca.
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1985-1986, 08 vols., edição de Rui Guedes.

Trocando Olhares.
Lisboa, Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1994; estudo introdutório, estabelecimento de textos e notas de Maria Lúcia Dal Farra


Florbela Espanca por outros poetas:

Florbela Espanca causou grande impressão entre seus pares e entre literatos e público de seu tempo e de tempos posteriores. Além da influência que seus versos tiveram nos versos de tantos outros poetas, são aferidas também algumas homenagens prestadas por outros eminentes poetas à pessoa humana e lírica da poetisa.

Manuel da Fonseca, em seu "Para um poema a Florbela" de 1941, cantava: "(...)E Florbela, de negro,/ esguia como quem era,/ seus longos braços abria/ esbanjando braçados cheios/ da grande vida que tinha!".

Também Fernando Pessoa, em um poema datilografado e não datado de nome "À memória de Florbela Espanca", descreve-a como "alma sonhadora/ Irmã gêmea da minha!".


*fonte: pesquisa feita em sites da internet..

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Na rede
em 30/07/2008 12:00:00 (6973 leituras)
Casimiro de Abreu

Nas horas ardentes do pino do dia
Aos bosques corri;
E qual linda imagem dos castos amores,
Dormindo e sonhando cercada de flores
Nos bosques a vi!

Dormia deitada na rede de penas
- o céu por dossel,
De leve embalada no quieto balanço
Qual nauta cismando num lago bem manso
Num leve batel!

Dormia e sonhava – no rosto serena
Qual um Serafim;
Os cílios pendidos nos olhos tão belos,
E a brisa brincando nos soltos cabelos
De fino cetim!

Dormia e sonhava – formosa embebida
No doce sonhar,
E doce e sereno num mágico anseio
Debaixo das roupas batia-lhe o seio
No seu palpitar!

Dormia e sonhava - a boca entreaberta,
O lábio a sorrir;
No peito cruzados os braços dormentes,
Compridos e lisos quais brancas serpentes
No colo a dormir!

Dormia e sonhava – no sonho de amores
Chamava por mim,
E a voz suspirosa nos lábios morria
Tão terna e tão meiga qual vaga harmonia
De algum bandolim!

Dormia e sonhava – de manso cheguei-me
Sem leve rumor;
Perdi-me tremendo e qual fraco vagido,
Qual sopro da brisa, baixinho ao ouvido
Falei-lhe de amor!

Ao hálito ardente o peito palpita...
Mas sem despertar;
E como nas ânsias dum sonho que é lindo,
A virgem na rede corando e sorrindo...
Beijou-me – a sonhar!
Julho, 1858



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Imagem
em 27/07/2008 21:30:00 (6010 leituras)
Dante Milano

Uma coisa branca,
Eis o meu desejo.

Uma coisa branca
De carne, de luz,

Talvez uma pedra,
Talvez uma testa,

Uma coisa branca,
Doce e profunda,

Nesta noite funda,
Fria e sem Deus.

Uma coisa branca,
Eis o meu desejo.

Que eu quero beijar,
Que eu quero abraçar,

Uma coisa branca
Para me encostar

E afundar o rosto.
Talvez um seio,

Talvez um ventre,
Talvez um braço,

Onde repousar.
Eis o meu desejo,

Uma coisa branca
Bem junto de mim,

Para me sumir,
Para me esquecer,

Nesta noite funda,
Fria e sem Deus.



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CAMINHO I
em 23/07/2008 01:40:00 (20104 leituras)
Camilo Pessanha

Tenho sonhos cruéis; n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta d'harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d'agora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.

Camilo Pessanha



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FALA
em 22/07/2008 14:00:00 (2996 leituras)
Orides Fontela

FALA

Falo de agrestes
pássaros de sóis
que não se apagam
de inamovíveis
pedras

de sangue
vivo de estrelas
que não cessam.

Falo do que impede
o sono.



De Teia (1996)



FONTE: AVE, POESIA


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Serenata
em 20/07/2008 13:30:00 (6254 leituras)
Cecília Meireles

Serenata

"Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo"

Cecília Meireles


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Evocação do Recife
em 18/07/2008 16:30:00 (10852 leituras)
Manuel Bandeira

Evocação do Recife


Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
— Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!


A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão


(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.


Rua da União...
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
— Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras


Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
— Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.


fonte: jornal da poesia




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Desencanto
em 16/07/2008 15:50:00 (26168 leituras)
Manuel Bandeira

Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

– Eu faço versos como quem morre.






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Objeto de arte
em 15/07/2008 19:52:26 (2482 leituras)
Dante Milano

Corpo de ancas opulentas,
Mulher de Angkor,
Coxas e tetas pedrentas
De árduo lavor.

Pedra, lição de escultura,
Da verdadeira
Carnadura, carne dura
Mais que a madeira

Ou o bronze que posto ao forno
Se liquefaz.
A pedra não; seu contorno
Mantém-se em paz

À maneira do medonho
Ser que no Egito
Contém o esfíngico sonho
Do granito.

Já no mármore a figura
Parece menos
Tosca; é mais branca, mais pura,
Mais lisa; é Vênus

Que, mesmo nua, ao expor
Sua vaidade,
Tem do mármore o pudor,
A castidade.

Ou então pedra-sabão,
Pedra-profeta,
Que da fêmea a carnação
Não interpreta.

Mas és da beleza o exemplo,
Pedra qualquer,
Se a figura em ti contemplo
De uma mulher,

Aparição singular,
Sem que me farte
Jamais o prazer de a olhar,
Objeto de arte.


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Não sei quantas almas tenho
em 10/07/2008 19:40:00 (31040 leituras)
Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.

Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.



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O homem e a sua paisagem
em 09/07/2008 13:33:44 (4670 leituras)
Dante Milano


Toda paisagem tem um ar de sonho.
Vejo o tempo parado, inutilmente.
Tudo é menos real do que suponho.

Interrompi teu sonho, natureza.
Diante de um ser humano, de repente
Apareces tomada de surpresa.

No espaço que me cerca estou suspenso.
Em redor um olhar pasmado e mudo
E no ar a ameaça do silêncio denso.

Em todo sonho existe um extasiado
Olhar adormecido que vê tudo…
Senhor, eu sou o objeto contemplado



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A Casa do Tempo Perdido
em 04/07/2008 19:10:00 (9077 leituras)
Carlos Drummond de Andrade


Bati no portão do tempo perdido, ninguém atendeu.
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera
pela metade; a outra metade são cinzas.
Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater. O eco devolve
minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar,
no bater e bater.

O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.





Carlos Drummond de Andrade
FONTE: POESIA DE AUTORES FAMOSOS

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Vida e Obra
em 03/07/2008 19:16:48 (23714 leituras)
Olavo Bilac

Senhoras e senhores,

O príncipe dos poetas brasileiros:

Olavo Bilac - Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac -, jornalista, poeta, inspetor de ensino, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865, e faleceu, na mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918.

Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, criou a Cadeira n. 15, que tem como patrono Gonçalves Dias.

Eram seus pais o dr. Braz Martins dos Guimarães Bilac e d. Delfina Belmira dos Guimarães Bilac.

Após os estudos primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, mas desistiu no 4o ano.

Tentou, a seguir, o curso de Direito em São Paulo, mas não passou do primeiro ano. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo e à literatura.

Teve intensa participação na política e em campanhas cívicas, das quais a mais famosa foi em favor do serviço militar obrigatório.

Fundou vários jornais, de vida mais ou menos efêmera, como A Cigarra, O Meio, A Rua. Na seção "Semana" da Gazeta de Notícias, substituiu Machado de Assis, trabalhando ali durante anos.

É o autor da letra do Hino à Bandeira.

Fazendo jornalismo político nos começos da República, foi um dos perseguidos por Floriano Peixoto.

Teve que se esconder em Minas Gerais, quando freqüentou a casa de Afonso Arinos em Ouro Preto. No regresso ao Rio, foi preso.

Em 1891, foi nomeado oficial da Secretaria do Interior do Estado do Rio.

Em 1898, inspetor escolar do Distrito Federal, cargo em que se aposentou, pouco antes de falecer.

Foi também delegado em conferências diplomáticas e, em 1907, secretário do prefeito do Distrito Federal.

Em 1916, fundou a Liga de Defesa Nacional.

Sua obra poética enquadra-se no Parnasianismo, que teve na década de 1880 a fase mais fecunda.

Embora não tenha sido o primeiro a caracterizar o movimento parnasiano, pois só em 1888 publicou Poesias, Olavo Bilac tornou-se o mais típico dos parnasianos brasileiros, ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.

Fundindo o Parnasianismo francês e a tradição lusitana, Olavo Bilac deu preferência às formas fixas do lirismo, especialmente ao soneto.

Nas duas primeiras décadas do século XX, seus sonetos de chave de ouro eram decorados e declamados em toda parte, nos saraus e salões literários comuns na época.

Nas Poesias encontram-se os famosos sonetos de "Via-Láctea" e a "Profissão de Fé", na qual codificou o seu credo estético, que se distingue pelo culto do estilo, pela pureza da forma e da linguagem e pela simplicidade como resultado do lavor.

Ao lado do poeta lírico, há nele um poeta de tonalidade épica, de que é expressão o poema "O caçador de esmeraldas", celebrando os feitos, a desilusão e morte do bandeirante Fernão Dias Pais. Bilac foi, no seu tempo, um dos poetas brasileiros mais populares e mais lidos do país, tendo sido eleito o "Príncipe dos Poetas Brasileiros", no concurso que a revista Fon-fon lançou em 1o de março de 1913.

Alguns anos mais tarde, os poetas parnasianos seriam o principal alvo do Modernismo. Apesar da reação modernista contra a sua poesia, Olavo Bilac tem lugar de destaque na literatura brasileira, como dos mais típicos e perfeitos dentro do Parnasianismo brasileiro.

Foi notável conferencista, numa época de moda das conferências no Rio de Janeiro, e produziu também contos, crônicas e obras didáticas.

Juntamente com Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, foi a maior liderança e expressão do parnasianismo no Brasil, constituindo a chamada Tríade Parnasiana.

A publicação de Poesias, em 1888 rendeu-lhe a consagração. Dentre outros escritos de Bilac, destacam-se:

• Crônicas e Novelas;
• Através do Brasil;
• Contos Pátrios
• Tarde
• Teatro Infantil;
• Livro de Leitura;
• Tratado de Versificação (este em colaboração com Guimarães Passos).

Entre as suas obras-primas podemos considerar o soneto em que se refere à língua portuguesa como a Última Flor do Lácio - aliás, o nome do próprio poema.

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"

E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Obras

• Poesias (1888)
• Crônicas e novelas (1894)
• Crítica e fantasia (1904)
• Conferências literárias (1906)
• Dicionário de rimas (1913)
• Tratado de versificação (1910)
• Ironia e piedade, crônicas (1916)
• Tarde (1919);
• Poesia, org. de Alceu Amoroso Lima (1957), e obras didáticas.


*pesquisa feita em sites da internet

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A ilusão do migrante
em 01/07/2008 18:49:38 (12864 leituras)
Carlos Drummond de Andrade

Quando vim da minha terra,
se é que vim da minha terra
(não estou morto por lá?),
a correnteza do rio
me susurrou vagamente
que eu havia de quedar
lá donde me despedia.
Os morros, empalidecidos
no entrecerrar-se da tarde,
pareciam me dizer
que não se pode voltar,
porque tudo é conseqüência
de um certo nascer ali.

Quando vim, se é que vim
de algum para outro lugar,
o mundo girava, alheio
à minha baça pessoa,
e no seu giro entrevi
que não se vai nem se volta
de sítio algum a nenhum.

Que carregamos as coisas,
moldura da nossa vida,
rígida cerca de arame,
na mais anônima célula,
e um chão, um riso, uma voz
ressoam incessantemente
em nossas fundas paredes.

Novas coisas, sucedendo-se,
iludem a nossa fome
de primitivo alimento.
As descobertas são máscaras
do mais obscuro real,
essa ferida alastrada
na pele de nossas almas.

Quando vim da minha terra,
não vim, perdi-me no espaço,
na ilusão de ter saído.
Ai de mim, nunca saí.
Lá estou eu, enterrado
por baixo de falas mansas,
por baixo de negras sombras,
por baixo de lavras de ouro,
por baixo de gerações,
por baixo, eu sei, de mim mesmo,
este vivente enganado,
enganoso.




fonte: poetas famosos



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Aniversário
em 27/06/2008 10:20:00 (12260 leituras)
Fernando Pessoa

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham de mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças,
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui – ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas)
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos
O aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo
do alçado -,
As Tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje não faço anos.
Duro.
Somam-se-me os dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


(Álvaro de Campos)


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Aos Poetas
em 22/06/2008 11:30:00 (3401 leituras)
Miguel Torga

Somos nós
As humanas cigarras!
Nós,
Desde os tempos de Esopo conhecidos.
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos
A passar!...
Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras,
Asas que em certas horas
Palpitam,
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura!
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz!
Vinho que não é meu,
mas sim do mosto que a beleza traz!

E vos digo e conjuro que canteis!
Que sejais menestréis
De uma gesta de amor universal!
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural!
Homens de toda a terra sem fronteiras!
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!
Crias de Adão e Eva verdadeiras!
Homens da torre de Babel!

Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão!


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Lamento do oficial por seu cavalo morto
em 20/06/2008 20:30:00 (3539 leituras)
Cecília Meireles

Lamento do oficial por seu cavalo morto


Nós merecemos a morte,
porque somos humanos
e a guerra é feita pelas nossas mãos,
pelo nossa cabeça embrulhada em séculos de sombra,
por nosso sangue estranho e instável, pelas ordens
que trazemos por dentro, e ficam sem explicação.


Criamos o fogo, a velocidade, a nova alquimia,
os cálculos do gesto,
embora sabendo que somos irmãos.
Temos até os átomos por cúmplices, e que pecados
de ciência, pelo mar, pelas nuvens, nos astros!
Que delírio sem Deus, nossa imaginação!


E aqui morreste! Oh, tua morte é a minha, que, enganada,
recebes. Não te queixas. Não pensas. Não sabes. Indigno,
ver parar, pelo meu, teu inofensivo coração.
Animal encantado - melhor que nós todos!
- que tinhas tu com este mundo
dos homens?


Aprendias a vida, plácida e pura, e entrelaçada
em carne e sonho, que os teus olhos decifravam...


Rei das planícies verdes, com rios trêmulos de relinchos...


Como vieste morrer por um que mata seus irmãos!


(in Mar Absoluto e outros poemas: Retrato Natural. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1983.)



fonte: JORNAL DA POESIA

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