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    	Publicado em 15/08/2011 19:08:28 | Tópico: Fernando Pessoa
 
  |    O Menino da Sua Mãe   
  NO PLAINO abandonado  Que a morta brisa aquece,  De balas traspassado  - Duas, de lado a lado -,  Jaz morto, e arrefece. 
  Raia-lhe a farda o sangue.  De braços estendidos,  Alvo, louro, exangue,  Fita com olhar langue  E cego os céus perdidos. 
  Tão jovem! que jovem era!  (Agora que idade tem?)  Filho único, a mãe lhe dera  Um nome e o mantivera:  "O menino da sua mãe". 
  Caiu-lhe da algibeira  A cigarreira breve.  Dera-lhe a mãe. Está inteira  E boa a cigarreira.  Ele é que já não serve. 
  De outra algibeira, alada  Ponta a roçar o solo,  A brancura embainhada  De um lenço... Deu-lho a criada  Velha que o trouxe ao colo. 
  Lá longe, em casa, há a prece:  "Que volte cedo, e bem!"  (Malhas que o Império tece!)  Jaz morto, e apodrece,  O menino da sua mãe. 
  Fernando Pessoa    
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