 
  
    	A Nau perdida
    	Publicado em 19/11/2010 13:55:59 | Tópico: Álvaro Feijó
 
  |   Pobre, lá vai! Que rombo no costado!  Como a água a penetra aos borbotões!  Açoita-a, em fúria, o Mar. Adorna ao lado.  Anda à mercê das vagas, dos tufões!  Mas segue, segue em frente. O vento a ajuda!  Galga nas ondas, que doidinha, olhai!...  Julga-se, ainda, a nau que dantes era,  por levar, no porão, uma quimera,  por ir, do vento na refrega aguda,  ovante e sem saber per'onde vai!
  Julga-se, ainda, a nau que dantes era...  – o que passa não torna ..  Na pobre nau perdida  a água entra e a adorna.  Vai sendo, aos poucos, pelo mar sorvida.
  Na agonia estrebucha. Num desejo  de vida e luz, arfante, desesperada,  busca furtar-se ao comprimente beijo  do Mar que a envolve. – Após, é o Mar e nada... 
  Doirado como um astro,  haste esquecida em campo onde as mondas  colheram tudo, o topo do seu mastro  fica esperando ainda sobre as ondas.
  Na rota pelo mundo  – ao deus-dará na vaga azul e infinda –  nós vamos – nau perdida em Mar profundo –  joguetes do tufão;  mas conservando, ainda,  na última Esperança a última Ilusão. 
  Outubro de 1937 
 
 
  |  
  |