Árvore Sega

Publicado em 01/01/1970 20:50:00 | Tópico: José Bonifácio de Andrada e Silva - O moço

Sim, os tufões da noite te despiram;
O inverno as folhas tuas requeimou;
Erguida e só, no tope da montanha,
És a imagem do tempo que passou.

Ontem, altiva, os ramos ostentavas;
Hoje, curvada estás, pobre infeliz!
Quem vê-te assim, princesa destronada,
Alça uma prece a Deus, e baixo a diz.

Cada galho dos teus sabe uma história;
Também a sabe o tronco escodeado,
Como os ossos do morto, a cruz das campas,
E as ruínas do templo derrocado.

Ao som da tempestade, entre gemidos,
Os furacões nocturnos te adoraram.
És qual mulher, que o gozo consumira,
Ou mágoas para a terra debruçaram.

Do monte a grimpa te serviu de sólio;
Rendeu-te o sol um preito de homenagem;
Terás por leito o vai; e o viajante
Há de buscar em vão tua ramagem.

Quando te vejo assim, penso que sonhas;
Penso que tens um'alma, um coração;
Que sentes como eu sinto; que estremecem
Tuas raízes, neste fundo chão!

Eras vistosa e de folhuda copa...
E hoje, árvore sêca e descarnada!
Quem sabe si, amanhã, dobrando a fronte,
Tombarás por um raio fulminada ?!...

Também da vida as tolhas me caíram,
E já talhei, tão moço, o meu sudário!
Eu dormirei na vala dos cadáveres,
Tu, no cimo do monte solitário!


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