Entre Mulheres

Publicado em 22/10/2008 13:00:00 | Tópico: Clarice Lispector

Clarice Lispector já era uma escritora consagrada e já havia exercido várias funções na imprensa carioca quando aceitou o convite de Rubem Braga para assinar a página feminina “Entre mulheres”, no jornal Comício. O tablóide - um dos precursores da imprensa alternativa – durou apenas quatro meses, mas contou com um time de colaboradores de primeira linha: Millôr Fernandes, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Sérgio Porto, entre outros. Apesar de curta, a experiência inaugura uma nova fase da atividade jornalística realizada por Clarice: as colunas femininas.

Sob o pseudônimo de Teresa Quadros, Clarice Lispector falava sobre os cuidados com a beleza e os segredos da elegância, dava conselhos de etiqueta e receitas culinárias, dicas de moda e saúde, além de apresentar tendências e novidades vindas da Europa. De forma clara, muitas vezes didática, a ficcionista conversava com a leitora e ajudava a lidar com as preocupações cotidianas. Em “Com a cabeça fervendo”, ela usa a chaleira no fogo como metáfora para ensinar a leitora a esfriar a cabeça antes de tomar uma decisão intempestivamente. Em “Presa às preocupações”, sugere o uso de uma tesoura para separar o “pré” do “ocupada” antes que a tensão se torne um hábito, como roer unhas. E ainda aproveita a coluna para fazer referência a autoras estrangeiras como Virginia Wolf e Katherine Mansfield.

Em outras páginas, é possível identificar ingredientes de futuros textos ficcionais assinados por Clarice Lispector. É o caso da coluna intitulada "Meio cômico, mas eficaz", uma receita para matar baratas publicada em 8 de agosto de 1952. Elementos desse texto servem de esboço para outra página feminina, publicada em 1960, no jornal Diário do Noite. Em 1962, o esboço transforma-se em conto, disponível na revista Senhor, e, finalmente, em 1964, ganha as páginas do livro A legião estrangeira.


Meio cômico, mas eficaz...

"De que modo matar baratas? Deixe, todas as noites, nos lugares preferidos por esses bichinhos nojentos, a seguinte receita: açúcar, farinha e gesso, misturados em partes iguais. Essa iguaria atrai as baratas que a comerão radiantes.
Passado algum tempo, insidiosamente o gesso endurecerá dentro
das mesmas, o que lhes causará morte certa.
Na manhã seguinte, você encontrará dezenas de baratinhas duras,
transformadas em estátuas.
Há ainda outros processos. Ponha, por exemplo, terebentina nos lugares freqüentados pelas baratas: elas fugirão. Mas para onde? O melhor, como se vê, é mesmo engessa-las em inúmeros monumentozinhos, pois ‘para onde’ pode ser outro aposento da casa, o que não resolve o problema."

Teresa Quadros




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