É um livro de conteúdo introspectivo que ora se exterioriza. O feminino é a referência do seu conteúdo como homenagem à Mulher, o maior dom da Natureza. É a singela entrega do autor à sensibilidade do leitor.
Prefácio
António MR Martins faz parte daquele espólio raríssimo de poetas que escrevem sobre mulheres como se escrevessem sobre si próprios. Numa linguagem terna, onde cada vírgula é quase uma carícia e cada estrofe se revela uma magnífica ode à mulher, o poeta inibria-nos de um sentimento de orgulho por fazermos parte deste universo tantas vezes apelidado de misterioso, mas sobre o qual tantos homens tentam escrever e inspirar-se, nem sempre conseguindo. Ora, António MR Martins consegue. E fálo tão subtilmente que nem pensamos interditar-lhe esse puro acto de ousadia. Em jeito de homenagem, António MR Martins deixa desfilar, ao longo da sua escrita, sentimentos precisos, revelando uma coragem atroz ao entrar de forma tão lúcida e tocantemente conhecedora neste complexo universo feminino. Em "Quase do Feminino", o poeta faz da mulher a personagem principal mais do que sua fonte de inspiração, numa poesia fluentemente honrosa, que lemos e relemos como se de prosa se tratasse. São feitas de palavras as palavras de António MR Martins, elas depõem contra o coração que não quer ouvir nem falar nada, mas do qual saem numa catapulta de emoções invariadas, dialogando connosco como se saíssem de nós próprias. O autor da obra escreve para a sua mulher, tão simplesmente. É um exercício de agradecimento que faz sem pedir nada em troca. E é mais que sabido que os homens adoram as mulheres. Os 8 poetas escrevem frases tolas para mostrarem às mulheres. Querem mostrar que as compreendem, que são feitos da mesma matéria translúcida. Ao escreverem sobre mulheres, os poetas tornam esses mesmos poemas divinos e não têm coragem de os rasgar nem de os deixar guardados, precisamente por serem isso mesmo: divinos. Os poetas querem dormir com as mulheres, acordar com as mulheres, escrever para as mulheres, inscreverem-se no seu quotidiano, na sua história. As mulheres têm inveja das mulheres dos poetas porque estes escrevem para elas, as honram e elevam como que agradecendo pela sua existência, da mesma forma que os poetas suspeitam que as outras têm inveja das suas mulheres. Para mim, os poetas têm inveja sim dos outros poetas, mas daqueles que têm Mulheres e que, como António MR Martins, escrevem para elas. Assim sendo, ainda bem que este poeta abriu a sua gaveta, deleitando-nos com os seus poemas tão femininos quanto divinos. Deixemos então a "porta entreaberta" para que António MR Martins possa de vez em quando espreitar, entrar e ficar neste "inacessível local à maioria dos mortais". Tiremos o "quase" e falemos deste livro como uma abordagem lisonjeadora à mulher, de um homem "quase perfeito", que usa como ninguém a palavra "amor" no género feminino.
Sónia Salvador 20 de Setembro de 2009
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