SONETOS 2014

Publicado em 16/03/2017 15:58:40 | Editora: Outras Editoras

Reunião dos sonetos escritos por mim ao longo do ano de 2014.
UM PREFÁCIO MILENARISTA

Os sonetos apresentados na página a seguir registam o período em que minha produção poética passou de ocasional a quotidiana. Sim, datam de 2014 minhas primeiras publicações em redes sociais e blogues. Até então, devo admitir, possuía grande pudor em me expor como poeta e simplesmente não considerava a possibilidade de ter um público leitor. Forçoso é recordar, também, que ser lido e ter o retorno de leitores promoveu uma verdadeira revolução no modo como eu me colocava em relação aos meu escritos. Explico-me: Antes de publicar meus poemas em ambientes virtuais, eu escrevia tão-somente para mim mesmo... “Escrevo para eu me ler” era a minha autodefinição de poeta. E embora eu escreva regularmente desde o longinquo ano de 1991, jamais pensei que meus versos fossem relevantes ou interessantes senão para mim mesmo. Evidente que me entristecia ver meus alfarrábios mofando nalguma gaveta de escrivaninha, mas, sinceramente, não enxergo no mercado editorial muito interesse por novos lançamentos de poetas. Ao contrário, o pouco que ainda se publica são poetas mortos, cujos direitos autorais são já de Domínio Público... Aliás, uma das razões para eu escrever que sempre intuí foi justamente não encontrar poesia semelhante a que eu admirava entre os autores contemporâneos.

Embora seja avesso a rótulos ou movimentos artísticos programáticos, por pura pilheira costumo a definir-me como “milenarista”, isto é, como um escritor apocalíptico de fim de milênio. Ombrear-me a são João, são Malaquias ou Nostradamus, todavia, não permite ao leitor ter uma noção correta de minha obra. Não, eu não costumo a escrever sobre misterios ou tecer comentários sobre as coisas dos tempos finais. Sou milenarista apenas por ter vivido o curioso estado de coisas que acompanhou o fim do segundo milênio da Era Cristã... Apenas por isso. Nascido em 1976, cresci achando que o ano dois mil era o “dia de são nunca” que, de repente, estava chegando... E chegou... E passou... E, passados já dezesseis anos do início do “Novo Milênio”, este não significa quase nada. Exactamente isso me seduziu nesse sistema artístico-filosófico: Não se leva a sério! É um ismo que hoje em dia não me prende a quase nada. Meu milenarismo, portanto, é antes um acidente que uma convicção...

Se me considero membro de uma geração literária milenarista, não pretendo iludir o leitor com a ideia de que considere tal movimento exista de facto. A sua inexistência permite-me fazer dele o que me aprouver, inclusive um extenso programa feito tão-somente para justificar e ordenar a poesia produzida nesses anos de virada milenar. Não, caro leitor, não me proponho a desenvolver aqui esse emaranhado de equívocos no afã de tornar mais deleitáveis ou mais inteligíveis os poemas deste livro. O que posso sintetizar com o mínimo de palavras possível é que o actual Milenarismo em poesia é uma manifestação artística pós-Moderna, logo, que supera a ruptura Modernista com a Tradição ao se propor uma poética sem preconceitos contra quaisquer formas poéticas existentes ou a inventar. Eu, como poeta milenarista, não quero limites formais ao meu modo de me expressar em versos. Isto significa que me sinto capaz de escrever qualquer coisa que quiser, inclusive velhas formas poéticas ou não tão velhas expressões modernas. Essa constatação meio óbvia tem por dever reconduzir o leitor de poesia ao poético em si, ou seja, à ideia de que um texto pode ser poético independente de como se apresenta formalmente.

E esse livro, no caso, é um livro de sonetos.

Ricardo Cunha Costa, o autor.




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