Setembro 2008 - Cleo
Categoria : Luso do mês
Publicado por Luso-Poemas em 31-Aug-2008 10:00
Introdução


No universo dos Luso-poetas, a nossa escolha para luso do mês de Setembro recaiu sobre uma poetisa de presença discreta mas que deixa a sua marca em todos quanto a lêem. Numa escrita etérea em sentimentos e por isso expressiva, sempre acompanhada por uma imagem e um vídeo, o que a torna num expoente diferente e com uma força que nos envolve. Provavelmente estaremos perante uma poetisa que cria uma nova e assumida forma de estar na poesia e em concreto no nosso espaço.
Depois de tanto dar ao nosso site, a escolha da Cleo é um destaque merecido e é uma escolha, na nossa opinião, que não deixa margem para qualquer dúvida. Com esta entrevista pretendemos dar a conhecer a pessoa por detrás da escrita.
Nesta conversa de amigos, onde não faltaram os bolinhos e o chá, ainda contámos com a presença da Mel de Carvalho como convidada.
Esta entrevista, que tanto nos deu prazer, quer pela poetisa quer pela pessoa excepcional que revela ser, começa então pela biografia da Lurdes ou Cleo, como é conhecida neste mundo da Internet.

Biografia


Nasci a 27 de Maio de 1965, na maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa.
Aos dois meses de idade, os meus pais resolveram mudar-se para a aldeia do meu pai, que por sinal até nem vem no mapa, mas que tem um nome: Pai das Donas. Por lá vivi, rodeada de muito amor e carinho até aos 18 anos, idade em que resolvi soltar as minhas asas e partir em busca de uma vida melhor… mais risonha do que aquela tão rude do campo!
Sempre gostei de ler, embora não me dedicasse muito a fazê-lo.
Entrei no mundo da Internet e comecei a navegar pelo universo da blogosfera, onde me deliciava a ler e a comentar os escritos de tanta gente desconhecida.
Nunca publiquei nada em papel, é nos meus espaços virtuais que tento dar voz aos sentimentos e me entretenho a escrever as palavras que me saem da alma.

Entrevista


Mel - Cleo, como podes imaginar é um prazer enorme para mim ter sido convidada para estar neste momento à conversa contigo. ... Começo por te cumprimentar... abraço, amiga... e aqui vai...”...vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...” e “Estou aqui/ Do outro lado da tela negra/Num sítio incerto/De lugar nenhum...”, são, respectivamente, duas frases tuas. A primeira, designa a forma como te revelas a cada um que te visita (o teu BI poético) e, a segunda, um pequeno extracto de um poema teu, onde, encontrei semelhanças claras entre o “eu-real” e o “eu-poético”. Onde, em rigor, vive a Cleo e onde vive a Lurdes Dias. São dissonantes ou concordantes? Vivem harmónicas ou “digladiam-se”?

Cleo - São dois eus que vivem dentro da mesma pessoa, uma pessoa simples. Na primeira frase, a tal do BI poético, existe um eu que deambula por entre as lembranças de um passado, bem presente e vivo dentro de mim. Apenas lhe junto alguns condimentos de modo a que os meus singelos poemas façam algum sentido e sejam de fácil leitura para quem os ler.
Na segunda frase, existe um “eu” que se sente assim tantas e tantas vezes… um eu poético e ao mesmo tempo um eu real. Os dois “eus” vivem sempre em constante harmonia dentro de mim.

Vera – Como nasceram os nomes que usas, Cleo, Medusa e Impulsos? E porque não Lurdes?

Cleo - Também podia ser, mas não me parece que Lurdes seja um nome apelativo. O nome Cleo não é mais do que um diminutivo de Cleópatra, nick que usava numa determinada sala de chat do MSN, onde comecei a mostrar-me ao mundo cibernauta. Acontece que alguém me começou a tratar por cleo, e foi ficando.
Medusa foi um nome que sempre me atraiu pelo seu significado na lenda... transformava os amantes em pedra. Usei-o no meu primeiro blog, ECOS e ainda o mantenho no MSN. Sempre gostei de coisas que envolvam algum mistério. Impulsos, porque acho que funciono por impulsos e a grande maioria do que escrevo é num impulso!

Vera– Quem é a verdadeira mulher que escreve? Aparentemente a imagem que temos é de alguém com uma doçura infinita, sempre presente, mas que, ao mesmo tempo, se consegue esconder, e que ao mesmo tempo que é frágil, forte e sensual…

Cleo - Quem escreve, é uma mulher que, embora não esteja à vista, também não está totalmente ausente. Ela não se esconde embora por vezes tenha necessidade de se afastar um pouco, pois o cansaço também faz das suas, tendo em conta que não só escreve e publica, como também visita os espaços de muitas outras pessoas que lhe fazem visitas e retribuir é uma forma de estar presente. Por isso a presença "real", muitas vezes sai prejudicada. Tenho outros espaços e tento dividir-me o mais que posso por todos eles. Talvez não saibam, mas também mantenho um blog num espaço do semanário sol, que criei por curiosidade e no qual acabei por fazer algumas amizades também e é lá que por vezes me perco também. http://sol.sapo.pt/blogs/solemio/default.aspx

Paulo Afonso Ramos - O teu texto mais lido na Luso-poemas, “As cores do arco-íris” (http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=8296) fala-nos de algo especial. Que podemos extrair desse texto como sendo o teu sentimento ou desejo?

Cleo - Foi um texto muito sentido e real. Nele referia-me a um episódio menos bom da minha vida. É do conhecimento geral, pelo menos de quem priva comigo, que tenho problemas de visão... pois bem, surgiu um percalço e tive de ser operada ao meu único olho que tem visão, ficando cega durante várias semanas e sem saber se voltaria algum dia a ver as belas cores do arco-íris. O resto já sabem, está bem presente o que senti, nesse meu texto.

Mel - Cleo, num total de 220 poemas, teus, aqui no Luso, 27 são, segundo a tua própria catalogação, poemas de reflexão. Sabendo que as estatísticas valem o que valem, não posso, contudo, deixar de te colocar esta pergunta: a escrita é, para ti e em ti, um ponderador reflexivo? Um questionamento? Uma (in)quietude? O que buscas quando escreves?

Cleo- A escrita para mim, é acima de tudo, uma inquietação. Uma espécie de desafio e de exercício. Procuro sempre fazer melhor e o que escrevo nem sempre é real embora tenha sempre um fundo de verdade...

Mel – Continuando nas estatísticas… dos teus 220 poemas publicados, 12 são dedicatórias (eu mesma, já mereci de ti esta atitude de dádiva – grata, muito grata, Cleo). Em meu entender, este teu modo de estar generoso para com os teus pares de escrita é reflexo de uma igual atitude perante a vida, de um modo geral. O que buscas, em rigor, da vida? Desta que vives no corpo que por hora te está destinado?

Cleo- Quando faço uma homenagem ou escrevo um texto dedicado a alguém, faço-o por impulso e porque essa pessoa, nesse dia ou hora, me ocupou o pensamento e por isso é merecedora da minha atenção e escrever para oferecer, é algo que faço com muito prazer, como forma de agradecimento de uma amizade que de alguma forma me faz feliz. Sinto-me feliz quando o faço. Não procuro destaques nem agradecimentos. Quando o faço, faço-o porque simplesmente me apeteceu! Já dediquei alguns e ainda tenho mais uma meia dúzia na calha, que a seu tempo, verão a luz do dia. Sou eu no meu corpo, sim... E o que busco é principalmente, estar de bem com a vida e se isso for a felicidade, então vou continuar a escrever mais umas coisinhas pela vida fora de modo a manter-me assim… feliz.

Godi - Querida Cleo, faço uma pergunta sob o ramo de comentários. Você prefere qual tipo de comentário? Aquele que o new criticism estipulou, de fazer abstração da vida do poeta, ou de seus atos, para o julgamento dos poemas em questão, ou seja, em miúdos, a análise do poema pelo poema? Ou sob o ponto de vista da análise pela pessoa do poeta, sua biografia aliada a contar nessa avaliação?

Cleo- Para mim, qualquer comentário, mesmo os de crítica construtiva desde que não seja ofensivo, será bem-vindo. Claro que prefiro um comentário que tenha a ver com a análise do poema em questão.

Pedra Filosofal - Soube que tinhas, há pouco tempo, ganho um prémio de dança. Duas artes distintas, a escrita e a dança numa só pessoa. Queres contar-nos como foi esse concurso de dança e, já agora, que outras artes abraças?

Cleo- Bem, aquilo foi apenas uma simples brincadeira numa festa de aldeia. Acontece que o grupo de baile lançou o desafio a quem quisesse participar dançando uma valsa e no final ganharia o par que dançasse melhor, calhou-me a mim e ao meu par... foi só isso. Não, não abraço mais nenhuma arte, apenas gosto de participar nas coisas que me parecem estar ao meu alcance, como foi o caso.

Godi- Conforme confissão sua, a mim, certa vez, você começou a escrever poemas há não muito tempo, e incrivelmente sua poética perfaz-se em moderna, madura, e de grande aceitação por parte do público leitor. Então, qual era o seu pensamento sobre literatura antes de sua gênese literária? E após, o que mudou?

Cleo- Para dizer a verdade, não lia muito. Tudo começou num impulso... Tinha uma amiga com uma gaveta cheia de poemas e um dia incentivei-a a publica-los, acabando eu por seguir os seus passos também, numa espécie de afirmação pessoal, do tipo, "e se eu escrevesse qualquer coisinha também? será que consigo?"

Vera- Cleo como e quando começou o teu "despertar" para a poesia?

Cleo- Não foi assim há tanto tempo... Foi por acaso. No ano de 2005, ofereceram-me um blog virgem para eu fazer com ele o que quisesse e assim fiz. Comecei por escrever umas coisinhas simples, pois a minha linguagem é bastante simples também. Chama-se ECOS e ainda está on-line, aliás, foi através dele que conheci as minhas amigas: Mel, Vera e a Juvelina.

Paulo Afonso Ramos - Cleo, a tua forma de escrever, é sempre acompanhada com uma imagem e um vídeo de música. Esta forma diferente de expressão quando e por que teve origem?

Cleo- Desde sempre que tinha vontade de associar a imagem e a música às palavras, dando-lhe a forma de um todo. Mas nem sempre assim foi, pois só quando comecei a saber adicionar os vídeos é que o meu desejo ficou realizado. Dá-me imenso prazer procurar imagens e vídeos para o que escrevo e a maior parte do que escrevo é inspirado nas imagens que uso. Tenho um monte delas e é lá que busco a fonte da inspiração quando ela não aparece pelas vias normais.

Pedra Filosofal - Falaste que vais buscar a inspiração aos vídeos e imagens quando ela não aparece pelas vias normais. O que são para ti as vias normais? Como sabes que chegou esse momento?

Cleo- Há pessoas que escrevem com extrema facilidade, parece até que as palavras lhes jorram da alma transbordando e derramando-se no papel... mas todos sabemos que nem sempre assim é, tem de haver um motivo, um qualquer acontecimento ou pensamento que abra as portas da imaginação dando corpo à criação.

Paulo Afonso Ramos - Sei que és uma divulgadora do Luso e que já trouxeste pessoas para cá. A pergunta obrigatória. Que balanço fazes do Luso-poemas?

Cleo- O Luso-poemas, para mim, é um espaço onde me sinto bem. É evidente que não consigo ler tudo o que por lá aparece, mas vou lendo o que posso dando prioridade aos poetas que já conheço há mais tempo, mas gostaria de poder ler muitos mais, só que o tempo nem sempre me deixa. De todos os sites em que me registei, o Luso-poemas é o que mais me atrai, talvez por ser o primeiro e não há amor como o primeiro... Sim, trouxe algumas pessoas e gostaria de trazer ainda mais, por isso continuo a divulgar o site com muito gosto e a tentar convencer mais algumas pessoas que gostaria de aqui ver um dia.

Pedra Filosofal - O que mudarias, na altura estrutura do lusos?

Cleo- Penso que já muito foi feito de modo a que o site fosse melhorado e ficou realmente melhor! Não me ocorre nada de especial que melhorasse, confio em quem está à frente da administração do site e no seu mentor, ao qual todos devemos a nossa estadia lá, o Trabis é um génio e tem feito imenso pelo site e pelo nosso bem-estar geral.

Mel - Finalmente, Cleozinha, se te fosse dado em três palavras apenas definir os teus maiores objectivos de vida, que nos dirias?

Cleo- Paz, afecto e saúde.

Paulo Afonso Ramos - Que mensagem queres deixar para quem te lê?

Cleo- Não importa o que procuram, não importa se lá chegam algum dia, apenas nunca desistam... acreditar é meio caminho andado para ser feliz!