Ano 2007 - TrabisDeMentia
Categoria : Luso do ano
Publicado por Luso-Poemas em 12-Dec-2007 22:30
Foi deliberado que, além da existência de um destaque mensal (que se passará a denominar “Luso do mês”), o Luso-Poemas passaria a ter um destaque anual. Este destaque vai acontecer sempre no Mês de de Dezembro e vai ter como base uma decisão de administração, mediante avaliação do desempenho e intervenção dos utilizadores no espaço do site.
Este destaque será identificado como “LUSO DO ANO” e o primeiro Luso-Poeta a merecer este título (como não poderia deixar de ser) é TrabisDeMentia. A vossa atenção para a entrevista.



Valdevinoxis - TrabisDeMentia é o "nick" mais emblemático do Luso, ou não fosse ele o fundador e mentor do site. Estamos certos quando dizemos isto ou deveríamos dizer que vem tudo do Ricardo Costa?
TrabisDeMentia - TrabisDeMentia e Ricardo Costa representam a mesma pessoa em mundos diferentes. O Trabis vive no mundo dos sonhos e o Ricardo no mundo palpável. Corremos atrás um do outro sem nos conseguirmos alcançar.

Paulo Afonso - Então, por outras palavras, quem é o Homem que se esconde por trás da "personagem" TrabisDeMentia?
TDM - Eu diria apenas "quem é o homem que se esconde" pois na verdade não me dou a mostrar a ninguém, nem a mim próprio. "No dia em que me conhecer saberei distinguir os mortais", escrevi e sublinho. Gosto muito de escutar e de estar calado. Gosto de estar no meu canto a observar. Detesto ser observado!
Mas, fora filosofias, sou uma pessoa comum como não poderia deixar de ser. Levanto-me para trabalhar e chego cansado a casa.
O meu refugio é este espaço, é o meu sonho, é o Trabis.

Val. - Mas o Luso é um local de exposição. Não tens como fugir a isso. O Ricardo e o Trabis estão sempre sob a observação de muitos.
Se considerarmos que já disseste várias vezes, em vários locais e de várias formas que o Luso foi uma necessidade e uma paixão. Hoje, com o conhecimento actual, voltarias a fundar o www.luso-poemas.net?
TDM - Mas claro. Lusos deu-me um foco, um objectivo na vida, uma vida nova e novos amigos e por amizades assim mil vezes sim!

Paulo - A questão impõe-se o que é que o Luso mudou na tua vida?
TDM - A questão impõe-se. O que é que lusos mudou na vossa vida? O luso muda a vida de todos os que nele participam pois novos laços se criam. Eu sou mais um nó na confusão!

Val. - Mudando um pouco a orientação da entrevista (já voltaremos ao Luso), queremos conhecer o Trabis que escreve. Aquele que que não é fundador mas sim um luso-poeta que "é mais um nó na confusão". Fala-nos do que escreves.
TDM - Mas eu estava a falar do Trabis, o luso-poeta mesmo. O Trabis fundador só existe porque primeiro existiu o poeta. Aquele que um dia timidamente decidiu expor um pouco de si. Um poeta sofredor, acusado de ser romântico. Um poeta que sempre se negava a receber o titulo. Ah! Já fui tão humilde! Bons tempos! Infelizmente fui corrompido pela necessidade de mostrar que escrevo, em vez da necessidade de escrever.

Paulo - Guardo as tuas palavras, "Ser poeta" não é para todos. Eu deixei de o ser quando o assumi. Fui corrompido pela globalização do termo, pelo desvio na motivação que me levava a escrever. Já fui poeta sim e sinto saudades desse tempo, em que timidamente postava meus desabafos, em que fazia amizades com quem me comentava.” Queres comentar?
TDM - É isso mesmo! O primeiro comentário marca qualquer um. É como a primeira noite, é felicidade para o resto dia, é motivação para mostrar mais um segredo e mais um e mais outro. Sinto mesmo saudades sabes. Eu ficava muito emocionado ao sentir que alguém me compreendia. Isso era ser poeta, eram palavras sentidas, sofridas, vividas. Hoje (talvez felizmente) não tenho tanta inspiração!

Val. - Tens uma forma de escrever que, não raramente, tem sotaque. Tens uma forte influência do vem do Brasil. É de facto assim?
TDM - Sim. Tem uma explicação forte também. Os meus primeiros contactos na internet eram brasileiros. As minhas primeiras amizades foram brasileiras. O sotaque brasileiro inundou o meu msn, a minha vida, as minhas emoções e consequentemente os meus poemas. Alguns dos meus poemas foram escritos propositadamente com sotaque e dirigidos a alguém muito especial.

Paulo - Há uma imagem que desperta e que transborda para o exterior, a de um menino tímido, que quer fazer tantas coisas com o coração que as vezes parece disperso. No entanto, no universo da tua escrita podemos encontrar em maioria poemas que se dividem em três géneros: Amor, Tristeza e Reflexão. Qual predomina mais nos teus textos, o Homem ou o Poeta?
TDM - Os meus poemas reflectem as emoções que eu não consigo exteriorizar, as palavras que me ficam na garganta, as lágrimas que eu não choro. O amor, a tristeza (e já agora a reflexão) são sentimentos que simplesmente eu não exteriorizo!
Gosto muito de falar sobre amor, sobre dor, até sobre ódio. São sentimentos extremos e que facilmente se transmitem.
Muitas vezes associo o amor à ingenuidade. Sempre apostei que o amor reside no coração das crianças e na nossa lembrança. Talvez por isso eu não queira crescer tanto assim.

Godi - Amigo TrabisdeMentia, gostaria de saber se o poeta que conhecemos nasceu junto com o site? Quando a poesia tocou-te a fundo, quais foram os fatores primordiais que fizeram com que o nosso querido amigo viesse a compor poesias?
TDM - Amigo Godi, o poeta nasceu um pouco antes, uns bons 30 anos atrás. Se manifestou durante a minha infância (tenho documentos autenticados pela minha mãe que o comprovam), mas amadureceu na adolescência (enquanto compunha minhas músicas) e se consciencializou um pouco mais tarde (desgostos de amor, males que vêm por bem).
É importante que se diga que não comecei postando poesia mas sim prosas, cartas de amor, cartas verídicas que continham uma vez por outra pequenos poemas. Só mais tarde me dediquei a escrever versos.

Val. - Músicas. Também compões músicas? Letra e música?
TDM - Sim, gosto de compor letras e tocar uns acordes de guitarra (órgão também). Tocar, cantar e sentir o que se ouve é algo que só a solidão compreende. A guitarra já me fez muitas vezes companhia. São as minhas três áreas favoritas, a música a poesia e a programação.

Paulo - Há uma expressão tua que ficou sobre as tuas mais valias, quando dizias que “quando começaste este site não sabias distinguir umas cuecas dum soutien” e hoje fazes maravilhas, conta-nos, como foi esse processo evolutivo?
TDM - Quando me foi dada a oportunidade de criar um site não sabia nada de Xoops, Php, Sql e afins. A necessidade de adaptar o site de modo servir o seu objectivo obrigou-me a partir na busca de conhecimento. Não foi preciso recorrer à força, sempre gostei de programar desde os meus 10 anos. Facilmente dominei estas novas linguagens. Hoje sei um pouco mais que ontem, só isso.

Godi - Atrás do poeta tem uma outra vertente, tão forte quanto, o webmaster Trabis, o ‘Pai’ do luso-poemas. Você que viu o site crescer, e se expandir, e o que este é hoje, diga-nos do fundo do coração, o que te mais emocionou em todo esse certame, e que te orgulhou profundamente referindo-se ao desenvolvimento do espaço?
TDM - A comunidade que se criou, evidentemente. Ela própria é geradora de desenvolvimento. Luso-poemas é apenas o eixo da roda. Cada um de nós tem o prazer de deixar a marca nesta estrada. O futuro é onde nós estivermos.

Val. - Como encaixas o Luso no panorama dos sites de escrita? Não haverá uma situação de competição desnecessária? Parece-me que se cultiva um pouco o culto do “o meu é melhor que o teu”. Não seria útil que houvesse organização e intercâmbio entre os vários espaços?
TDM - Eu (como administrador) lido bem com isso. Simplesmente não compito, limito-me a fazer o meu melhor ajudando a divulgar a poesia. Todos os sites de poesia que eu conheço estão listados na nossa lista de links e alguns deles estão incluidos na nossa barra de navegação. Temos infelizmente algumas tentativas falhadas de comunicação. Não é nada que me aflija.

Paulo - Como Mentor deste mega projecto além fronteiras tens alguma noção de como ele já cresceu e de como poderá ainda evoluir?
TDM - Poderia responder-te com números para mostrar essa evolução mas não existem números que te mostrem o afecto que muitas pessoas têm com este site. Para sentires de facto a evolução de luso-poemas tens que olhar para os poetas que nele participam.
Já vi sites com o dobro das visitas recebidas por luso-poemas e com metade da participação. Irá evoluir concerteza. Sei porque cada link apontado para o nosso site é um sinal de agradecimento e satisfação.
Luso-poemas (creio eu) é o site de poesia mais divulgado na internet.

Godi - E esse seu contacto com os poetas d’além mar, digo dos poetas brasileiros que também frequentam o espaço luso? Além de impressionar bastante seu repertório poético, como já foi dito, existe alguma outra ‘reflexão’ sobre a atuação desses brasileiros no site?
TDM - É muito bom termos poetas com diferentes culturas. Até a diferença de fuso-horário é positiva pois nos ajuda a manter este espaço sempre animado. O único problema é de facto a distância que nos limita um pouco a ação. Temos a título de exemplo do lançamento do nosso livro "Luso-Poemas 2006" e que embora conte com participação de poetas brasileiros não vai poder contar com a sua presença aquando do lançamento.

Val. - Fala-nos do Livro. O que é e como surgiu.
TDM - O livro, ou a ideia de editar um livro surgiu na mesma hora que a criação do site. Eu tinha como sonho o resgate literário, nada mais nada menos do que dar oportunidade a quem nunca publicou um livro de o poder fazer. Este sonho está concretizado! A corpos editora abriu-nos esta porta. É também uma prova da nossa existência e da nossa força de vontade.

Godi - Quais são os poetas que mais te influenciam, os que possuem confluência com a tua obra, os que mais se parecem com sua obra poética? Tem desejo de publicar em livro os teus poemas, seja a lírica, a poesia de circunstancia, a juvenília, ou os textos em prosa?
TDM - Eu não leio para não me influenciar (como diz o outro). Todos somos incomparáveis e como parte de mim assim o espero dos meus poemas. No entanto, quando leio, sou influenciado. Não cito nomes mas o ex-ricardo é um exemplo e o Junior A. outro. Desejo de publicar? Não sei porquê mas nunca o tive. Prefiro desejar aos outros aquilo que não desejo para mim.

Paulo - A Administração ao criar uma nova denominação, porventura a maior de todas, como é a de o “Luso do Ano”, escolheu-te por unanimidade como o único, o especial. Acredito que este pensamento seja consensual entre todos os Lusos. Como te sentes com esta homenagem e que mensagem queres aqui deixar?
TDM - Sinto-me feliz por me terem dado esta oportunidade. O mais importante é sentir-vos comigo pois eu bem sei que sem vocês não seria luso-de-coisa-alguma. Sou muito grato a todos vós. Mensagens tenho duas apenas:

Não desistam dos vossos sonhos.
Corram sempre atrás de vós próprios.
Um feliz natal e um 2008 melhor que 2007!

Agradeço sinceramente a todos os que tiveram paciência para ler toda esta entrevista. Um abraço especial para o trio maravilha que me entrevistou. É isso aí, mil abraços e até já!