Janeiro 2008 - Rosa Maria Anselmo
Categoria : Luso do mês
Publicado por Luso-Poemas em 08-Jan-2008 21:50
No espaço do Luso, a rosamaria (como está registada) é, certamente, a mais delicada de todas as personagens. É uma incontornável e, pode-se dizer, obrigatória leitura para quem por aqui anda. Não é preciso muito para que, quem não lhe conhece a escrita, se torne admirador e assíduo dos seus textos.
A Rosa Maria Anselmo nasceu para o www.luso-poemas.net em 10 de Setembro de 2006. Publicou pela primeira vez neste espaço no dia seguinte. Foi um poema intitulado "Sonhos". Tornou-se desde logo e naturalmente, uma referência do site, sendo reflexo disso a forma, a quantidade de comentários feitos aos seus textos e o carinho que gera à sua volta. É, sem discussão, o nosso destaque de abertura para o ano de 2008.
Então, eis a Rosa como ela é:

Pequena autobiografia

Rosa Maria Anselmo Fernandes, nasceu aos 30 minutos do dia 29 de Julho de 1958, na cidade do Porto.
Com apenas um ano de idade, parte com os seus pais e irmão para Moçambique. Faz os seus estudos até ao antigo 5º ano no Colégio Sagrado Coração de Maria, em Vila Junqueiro e depois no Liceu de Quelimane, a capital da Zambézia.
Por razões que a própria História já nos deu a conhecer, regressa com a família a Portugal no ano de 1976. Interrompe os seus estudos e entra no mundo do trabalho muito nova. Os números, a contabilidade, a área financeira irão acompanha-la por mais de 25 anos.
Em 1989, já casada e com dois filhos, vai para Macau com a sua família e por lá fica 9 anos. É em Macau que, em paralelo com os "seus números", termina o 12º ano e se candidata ao curso de psicologia, que vem a frequentar apenas um ano.
Regressa a Portugal em 1997 e vai residir em Mindelo.
Inicia o gosto pela escrita muito jovem, ainda nos bancos do Liceu, mas é já adulta que dá asas à criação de poemas. A escrita, a poesia, é para Rosa Maria uma forma de abraçar emoções.
Em 2003, edita o seu único livro "Diferentes Momentos", (edição de autor) pela editora "In-Libris" na sua colecção Princeps.
Descobre o site Luso - Poemas em 2006 e é neste espaço de poesia que coloca os seus poemas. Cria também o seu próprio blog em Julho de 2007.
Dos seus poetas favoritos refere Fernando Pessoa, Al Berto, Camilo Pessanha, e um poeta que conhece em Macau de seu nome Alberto Estima de Oliveira – sua inspiração, confessa.
Paralelamente à escrita, o voluntariado é outra das paixões de Rosa Maria. É no encontro com doentes oncológicos que nos diz: - as suas fragilidades fazem-me sentir tão minúscula e um sorriso é tudo o que preciso para continuar nesta imensidão de afectos.


Entrevista

Valdevinoxis - Rosa, no seu percurso, a vida deu-lhe a conhecer muitas paragens e uma
variedade de influências grande. Gostaríamos que nos dissesse quem é a Rosa
Maria Anselmo e como é que ela se foi formando até ser a pessoa que hoje
conhecemos.
Rosa Maria Anselmo - É verdade sim, tive a sorte e o privilégio de ter andado de mãos dadas com diferentes culturas. Moçambique, embora não me tenha visto nascer, marcou toda a minha infância e adolescência. Portugal, recebeu-me num período conturbado e, apesar das imensas dificuldades de adaptação, fui começando a gostar deste País. Macau é a minha Paixão!!!... Quem confessa seus amores... não deve ser "castigado".
Estes três Países deram-me coisas diferentes, complementaram-me como ser humano.

Godi - Gostaria de saber da autora sobre o 'processo criador' da poetisa Rosa Maria Anselmo. O que sente ao escrever um poema, como ele acontece, como vem em mente e é modulado neste seu estro literário?
RMA - Querido Cláudio... eu nem me considero poetisa...Eu escrevo, sobretudo, por emoção e normalmente cada poema tem um rosto, que pode ser até desconhecido. É uma espécie de diálogo com uma folha branca... quase fecho os olhos e escrevo sem dar conta das palavras... Muitas vezes, quando termino o "poemita", tenho lágrimas nos olhos.

Paulo Afonso - Como começou a escrever Poesia?
RMA - Não é fácil responder à tua pergunta Paulo. Nos bancos da escola, escrevia uma espécie de diário, como o que todas as meninas tinham, para desabafar os seus amores e desamores da adolescência. A poesia começa mais tarde, já adulta e em Macau... mas guardava tudo numa gaveta para ninguém ver.

Vera Silva - Lançaste um livro... podes falar um pouco sobre ele?
RMA - Posso sim e dá-me um enorme prazer fazê-lo. Eu não tinha intenção nenhuma de publicar livro algum, mas tenho uma filha maravilhosa a quem aqui vou chamar de "Lua". A Lua, na altura (já lá vão quatro anos), estava numa fase de falta de confiança nas suas enormes potencialidades inatas de canto e de aprendizagem de viola e dizia sempre, "ai eu... não sei...". Como mãe dizia-lhe que ela tinha um dom que devia aproveitar e dar-lhe forma. Eis, senão, quando ela me disse, "Pois também tu escreves tão bem e não publicas nenhum livro.". Não pude fazer outra coisa senão e por amor, mostrar-lhe que se eu era capaz de editar um livro, ela deveria aproveitar todas as suas capacidades e crescer. "Diferentes Momentos" é uma manifestação simples e pura de amor por uma filha.

Val - A Rosa lembra-se do primeiro poema que publicou no Luso? Intitula-se "Sonhos" e termina com um peremptório "-Lá, só vou eu e meus convidados - ". Estava a falar da sua "concha". É uma pessoa fechada? Uma pessoa que preserva o seu espaço?
RMA - Manuel, respondendo à sua pergunta, lembro-me sim desse poema "Sonhos”… um dos meus preferidos. Não penso ser uma pessoa fechada, quem já me conhece da família Luso, sabe que não o sou, contudo prezo muito a minha privacidade, mas considero-me extrovertida e brincalhona.

Godi - Já foi influenciada por algum poema ou poeta do luso - poemas? Conta-nos se caso aconteceu algo assim.
RMA - Claro que sim. Cada um de vós faz-me crescer todos os dias, enquanto "poetisa". Posso até acrescentar que muitas vezes receio "plagiar" ideias, palavras dos vossos poemas... é um tremendo risco que corro. Contudo esforço-me por ter uma forma própria de escrita.

Paulo - Qual é a pergunta que nunca lhe foi feita e que gostava que lha fizessem?
RMA - É muito gira essa pergunta! Então seria assim... às seis da tarde telefonarem-me a perguntar: "Queres vir jantar a Paris?"
Como romântica que sou, responderia: vou sim, meu amor!

Vera - E em relação ao Luso Poemas... sei que adoras o site. Como o descobriste e como tens visto a sua evolução?
RMA - O Luso Poemas aparece na minha vida um pouco por acaso. Assim, navegando pela Internet em sites de poesia, descobri o Lusos, pedi licença para entrar e muito devagar, devagarinho mesmo, fui deixando os meus "poemitas", numa forma um pouco envergonhada até. Mas as pessoas foram extraordinariamente queridas e fui sentindo que estava a ter uma nova casa... "o meu cantinho de cultura". Direi, com sinceridade, que foi amor à primeira vista e continuo a amar este cantinho.
Em relação à sua evolução, tenho plena confiança nos elementos que estão na administração do site e, que o seu "pai", Trabis, saberá sempre tomar conta de todos nós.

Godi - Vi também que é uma defensora, árdua, da dignidade na literatura e seu uso no Luso-Poemas, onde mostrou um amor verdadeiro e sincero à poesia publicada e ao site, onde também, através de sua figura, protagonizou um dos acontecimentos mais fortes e contundentes na história do Luso. Diga-nos como deve ser vista a poesia por aqueles que escrevem?
RMA - Todos devemos ter liberdade de expressão e nenhum tipo de poesia é melhor que o outro, contudo, fico triste quando a poesia é utilizada para "pequenas guerrilhas", completamente desnecessárias. O poder da palavra é tão forte que o devemos utilizar para bens maiores.

Val - Essa é a situação maior. O saber utilizar a palavra sem ocupar o espaço dos outros. Diga-nos Rosa, em alguma altura quis mudar alguma coisa no site? Quais são as coisas de que não gosta no Luso?
RMA - Sim houve uma altura em que não estava feliz neste espaço... havia muitas "quezílias". Quase que era mais importante "o caso do dia" do que a poesia em si e eu entendo que o Luso-Poemas, é um site de poesia e não de troca de “galhardetes”. Ainda bem que essa fase passou. Sinto o site mais sereno, sinto que já se respira poesia de novo.

Godi - E sobre os poetas do Brasil? As participações destes ajudam a dar uma cara um pouco diferente ao Luso-Poemas. Como vê, na sua ótica de autora e observadora, esta convivência?
RMA - O Site Luso -Poemas, desde sempre existiu com poetas e poetisas Brasileiros, e foi nessa sã e alegre convivência que eu palmilhei estes meses largos neste espaço de cultura. Sabes bem Cláudio, o quanto eu aprecio a vossa presença neste site, diria mais, não seria o mesmo sem vocês.

Paulo - Sei que é uma das contempladas da Poesia declamada pelo Sr. Luís Gaspar. Pode descrever-nos a sensação ao ouvir os seus poemas declamados?
RMA - Ups! Foi assim... uma delícia! Fiquei aqui, quietinha, ouvindo palavra a palavra, quase esquecendo que tinham sido escritos por mim… emocionei-me sim…A beleza e a intensidade da sua voz faz maravilhas. Quero aproveitar a oportunidade, para mais uma vez agradecer ao Senhor Luís Gaspar... ele é encantador!

Vera - Para quando um novo livro? Estás a pensar nisso? E como vês o panorama da publicação/editoras em Portugal, no caso específico da poesia?
RMA - Em relação a um novo livro... não sei mesmo responder-te Verinha. Claro que gostava, é óbvio, mas preciso de "crescer" um pouco mais...quem sabe em 2008 não me aventuro…
Em relação ao panorama da publicação/editoras em Portugal, no caso específico da poesia, sei apenas dizer que infelizmente poesia não é prioridade em muitas das editoras, principalmente para nós que somos uns ilustríssimos desconhecidos.

Paulo - A minha última pergunta divide-se em duas partes: O que mais pode acrescentar para que todos Lusos possam conhecer um pouco mais de si? E qual é a mensagem que quer deixar?
RMA - Respondendo à primeira parte da tua pergunta, sou uma mulher como tantas outras. Mãe orgulhosíssima de um "Sol" e de uma "Lua", casada e ainda apaixonada. Tenho na amizade um dos valores mais ricos e preciosos. Em relação à segunda parte, dizer a todos que fazem parte desta enorme família de Lusos, que me orgulho de aqui estar convosco, que vos agradeço todo o carinho demonstrado ao longo destes meses todos e, com convicção, vos digo, que o meu crescimento a nível poético é pertença de cada um de vós! Não posso terminar sem antes dizer que me senti “princesa” no meio dos entrevistadores, tão queridos, e querida… Um obrigada especial pela vossa ternura. A si Ricardo Costa… obrigada por um dia ter sonhado e concretizado “Luso-Poemas”.
Bem hajam um terno e doce beijo da Rosa.