hoje eu não serei já muito o que leres, meu amor
hoje a primavera com uma fogueira de braços deve suster a chuva
o pequeno Eufrates já arrumado nos teus olhos às vezes preso fica neste alfinete calmo que me fala de pianos bordados voltados para o mar
supus que ainda vinhas para dormires no junco que vai nascendo devagar junto ao sol
os teus olhos não conhecem ainda o rio que os orvalha
habituei-me a pôr-te o mar no dedo de quando em vez
queria que soubesses que ainda faço os pianos sem os espargos a tapá-los
escreve-me das marés, ou, se quiseres, das searas bordadas que depois saem do sangue
até e sempre até a esse rio que se guarda com guitarras no teu véu
só por uma vez diz-me como a névoa se solta à noite desta queda escrita nos lutos
deste-me os sinos ilegíveis do sangue e o que vão eles fazer nas rosas que este poente leva?
se assim quiseres lembrar-te-ei dos Novembros quentes somados ao anoitecer
Não sei falar de outra coisa quando as flores chegam ao sono dos teus lábios
Nunca Me Lembro
Na nossa idade, Meu amor, os eléctricos da Graça até eles se tornam bares quando tu me beijas
Hoje a não ser noite diz-me o que se passou no frio regato das bóias azuis
soubesse eu agora, ao menos, beijar-te neste incendiado anoitecer que passeia jarras de seda
bebe-me: bebe-me hoje a lua com as rosas que estiveram azuis nos teus olhos
ainda hoje penso, meu amor, na menstruação que as trutas tinham por cima da lua
Só tu me vês com os eléctricos brancos no meio do sol a destapar o sal bordado| próximo >> |