Re: Problemas bem Conhecidos |
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Já não era sem tempo, mais vale tarde que nunca
Criado em: 11/6 15:49
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Jorge Santos/Joel Matos |
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"Houve alguém que por aqui se enganou" |
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![]() «Houve alguém que se enganou por aqui» https://www.abrilabril.pt/internaciona ... RZqROEnddbWsAOtSul8Nt9ikc " . ..... Bruxelas erra nas contas: os povos é que pagam Biden, Von der Layen e os seus agentes amestrados, sem esquecer Olaf Scholz e Emmanuel Macron, prometeram que as sanções iriam enfraquecer a Rússia e deixar o rublo de rastos. Mês e meio depois da entrada das tropas russas na Ucrânia, e apesar do roubo das reservas cambiais de Moscovo na Europa, o rublo está mais forte do que antes da guerra, o dólar continua a perder terreno como divisa internacional, substituído por combinações de moedas nacionais em negócios envolvendo as matérias-primas mais estratégicas, principalmente os combustíveis fósseis; e estão a ser dados os últimos passos para o lançamento de uma divisa comercial garantida por uma cesta de moedas e um conjunto das principais matérias-primas capaz de alimentar o comércio na maior parte do mundo, certamente entre a grande maioria da população mundial. Perante estas tendências de imensa abrangência quais são os horizontes da União Europeia? As suas antigas colónias, muitas delas tentadas pelos novos ventos, recusando-se até a impor sanções à Rússia? A América Latina, onde não se registou um único caso significativo de ruptura com a Rússia, sem esquecer a disponibilidade para manter e desenvolver a cooperação com Moscovo e Pequim? É um facto que nas últimas semanas, coincidindo com os sucessivos pacotes de sanções contra a Rússia, se registaram sinais de maior consistência do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) – representando cerca de metade da população mundial. Certamente não é coincidência. Deverá então a União Europeia virar-se ainda mais para os Estados Unidos? Um país que manda impor sanções contra a Rússia e que no último mês de Março aumentou em 21% as importações de petróleo russo enquanto obrigava a Europa a cortar totalmente o fluxo dessa matéria-prima? https://www.statista.com/statistics/13 ... by-commodity-from-russia/ Havemos de Comprar Combustível aos EUA (armazenagem e proveniente da russia) 5x + É uma estratégia que, lamentavelmente, também parece ser a única que resta aos 27. Dos Estados Unidos a Europa receberá comida transgénica; filmes idiotas ou de discurso de ódio; exemplos de xenofobia e racismo, com muito boa aceitação do lado de cá; gás natural que arruína vastas zonas continentais a um preço que poderá triplicar o que era pago pelo gás russo, mesmo que fosse em contas abertas em bancos moscovitas; receberá também petróleo, certamente parte daquele que Washington compra a Moscovo em tempo de sanções – com uma inapelável margem de lucro para o intermediário. E receberá armas, muitas armas, para substituir as armas, muitas armas que estão a ser enviadas para a Ucrânia, destinadas a ser transformadas sumariamente em sucata numa guerra que os «aliados» pretendem alimentar pelo menos até ao último dos ucranianos e dos mercenários de extrema direita de todo o mundo que se sentem na sagrada obrigação de lutar contra russos na terra que os viu nascer. A hipocrisia do Ocidente fingindo condoer-se com a sorte dos ucranianos parece muito pouco «civilizada» e ainda menos «cristã», para já não invocar em vão o santo nome da «democracia liberal» – que vai morrendo de excelente saúde. Que venham então armas da generosa e protectora América para os portugueses pagarem com dinheiro que não há para a saúde, as escolas, os salários e os reformados; não foi o venerando chefe de Estado português quem sentenciou, por sinal durante a evocação do movimento pacificador de 25 de Abril, que ser «patriota» é contribuir com mais armamento para as Forças Armadas? Parafraseando o saudoso José Mário Branco, [b]«houve aqui alguém que se enganou». Odesespero não costuma ser bom conselheiro. E quando se desenvolve num mar de mentiras, inversão de princípios, anacronismos e patéticas manias das grandezas o mais certo é resultar em naufrágio. A União Europeia segue por essa rota e parece não ter a bordo alguém com o necessário rasgo de lucidez para evitar a catástrofe. Que atingirá não os responsáveis pelas decisões nefastas, porque os oligarcas patrões dos mandantes políticos raramente se afogam, mas sim os povos dos 27 Estados membros e de outros cujos governos lêem pela mesma cartilha. Dias negros estão no horizonte do chamado Velho Continente e, simbolicamente, Portugal ilustrou a degradação de valores que alimenta a catástrofe ao hipotecar o aniversário da Revolução de 25 de Abril a interesses não democráticos, prejudiciais para os portugueses, autoritários e, como se não fosse suficiente, amantes da guerra, da fabricação e manutenção de conflitos como instrumento para gerir a sociedade. Os Estados Unidos, geridos por um bando de falcões neoconservadores irresponsáveis para tentar dar cobertura ao cada vez mais perceptível estado de demência do presidente, parecem seguir o mesmo caminho da União Europeia, mas a situação tem ainda o seu quê de ilusório enquanto Washington puder recorrer aos povos da Ucrânia e de toda a Europa como carne para canhão na atormentada defesa do império e do caminho para o totalitarismo globalista. A tal ordem internacional «baseada em regras» ditadas em Washington que faz gato sapato do direito internacional. Afinal é disto que se trata, em última análise, ao assistirmos à guerra na Ucrânia: assegurar que o império sobreviva como senhor do planeta em regime unipolar perante o assédio natural, e com o tempo a seu favor, de grandes e médias potências emergentes que deixaram de estar dispostas a submeter-se a uma velha ordem imposta por aristocratas da «civilização» que há muitos séculos receberam o «sopro divino» como donos absolutos das coisas terrenas. Nada mais do que Deus no Céu e os oligarcas na Terra. O mundo, porém, está a deixar de funcionar assim. E, através de um efeito perverso que não é mais do que fruto do desespero pelo qual o chamado Ocidente está tomado, as transformações aceleraram-se devido ao modo errático e autoflagelador como os Estados Unidos e, sobretudo, os seus satélites da NATO e da União Europeia, responderam à invasão russa da Ucrânia. As sanções estão a virar o feitiço contra o feiticeiro, isolam os que as impõem e dinamizam o alargamento de horizontes e a confirmação de novos caminhos e experiências dos que as sofrem. O povo da Rússia – e não a oligarquia que gere o país – é a verdadeira vítima das sanções mas também o são os povos europeus, arrastados para uma guerra que não é sua porque só em termos de propaganda terrorista pode considerar-se que se trava em defesa de valores democráticos e humanistas. A estes, para os fazer vingar não são necessárias guerras, muito pelo contrário. Porém, o cenário dos sofrimentos impostos aos povos que vivem dos dois lados das barricadas não é estático; está a suscitar mudanças e não na direcção dos maníacos das sanções agarrados como causa de vida ou morte à ordem imperial unipolar. Reforçando nas últimas semanas as tendências transformadoras, a Rússia e China – este país sem deixar a sua proverbial discrição e o respeito pelo princípio da não ingerência – incrementaram estratégias regionais e transnacionais envolvendo os países que não seguiram o diktat norte-americano de sanções à Rússia e começaram a aplicar medidas concretas com repercussões em áreas económicas, financeiras e comerciais. Estas acções reforçam os processos de integração regional e de cooperação transnacional estabelecendo relações muito mais sustentáveis e igualitárias, independentemente das políticas governamentais. O que está a passar-se, como se percebe ignorando a propaganda, nada tem a ver com a prática e a defesa da democracia. «Não nos ligam nada» Uma descoberta fantástica No meio da lixeira mediática cacofónica acumulada por analistas, especialistas, comentadores, directores, professores, académicos e ofícios correlativos às vezes escapa-se uma surpresa. Não pelo conteúdo, é claro, porque esse não afronta nem pode afrontar a opinião totalitária sobre a guerra na Ucrânia, mas pela conclusão extraída, uma descoberta assombrosa que nos chegou pela pena de Azeredo – felizmente não desaparecida em Tancos – e que foi, imagine-se, ministro da Defesa. A conclusão reflecte uma certa síndrome de Calimero, mas nem por isso deve ser desvalorizada. Queixa-se Azeredo: «Não nos ligam nada!». O «nos» são os cerca de 40 países que impõem sanções à Rússia – os da NATO (menos a Turquia), da União Europeia (excepto a Hungria) mais o Reino Unido e seus vassalos da Oceania e ainda uns apêndices orbitando o sol imperial. Nas suas trabalhosas e desconsoladoras diligências Azeredo descobriu que há mundo para lá da cortina de ferro de propaganda totalitária defendida pelos impiedosos guardiões da verdade instalados em cada recanto da sociedade de cá, até nas outrora pacatas tertúlias familiares ou de café. Um mundo, admira-se ele depois de ter consultado dezenas de jornais de todo o planeta, onde se concentra a esmagadora maioria da população, habitando as mais vastas áreas territoriais. Um mundo onde não há espaço para sanções à Rússia e onde até, vejam lá, os meios de comunicação reservam esconsos lugares de primeira página ou mesmo o anonimato das páginas interiores para as notícias da guerra na Ucrânia. Um mundo – isso não o disse Azeredo – que representa cerca de 85% do planeta e que agora, para desconsolo do analista-ex-ministro, «não nos liga nada». Afinal, submetidos a um recanto de 15%, andaremos a pregar no deserto esta tão requintada obra de mentira e de indução esquizofrénica baseada no culto da guerra ou então, sordidamente, a envenenar-nos a nós próprios? «Não nos ligam nada», queixa-se Azeredo. Certamente tais multidões agora insensíveis perante o esforço civilizatório ocidental são todas adeptas ou até compinchas de Putin, esse maléfico que ousa combater o cancro criado pela verdade oficial do lado de cá com banhos de sangue fresco jorrando de cornos de veado serrados, como nos explica o omnisciente New York Times. «Não nos ligam nada». A nós, a fina flor da civilização, os donos da democracia, os senhores dos exércitos, os benfeitores que sempre usaram guerra para espalhar o bem, a fé e a civilização pelo mundo, os justiceiros, os proprietários naturais dos bens e das riquezas do planeta, aqueles que tanto nos incomodamos com os ucranianos da parte ocidental do país mas nunca tínhamos ouvido falar do terrorismo que martiriza os ucranianos do Centro e Leste do país. Em suma, a ingratidão sem fim. (continua amanhã) POR JOSÉ GOULÃO QUINTA, 12 DE MAIO DE 2022 ![]()
Criado em: 16/5 7:50
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Espaço Cítrico |
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obrigado pelo espaço e pela inspiração
Criado em: 6/4 10:29
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Amor em tempo de guerra, De Luís Sepúlveda |
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Pelo título lembrei-me de um dos livros favoritos dos meus escritores preferidos, quase meu familiar político e genético tb e caso número um de infecção em Portugal por Covid 19, tendo morrido nas Astúrias há dois anos atrás, próximo da data em que hoje nos encontramos.
A 29 de fevereiro de 2020, foi diagnosticado com COVID-19, tornando-se o primeiro caso diagnosticado com a doença nas Astúrias. O caso foi notado de forma particular em Portugal, pois o escritor havia participado poucos dias antes no festival literário "Correntes d' Escritas", na Póvoa de Varzim, que teve lugar entre 18 e 23 de fevereiro. A 16 de abril de 2020 o escritor morreu vitima da doença
Criado em: 4/4 13:35
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Fridda Gallo |
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O Santo Na forma de Rei Cristo e em chagas Sou santificado dia a dia, Cada versículo Cada palavra dita e escrita, falada Os discípulos oram por mim- O Santo Da imaculada ressurreição como fosse Pé de atleta ou sinistro furúnculo Na virilha daqueles que dão maligna Vermelhidão nos testículos e pele verde Podridão eczema prurido em pus, Escamas, feridas rachas na pele Inchada de verdete amarelo mendigo E em prata preto satânico e indigno Dijon em mostarda as estigmas de santos Cristos dos ignóbeis e perversos tristes ![]() ![]()
Criado em: 22/3 14:42
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faleceu Gastão Cruz |
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Que o mais fundo de nós nos deixe Pra que seja sempre e pra sempre De todos e todos sejam tod'a gente
Criado em: 20/3 22:24
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Re: Hoje faleceu Gastão Cruz |
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(pra continuar oleando as minhas "partituras" tenho de as decantar, decompor apenas num só lugar, por isso peço desculpa por as retirar , assim como outros semiacabados ou meio finalizados, com os meus abr'ossos) Será na morte que os Homens se distinguem Dos indistintos
Criado em: 20/3 18:55
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Re: Contr'apagões |
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O que eu penso não é um rio qualquer Que se atravesse a nado ou que os homens Possam usar para pousar os olhos, lavá-los, Eu uso as fontes, as silvas vivas, as dores Nos nós dos dedos, que vão desaguar Nem eu sei aonde ou quando, dos atritos Nas pedras, dos redemoinhos, dos socalcos Nas águas, da turbulência dos ribeiros, rios De cascalhos, no caudal deles me prendo, I'preso eu me penso não ribeiro, mar Imenso, desses onde se pode embarcar Pra outro universo vivo qual me preenche De deserção e sedimento do bom e do maus Momentos, arrependimentos fragmentos Doutros seres, meu pensamento apenas em Certos lugares atravessa um rio, sempre julgando Ser do mar a água que vem agarrada aos dedos, O sal o limos Nada, fora o novo, Sempre o mesmo, Digo de mim pra Mim, sem sentido. Não é tragédia, É a vida em que Sentado vivo, quotidiana, À nona dimensão Dum outro, tendo A consciência como Escarro curvo, apenas crosta do Que se sente, do que se crê Que se vê, se conhece, se viu Como crivo obstruído De um lado apenas, Presente amargo, Simbolismo decadente, Continuar o que não Tem efeito nem sentido, Pelo menos pra multidão De vida suposta, suposta A minha que imita sons Incoerentes, mais prático Seria ouvir que reconhecer Útil o piano da boca, O equívoco pouco casto, Poluído, em que me equivoquei, Sem tacto no queixo, presa fácil, Mal definido nato em novelo de rato, A única verdade minha é aquela Que admito espessa por esparsa Que a alusão me seja, aja solta Ou presa … Jorge Santos (Março 2022) https://namastibet.wordpress.com http://namastibetpoems.blogspot.com Quantas vezes mais casto que enganoso O logro do entrudo que a verdade velhaca, Quantas vezes ancoreta mais vil e gasto Que marujo Malaio, sabujo e pé-de-asceta, Polichinelo de modo algum seria Cavaleiro Real da corte ou Escudeiro de Sua Alteza, O Bobo todavia é realmente quem é, sem Engodo, enganosa a majestade, soberano De caráter minúsculo, sem testículos nem Barba farta, é uma afronta chamar dádiva Legitimidade divina, ao roubo, ao calote À má fé "Generala" num Império de aroma Medieval e em pés-de-palha, metal fedendo A má consciência. Parsifal é o herói da gesta E Atenas caiu outrora em ruínas, rest'o teatro Das aparências, o uniforme plissado, o palco ... O que finge a razão que não há em tudo ![]() Teu mar, do meu nem sei, iguais a mim Jogo palavras, no fundo Dou do mar a meia dor, sou e nasci Da solidão q'vem bem mansa De dentro dele, no cais da Rede de há-de-mar-sem-rumo De-haver mar, vou ou fujo Se mar não houver, não vou, Sou eu quem do mar Me visto, cego eu afogo e afundo Palavras nele, o fingido voo Me devolve do mar a fuga Ou a paixão por um só mar outro, em volta Mar eu sou, blindado peixe monstro Do mais profundo e negro/gordo Que o Iaque pavão/gato E desse outro modo eu não, Esse mar eu não sou e na falta Me sabe mal o mundo, Mal de ter gaivotas algas negras, gosto Na língua de berrar aos Deuses, cimento E areia é quanto pesam as ameias, O que do mar é mar caiado, Eneias É parente meu, falta morar no que penso, Amar em volta e eu mar cavado, infame a Porca de mar lavado, expresso em hebraico Meu berço embalado Embala-o as ondas largas, Meu medo a ser levado em falta, Hoje amanhã cedo, trovão Quando do mar, grego o fogo, O cenário da guerra, óleo sujo, Vermelho azul "inhaque", cimento Ou o branco escorço da proa Lança "bivoac", ou o chapéu canário De palha aceso e eu ingrato, inchado Descanso no mar que aqueceu, Inflamado mar Egeu, amargo de Cianeto, castrado o Santo, o Sapo E o Infante prisioneiro da balsa serva, A jangada de Pedra e um sórdido hebreu À deriva, num mar que entretanto de mim Se s'queceu … Joel Matos (23 Junho 2022) https://namastibet.wordpress.com/ https://joel-matos.blogspot.com/
Criado em: 16/3 16:42
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Contr'apagões |
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![]() É possível ler na paisagem urbana Aquilo que é difícil, impossível ver No meu rosto, o esgar sem esforço Que nem todos entendem, provo a Loucura a trepar por igrejas frias, nuas Pra ver o tísico universo, paciente Responder a um cego mudo brando, Eu sou o resultado de algo que nego, Consequente à minha própria Inconsequência mecânica, Por conseguinte exponho na pele E exponencio na consciência sobretudo O privilégio régio, magnânimo Como se fosse vício, delinquência Galga, quiçá consciente a noção do crime De pungente mea-culpa, O aborto métrico, sintético, O desacato mental genérico, O pensar mais baixo, mais rude, mais duro, Resinoso, oscilante e menos pragmático, Eu sou o mau exemplo, o mau futuro De tudo aquilo que julgam acerca, A insanidade mental perfeita, Com mais defeitos que qualidades, O pé de atleta, o carbúnculo, O obstetra cego, o nado morto, O gago, enfim o geneticamente cru e cruel, O amargo na boca, o torto rabo da porca … Almada e eu, o próprio Aconteceu em Cuba e o que sucede em Cuba por lá "se queda", sem remorso, culpa ou ideologia reformulada, desenrola-se não muito depois do rescaldo da crise dos mísseis da mesma ilha e em resposta à instalação de armas nucleares na Turquia, Inglaterra e Itália em Abril/Maio de 61, foi no início duma jornada Juvenil da Internacional Socialista, ainda me encontrava hospedado em Habana, no núcleo das "Comissiones Obreras", daí partiria para a segunda maior cidade de Cuba, Santiago, na qual representei o Movimento de Esquerda Juvenil, pimpolho de lenço vermelho ao pescoço como mais dois camaradas "de armas" da recém criada Juventude Comunista, nessa altura acompanhava-nos como não podia deixar de ser, devido à nossa pouca idade e experiência revolucionária, um saudoso "Pai" Cunhal, bem mais velho ou antes "avô" político e o falecido muito recentemente, com 101 anos de prestável juventude, Jaime Serra, em nome da comissão política do comité central e posterior Co/fundador do MDP/CDE, movimento precursor do futuro Bloco de Esquerda, com o José Manuel Tengarrinha, nesse tempo ainda membro do Partido Comunista Português, assim como posteriormente o compositor António Vitorino de Almeida, mais tarde ele candidato à Presidência da Republica Portuguesa. Podia sentir que vinha uma tempestade a caminho, o céu estava fumado a negro cor de chumbo, as aves procuravam abrigo nos velhos beirais, o cheiro inconfundível a ozono estava por todo o lado, na pele e mesmo no quarto sujo desarrumado, antiquado e com vista privilegiada para um Mar das Caraíbas cor de Cobalto enegrecido e negro, com gaivotas gritando no parapeito na tentativa de entrarem pelo quarto adentro sem demora e de qualquer jeito, lembrei uma pensão que havia na vila alentejana onde nasci, Grândola - Vila Morena, embora longe do mar ouvia-se nos búzios, encostando ao ouvido o ar que do mar trazia o ruído das ondas, era a "Pensão Fim do Mundo", mais tarde num segundo ou terceiro encontro furtuito e mais demorado, haveria de contar ao Luís esta sensação de fim do mundo que senti em Havana e que caberia "que nem uma luva" para descrever a solidão da Patagónia Austral Chilena. Luís Sepúlveda não fazia parte deste encontro de ideologia Marxista, já nessa época era dissidente dos ideais Comunistas, ombreei por acaso com o escritor num lobregue boteco em Habana, na mesma praça onde Trotsky, no exílio teria passeado com os seus podengos no entender de uns quantos, ou galgos segundo alguns outros, cortei-lhe o passo pouco antes do autocarro que se haveria de atrasar um pouco na partida para a outra urbe onde se realizaria o Congresso, olhou-me demoradamente por alguns segundos como se quisesse revelar algum segredo guardado no interior dos fundos olhos cinzentos/verdes, destacava-se pelo porte imponente, de certa forma autoritário mas manso, dir-se-ia de um Escobar magnífico e pacifista, penso que por esse tempo ainda era amigo pessoal de Fidel Castro embora fosse considerado "persona non grata" da "Nomenklatura" Bolchevique ainda vigente e vicejante na URSS, já o conhecia, de capa e conteúdo, pelas "crónicas de Pedro Nadie", um dos primeiros livros deste apaixonante autor, notável pela simplicidade pungente, realista que imprimia nos contos que escrevia, limite-me a cumprimentar com um leve aceno de cabeça a que ele respondeu educadamente na mesma maneira, quando me sentei, no lugar da mesa corrida que esta ocupara antes, reparei que tinha esquecido um manuscrito, O fim da historia, "El Fin De la Historia"como vi pela capa, tentei devolvê-lo numa rápida corrida porta fora do bar, mas sem sucesso, havia desaparecido do alcance e da minha visão. Mais tarde, no regresso, devorei aquele manuscrito antes de o devolver ao editor e o que para mim seria a obra prima do escritor, o Patagónia Express, adquiri-o ali mesmo, no "hall" de entrada do hotel (foi a minha passagem, o meu bilhete privilegiado de peregrino Andino e em primeira classe para uma aventura austral sobre duas rodas, uma quimera qual viria a encenar algumas décadas mais tarde e que terminou menos mal em Ushuaia, desde Santiago Do Chile pela jamais inacabada Via Austral Andina) lembro-me tão bem como fosse ontem, li-o de uma assentada, em Castelhano, sem bocejar, no cair da noite, o livro era curto, cabia na mão meia aberta, enquanto repousava no outro braço a cabeça, ao varandim das antigas e mutiladas Cortes de Espanha em Quito, transformadas séculos depois em hotel decadente e em que ele descrevia, sentado naquele mesmo balcão sujo e branco, com esmero caracteristico de bom observador a Plaza Grande ou "Plaza de La Independência" de Quito, tão real que quase me entrava pelo olhos dentro enquanto assistia aos grupos de musica tradicional e carteiristas "surripiando" imodestamente e à pouca luz, pobres e incautos "campezinos" que se aglomeravam ingénuos perante músicos quiçá cumplices de faina. Encontrei-o posteriormente por sorte, penso que por volta da primavera de 1988 ou 89 numa aldeia remota, parada no tempo, nas chamadas terras Altas Andinas, em Unt Pastaza ou em Nankauk, não lembro muito bem qual delas, porventura ainda hoje habitadas pelos indómitos guerreiros Shuaras ou Achuaras, Jívaros como habitualmente chamados e famosos pela tradição ritual de encolhimento de cabeças como troféu de guerra e enquanto este autor escrevia outro inequivocamente belo romance, Do Velho que lia Romances de Amor, ficcionado na floresta húmida e de conteúdo magistral de muito bem descrito, talvez nem tanto como Gabriel Garcia Marques a pintalga de místicos e significantes sombreados nos Cem anos de Solidão mas com mérito também de mestria e de quem comunga um espaço e uma região inspiradora e inigualável como esta, um bem comum da humanidade em tons verdes e em sons benignos. Bebíamos todas as monótonas tardes como num ritual mágico inspirador, a formosa "Caxiri" e a "Ayahuasca" pura, vinho da alma ou "cipó de morto", bebidas que permitem o acesso ao mundo sobrenatural dos mortos, durante o qual nos transformávamos em "entidades sobrenaturais", presentes na cosmologia indígena. O povo da aldeia chamava-nos de Apaches ou estrangeiros, há coisas que não se esquecem, a personalidade galante e magnética com o contraste agreste e agressivo da vocação Sandinista deste, que me confidenciou depois de algumas semanas de contacto diário nos dois meses e meio que fielmente convivemos em "Pastanza" com este povo admirável e heroico, também ele eleito de luís Sepúlveda foram uma mais valia para a minha simples existência e sem dúvida na minha produtividade como "arremedador" de outros escritores porventura mais prestáveis e eles sim verídicos pensadores, penso apenas que fui ao de leve agraciado, acarinhado de longe pelos deuses nesta minha demanda terrestre e prosaica por antigas atitudes espiritas tentando decifrar o que faço aqui e a razão simétrica que leva a desconhecer-me quanto mais aumenta em mim e por outro lado "um outro eu" de conhecimento menos empírico e que vem de dentro de mim mesmo e no meu antigo espirito de andante sem destino. Claro que o que conto não é ficção gratuita, embora garantidamente não seja tudo - "bem-de-verdade" - e nem apenas Hoffmann e Jules Verne foram únicos a contar historias sensacionais, pitorescas fantásticas, muito pra'lém das mil e uma cenas da persa Xerazade, uma tempestade com Percas do Nilo só lembraria à Agatha Christie tendo um conto de Hoffman dado Origem ao Quebra nozes do Russo Tchaikovski , nada mais nada menos que um Camundongo cinzento cossaco e negro, um horrível ratinho feio dependendo da perspectiva e do autor, se era no Verão ou de Inverno e o Czar usava sobretudo ou casaco, mas um autor, um contista nunca pode dissociar da ficção a típica realidade dos locais por onde passa ou passou, a verdade é acima de tudo uma utopia que mentimos a nós próprios todas as noites e todos os dias nas nossas antípodas vidas, os sonhos são bem mais antigos e arcaicos que o testemunho que lhes prestamos, meros rudes contadores de histórias, simples água sem fonte ou artificio que subjugue à continuação do sonho na noite seguinte e seguintes, a nora não pode ser uma ilusão ela tem de girar e chiar como a original para que seja um pouco mais real a ficção e fique perto da origem do sonhado para que o sonhador seja um facto ficcionado, ele próprio parte dum sonho íntimo, privado e original. A LSD é em parte cerebral e outro cunho, o de um cereal granuloso, é um fungo importante para a nossa sobrevivência, convive connosco há milhares de anos, domesticámos a cevada e a glicerina, o Cocktail Molotov foi inventado com etanol, a gasolina e alcatrão, à heroína chamou-se de liberdade, aos tumultos de Paris "barricada", a "estrada dos ossos" è mais longa do que parece vista do céu e totalmente meu o amor pelo chão que piso, o que penso do paraíso é muito pródigo de licitações ventriculares mas só a mim próprio diz respeito, não é um postulado, a rainha não terá de usar véu no cabelo ou um penteado perfeito nem chamar-se de Cleópatra, falar p'los cotovelos, três dedos de testa, "ao menos" dois membros trôpegos do mesmo lado, tropeçando no mesmo genérico e genético "calhau" de tempo em tempo, em nome de todo "o nada" e em nome do nada, mudo idiota-tolo e surdo. Joel Matos ![]() Herdei campos de trigo farto Plantei joio e peste, mato, sementes de Castas infecundas, castradas gramíneas Foram como repelente para lírios solenes E altas flores silvestres, Narrei com esforço como fosse Escrita, frases submetidas ao rosto de quem deve Uma explicação florida para a vida que teve Que defina leste e oeste ou a razão dos campos Não mais terem tons verdes e proféticos azuis Ou serem a comparação fina e fiável Com o que nasce da minha voz sem cor pura Nem privilégios sortilégios ou ambição dura Apenas penumbra inútil ofensiva herege Daquela que cobre tudo da imortal Silenciosa poética anémica derrota bege Sem vida Joel Matos O Santo Na forma de Rei Cristo e em chagas Sou santificado dia a dia, Cada versículo Cada palavra dita e escrita, falada Os discípulos oram por mim- O Santo Da imaculada ressurreição como fosse Pé de atleta ou sinistro furúnculo Na virilha daqueles que dão maligna Vermelhidão nos testículos e pele verde Podridão eczema prurido em pus, Escamas, fétidas rachas na pele fendida Inchada de verdete amarelo mendigo E em prata preto satânico e indigno Dijon em mostarda as estigmas de santos Cristos dos ignóbeis e perversos tristes Teu mar eu sou, igual a ti Jogo em bruto parábolas, no fundo Dou o mar e a meia dor, sou/nasci Da solidão q'vem bem rasa De dentro dele, no cais da Rede de há-de-mar-sem-rumo De-haver mar, vou ou fujo Se mar cão houver, não vou Sou quem de mar Se veste, cego eu jogo e afundo Palavras nele, o voo Me devolve o mar, fuga Ou paixão ou só mar, em volta Mar sou, blindado peixe morto Do mais profundo e negro/gordo Que o ianque vão/ingrato É desse outro modo que eu não, Eu meu mar sou e a falta Me sabe a sal a meu o mundo, Mal é ter gaivotas algas pretas, gosto Na língua de orar, ciumenta a Areia quando me peso de ideais, O que do mar é mar caiado, Eneias É parente seu, falta murar o que penso, Amar em volta e eu cayac, infame a Perca de mar lavado, expresso a Aramaico Meu berço a sal, embalado Embala-o as ondas vagas largas, Meu medo a ser lavado em falso, Hoje amanhã cedo, trovão Quando do mar, grego o fogo, O cenário da guerra, óleo sujo, Vermelho azul "inhaque", cimento Ou o branco escorço da proa Lança "bivoac", ou o chapéu canário De palha aceso e eu ingrato, inchado Descanso no mar que aqueceu, Inflamado mar Egeu, amargo de Cianeto, castrado o Santo, o Sapo E o Infante prisioneiro da balsa serva, A jangada de Pedra e um sóbrio hebreu À deriva, num mar que entretanto me Esqueceu … Jorge Santos (Março 2022) https://namastibet.wordpress.com http://namastibetpoems.blogspot.com Eis a glande Eis a inflamada grande, da maior e mais infame raiva de sempre As pedras de calçada podem nem ter nome, religião, Trás ou frente mas possuem cólera tal como gente Fome, não fingem ser cegas, são cegas, mesmo cegas Por profissão, fé, seja o que for, dois olhos sem nascença Nem descendência de nobre infante, eis a glande, Pedra polmes branda, branca igual a cal da parede Eis a grande confissão do pároco a farsa do confidente Recluso Joel Matos ( Janeiro 2022) http://joel-matos.blogspot.com https://namastibet.wordpress.com http://namastibetpoems.blogspot.com O incêndio é uma palavra Que permanece pelo que o Devemos limitar às horas E ao fora delas como coisas Que se rejeitam, e a respeito De labaredas, estas não me Dizem nada crepitam apenas, Os outros sentidos tão carnais Quanto basta no que me toca, Incêndio uma palavra banal Quando morta de grandeza E de facto palha, faísca acesa Incenso Jorge Santos (Janeiro 2022) https://namastibet.wordpress.com http://namastibetpoems.blogspot.com [d] Será na morte que os Homens se distinguem Dos indistintos e de todas as vidas de coisas Pagas, indivisas quanto o espaço é apenas Ígneo ou aço, d'resto é corpo ao rés do vidro Baço, essa sim a perfeita realidade e o "para Sempre" quando incendiado, será obra d'arte Alusiva aos que nunca foram ou serão apenas Corpos retirados da Terra, imortais etéreos E extensos são os que se distinguem dos dedos Nas impressões doutros todos, no esgar do s'tranho Rosto revestid'a loucura e a desassossego, comum Restolho é fogo posto, assim girassóis no verão, Será na morte que se distinguem os Homens Que despertaram a si próprios na obesa forma de Ferozes criaturas, perigosas Anacondas do mato, Tubarões do mar gato, Furões Centopeias Descalças Por castidade volumétrica ou paridade geométrica Nos ângulos catetos [/ Será na morte que os Homens se distinguem Dos indistintos e de todas as vidas de coisas Pagas, indivisas quanto o espaço é apenas Ígneo ou aço, d'resto é corpo ao rés do vidro Baço, essa sim a perfeita realidade e o "para Sempre" quando incendiado, será obra d'arte Alusiva aos que nunca foram ou serão apenas Corpos retidos na Terra, imortais etéreos E extensos são os que se distinguem nos dedos Das impressões e nos cotos, no esgar do s'tranho Rosto revestid'a loucura e a desassossego, comum Restolho é fogo posto, assim girassóis no verão, Será na morte que se distinguem os Homens Que despertam per'si próprios na obesa forma de Ferozes criaturas, perigosas Anacondas do mato, Tubarões do mar alto, Furões Centopeias Descalças Por castidade volumétrica ou paridade geométrica Nos ângulos catetos, o esboço que define a valia do Posteriormente sobre a do fundo dum antigo fosso Quantas vezes mais casto que enganoso o lodo Ou o logro do entrudo que a verdade velhaca, Quantas vezes ancoreta mais vil e gasto decomposto Que marujo Malaio, sabujo e pé sujo-de-asceta, Polichinelo de modo algum seria Arauto, Cavaleiro Real da corte ou Escudeiro de Sua visigótica Alteza, O Bobo todavia é realmente quem é, sem engodo, Enganosa a majestade, soberanode caráter minúsculo, Sem testículos nem barba farta, é uma afronta chamar Dádiva Legitimidade divina, ao roubo, ao calote À má fé "Generala" num Império de aroma Medievo E pés-de-galinha, metal fedendo a má consciência. Parsifal é o herói da gesta e Atenas caiu anteontem Em ruínas, rest'o teatro dos parêntesis, o uniforme de Wagner Plissado, o palco, o que finge a razão que não há em tudo, Até no restolho ardido e pisado, o chão. Que o mais fundo de nós nos deixe Pra que seja sempre e pra sempre De todos e todos os outros e o Quanto era antes será depois e … Depois dos tempos como um Feixe de lenha nas costas de Um Javanês ou a sombra dos Bois na sementeira, sempre e … Pra sempre como era dantes No antigamente dos templos Que o mais fundo de nós nos deixe Pra que seja sempre e pra sempre De todos e todos sejam tod'a gente Sei dO que me leva Não ao que me trouxe, Nem ao que me demora, Quer eu queira ou não estar, Todo de resto é espera, E a noção de que fui Eu quem me levou A passar do que sou, Pra outro, o que se estranha, Ou estarei errado s’tando Pois me conheço não sendo eu, E se me iludo assim mesmo É porque que me elevo Ao enigma que aqui Me traz, não sendo Eu quem me lidera por completo, Levo-me aos que me levam Não me lembra o nome, o deus Ou o que me trouxe ao certo Desperto, dormindo Nego chamar-lhes seja O que for sendo eu quem Se acha preso, atado Ao simbolismo, ao desígnio Pra que me possa encontrar, Consiga dizer ao menos E até onde me é suposto sendo o que sou, Duvidar de mim próprio, eu mesmo Daquilo que penso ser eu, igual Em aroma a um logro, um lago De engano, mentira o amor divino Que me é dado dum lado goro, Contingente é a perpétua Escrita, ancorada nas paredes da casa, Sei do que me leva a isso Um suave agouro, um mau agrado, Tudo o resto é dor, a cada respiração Uma entrega e o espírito de causa Da renúncia e a descrição humana Variável de rosto pra rosto, Sendo o que eu somos
Criado em: 16/3 12:59
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Jorge Santos/Joel Matos |
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Re: Obrigado ou O humanismo ocidental "gritante" |
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18/8/2021 13:19 De Azeitão, Setúbal, Portugal
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O humanismo ocidental é "gritante"
Acerca do acidental "humanismo" (está tudo aí) O humanismo genérico serve para qualquer um em qualquer parte do mundo - o humanismo ocidental é especial, o humanismo ocidental é único, o humanismo ocidental é original, o humanismo ocidental exige mais de mim... O humanismo ocidental é seletivo: ignorou os 12 mil haitianos enviados pelos Estados Unidos para a prisão de Guantánamo e a invasão do país em 1994; ignorou a instigação e a participação da NATO nas guerras da Jugoslávia e os seus 150 mil mortos; ignorou as duas Guerras do Golfo, a mentira que desculpou uma delas e os 100 mil mortos diretos que os combates provocaram; ignorou mais 100 mil mortos que o Iraque "protegido" pela coligação internacional lá instalada provocou; ignorou a presença norte-americana durante 20 anos no Afeganistão e os 65 mil mortes que ali ocorreram; ignorou os envolvimentos, desde 2001, diretos ou indiretos, de forças ocidentais na Síria (estimam-se 400 mil mortes); ignora o que se passa na Somália e no Iémen; ignora a ocupação da Palestina por Israel e, nos últimos anos, os 21 500 mortos desse conflito. O humanismo ocidental tem coração mole para um lado e coração de pedra para o outro. As guerras espalhadas pelo mundo com envolvimento do Ocidente somam, em 30 anos, quase um milhão de mortos, a grande maioria civis, mas o bom cidadão ocidental não chora por eles. O humanismo ocidental é dúbio. Condena vigorosamente a prisão do opositor de Putin, Alexei Navalny, mas deixa apodrecer na cadeia o denunciador das brutalidades das tropas americanas e da NATO, Julian Assange. O humanismo ocidental é criterioso. Manifesta-se quando críticos de Putin são envenenados no estrangeiro mas arquiva no esquecimento o cientista inglês David Kelly que, misteriosamente, suicidou-se dois dias depois de depor no parlamento sobre a falsificação de provas da existência de armas de destruição maciça no Iraque. E o jornalista que deu essa notícia em primeira mão foi despedido. O humanismo ocidental é esclarecido. Classifica a imprensa estatal russa de instrumento de propaganda "tóxica" mas glorifica o World Service da BBC, pago pelo Ministério dos Estrangeiros britânico e onde muitos jornalistas portugueses que lá trabalharam foram obrigados, durante décadas, a pedir autorização superior para fazer qualquer tipo de entrevista... e essa autorização só vinha depois de lida a lista de perguntinhas a fazer! O humanismo ocidental é dinâmico. Indigna-se aos gritos com a censura de Putin ao jornalismo independente, mas refila baixinho quando proíbem a Russia Today de emitir no Ocidente ou quando os potentados das redes sociais, que ninguém controla, filtram o que o povo pode ou não pode dizer. O humanismo ocidental enerva-se com a brutalidade policial contra manifestações políticas em países longínquos e contra as prisões indiscriminadas de gente comum, mas cala-se, conformado, quando isso é feito nos seus países contra os que recusam vacinar-se, contra os que exigem direitos para os negros, contra os sindicalistas, contra os imigrantes pobres e de pele escura. O humanismo ocidental já nem se lembra de George Floyd. O humanismo ocidental é espertalhão. Explica todas as intervenções militares do Ocidente no resto do mundo com a necessidade de defender a democracia, o contexto histórico e sociológico das regiões, as tensões estruturais das economias locais, as rivalidades das religiões, as divisões tribais, as fronteiras mal definidas, a selvajaria dos ditadores locais. Mas para comentar a guerra ucraniana só aceita começar a análise por um facto: Putin invadiu no dia 24 de fevereiro o país de Zelensky. Falar do que está para trás, dos 13 mil mortos do Donbass, do crescimento da NATO para leste, por exemplo, é trair a Ucrânia, é trair o Ocidente, é trair a humanidade - e se o fazes, és mesmo má pessoa! O humanismo ocidental é ingrato. Garante que a Rússia não é do Ocidente, exige que ignoremos 2 mil anos de cristandade partilhada, as leituras de Dostoiévski, Tolstoi, Tchekhov, Gorki; as músicas de Tchaikovsky, Stravinsky, Shostakovich, Prokofiev; os filmes de Eisenstein, Tarkovsky; os pensamentos de Bakunine, Lenine ou Trotsky. O humanismo ocidental acredita que nada deve do que é à Rússia. Eu adoro os valores teóricos do humanismo ocidental, são um exemplo para o mundo, a sério, mas não aguento a constante prática violenta do humanismo ocidental, uma vergonha neste mundo, a sério. Jornalista Abdul Cadre Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=362202 © Luso-Poemas
Criado em: 16/3 11:48
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