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 O MOSTRENGOData 03/10/2009 17:36:59 | Tópico: Prosas Poéticas
 
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 Que caiam as tormentas e todas as chuvas
 dos infernos benquistos.
 E que o Mostrengo bata três vezes, três
 vezes bata na minha porta,
 para que eu o possa receber, como num rito,
 com todos os luxos a que tem direito.
 Que me sobre o espanto, para acolher
 todos os fantasmas desavindos, dos que
 se fizeram ao mar em busca de novas terras
 e que seus gritos de defuntos entrem
 por minhas entranhas adentro,
 passeando-se no espelho oblíquo ou nas trevas
 dos meus olhos, em horizontes de linhas
 paralelas. Paralelepípedos cegam-me
 instantaneamente e
 estátuas, com olhos vazios de mosca,
 honram os desaparecidos no mar, pelo meio
 da fome e do escorbuto, da perda de razão
 e das chagas que se alimentam de seus frágeis
 corpos, amarrados a mastros para não
 caírem na tentação do Mostrengo.
 E que continuem a cair as tormentas e se
 abra a boca do Mostrengo, que três, três vezes
 bateu nos umbrais de minha janela, pois
 todos sabemo-lo bem, que na facilidade não
 veio nunca distinção, aos homens de vista curta.
 Porque tu és Portugal senhor dos caminhos
 marítimos e dos grandes Mestres, que
 trouxeram fortuna ao nosso país lutando
 contra todas as intempéries e feitiços
 de uma vida dura,
 desbravando águas até então desconhecidas.
 
 Jorge Humberto
 02/10/09
 
 
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