Entre Vulvas de Mel o meu Veneno Expia-te (re.)

Data 06/11/2009 12:38:16 | Tópico: Poemas

Uivos na noite longa
aproximam-se do meu leito,
em deleite, com luzes em punho
incendeiam meu corpo vestido
de poros quentes
sob as penas do edredon.

És tu que me chamas!

Quando a folha tomba do plátano,
um trémito sacode o húmus do cipreste.

És tu que me agitas!

Olhos invisíveis no meu peito tocam
fixando-me no ponto fixo do espelho
onde o relance mais denso do fruto maduro arde.

És tu que me fitas!

Mãos inquietas
inscrevem assimetrias do desejo
não há membro, nem ponta de carne
ou átomo da alma que não tenha
tua impressão digital.

És tu que me queres!

Em vértebras guerras, faz-se paz
com suaves toques de loucura
que saem directos ao cortex.

És tu que me penetras!

Não mais meus pés pousam no chão
Não mais pesa meu corpo no ar.

És tu que me atravessas!

E, levas contigo, por entre vulvas de mel
guardadas à sombra de um sacrário,
o veneno que te expia
numa vertigem obscura
que é só tua.

Esse veneno sou eu!


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=105941