Re: Palavra p/ zzipperr

Data 30/11/2009 16:04:02 | Tópico: Textos

Fala-nos o principio de um livro de Milan Kundera - A Insustentável Leveza do Ser, do perigo das metáforas.

As palavras são rastos de tinta apenas num pedaço de papel, ou apenas o contraste entre duas cores.
Mas as palavras são também feixes de luz. Caixinhas com poeiras de magia.
Tal cria a quem lê uma reacção que se lhe entorna como fervura trazendo o que tem por dentro.

(poeta diferente de poema diferente de leitor)

As palavras são produto de sentires e produtoras de sentimento. Existem palavras mais "livres" do que outras. São palavras de uma relatividade a que se pode comparar a famosa frase que diz "uma imagem vale mais que mil palavras" (nem sempre concordo já que todos os filmes que vi baseados em livros não chegaram aos seus pés), ou então "a imaginação não tem limites".
A variação de significâncias para a mesma palavra é o perigo. Como é um perigo fazer associação de certos sentimentos a palavras desse tipo, como se uma arvore só desse todos os tipos de fruto. A metáfora de que fala Kundera, banaliza-se hoje em dia nos mais diversos tipos de propaganda. Porque vende. Palavras como luz, vida, morte, amor sofrem desse perigo, o que as torna mais belas e, pelo seu dinamismo, dão liberdade ao leitor de as SER, de as tornar ser, de senti-las como lhe aprouver, adaptando-as, moldando-as inconscientemente a todo o conjunto de crenças da sua semântica e conexões cerebrais, muito além daquilo que o poeta escreve no seu estado de sentir.
Quantas vezes ao reler antigos poemas meus acabo por ver que ele é afinal maior do que aquele simples sentir de quando o escrevi.
Era o poema maior ou fui eu que cresci?
Quase como o dilema do ovo e da galinha
Eu ou a Palavra?
Eu e a Palavra.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=109162