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 DE NADAData 04/12/2009 17:07:58 | Tópico: Poemas -> Sociais
 
 |  | Sigo caminho por entre urtigas punhais e lanças Cansado de lutas e retóricas
 Como um animal ferido
 Arrasto pelo chão a vontade de um dia ter sol
 
 Mas um sol de verdade!
 
 Leio nas entrelinhas das estrelas a palavra esquecida
 Que não inventei
 Para falar de amor
 Para falar de mim
 
 De tanta viagem perdi-me nesta estrada
 Que a lado nenhum me conduziu
 Descrente das cores banais que reduzem
 O lusco-fusco da cegueira
 À simples condição de ignorância…
 
 Limito-me a dizer tudo o que não sei
 Da forma que não quero
 Para tentar agradar
 Ao desespero
 O sonho é um circo
 O mundo o público assistente
 Eu o palhaço pobre
 À deriva no mar de uma alucinação naufragada
 Num batel de ideais esquecidos
 Nos apêndices da frustração
 
 De que adianta procurar novos sois?
 
 A vida cai
 A história rui
 O ontem é hoje!
 
 Se daqui por diante uma lua trovejar
 Dentro das veias de um girassol
 É porque o céu morre na cadência dos dias
 Como um bêbado delinquente
 Que atira pedras ao mundo
 Para se assemelhar a gente!
 
 Se por acaso descubro uma Ursa Maior
 Nas palavras que desconheço
 É porque o cântico lançado pelo ventre da terra
 Aos moribundos
 São inaudíveis sons nos meus ouvidos surdos
 
 Se me encontrar em algum lugar
 É porque descobri
 Que nunca estive em parte alguma
 Dentro ou fora de mim.
 
 As metas que traço são rodilhas
 Esquecidas nas janelas partidas
 À espera que o sol as seque ou amarrote
 O vento as atire ao lixo
 
 Ah que a perdição de uma ambição
 Seja o delírio de um fanático
 Num jogo de futebol!
 
 Se por acaso morrer
 Apregoem aos quatro vento que dentro da vida
 Que deixei esquecida algures num buraco do tempo
 Existi
 Para dizer que não fui eu
 Que não tive nem quis
 A benesse da falsidade que me serviram ao jantar!
 
 Dentro de mim o grito da vontade
 Acelera o sangue
 Porque eu também tenho sangue
 E raiva
 E ódio
 E fúria!
 Dentro de tudo o que não é racional
 Há um escondido desgaste lapidado na pedra puída
 Que ninguém ousou colocar ao pescoço
 Porque o lodo das crenças
 Ocultou aos olhos dos vivos
 A anarquia consumada dos corpos vencidos
 Pelas aparências
 
 Por isso se existi
 Foi somente porque haveria de morrer!
 
 
 António Casado
 5 Setembro 2007
 
 
 
 
 
 
 
 
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