67h

Data 14/12/2009 20:15:55 | Tópico: Textos





continuamente só.
quase sempre absurdo este discurso, de quem só constrói palavras se lhe falharem os gestos. continuamente só. quando me sento e me lembro, ou me sento apenas, apesar de no sentar caberem todas as lembranças, por isso às vezes penso que seria melhor ficar de pé, ainda assim sento-me, e se às vezes lembrar dói outras vezes nem por isso e é destas últimas que se fazem os meus sorrisos. lembro o teu corpo a passear-se com o meu pelas ruas, às vezes curtas, quase sempre compridas, a estenderem-se nos beirais das janelas das casas baixas, rente aos pés, a anunciar os vasos com plantas adormecidas, era isso até tu gritares silêncio e as plantas se levantarem e o sol se levantar e as ruas se encolherem e os nossos dois corpos acordarem a cidade inteira com gestos. eras tu a correr, ou não corrias e era a mim que me apetecia correr, e era eu parada, estática no meio da rua, à espera, não sei porque esperava, mas estava ali á espera, por algum motivo, que não me lembrava, esperava que a qualquer momento me largasses a mão e corresses rua adiante e alguma coisa na rua me segurasse os pés, me tombasse o corpo, me não deixasse correr contigo ou atrás de ti.





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