
REVOLTA
Data 19/12/2009 23:50:32 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| Rasguem os livros de poemas! Rasguem os poemas de todos os poetas! De todos quantos sonharam a vida, vivendo-a! Que amaram a vida, amando-a! De todos os que respiraram o amor universal e etéreo Amaram tudo e toda a gente E o mais que nem era gente Apenas porque se movia, respirava, via Ou simplesmente existia Sem a consciência de existir! Mesmo por eles, os sem consciência, Era nutrido um sentimento mais puro, mais digno Que os elevava à condição concreta de seres Porque respeitavam o mundo tal qual o sentiam Porque era importante aquela forma de vida!
Porque esses, os desinteressados de tudo Os vadios da existência Imbuídos por sentimentos que desconheciam E que nem era importante compreender Que manifestavam sentimentos ignorados Pegavam num poema qualquer e riam-no Rabiscavam na orla da página qualquer coisa imperceptível E em dias de austeridade e cansaço pensavam Aprendiam nesses dias uma nova dimensão da vida Rasgavam as trevas da intolerância Existiam e eram gente Se havia um túnel desbravam a luz De enxada na mão, sulcavam caminhos Ainda que nem tivessem a precisa noção da dimensão do acto Porque não era preciso ter, nem conhecer, nem saber!
Porque esse, os vadios de quem ninguém se lembra São o meu poema!
(Escrito à luz de uma vela, porque não há luz eléctrica. Depois de lido aconselha-se o seu uso numa casa de banho… Sempre terá alguma utilidade.)
antóniocasado Para o Luso Poemas 11 Abril 1995
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