A Quem Comer de Mim

Data 05/01/2010 19:34:31 | Tópico: Poemas

hoje quem comer de mim está condenado
há algo neste dia que o torna perfeito
precioso e triste.
tenho um desejo ardente de andar por aí a semear incêndios
tenho sempre um isqueiro à mão
gosto tanto de atiçar fogos
gosto ainda mais de ver corpos
ficarem carbonizados por dentro
moles por fora
mostrando as suas cores.

Hoje o meu corpo está catalogado por cores
numa gradação,
ora negro ora escarlate,
em atitudes, curvas de nível e dobras quentes,
graus e em paralelos de a-lugar
cada um com um preço
que me sustenta agora
com armaduras de ferro
que já foram mais leves que o transparente hélio
mais doce que o algodão doce que se vende nas feiras.

hoje quem comer de mim está condenado
ofereço aos atormentados um inferno,
o mosaico das minhas feridas
todas obliquas, silenciosas e resistentes.

não quero que me curem
quero que parem de fingir
que não sabem delas
que comam e que façam um bom proveito.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=113758