QUANDO ME CORTARAM

Data 12/01/2010 17:24:44 | Tópico: Poemas

Quando me cortaram o cabelo todos os fios se guardaram em redor e choraram a dor ausente. Tapavam o cansaço que trazia nos ombros e me descaiam o andar, peregrina de todos os avanços, sem compartimentos de sombras, pois todas as águas serão sempre fartas e as maças se ajeitam nos versos. Despertei talvez dum sonho negro e pensei que o peso se tinha aliviado. Ficaram os ausentes e os insensíveis passando pelo redondo sem saberem o voltar da esquina e viraram-me as costas, com medo dos tapetes adensados de orvalhos. Olharam o longe sem perfeito equacionado tremendo arrepios em tom de vergonha,mas virei-me do avesso e continuei a noite num jeito de poiso e as giestas do afecto que não se escondem nas raízes, saíram do refrão em som de subtileza de Lua, toque de cetim que me chegou ao olhar. Talvez as ruas dos sentidos sejam diferentes das dos ausentes e dos insensíveis que não gostem de cabelos curtos com cheiro a macieiras.

Eduarda




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=114807