Hoje … sou sómente

Data 12/07/2007 20:49:07 | Tópico: Poemas

Hoje não sou o colo, o braço aberto na ventura,
o regaço isento e farto, o peito presenteado,
num enleio colossal e desmedido,
urdido em laços de afectos, de ternura,

não sou as mãos, a boca, o mel
retido no casco tosco de um afundado navio
num mar gelado, para além de frio,
nas águas de um Mar Morto

nem bote a navegar na vela panda
do teu olhar
no espaço lato de um infinito mar

nem tão pouco, nos trópicos,
gotas de sal e suor a escorrerem-se
na pele tostada do teu corpo

nem montanha rasgada na carne
sanguinolenta
pela carência da tua palavra

não sou saudade, não sou vontade,
nem verdade, nem certeza,

… talvez nem mentira seja,

hoje, hoje meu amado, sou o silêncio,
o vácuo denso, a descer-se lento,
cada vez mais baixo,
cada vez mais baço,
sem um queixume, sem um suspiro,
sobre o negrume do próprio nevoeiro,
ao ritmo de um compasso.

Hoje …
sou sómente a distância percorrida
que separa a tua da minha vida.





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