Estendo o meu corpo Neste leito de águas paradas E Cuidadosamente m’ entrego Nesta viagem rio abaixo Mas há um momento parado Na curva do meu olhar E eu… Se me dispusesse a ir rio acima Seria num dia bom Desafiando a corrente Lenta e suavemente… Mas, continuo esta viagem E livremente doo-me Às correntes imaginárias Que s’ encaminham para ti Mas é nas funduras Deste leito morno Que encontro as águas Onde gosto de navegar E há uma cidade Que me contempla Banhada em margens de silêncio Vozes que se calam Debaixo deste céu Pincelado de línguas de fogo E eu… Fico vigilante de outras marés Que s’ encontram já No fundo dos mares E há afluentes que me abraçam E momentos que me perseguem Mas é na unicidade das coisas Que se aglutinam Serena e calma(mente) Mundos continuados E sou brisa e ventania Numa corrente em sobressaltos Descida vertiginosa Nas encostas das serranias E sou sombra, luz desfocada Nas águas da minha memória Música, bailado, corpo ondulante Nas saudades do futuro E nas lembranças da minha historia. E eu… Sou um mero instante Em águas profundas Remoinhos de vento Em efémeros momentos Que se ramificam E se cristalizam em nós Num encontro, rio abaixo, rio acima Nas correntes em desalinho E nos gestos a dormência De um único destino Mas são estes silêncios Cuidados nas distantes Navegando em rios paralelos Que se descobrem as palavras E os rios desta vida Num encontro uno Da nascente até a foz.
São Gonçalves&Matilde D'Ônix
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