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Data 22/03/2010 22:27:59 | Tópico: Textos

-manuel fernando gonçalves-




"Morrer, sim, se morte houver,
mas nunca mais!"
Manuel Fernando Gonçalves



trouxeram-me da morte a primavera, manuel, e eu não sei que fazer, nem flores tenho que cheguem para a vestir bela. vê, emprestei as tuas palavras a outro coração, coração que pensa, desses corações onde podes parir um mundo novo, placenta onde o abrigar. vê, dizem alguns que sabem, que entendem, que é deles a água, a seiva, a lenha, a silva, a flora, a fauna. se soubessem de ti não o diziam, que outra geografia descobriste nos tentáculos da pele, labirinto. queria, manuel, que te lessem antes de dormir, como eu quando a tristeza me aflige e os pensamentos se invocam no semi-círculo da derrota. que entendessem com que matéria se faz o semi-círculo. que entendessem que os semi-círculos são como nuvens, que vão e vêm. sonhar é crescer mais depressa, esticar os braços, até doer as axilas, os músculos, os ossos, pegar na lua e enfiá-la na copa de um pinheiro tosco, vê-la minguar, crescer, saber que dela se fazem as madrugadas fora do coração, tê-la. vê, manuel, emprestei as tuas palavras a um coração, diz-lhe delas o afago, o afecto, o gesto,o amor, conta-lhe como se constróem casas de sonhos semi-destruídos.
















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