Tão só um curso de rio

Data 26/03/2010 19:36:01 | Tópico: Poemas


Na vida não busco a morte,
busco tão só encontrar a vida
nessa espécie de sorte
que parece espreitar num lampejo soturno
de um sol que me nasce na nuca,
abotoo a farpela
e viro-lhe a albarda pesada
que carrego nos ossos do meu viver.
Na vida busco sempre o improvável
e contento-me com o mínimo,
não procuro mares nem serras descontinuadas,
busco tão só o firmamento.
Não me revejo no verso perfeito,
busco tão só a palavra única.
Quando alguém me dá a mão
não é o amor que busco nela,
é tão só o “para sempre”
que se separa fácil na adequação dos corpos,
na sensação de infinito que me prodigaliza.
Não, não tenho medo do infinito
como não tenho medo da morte,
da minha morte.
Não sou segmento de recta,
sou caminho,
tortuoso sim,
mas sempre em direcção a algo
descendo veredas
subindo alamedas,
a luz é o facho do meu orgulho,
sou maré cheia de rio que nasce no mar
em direcção, não sei ainda
mas contento-me tão só em não parar,
no meu trajecto não preciso dos acordes perfeitos
a ritmar-me as ondulações,
contento-me tão só com o silêncio.




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=125638