A insustentavel indefinição do ser

Data 05/04/2010 16:48:18 | Tópico: Poemas -> Reflexão

Sou
O que sou
Como sou!

E sem saber
Sê-lo
De outra maneira
Que não esta
De assim ser
Por vezes
Sinto até
Aquilo que não devia
Sentir...

É assim
Uma espécie de azia
Que me queima
Por dentro!

Outros
Poderão até ser
O que não são
Mas com estilo!
E fazendo
Do parecer
A sua grande
Ilusão...

Somos
Como somos
Sendo
Ou fazendo crer

E o senso
Bom ou mau
Muito
Pouco
Ou nenhum
É o contrapeso
Que sustém
O fiel da balança
Em constante (des)equilíbrio...

Preciso
Ou impreciso
Visto que este
É pertença
De cada um!




Há um limite para se ser profundo. Há um limite para se ser subtil. Há um limite para se ser bom observador. Nós temos de nos mover num mundo de limites para a viabilidade de se ser. O limite da profundeza é a escuridão. O da observação é o do microscópio electrónico. Mas tudo no homem é assim. Para lá de certos limites é a confusão, a gratuitidade, a loucura. Assim o grande amor se reconhece na morte ou o excesso da razão na confusão ou sofisma ou absurdo ou impensável ou gratuito. Todo o excessivo no homem é desumano ou degenerescência ou vazio. Mas que há de grande no homem senão o excesso de si? E é decerto aí que mora Deus. Ou mais para lá.

Vergílio Ferreira, Escrever, Bertrand Editora, 2001.



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