… no desalento, morri ontem

Data 23/07/2007 17:24:33 | Tópico: Poemas

Não encontro as ruas do teu corpo
nem tão pouco as rugas onde te escondes
das sombras viscosas da vida.

Na deriva de açucenas boreais
acenas-me vaga-lumes de memórias,
em gestos baços onde se jubilam feras
encovadas em orbitas de algozes e carrascos.

Nos pomares de frutos empedernidos
asas de borboleta projectam-se encharcadas
e luzidias em sussurros sinistros.

Nos montes há muito que se calaram as cotovias
e as cigarras mudas entoam-se no bater das horas
dos pêndulos desajustados dos nossos dias.

Corcunda, a madrugada, rasteja-se na fuligem
aniquilada de um vento…

… no desalento, morri ontem

carcomida p’lo gorgulho e o caruncho,
no acre húmido e pardacento
do desfraldar de asas retorcidas
de pássaros decrépitos e decadentes,
tombados das pernadas arrancadas
às arvores, por si já feridas.



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