...VIAJAR SEMPRE ME SEDUZIU...
Data 23/04/2010 15:42:46 | Tópico: Poemas
| Primeiro, abriram os centros comerciais e as pessoas afluíram em massa, deambulando sem rumo certo, assim ao género de “perdidos e achados”.
Depois ensinaram-nos o crédito, e o marketing dos bancos fez o resto. Endividámo-nos pois,. E os stands venderam jeeps de alta cilindrada, e os construtores civis aproveitaram a onda tornando-nos os maiores e patéticos proprietários de imóveis da Europa. O “pé de meia”, que os “cotas” cultivaram pacientemente durante décadas, “já era”, caira em desuso, como tantas outras coisas.
Os filósofos da moda argumentavam que o espírito dera lugar ao “logo”, à marca, o ser à aparência. Não percebi. E também não entendi que nem com o crédito alcançaríamos o topo superior da gama. E o dinheiro dita cada vez o lugar na escala social, e a escala social a nossaauto-estima.
Os outros sabiam onde educar os filhos. Os nossos repetiam a repetência –“as aulas são uma seca” – ou seguiam para cursos em universidades privadas, pagos a peso de ouro e de duvidosa qualidade.. Agora estão desempregados, ou são diligentes e precários candidatos ao mundo empresarial do “fast food”,da Teepizza ao MacDonnalds.
Disseram-nos que o país estava de “tanga”. Não me preocupei, não era nada comigo. O banco continuava a emprestar-me dinheiro e para as aflições, lá estava a conta-ordenado. Agora fui despedida, regresso à casa de renda limitada de três assoalhadas dos meus pais e o seu pé-de-meia e as magras pensões de reforma deles lá vão dando para o sustento.
Nas televisões falaram, não entendi bem, o bebé estava a chorar e a mãe não o conseguia calar, que Portugal não era a Grécia e o défice e o FMI…qualquer coisa, prontos. Peguei no Jeep, comprei a Caras, embarquei no primeiro avião, preço “last minut” e a crédito, e fui passar o Carnaval ao Rio. Na verdade, viajar sempre me seduziu…
arfemo
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"...prosa. nada mais do que prosa..."
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