Tranças ao vento

Data 29/04/2010 12:40:52 | Tópico: Poemas

Eu tinha tranças.
Longas tranças feitas de textos,
seiscentos fios de textos
que brotavam de minha cabeça
trançados com a perfeição do destino.
Todo dia, o feiticeiro
o malvado, Angus Verbus,
gritava-me lá de dentro do cérebro:
-Joga as tranças!
E eu as jogava,
balançavam em cabalhotas pelo céu
cinza de meus hemisférios,
até caírem, barulhentamente no chão vermelho
do tálamo.
Ele subia, rindo, e balançando-se
como criança malvada.
E assim foi, por muito, muito tempo.
Até que um dia,
Alopécia, a fada, disse:
-Vá!
E eu fui. Saí dançando pela janela
(sem o peso das tranças eu flutuava...)
Nunca pensei que ser careca fosse tão maravilhoso.
Desde então meus textos ficam espalhados ao céu, flutuando em uma nuvem de papel. Girando pelos giros na substância branca, límbicos.
Minha cabeça solta fios ao infinito, soltos, eu vejo eles se enrolarem ao nada, apenas divertindo -se às correntes de vento que os levam a passear no arrebol.






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