APENAS UM SOPRO...

Data 07/05/2010 20:22:36 | Tópico: Poemas

ofereceste-me palavras para entrarem
lentamente no meu corpo e pensar que abraçava
uma nova noite no sangue da esperança.
mergulhei inteira na vela da fogueira
à espera do sopro da asa.
afinal tinha sido apenas um golpe de gelo,
um sonho indigente e embriagado na névoa fatal.
abri o ventre como castigo da ferida que me deixaste aberta
e vazei os olhos, para cortar as palavras que disse,
condenadas de um crime que não cometi.
desenho agora nas roupas desbotadas, mãos e língua, coalhadas de sangue e cubro o rosto com as cinzas das velas feridas e enterradas nos buracos do meu corpo.
e para não ter mais sonhos, cortei as asas da noite inteira
e atirei-as ao poço do falso adulador, que passou por mim,
com as mãos arrumadas e apagadas de águas.
e eu fico aqui a coleccionar mergulhos no alto dos poemas,
na companhia do vinho e do cigarro,
enquanto o mar me esmaga as dores do corpo
e das palavras na brecha da consciência.

Eduarda
07/05/2010


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