PLAGIARAM O MENINO ANTIGO, MAS NINGUÉM DISSE NADA

Data 11/05/2010 03:37:19 | Tópico: Crónicas

Carlito - assim o poeta Carlos Drummond de Andrade era chamado em família, na sua Itabira, Minas Gerais, de onde saiu um dia rumo ao Rio de Janeiro, para ser funcionário público.
Circunspecto, quase triste, o menino antigo teve ouro, gado, fazenda, mas foi ser funcionário público.Itabira ficou eternamente sendo uma fotografia na parede - "como dói!", ele recordaria no poema Confidência do Itabirano.
Eu tive o Carlos nas minhas mãos. Modo de dizer. O escritor Fernando Sabino, num encontro que tivemos, passou-me o telefone do poeta. Insistiu que eu o procurasse e lhe mostrasse os meus poemas.
Até tentei. Liguei mais de uma vez. Do outro lado da linha, a voz miúda do poeta a dizer: "É o Carlos." Mas eu não tive coragem. Desliguei todas as vezes. A timidez falou mais alto. Dias depois, o Brasil ficaria órfão do seu maior poeta.
"Doutora, me dê um enfarte fulminante", ele teria dito à médica. Quando lhe morreu o bem mais precioso, a filha Maria Julieta, Drummond quis ir com ela - e foi. E eu perdi a chance de ao menos conhecê-lo. "Vai, Carlos. Vai ser gauche na eternidade", disse o poeta Affonso Romano Santana, ao dar uma entrevista na capela Real Grandeza, onde o corpo de Drummond foi velado.
Escrevo esta crônica totalmente desencontrada, para lembrar que no domingo agora que passou, dia das mães, como se mãe precisasse de um dia, Drummond foi escandalosamente plagiado, vilipendiado, ultrajado e o diabo-a-quatro neste Luso-Poemas sem que alguém da administração (se é que existe) fizesse alguma coisa, no sentido de punir ou ao menos advertir o autor da patifaria. Nada. Melhor cruzar os braços, ficar quieto e deixar rolar.
Pecar por omissão é pior do que pecar por ato. Mas ninguém fez nada. Foda-se. Talvez a administração(se é que existe, repito) saiba tanto literatura quanto um asno sabe física nuclear. Que credibilidade, que honra pode haver num espaço que permite esse tipo de coisa? Nenhuma. Aqui o plágio é livre. O banditismo é livre. Podemos plagiar a Bíblia, A Divina Comédia, Os Lusíadas - e nada nos vai acontecer.
Drummond deve estar muito preocupado com o ordinário que o plagiou. Vai despertar do seu sono eterno e tomar satisfação. Mas, se isso acontecesse, tenho certeza de que o poeta da pedra no meio do caminho não o faria com o ordinário que lhe roubou as palavras, mas, sim, com o infeliz que deixou o fato - gravíssimo - passar impune. Não é correto:ao permitir a prática do plágio, Luso-Poemas está a nos fazer todos de idiotas.
Sim, somos todos idiotas. Não me importa se o site é composto em sua maioria por amadores. Literatura é coisa séria. Honestidade cabe em qualquer lugar. Quem deixou a coisa como está é cúmplice. É comparsa. É bandido também. Mas foda-se, afinal quem era esse tal Drummond?
Eu conto, lembrando um episódio que ouvi, na redação da revista Manchete, no Rio de Janeiro, narrado pelo jornalista Joel Silveira, o maior repórter que conheci.
Foi assim. Da janela do seu apartamento, em Copacabana, Joel e o neto, na época com dez anos, olhavam o mar. Joel viu aquele senhor magrinho, sempre de cabeça baixa, caminhando na orla. Chamou à atenção do neto e disse-lhe: "Está vendo aquele senhor ali? Ele é o maior poeta brasileiro." O menino, em sua inocência, retrucou: "Mas tão pequeno, tão magrinho..."
Este era o Carlos que violentaram aqui neste Luso-Poemas sem que os responsáveis pelo espaço fizessem alguma coisa. Pensei que este espaço fosse mais sério. E se ainda insisto em escrever aqui é porque tenho leitores. E é a eles que devo respeito.
Mas, afinal, quem é este Carlos Drummond de Andrade perto de um tal Delize, o autor da façanha?!

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júlio

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