
a minha morte
Data 18/05/2010 13:50:44 | Tópico: Poemas -> Reflexão
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à minha morte pessoas sérias dela expulsas ou nela tragadas de modo a longe morrer caminhando com suas misérias estarão rezando e talvez imaginando o quão idiota fui por ser um poliglota mal-pago, sem nenhuma nota que pagasse ou musicasse a minha bêbada afirmação da Vida.
essa ansiedade que sinto que a todos perturba durante a vida enfio nos cus do labirinto intestinal dos deuses: um novo nematelminto a perturbar as entranhas cheias de aranhas dos ditadores do sentido universal, imutável, sagrado e sem ouvido
a minha morte momento glorioso glória de um mendigo Úmero Antônio Cardoso, Rodrigo? vanglória de um importante tendo por revestimento o mais áureo jazigo e por preenchimento: de esterco uma jazida mina de bosta pura riqueza irônica que levou-me à sepultura glória de um salafrário vanglória de um negro sem salário minha morte-alforria como um monte de dejetos caindo para fora da bacia
a minha morte doença do asfalto acidente do câncer “a causa da morte, Maria, foram várias, porque ele morria sempre a cada dia”
a minha morte dor pura como dói e como é bom doer sem o que minha alma escura não poderá produzir um som
a minha morte caro doutor por enquanto é pura dor nela não cabem sentimentos nem cabe um pensamento porque é dor em que cabe não sei se você sabe só o horror
a minha morte eu sendo humano e justamente por ser tão dor exige uma química muito rígida para poder fazer em mim uma flor
para fazer em mim que sou bosta um jasmim
esta flor que hoje ilustra os calendários mal sabem quanto custa em salários alimentar minha carne, minha pança de cuja podridão ou pústula emanam líquidos e adubos para alimentar as flores e as crianças e servir à estética dos adultos
a minha morte fede bonito nos narizes do mito
a minha morte enquanto eu grito ninguém me ouve aqui no açougue da escuridão : este teto parafusado ao convés deste absurdo navio do tamanho de meu corpo frio
em verdade tenho abusado do ouvido surdo que apanho e é um copo
e agora aprisiona-me este teto na mudez nua ou nudez crua da morte ou enterro
tenho a glória de um mendigo que falou muitas bobagens camufladas no abrigo das reticências publicadas sob a forma de mensagens-demências
a minha morte é um copo de cerveja : bebem esta urina os deuses porque deles eu como a bosta que à goela se me enseja com o sabor e horror das metáforas
A minha morte é uma metáfora para que não morram assim os que vêm depois de mim... À minha morte encontrarei um anjo carcomido pelos vermes que esbanjo... Fardinesca pestilência é um anjo de delinquência a usurpar meu nome da anáfora.
minha vida, minha história “eu”! : glória e vanglória vaidade e memória: da História das Civilizações a mais pura escória!
Úmero Card'Osso
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