Minhas Saudades e Eu...

Data 03/06/2010 18:54:51 | Tópico: Poemas

Entre ritos e mitos...Entre atos e fatos...Entre falas e silêncios...Entre ditos e esquecidos...Entre lembranças e saudades... Fez-se a vida em sociedade, e eu me fiz humano e civilizado. O que eu não sabia é que nada é mais desumano do que a civilização. Hoje, sinto que minha alma está algemada, e esta prisão tem nome: Modernidade.
Ludibrio meu cárcere viajando às minhas saudades. Consigo assim, construir contentamentos em meu existir. Reencontro com lembranças quase esquecidas que estavam recolhidas nos lapsos da memória, e movido por uma nostalgia doída, junto os ‘retalhos’de pensamentos adormecidos que ainda se fazem presentes, acordo-os, e confecciono distrações. Envolvido com esta satisfação por rememorar meu passado em imagens presentes, começo a sentir saudades de ser o que já não sou. Uma saudade diferente. Saudade de ser criança novamente.
Neste retorno ao passado, visitando minhas memórias, promovo um encontro comigo mesmo. A satisfação é maior no momento que revivo os ‘causos’ do meu avô; a música de viola de meus tios; as orientações que meu pai, sentado em sua cadeira de palha, ‘tecia’ pra gente ser feliz; os sabores da comida caseira que minha mãe preparava no fogão de lenha... Enfim, coisas simples de uma vida rica em magia.
Agora sou adulto, e me tornei órfão dos hojes que se negam a recolher as sabedorias dos ontens. Não compreendo, porque os instantes recusam os distantes, e nos projeta rumo à maioria dos nós que nos afasta de nós. Só sei que me adeqüei ao suportável e ao sofrível, para conseguir tolerar ao intolerável. Se ao menos, eu soubesse ontem o que sei hoje, não teria medo dos esconderijos do silêncio. Escaparia de todas as receitas: de sucesso, de progresso, de riqueza... Porém, eu não esqueceria que o “cinza é "filho" do preto e do branco”, e são tantas as possibilidades de novos tons que eu sepultaria todas as verdades absolutas.
Hoje faço dos meus sentidos o reverso das lógicas. Concorro comigo mesmo. Consigo ver melhor com os olhos fechados. Minha visão tem apurado meu paladar. Meus óculos auxiliam a minha audição. Minhas dores anestesiam a minha alma. Não sou um conceito opcional, sou prioridade em todos os modos de pensar que mantenham acesa a chama da dúvida.
Cavalgo na pele de águas desconhecidas sobre ondas alucinadas em busca do nada. Sinto os redemoinhos provocando gotas de um orvalho ainda por acontecer. Ouço o eco do oco que formata em meu labirinto um som incompreensível, mas perceptível a olho nu e audível em contato com o olfato. É sublime a junção dos sentidos que me devolve ruídos enriquecidos por murmúrios que se perdem dentro de burburinhos de vozes ainda sem vez para compreensão dos ‘normais’.
Mergulho na superfície da vida e descubro que o tempo passou e as perdas foram inevitáveis. Agora vivo minha lucidez, aguardando um reencontro com minha inocência. Inocência? Talvez, trocaram seu nome, e hoje a chamam de experiência. Por isso, acolho as minhas necessidades, e me valho do desconhecido. Lá, ainda estou isento de opiniões.Lá, sem entender encontro meu existir dentro dos meus vazios. Lá, convivem bem o que eu sei e o que eu não sei. Lá, sou parte do que penso e também do que não penso, Lá, sou utopia, sou sonho, sou esperança, sou tudo e sou nada. Lá, sou puramente instinto...
Ah! Eu preciso de um sorriso de criança em todos os dialetos. Alguém pode conseguir?...


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