Leituras - Outras - Martim Codax, o Músico das Palavras

Data 15/06/2010 09:11:38 | Tópico: Textos

Até para descomprimir, que isto de passar anotações e dar forma de texto dá cá uma trabalheira, embora o faça por e com gosto, deixo-vos hoje aqui o início de uma leitura sobre:


Martim Codax, o Músico das Palavras


Em Língua Portuguesa, não há, na minha opinião, nenhum outro autor que tenha, na sua linha poética, tanta musicalidade como Martim Codax. Mesmo só com sete cantigas de amigo conhecidas, este poeta domina com mestria única a Língua de forma a obter o som mais depurado que tive a oportunidade de ler até à data. Embora seja uma opinião meramente pessoal, deixo o registro de quando a escrevo, dia quinze de Julho de dois mil e dez, em pleno século vinte e um, isto é: volvidos sete séculos.

Tal impressão não surge após a auscultação dos seus poemas musicados, mas tal só veio confirmar o que da minha própria leitura surgiu, dado que a referida auscultação só ocorreu no presente ano, através de um sítio na internet (1).

A forma como Martim Codax lida com a Língua, jogando com contracções e o reverso, bem como aliterações, é, sem dúvida, algo que faz falta nos nossos dias.

Hoje estamos demasiadamente preocupados em construir requintadas redes metafóricas ou em criar espaços coloquiais onde o real surja desnudado ou..., esquecendo-nos que o poema nasce com a urgência em passar a sua mensagem com a maior eficácia possível. Esquecemo-nos, ou preferimos não nos lembrar, que a base da poesia continua a ser a música que, tal como refere Fernando Pessoa, “musicar um poema é acentuar-lhe a emoção” (2)

A leitura atenta de Martim Codax, inclusive a audição das composições, que reproduzem as notações constantes no Pergaminho Vindel, que foi descoberto somente nos alvores do século vinte, levar-nos-á até à própria essência, não só do ser poesia, mas, também, do ser poeta.


Xavier Zarco


(1) Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes - http://www.cervantesvirtual.com/bib_autor/codax/fonoteca.shtml (último acesso a 2010-06-15)
(2) PESSOA, Fernando – Obras Completas, Vol. III, RBA, 2006, P. 200.



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