Quadrinhas da Eternidade

Data 04/09/2010 15:53:40 | Tópico: Poemas



Quadrinhas da Eternidade

O mundo, cá dentro implode,
Estouram-se minhas luzes,
Estuporam-se meus restos;
As sobras, bicam os abutres...

Ah, esses loucos regaços!
Dessas memórias disformes,
Desbotadas, aos pedaços;
Pousam cansadas, conformes

Asserenam-se as partes
Em que mais não presto
A negra noite faz sua arte
Ao corpo que lhe empresto

A mente também se arrebenta;
Desvanecem-se as cenas novas,
Variam as antigas, em cinzentas
Somem ao lodo, as últimas trovas...

Misturam-se os paradeiros,
Os direitos rumos das retas
De fora, já sou um forasteiro
Isolado de ações ou metas

Tudo, tudo em mim repousa;
Até a sombra já me some
Nem mesmo aragem ousa...
E, ainda assim, resta o seu nome!

Dou-me ao moinho do universo,
Que me retorce, me consome;
Aniquilo-me, exposto ao reverso,
E, ainda assim, resta o seu nome...

E até já falta um "eu" a mim,
Desintegrou-se desejo, fome,
Matéria e alma. E, ainda assim,
Resta essa voz a dizer-me seu nome



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