Morte

Data 24/09/2010 08:14:50 | Tópico: Poemas -> Introspecção

Ah se a falta de benevolência não nos inundasse
A alma de um mundo incoerente
Ah se a privação nos conduzisse ao fortalecimento do espírito
E a carência nos submergisse de dignidade
Já o óbito teria outro sentido num cérebro desinquieto
A defunção transformar-se-ia em renascimento
O lado negro em luz
O gelo em fogo
O passamento seria uma viagem serena para a eternidade
O aniquilamento uma jornada em direcção ao infinito
Abolição seria sinónimo de vida e não de anulação
O cessar não entraria na história humana como extinção
Falecimento seria apenas voar ao sabor do vento!
A severa liquidação não significaria acabamento
E as cumplicidades seriam perenes
E os quereres não teriam nome
E os sentires seriam indizíveis
E nunca obliteraríamos as amizades
Nunca suprimiríamos os abraços
Porque as carícias não acabariam
Não existiriam desfechos
Nem conclusões opinadas em forma de inquisição
Os capítulos de um livro ficariam sempre por encerrar
Um poema não teria termo
Não embarcaríamos na barcaça do decesso
Flutuaríamos apenas em redor das estrelas
Ou enleados nos calor dos nossos corpos
Saudade não apareceria no dicionário
Porque o nosso ânimo dançaria ao ritmo da afeição
E o amor não teria fim
Mas por certo engano-me na sorte
Será ilusão o amor
Tal como a própria morte?...





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