
SINA
Data 24/09/2010 20:04:49 | Tópico: Poemas
| Carrego o corpo dormente daquilo que fui na memória penosa de passos arrastados, buscando na erosão prolongada dos dias o fio débil do meu destino suspenso, traçado a giz no compêndio dos astros. Nenhuma certeza habita meus pensamentos. Perdi-me algures, naquilo que nunca fui, incapaz de ser aquilo que me penso ou o que em delirantes sonhos concebo na inércia pardacenta de velhos muros.
Uma vertigem de caminhos enredados leva-me ao dédalo angustiante das noites que me afastam dos portos da infância, onde bebo o espólio das quimeras vencidas, envolto no assombro do nada que me cerca. O mistério insolúvel da minha identidade não mo revela o oráculo divino dos ventos, nem os lábios arrefecidos da esfinge se movem se lhe pergunto porque me tremem os dedos quando escrevo sobre o que não aconteceu ainda.
O que serei amanhã, que hoje não sou? O que deixarei nas margens do incerto quando o entardecer bater com a porta levando a luz subtraída ao pó das manhãs? Trará o futuro algum sonho por reclamar, ou apenas me aguarda o clamor da alma ruindo no marasmo da ultima escuridão? Todas as dúvidas me condenam ao vazio e ao caminho ermo, que não me devolve o sentido perdido, lá longe, no dia em que cresci.
Onde me retornará minha sina difusa quando se esgotarem todos os caminhos destas linhas cruzadas do destino no suor enrugado da palma das mãos?
|
|